AventureBox
Crie sua conta Entrar Explorar Principal

Um aniversário em 600 km (parte 2)

    Como foi pedalar 600 km em 10 etapas diárias de 60 km para comemorar meus 60 anos em março de 2021.

    Na parte 1 contei a história do que me fez chegar até o início dessa pedalada de 600 km. Essa continuação é o relato do que foi pedalar esses quilômetros.

    Primeiro dia, 13 de março, sábado

    Acordei cedo como sempre, um pouco depois das seis. Tomei café, fiz algumas coisas em casa e saí. Às oito estava chegando na Lagoa de Marapendi para pegar a balsa, atravessar a lagoa e seguir pela ciclovia em direção ao Quebramar, na Barra da Tijuca. Naquela hora o tempo estava fresco e fazia sol. O mesmo sol que iria me acompanhar nos próximos dez dias. Em menos de uma hora cheguei no Quebramar, primeira pernada de muitas. Uns pescadores estavam jogando seus anzóis no canal. Não sei se só lavavam as iscas ou conseguiam pescar alguma coisa. Fiquei por ali um tempo, bebi uma água mineral que comprei num quiosque e peguei a ciclovia de volta.

    (O início no caminho da balsa)

    Pedalava uma bike fixa que comprei usada de um amigo de adolescência e, como a bike não tem suporte para garrafa, cometi o erro de não levar água. O sol estava esquentando com vontade e estava com sede. Parei no quiosque Kostão no Recreio para comprar uma água de coco. Quiosque arrumado, pessoal que atende educado, vento fresco e temperatura agradável na sombra. Fiquei lá sentado, vendo o mar e pensando nas coisas que a gente deixa de agradecer. Eu estava vivo, com saúde, família, namorada e amigos ótimos, sem grandes problemas além dos que todo mundo tem. A nossa vida, na maior parte do tempo, é muito boa. Saí pedalando na direção do Pontal com um sorriso no rosto.

    Estiquei o caminho pela Estrada dos Bandeirantes até onde ela encontra o início da Estrada do Pacuí em Vargem Grande. Sabia que ir até ali era o suficiente para a meta de 60 km por dia. Voltei pelo mesmo caminho em que fui. Um pouco depois do meio dia estava de volta em casa. Recreio - Quebramar - Pontal - Vargem Grande - Recreio. Os primeiros 65,30 km dos 600 já estavam feitos. A tarde era para descanso porque no dia seguinte tinha mais.

    https://www.instagram.com/p/CMXc1z1J2VB/?utm_medium=share_sheet

    Segundo dia, 14 de março, domingo

    Comecei o pedal um pouco depois das 8:00 indo em direção ao Parque Olímpico pela ciclovia da Avenida Salvador Allende, a antiga Via 9 que mudou de nome para atender o desejo de alguém. Passei em frente aos lugares onde houve edições do Rock in Rio entre 1985 e 2019. Em 1991 os shows foram no Maracanã. Continuei contornando a Lagoa de Jacarepaguá, passando por lugares sem ninguém e por outros sem ciclovia e com um trânsito infernal, como o “cebolão” no cruzamento da Avenida das Américas com Ayrton Senna, até chegar na praia em frente ao Alfabarra, 14 km depois de sair de casa.

    Um bate e volta no Quebramar e uma parada para beber água de coco no mesmo quiosque do dia anterior. Estava um calor de trinta e muitos graus do final de verão no Rio. Segui pela Estradas do Pontal e dos Bandeirantes até o posto de gasolina no início da subida para a Grota Funda.

    Tem duas coisas que gosto de comer como recompensa: milkshake de Ovomaltine do Bob's e torta de maçã do MacDonald's. Sei que é junk food, mas gosto assim mesmo. Na loja de conveniência desse posto de gasolina tem um ponto de venda do Bob's e, comemorando que faltava pouco para terminar a pedalada do dia, saboreei um maltine médio sentado na janela da loja. Um pouco mais de pedal e completei o percurso Recreio - Parque Olímpico - Alfabarra - Quebramar - Pontal - Recreio. Fiz 60,10 km nesse dia, totalizando 125,40 dos 600.

