Monte Roraima - Parque Nacional Canaima
Viagem de 7 dias com 2 dias de andanças pelo topo do Monte Roraima
Trekking MontanhismoFoi numa rua de Pinheiros, em São Paulo, durante o almoço, que meu amigo Caio lançou a pergunta: se pudesse escolher qualquer uma, qual seria a sua próxima trilha?
Apesar de esse ser um tema que volta e meia passa pela minha cabeça, a pergunta me pegou de surpresa. Levei um tempo para responder e disse:
- Monte Roraima!
- Então vá, Bruna.
- Mas eu não terei muitos dias disponíveis... gostaria de fazer o roteiro com maior número de dias...
- Bruna, vá como puder. Mas vá.
Sai dali já pensando em viabilizar a viagem. Eu tinha uma passagem comprada para Manaus, para abril. Então comprei um segundo trecho aéreo para chegar em Boa Vista. Caio me indicou a agência Roraima Adventures, que tinha uma saída de 7 dias justamente no período que eu precisava!
Em cerca de três dias, às pressas, estava tudo resolvido.
1º dia/ 10 de abril
Sai à tarde para o encontro com os participantes do roteiro. Estava ansiosa, pois não sabia muito bem o que encontraria. Era minha primeira experiência com trilhas feitas por agência de turismo.
Lá, recebemos as informações sobre o roteiro, detalhes da logística, avisos e sugestões. Tudo muito estranho.
Trata-se de um roteiro bastante turístico... procurado. Você poderá pagar por todo tipo de mordomia facilidades, o que inclui porteadores que faltam levar você mesmo nas costas. Optei pelo "pior" cenário dentro de um contexto como esse, sem contratar nenhum serviço extra, e ainda assim, não precisei levar nem a barraca e nem a alimentação pesada... apenas lanches de trilha.
Porteadores
Já no fim da tarde, depois da reunião com o grupo, a agência passou para me buscar no hostel em que eu estava e partimos para Santa Elena, onde nos hospedamos no primeiro dia.
2º dia / 11 de abril
Saímos cedo de Santa Elena e cerca de 3 horas depois estávamos na comunidade de Paraitepuy. Há alguns procedimentos burocráticos para entrada e às 11h30 saímos para a caminhada.
O trecho segue em ascensão suave durante todo o tempo, a não ser por uma bela subida logo no início (Subida da morte). O trecho é característico da "Gran Sabana", bastante seco, sem vegetações altas e bastante monótono. Chegamos no primeiro acampamento, 13 km depois, às 15h30. O acampamento fica às margens do rio Tek e tem uma vista incrível do Monte Roraima ao fundo.
Rio Tek
3º dia / 12 de abril
O trecho de 9km foi, na minha visão, o mais exigente de toda a trilha, porque há uma ascensão de 820m aliada ao tempo extremamente seco.
Ao longo do caminho, a vegetação e clima vão mudando bastante. Saímos cerca de 7 horas da manhã de uma região seca e sem vegetação para chegarmos às 11h30 no "pé" do monte, literalmente encostado em seu paredão, debaixo de uma baita chuva. Já próximo do final, muitas flores bonitas vão surgindo.
4º dia / 13 de abril
Às 7h, depois de uma noite inteira de chuva forte, saímos para a caminhada pela qual todos esperavam ansiosos: a subida ao topo.
De baixo, a subida assusta. Mas foi bem mais fácil do que parecia. A ascensão de 900m foi feita de forma lenta e tranquila. Passamos pelas famosas "lágrimas", trecho em que há uma espécie de cachoeira.
"Lágrimas"
Por conta do tempo ruim, o visual ficou bastante fechado durante todo o caminho. Isso não me impediu de apreciar a imensa beleza das flores endêmicas. Uma mais incrível que a outra, especialmente as bromélias.
Subida ao topo
Ao meio dia, chegamos ao topo e passamos um tempo esperando abrir uma janela em meio ao nublado para apreciarmos a visão lá de cima. Sem sucesso.
