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Claudio Luiz Dias 16/10/2016 15:57
    Cromeleque dos Almendres - Viagem no Tempo

    Cromeleque dos Almendres - Viagem no Tempo

    Um pequena trilha, milhares de anos de história e o desafio de uma senhora de 90 anos

    Perto da cidade de Évora, em Portugal, existe um dos sítios megalíticos mais importantes da Europa, mais antigo do que Stonehenges na Inglaterra, mas menos conhecido.

    Estávamos de viagem marcada para Portugal para comemorar o aniversário de 90 anos de minha mãe (que também tem rodinha nos pés, sempre pronta pra passear) e já tinha incluído a cidade de Évora no roteiro, quando alguém compartilhou uma publicação no facebook sobre Cromeleque. Pesquisei um pouco e foi suficiente para decidir visitar o local.

    Conforme o wikipedia, Cromeleque é o conjunto de diversos menires dispostos em um ou vários círculos, em elipses ou em retângulos, ou ainda estruturas mais complexas como o cromeleque dos Almendres.

    Trata-se de monumentos da pré-história, estando associados ao culto dos astros e da natureza, sendo considerados um local de rituais religiosos e de encontro tribal.

    A região de Évora é densamente coberta por sítios arqueológicos que vão desde o início do Neolítico (7000 a 8000 anos atrás) até a Idade do Ferro, abrangendo menires, antas, necrópoles e povoações pré-históricas.[1][4] O cromeleque dos Almendres pertence, assim, ao universo megalítico eborense

    Os menires de grande tamanho foram colocados sobre alvéolos (cavidades) previamente preparados que chegam até o substrato rochoso sob o solo. Uma coroa de pedras era colocada ao redor da base destes menires, depois coberta de terra e pedras menores, o que ajudava na sustentação. Os menires menores tinham alvéolos também menores, e os de menor dimensão eram sustentados apenas por uma coroa de pedras. Atualmente existe uma planta da disposição cada um destes monólitos, todos numerados, possibilitando a identificação das características individuais de cada um.

    Dez dos monólitos do cromeleque apresentam decoração em forma de relevos ou gravuras, dos quais quatro possuem apenas "covinhas" (série de pequenos buracos escavados na pedra).

    O conjunto foi descoberto em 1964 pelo investigador Henrique Leonor Pina

    Graças ao google, encontramos o contato do arqueólogo Mario Carvalho, da empresa Ebora Megalíthica (http://www.eboramegalithica.com/) (eboramegalithica@gmail.com) e agendamos a data. O Tour ficou € 25,00 por pessoa.

    Para ir de Lisboa a Évora há várias opções, como alugar um carro, contratar um passeio em agência de viagem (http://www.tempovip.com/), ou utilizar transporte público: comboio (trem) - https://www.cp.pt/passageiros/pt, ou autocarro (ônibus) pela Rede Nacional de Expressos (http://www.rede-expressos.pt/) .

    Por questão de horário e $, preferimos ir de autocarro, comprando a passagem antecipadamente pela internet. Cada passagem (ida) saiu por €10,60

    Rodoviária de Entre Rios, em Lisboa. Há fácil conexão com o Metropolitano (Metrô) que tem estações no centro de Lisboa. Mas se você estiver em grupo de 3 ou 4, é mais vantajoso ir de taxi. A plataforma é numerada e chama-se "linha", e no letreiro luminoso aparece o nº da viatura, ou seja, do ônibus. Há painéis indicando em que linha via ser o embarque de cada viatura e o destino, como nos aeroportos.

    Depois de 1h30 em autoestrada, chegamos a Évora, uma cidade que ainda conserva muito do período medieval, como o aqueduto, as muralhas, a catedral e as vielas.

    Quando chegamos na rodoviária de Évora, Mario já nos aguardava com sua Van Megalítica, e fomos então pegar outros turistas, um espanhol de Barcelona e uma casal dos Estados Unidos. Mario teve que explicar tudo duas vezes, uma em português e outra em inglês, mas teve muita paciência e profissionalismo.