    Terceiro dia, 15 março, segunda-feira

    Às 7:30 já estava indo para um lugar onde nunca tinha ido de bicicleta, São Conrado. Nesse dia pedalei uma Mercswiss que foi fabricada em São Paulo entre 1954 e a metade da década de 60. Comprei essa bike no Mercado Livre por R$70,00 do neto do antigo dono. Pintei, troquei algumas peças e andei com ela por um tempo até o pedivela dar problema. Troquei por um de alumínio C-Unit Track Pista de 46 dentes e aproveitei para pintar de novo na cor do Herbie (o Fusca do filme Se Meu Fusca Falasse), trocar o selim por um de molas e colocar um guidão andorinha. Fui na minha velhinha pedalar para longe.

    (A ciclovia no Elevado do Joá tem um visual fantástico)

    Passei pelo Quebramar e peguei a ciclovia que acompanha o Elevado do Joá. Apesar de oficialmente interditada a ciclovia é usada por muita gente, exceto pelo trecho que caiu no mar. Como era segunda-feira o caminho estava tranquilo, quase sem ninguém. O mar estava super claro e transparente. Do alto do elevado dava para ver a areia no fundo.

    Às 9:00 estava na frente do Hotel Nacional, no início da Avenida Niemeyer, e cheguei à conclusão que ir da minha casa até São Conrado é um pedal bem tranquilo de fazer, são menos de 25 km e todo ele por ciclovia. Na volta parei no Quebramar e conheci um sujeito que tinha vindo de Paciência, um bairro da zona oeste do Rio, e iria voltar para lá. Ele ia pedalar uns 100 km naquele dia. Admirei o feito e vi que meus 60 km estavam de bom tamanho. Completei a quilometragem do dia indo até o Canal do Rio Morto, no final do Recreio, e voltando para casa por dentro do bairro. Passei por ruas em que pedalava quando mudei para cá há 25 anos e o bairro ainda tinha muitas ruas sem calçamento e haviam mais casas, menos prédios e menos gente. Recreio - São Conrado - Recreio, 60,11 km e total de 185,51 dos 600.

    https://www.instagram.com/p/CMcdhNuJed0/?utm_medium=share_sheet

    Quarto dia, 16 de março, terça-feira

    Ia ser dia de subida e, por isso, escolhi a mountain bike Scott Scale que tinha comprado para viajar. Saí na direção da Barra de Guaratiba num horário que não é cedo para muita gente, 7:30, mas para mim é. Não saio a essa hora para pedalar. Dos quatorze aos dezessete acordava às 4:30 para sair de casa às 5:00 e ir ao colégio. Já tem tempo isso e acho que cansei de acordar tão cedo.

    A Estrada do Pontal estava vazia e a Grota Funda também. A subida de 130 m é bem tranquila e, pela manhã, se faz boa parte dela na sombra.

    Ia à praia em Guaratiba com meu pai quando era criança. Tenho boas lembranças dessa época. Fiquei sem ir lá uns dez anos depois que meu pai foi para outros planos. Só voltei depois que tirei minha carteira de motorista.

    Pedalei até o fim da praia, onde começa a escada que se sobe para chegar ao início da trilha da Pedra da Tartaruga. De lá se tem uma vista incrível da Restinga da Marambaia. Um pouco antes das 10:00 comecei o caminho de volta.

    (A Restinga da Marambaia lá na frente)

    Estava quente, abafado, úmido e mesmo com algum vento sentia bastante o calor. Na metade da subida da Grota Funda na direção do Recreio parei para beber caldo de cana e comer alguma coisa. Continuei o pedal até o Recreio e tive que esticar alguns quilômetros na ciclovia da Reserva para fechar 60,92 km no percurso Recreio - Pontal - Grota Funda – Guaratiba – Recreio e um total de 246,43 dos 600. O pedal não foi longo, mas estava muito quente e as subidas, apesar de tranquilas, me cansaram. Passei a tarde de molho e descansando.

    https://www.instagram.com/p/CMfaHXJpAXN/?utm_medium=share_sheet

    Quinto dia, 17 de março, quarta-feira

    A Bianca, minha namorada, é professora de yoga e dava aula para uma aluna às quartas pela manhã em São Conrado. Combinei de encontrar com ela no meio do pedal antes da aula.