Aproveitamos então para conhecer uma gruta que ficava ao lado do camping, muito interessante! No fundo dela, havia uma cachoeira. Ao chegarmos lá, desligamos as luzes e ficamos por alguns minutos ouvindo o som alto da água correndo. À noite o céu abriu e foi uma lindeza sem tamanho contemplar dali as estrelas.
Uma coisa que me supreendeu bastante é que imagiva o topo um relevo plano, mas não é. Há várias reentrâncias, sobes-e-desces. Também é tudo muito parecido, fácil de se perder.
5º dia / 14 de abril
Passei o maior frio essa noite. Essa é uma questão importante para quem faz essa trilha. Na parte baixa faz MUITO calor. Na parte alta esfria MUITO. Você deve ter roupa para os dois climas.
Relevo
Aproveitamos o dia com andanças pelo topo, que incluíram a visita ao Salto Catedral, às jacuzzis, "La Ventana", "Maverick" etc. Todos próximos ao acampamento e interessantes. Eu poderia ter escolhido um roteiro que ia até o ponto tríplice, mas era mais longo e eu estava com preguiça. :P
Pôr do sol
Nesse dia, no fim da tarde, finalmente as núvens deram uma trégua e foi possível ver o pôr do sol.
6º dia / 15 de abril
Esse é o dia de descida. Saímos do topo, almoçamos no acampamento da base e, à tarde, seguimos até o acampamento do Rio Tek novamente.
Visual na volta, de costas para o Monte Roraima
Foi um dia muito bom, apesar de já conhecermos o caminho. Aproveitei para me desconectar do grupo e disparei a andar um pouco na frente, sozinha. Precisava disso um pouco.
7º dia / 16 de abril
A ideia hoje era chegarmos em Boa Vista! Então saímos cerca de 5h30 e às 8h já estávamos na saída do parque, novamente na comunidade de Paraitepuy. Precisamos fazer vários trâmites de checagem da bagagem. De lá, às 11h, partimos em direção à cidade de São Francisco, onde almoçamos. Lugar bem decadente. Dali seguimos para Santa Elena e, de lá, para Boa Vista. Não houve problemas na aduana, nem na ida e nem na volta. Mas havia uma porção de histórias de insucessos e problemas, contadas pelos próprios guias.
Se eu gostei de realizar essa travessia? Sim. Gostei. O visual impressiona, as formações rochosas são surreais e a vegetação endêmica do Monte é magnífica.
Mas tenho muitos "contras" a mencionar, talvez pela forma turística como optei por conhecer o lugar. A mercantilização da experiência na natureza é, sob meu olhar, muito exagerada. As trilhas são muito sujas devido ao trânsito intenso de turistas e são poucas as agências responsáveis que levam, de fato, todo lixo embora. Além disso, você está sempre muito à mercê do tempo chuvoso, em qualquer época do ano, e é questão de sorte e acaso encontrar o céu aberto lá em cima.
Ainda assim, como me disse meu amigo Caio, VÁ.
Ótimo relato! Deve ser meu próximo destino!
Gostei :D
Parabéns. Saudade dessa aventura. ....
Epic shit!!
E essa foto do Pôr do Sol? Não sabe brincar não? :)
Esse por do sol tá divino, hein? Parece uma pintura...
Lindo relato! Esse lugar mora no meu coração, o Rio Tem eh especial pra mim!! Ainda vou voltar lá!!!
Bruna, que fotos lindassss... Sabe, o Monte Roraima tem um lugar especial no meu coração, mas a primeira vez que fui, apesar de marcante, me trouxe uma sensação estranha, não gostei do que senti, mas sentia que precisava voltar! Bom, voltei, 6 vezes para ser mais específica... E sinto saudades quanto fico muito tempo longe... Concordo com você em como a Montanha é "usada" comercialmente e como algumas "agências" e grupos maltratam o lugar, mas lá conheci uma gente simples, carinhosa e apaixonada, que vive da montanha e para a montanha, cuidando e respeitando! Que seus pés continuem encontrando lindos caminhos! Beijinhos!!!