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Carol Emboava 04/08/2015 14:15
    Serra da Graciosa x Barra Velha | Projeto Giramérica

    Serra da Graciosa x Barra Velha | Projeto Giramérica

    Primeira etapa do sonho de percorrer de bike 13.000 km pela América do Sul, passando pelo Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia até o Peru

    Cicloviagem Longa Distância

    Noite anterior a partida, hora de tentar dormir... a cabeça a mil por hora, repassando a lista de equipamentos na cabeça, pensamento na estrada, pensando na pretensão de um pedal tão longo, nos bônus e ônus que viriam pela frente!

    Antes mesmo de começar já tinha mudado um trecho do roteiro. Resolvi não sair de Curitiba e sim da entrada da Serra da Graciosa, assim diminuiria uns bons kms de pedal e poderia testar a bike mais tranquila, já que todo aquele planejamento de viagens-teste tinha ido por água abaixo. Iria testar tudo realmente na prática e isso me assustava um pouco.
    Dormi de madrugada, depois de rolar algumas horas no sofá da casa da minha amiga.

    Domingo, pouco mais de 8h da manhã encontrei o Marcos Mineiro na entrada da serra, ele iria me acompanhar pelos dois primeiros dias. Ótimo ter companhia nesse momento tão crucial da viagem, a partida. E que momento difícil. Talvez pela presença de minha mãe, por estar tão próximo e ao mesmo tempo tão longe da minha zona de conforto e dos sentimentos já conhecidos. Dali adiante tudo era novidade na minha vida. Estava empolgadíssima com a ideia, mas a prática realmente assustava.

    Abracei os amigos e por último minha mãe, que nem consegui olhar nos olhos, impossível descrever o sentimento nessa hora, era um misto de todos eles juntos... não me demorei muito pra não prolongar a despedida, ainda não sou muito boa nesses momentos. Subi na bike e segui em frente, rumo a Morretes.


    Os primeiros kms foram realmente de teste da bike, tanto do peso, quanto do equilíbrio. E seria mentira se eu dissesse que estava fácil. Empurrei a bike logo no 2o ou 3o morro que vi pela frente. Mas quando chegou a descida, não sabia se agradecia ou praguejava aquele peso todo.

    34km depois chegávamos a Morretes, prontos para almoçar um barreado, comida típica da região e diga-se de passagem, maravilhosa! O final da tarde foi para uma sesta à beira do Rio Nhundiaquara, que corta a cidade.

    O Marcos nos arrumou uma hospedagem, na casa da mãe de um amigo, a Dona Eloe, que nos mostrou onde ficava o quintal, para uns 10 minutos depois ela aparecer e nos dizer que não ia conseguir dormir lá dentro se nós estivessemos lá fora. Nos mostrou onde ficava o quarto, chuveiro e ainda nos fez um chá quentinho. Realmente a viagem tinha começado com o pé direito, com a primeira pessoa do meu caminho me mostrando um bom coração.

    O dia seguinte foi tranquilo na estrada, exceto pelo fato do meu bagageiro, que se soltou próximo da blocagem do selim e saí arrastando os alforges por uns metros de asfalto. Incrível mesmo foi a calma que senti, um sentimento totalmente inesperado numa hora de perrengue. Tirei o kit de ferramentas da bagagem e arrumamos tudo em alguns minutos. Acredito que tenha sido apenas uns parafusos mal apertados.

    Chegamos em Caiobá depois de 70km e seguimos para um apartamento de veraneio de um amigo do Marcos. Hora de descansar e comer uma pizza, pra encerrar e agradecer a parceria desses dois dias.

    Na manhã seguinte tudo tinha gosto de novidade. Parecia uma segunda partida, dessa vez encarando mesmo a carreira solo. Subi morro, desci morro, tomei chuva na cabeça quase o dia todo e nem liguei, cantei, gritei, chorei, dei risada, levantei os braços pro céu, agradeci ao mundo, aos deuses, a chuva, ao vento... parecia uma maluca em cima da bike!


    Cheguei encharcada em Itapoá e meu contato foi um presente... A Eliana e o Paulo são pais de uma amiga do Marcos e me receberam de portas abertas, com chuveiro, cama e café quente, como se eu fosse uma velha amiga.A Eliana é uma pessoa de uma energia incrível e papear com ela só me fez perceber que a viagem estava seguindo o rumo certo.

    Difícil mesmo foi partir no dia seguinte, fizemos uma foto e ela me acompanhou de bike até a próxima rua, me mostrando o caminho. Ganhei um beijo e um abraço apertado, que me fez encher os olhos d'água e desabei assim que virei as costas. Chorei por tanta coisa presa na garganta e no coração, mas principalmente de gratidão e pela oportunidade de estar vivenciando essa experiência incrível.

    Segui meu caminho com o coração pleno de felicidade rumo a São Francisco do Sul. Aproveitei o primeiro dia de sol e céu azul para ir secando algumas coisas do dia anterior, tudo pendurado nos bagageiros. A bike já não parecia mais tão pesada e eu ficava repassando na cabeça o que tinha colocado em cada alforge, pra tentar lembrar se não tinha deixado nada importante pra trás, além de amigos...