    Saí de casa às 7:00, um pouco depois do que tinha previsto para chegar na hora combinada. Cheguei no início da Niemeyer às 8:00, horário suficiente para estar atrasado. Quem me conhece sabe que, apesar de ter melhorado ultimamente, não é incomum eu me atrasar. A aula da Bianca já estava começando.

    Voltei até a área de pouso de quem salta da Pedra Bonita para esperar a aula terminar. Fiquei sentado num banco por ali vendo o pessoal voar e filmei o pouso de um base jumper que tinha saltado da Pedra da Gávea. Perguntei se podia publicar o vídeo e contei do meu projeto do pedal de 600 km para comemorar meus 60 anos. Descobri que ele fazia aniversário no mesmo dia que eu. Sincronicidades...

    Estava por ali quando chegaram uns bombeiros do Salvamar que tinha visto correndo na Barra da Tijuca. Os instrutores falaram alguma coisa com o grupo e como um bando de crianças correndo para a água entraram no mar para nadar de volta para a Barra. Tem que ter disposição para isso.

    Fui encontrar a Bianca depois da aula e fomos até o ponto do ônibus que ela iria pegar para voltar para casa. Encontrar alguém querido dá um gás para continuar no caminho. Ela me incentivou muito nessa pedalada doida.

    Quando estava no Elevado do Joá voltando para casa vi o "cardume" de guarda-vidas nadando perto do Clube Costa Brava e, se tivessem chegado na Barra um pouco mais cedo, poderiam ajudar no resgate de um casal que tinha perdido o caiaque quando remavam no canal da Barra, onde fiz uma parada.

    Estava bem quente nesse dia, mas o vento e uma camisa branca de manga comprida quebraram o galho. Às 12:20 estava em casa. Recreio - São Conrado – Recreio, 64,92 km, 311,35 dos 600, metade do caminho. Mais um dia em que fiquei bem cansado e dormi muito à tarde.

    https://www.instagram.com/p/CMhp-e0JGqb/?utm_medium=share_sheet

    Sexto dia, 18 de março, quinta-feira

    Quando pensei nos percursos que queria fazer quis deixar um dia para andar pelos caminhos de terra de Vargem Grande. Como sempre peguei a ciclovia na praia, a Estrada do Pontal, onde a “onça” ainda estava por lá, jogada no mato do lado do caminho, e a Estrada dos Bandeirantes. Em Vargem Grande andei pelas estradinhas de terra ou de asfalto malconservado: Estrada do Cabungui, do Pacuí e Mucuíba, por onde fui procurando um caminho à direita que me levaria até a Estrada do Sacarrão. No ponto do mapa onde esse caminho deveria começar havia uma pirambeira que subi até descobrir que o caminho só existe no Google Maps. Desci sabendo que aquilo era como as coisas que não dão certo na vida. A gente volta, pega o rumo certo e continua em frente.

    Retornei pela Mucuíba e peguei uma rua que sabia que me levaria até a Estrada do Sacarrão, por onde fui subindo procurando onde terminaria o tal caminho do Google Maps. Passei por um condomínio e uma propriedade gigantesca. Se existisse, aquela ligação entre as estradas seria particular. Voltei até a Estrada do Bandeirantes que fui seguindo até chegar na Estrada da Boca do Mato, onde pedalei até o início da trilha que leva ao Açude do Camorim no Parque Estadual da Pedra Branca. Comecei a voltar para casa e, perto dali, parei para encontrar meu filho Lucas, que iria pedalar comigo um outro dia, e aproveitei para fazer um reabastecimento de água gelada com ele para aguentar o calor de todo dia. Segui pelo caminho conhecido da Estrada dos Bandeirantes, do Pontal e ciclovia até o píer para pegar a balsa que atravessa a Lagoa de Marapendi.

    (A balsa chegando no pier)

    Etapa do dia finalizada às 13:30. Recreio - Pontal - Vargens Grande e Pequena - Pontal – Recreio, 61,52 km, 372,87 de 600. À noite, para repor o que estava gastando, fui comer pizza com um amigo desde a época da faculdade de arquitetura e o filho dele.

    https://www.instagram.com/p/CMkYwoCJ_2J/?utm_medium=share_sheet

    Sétimo dia, 19 de março, sexta-feira

    Nem todo dia a gente acorda de bom humor e sair de casa não foi tão fácil quanto em outros dias. Fiquei me perguntando por que estava fazendo aquilo. Por que pedalar tanto? O que eu quero com isso? Tem dia que é difícil pensar nas respostas dos porquês da vida, então é melhor só fazer. Foi o que eu fiz. Sabia que depois de uns quilômetros o ritmo das pedaladas levaria meus pensamentos para outros lugares.

    No primeiro dia levei fones de ouvido para me distrair no caminho. Ouvi muito pouco. A música do vento nas orelhas e o que passava na minha cabeça eram mais interessantes do que qualquer música.

    Saí de casa às 9:05 pedalando pela Avenida das Américas, onde raramente ando, dobrei na Estrada Benvindo de Novaes e cheguei em Vargem Pequena de frente para a Pedra do Calembá, que um dia ainda quero subir. Dali segui o percurso Vargem Grande, Pontal, ciclovia até um quiosque na Barra para beber uma água e depois Quebramar, onde resolvi almoçar porque já era mais de meio-dia. Fui no Asa Rio, na Avenida Olegário Maciel. Comi um sanduíche gigante num pão ciabatta e um açaí. Covid-19 rolando solta e quase todo mundo de máscara. Meio tenso tirar a máscara para comer com aquele povo todo em volta.

    Voltei para a ciclovia com um solzão da tarde na cabeça e a comida, mesmo estando muito boa, me deixou meio pesado para pedalar. Cheguei em casa quase às 15:00 bem gasto do pedal Recreio - Vargens Pequena e Grande - Pontal - Quebramar - Recreio, 60,11 km, 433,98 do total de 600 que estava cada dia mais perto.

    https://www.instagram.com/p/CMnKTWhpPOf/?utm_medium=share_sheet

    Oitavo dia, 20 de março, sábado

    Neste dia iria ter a companhia da Ana Maria Xavier, guia do Centro Excursionista Brasileiro - CEB, uma amiga dela e o Bernardo Nietmann, meu companheiro de desenvolvimento de uma baleeira, embarcação salva-vidas, no Rio Grande do Sul.

    Nos sete primeiros dias pedalei sozinho, o que não me incomoda, até gosto e, para ser absolutamente sincero, queria que pelo menos o primeiro dia fosse assim mesmo. Apesar de gostar de estar com amigos, uma boa parte da minha vida andei sozinho, por opção ou por não ter opção.

    Seria um dia de subidas e estradas de terra na Ilha de Guaratiba. Saí de casa às 7:30 para encontrar a Ana Maria e a amiga dela no posto Forza do início da subida da Grota Funda, que foi um subidão bom e uma descida melhor ainda. Na Ilha que não é uma ilha, mas que pela história que se conta tem esse nome por conta de um morador chamado William, pedalamos na Estrada das Tachas, mais uma rua que mudou de nome e virou Estrada Paiva Muniz. A rejeição e o movimento contra o novo nome por parte dos moradores gerou uma dissertação de mestrado disponível em http://livros01.livrosgratis.com.br/cp136331.pdf. Acho um desrespeito à história essa mania dos nossos políticos de mudar o nome das coisas.

    Subimos bastante, quase até o passo que se atravessa para descer na direção de Campo Grande. No caminho vimos um burro carregado de capim recém cortado como se estivéssemos numa estradinha do interior. Encontramos um senhor que tinha nascido naquela área há quase setenta anos. A mãe dele também tinha nascido lá e boa parte da família ainda morava por ali. Pela conversa cheguei à conclusão que o progresso nem fez tão bem para uma área que já foi rural. Já tinha passado pela Estrada das Tachas, vindo de Campo Grande e descendo na Ilha, há quase trinta anos na primeira mountain bike que tive. Naquela época a bike era pior e o meu gás maior. O tempo passa...