    Em São Francisco fui recebida pela Blé e pelo Beto, da Hospedaria da Bicicleta. Lá eles recebem cicloviajantes de todas as partes do mundo e promovem eventos que envolvem a bike e a cultura do pedal. É um lugar muito legal, recomendo aos ciclistas e viajantes que estejam de passagem que os conheçam. Visitei o Museu do Mar, grande motivo de minha passagem pela cidade e só não foi melhor porque o barco do Amyr Klink, que queria tanto conhecer, não estava mais lá.


    No fim da tarde, chegou o Felipe Baenninger, do Projeto Transite, e se hospedou por lá. Cozinhamos, trocamos muita ideia, principalmente sobre cicloviagens, bagagens e suas utilidades, capacetes e suas (in)utilidades... e tiramos o dia seguinte para descanso.

    Na sexta parti, com mais um dia nublado e frio, 62km de estradas, alternando entre a BR101 e uma estrada de terra que exigia calma e paciência, com areia fofa e costelas de vaca pelos seus 20km.

    Chegando em Barra Velha passei por um posto de combustível e pedi informação na loja de conveniência, sobre um lugar para almoçar. Como era tarde e todos os restaurantes já estavam fechados, a Sheila (que descobri depois seu nome) me indicou uma cafeteria na próxima rua. Não pensei duas vezes, corri pra lá e tomei uma sopa de feijão e uma taça de vinho para comemorar o dia de pedal e de quebra esquentar o corpo.

    Na saída a ideia era seguir até o Circo Escola, onde tinha uma indicação de pouso. Passei antes na conveniência do posto, para agradecer a super indicação da cafeteria, que adorei! E logo o marido dela, o Elias, veio conversar comigo, disse que tinha recebido uma mensagem no facebook de alguém avisando sobre minha passagem pela cidade. Papo vai, papo vem, acabei aceitando o primeiro convite de pouso inesperado da viagem, eles moravam ao lado do posto e disseram que se eu quisesse podia montar a barraca ali mesmo. Lugar seguro, abrigado, aceitei prontamente. Estava instalada, de roupa quente e preparada para mais um dia de descanso, devido a previsão de chuvas fortes no dia seguinte.

    Não veio toda a água que a mentirologia prometeu, mas foi bom ficar parada, deu tempo de levar o netbook, que deu problema, para um técnico consertar, procurar o furo e remendar o isolante inflável, atualizar o diário e conhecer um pouco a cidade, a medida que São Pedro ia permitindo.


    Estava pra lá e pra cá arrumando as coisas quando a Sheila passou e me perguntou se eu queria tomar um banho quente. Como recusar? Subi, tomei banho e ainda fiquei para almoçar. Mais uma vez portas abertas por desconhecidos e me sentava a mesa para compartilhar uma refeição. Acredito que esse momento seja algo tão íntimo que me sentia um pouco lisongeada, porém um pouco intrometida de estar ali.

    Ainda tenho muito o que aprender e crescer com essa experiência, me livrar de vários pré-conceitos adquiridos ao longo de 31 anos de vida e a cada momento que penso no que estou vivendo meu sentimento de gratidão aumenta. Essa primeira semana me mostrou que o mais difícil não é pedalar, não é superar limites físicos de quilômetros ou condições climáticas (pelo menos por enquanto), não é chegar numa cidade sem saber ao certo onde vou passar a noite... o mais difícil é partir, é ir deixando pra trás pedaços da história que estou construindo, sem saber o que vem pela frente. Mas é também essa incerteza que faz com que eu tenha prazer em me mover, sabendo que nos próximos quilômetros um bom coração me espera...

    Carol Emboava
    Carol Emboava

    Publicado em 04/08/2015 14:15

    Realizada de 04/08/2013 até 09/08/2013

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    7 Comentários
    Edson Maia 04/08/2015 16:39

    Totalmente demais! :)

    André da Mota Alvim 04/08/2015 18:08

    Nossa, como me lembrei de minhas cicloviagens!! Vai na fé e muita paciência. Muitas luz ai pra você!!

    Renan Cavichi 05/08/2015 08:55

    Uma coisa que você comentou no Facebook do Giramérica é muito forte: "...uma viagem se faz de pessoas e momentos, não somente de lugares e paisagens." esse é o espírito! Falta pouco... go go go!

    Paulo Coelho 07/08/2015 05:19

    caramba...

    Luan Pureza 07/08/2015 20:36

    Força Carol!

    Viajando na Viaje 11/08/2015 15:54

    Coisa linda demais!

    Douglas Cordeiro - DC 30/04/2020 20:21

    Que legal! sua descrição de cada momento e a confiança que adquiriu com as pessoas com quem interagiu, me dá uma dose de animo ao pensar que em breve sairei pra fazer toda a América do sul. Parabéns Carol!

    Carol Emboava

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