    Na volta andamos pela Estrada do Morgadinho e vimos cavalos bem tratados nos haras. Um contraste com o ar de pobreza que também se vê ali. Paramos para um descanso e compramos frutas e água. O pedal até ali estava ótimo. Um verdadeiro paraíso para quem gosta de downhill, o que já não é mais o meu caso, e para quem gosta de estradas de terra. Paramos novamente na subida da Grota Funda para bebermos um caldo de cana. A Ana Maria e a amiga ficaram no posto de gasolina onde as encontrei e dali para frente quem iria me acompanhar seria o Bernardo, que seguiu comigo pela Estrada do Pontal e pela ciclovia até o píer da balsa que atravessa a Lagoa de Marapendi.

    Passando de balsa na lagoa se entende porque se chama aquela área de pantanal carioca. A vegetação, os jacarés, pássaros e capivaras não dão uma pista de que se está no meio de uma cidade como o Rio de Janeiro.

    O Bernardo tinha hora para voltar para casa e eu ainda iria pedalar mais alguns quilômetros para completar o percurso do dia. No dia seguinte ele iria pedalar comigo novamente.

    Às 13:00 estava em casa depois de 63,16 km, Recreio - Pontal - Ilha de Guaratiba – Recreio. Completei 497,14 km e faltavam pouco mais de 100 km para completar os 600.

    Compartilhei a atividade do Strava com meu filho Eduardo que estava com uns amigos. Me chamaram de brabo. Nem acho que é isso tudo, mas é bom saber que a gente faz coisas que os outros acham interessante.

    https://www.instagram.com/p/CMpuXXtpxQa/?utm_medium=share_sheet

    Nono dia, 21 de março, domingo

    Acordei sem muita vontade de pedalar. Já passavam das 9:00 quando encontrei o Bernardo Nietmann no Posto 9. O Bernardo é um ciclista bem mais técnico do que eu, está sempre treinando e tem uns tantos anos a menos. Ter alguém assim como gregário puxando o ritmo é um privilégio e foi uma ajuda importante para me dar gás num dia que comecei com um ânimo que não era dos melhores.

    Por conta da pandemia do Covid-19 o Eduardo Paes, prefeito do Rio, assinou um decreto que iria manter as praias fechadas por uns dias. Como ninguém poderia ficar na areia o movimento no calçadão e na ciclovia também diminuiu. Nosso pedal até São Conrado foi super tranquilo. Chegamos no início da Avenida Niemeyer em uma hora e meia com uma parada no Quebramar e outra no Elevado do Joá, onde o visual estava fantástico.

    Como o Bernardo e a Ana Maria falaram tanto no dia anterior que eu deveria usar capacete, o que não faço praticamente nunca, usei um que estava aqui em casa. Se acontecesse alguma coisa depois deles falarem tanto não seria por falta de aviso.

    A volta foi tão tranquila quanto a ida, mesmo com o calorão que me acompanhou em todos os seiscentos quilômetros. Bernardo dobrou para casa quando chegamos no fim do Recreio enquanto continuei em direção à Prainha, até o ladeirão que se sobe para ir a Grumari e que tem um visual que se vê em várias propagandas e fotos de Instagram. Na volta desci essa ladeira a mais de 70 km/h, o que é meio assustador, mas que foi incrivelmente bom.

    Às 13:00 estava de novo em casa para um almoço mexicano com meu filho Lucas e uma soneca à tarde. Recreio - São Conrado – Prainha - Recreio, 61,37 km, 558,51 de 600. Faltando bem pouco para acabar fiquei pensando que tem gente que faz coisa muito mais punk, mas um projeto longo como esse era uma coisa nova para mim e que teria que procurar coisa parecida quando acabasse.

    https://www.instagram.com/p/CMsLeuuplBr/?utm_medium=share_sheet

    Décimo dia, 22 de março, segunda-feira

    Último dia de pedal, dia do meu aniversário e de comemorações. Conversando com a Bianca, minha namorada, resolvi que entraria na onda de Tim Maia e nesse dia faria um pedalzão do Leme ao Pontal, com uma perna anterior do Recreio até o Leme.

    Às 8:00 estava na rua feliz de ter chegado até ali. O tempo estava ótimo e as praias continuavam vazias por conta do decreto do prefeito. Depois de uma parada no Quebramar segui em direção a São Conrado aproveitando o visual do Elevado do Joá. Um amigo meu, o Helton Paixão, fala que esse visual é responsável pelo engarrafamento das manhãs pré-pandemia, no caminho da Barra da Tijuca para São Conrado, porque é impossível não diminuir a velocidade para olhar. Ele pode ter razão...

    Como parte da ciclovia da Avenida Niemeyer havia desabado, iria andar pela rua dividindo o espaço com os carros e, seguindo o ditado “seguro morreu de velho”, resolvi usar capacete novamente.

    (Do Leme...)

    Às 10:35 cheguei no Leme depois de parar no Mirante do Leblon para tirar umas fotos. Ao lado da Clarice Lispector no Caminho dos Pescadores, tive uma conversei muito boa pelo telefone, com meu filho Eduardo, sobre as coisas que a gente pode fazer na vida. Bebi água e Gatorade para não desidratar e fui encontrar Bianca e a filha dela, Joana, no Coffeetown do Leblon para um almoço em ótima companhia e ter a primeira comemoração do aniversário. Voltei pedalando tranquilo, saindo da ciclovia somente na parte interditada. Já eram quase 15:00 quando parei no Alfabarra para beber e comer alguma coisa. Um pouco depois encontrei com meu filho Lucas no Posto 9, no Recreio, para pedalar até o Pontal onde cheguei com um sorriso de uma orelha até a outra. Mais um pedalzinho até em casa para fechar 75,32 km no percurso Recreio - Leme – Pontal, total de 633,83 km. Projeto 600 km terminado.

    (...ao Pontal)

    À noite comemorei novamente, dessa vez com filhos, mãe, tia, irmã e cunhado e, via chat, com namorada e a família da minha outra irmã que mora em Brasília. Família é tudo de bom.

    https://www.instagram.com/p/CMvJZqqJiwD/?utm_medium=share_sheet

    Pedalar 600km em 10 dias debaixo do Sol para comemorar meu aniversário de 60 anos foi cansativo e não foi fácil, mas também não foi tão difícil como cheguei a pensar que fosse. Nem todo dia acordava com disposição para pedalar, mas saía de casa assim mesmo e, depois de um tempo ouvindo o vento e aproveitando o visual, sempre foi bom. Mais do que terminar, foi bom fazer um projeto como esse e ter certeza que gente comum faz mais do que se pode pensar.

    Minha família é muito top e valoriza minhas conquistas às vezes mais do que eu. Me deram um troféu como presente de aniversário, o que é especial para mim. Saber que quem a gente gosta está sempre do nosso lado é hiper mega ótimo. Agradeço a todo mundo que sempre me deu e continua me dando força e a todos que direta ou indiretamente me incentivaram para que eu percorresse todos esses quilômetros.

    https://www.instagram.com/p/CM2Yx14pTJ0/?utm_medium=share_sheet

    4 Comentários
    Rafael Damiati 30/08/2021 21:11

    Meta: chegar bem aos 60 para fazer esse mesmo role! Parabéns mais uma vez, Fialho 🤙🏼

    1
    Bruno Negreiros 30/08/2021 21:21

    Desse cara eu sou fã!! Parabéns Fialho!!

    1
    Alexandre Fialho 30/08/2021 23:16

    Eu que sou fã de vocês dois e de um monte de gente mais.

    Alexandre Fialho 10/09/2021 20:15

    Terminei de ler Transmongólia do Guilherme Cavallari no mesmo dia que completei os 600km. Já tinha lido e visto os documentários Transpatagônia e Highlands e acompanhado pelo Instagram o Nestor Freire pedalar do Oiapoque ao Chuí, mas isso não foi suficiente para entender a dimensão do que é pedalar tanto por tanto tempo. Meus 600km ajudaram a perceber o tamanho da coisa. São façanhas dignas de poucos. Pedalei por percursos conhecidos e voltava para casa todo dia, com banho quente, comida, cama e roupa lavada. No caso deles não haviam essas mordomias. O Cavallari, na dedicatória do livro Transpatagônia, escreveu que "Às vezes é preciso ir longe pra chegar perto de quem somos...". Vamos seguindo.

    1
    Alexandre Fialho

    Alexandre Fialho

    Rio de Janeiro

    Rox
    63
    www.instagram.com/alexandrefialh0