    Depois de não muito tempo, em estrada de terra, em meio a propriedades rurais produtoras de cortiça (extraídas da casca da árvore Sobreiro), chegamos a Cromeleque.

    A vista é impressionante, pois dessa colina, olhando ao horizonte, os antigos habitantes podiam determinar a mudança das estações do ano, ou seja os solstícios e os equinócios (hora de plantar, hora de colher, hora de se agasalhar), ao conjugar o ponto onde o sol nasce, com a posição das pedras e dos enormes menires mias distantes. Isso há milhares de anos atrás!

    Apesar da importância histórica do sítio, a área não é pública, mas sim dentro de uma propriedade privada, o que tem trazido problemas na conservação tanto dos acessos como dos próprios menires.

    Alguns menires são decorados em alto relevo, com símbolos que representam a lua, o cajado do pastor e também rostos humanos rudimentares (olhos, nariz e boca), tudo muito desgastado pela ação do tempo que insiste em não parar de passar....

    consegue ver a lua e o cajado?

    Este lugar tem uma energia incrível e saber que alí, tribos ancestrais realizaram rituais nos faz pensar na relatividade do tempo.

    Depois, fomos visitar um grande Menir, localizado a pequena distância, que servia para demarcar o solstício de verão. No passado, sem a plantação de Sobreiros, este menir era avistado desde Cromeleque e, em contraponto com o nascer do sol no horizonte, indicava o inicio (solstício) do verão. Um trecho de carro e um trecho de caminhada numa trilha, também em propriedade privada nos leva ate o Menir.

    Para quem já leu Asterix, é impossível não olhar para um menir e não lembrar do Obelix. Mas para nossa decepção, Mario nos informou que a cultura megalítica é muito anterior à cultura Gaulesa e Romana e quando Asterix foi escrito, ainda não se tinha a datação por Carbono 14.

    Mas deixando o arqueologuês de lado e dando licença poética e à imaginação asa, gostaria de tomar uma poção mágica e carregar um menir assim para por aqui, no jardim de casa....

    Ainda faltava uma última visita. Deixando os locais de observação astronômica, fomos a um sítio funerário megalítico.

    Mais uma pequena trilha entre os sobreiros, alguns recém descascados (o nº 6 indica que a coleta da cortiça se deu em 2016) e outros em fase de reconstituição da casca. O ciclo se completa a cada 9 anos.

    Mais uma vez, pensamos na relatividade do tempo e da palavra "aventura". Uma pequena trilha rural para uma senhora (aventureira, porque não?) de 90 anos de idade é um desafio. Para que um bastão de caminhada, se você já tem sua própria bengala? Ah, e também os braços dos filhos, é verdade!

    Então chegamos à Anta Grande do Zambujeiro

    Anta é o nome dessa estrutura funerária feita com pedras enormes, tanto nas laterais, como na cobertura. Tudo era coberto com terra, de forma que um viajante desavisado poderia pensar que se tratava de uma pequena colina. Isto dava o aspecto de uma gruta.

    Os mortos eram colocados no centro da tumba, com placas de andesita, decoradas com motivos geométricos que poderiam indicar sua origem ou seu clã. Depois, quando ocorria um novo sepultamento, o que estava no centro era recolocado nas laterais, com seus pertences e o novo inquilino ocupava o centro.

    Não sei qual a origem do nome anta para estas estruturas, em português de Portugal. Em português do Brasil, anta é o nome do maior mamífero terrestre do Brasil (Tapirus terrestris). Um bicho muito inteligente. Mas também pode se apelido de uma pessoa burra ou ignorante.

    Neste contexto, o arqueólogo que descobriu estes sítios foi uma anta, e das maiores. Ele dinamitou a tampa superior, misturou os pertences com os restos mortais e ainda removeu a terra do entorno das pedras, expondo-as ao tempo. Assim, hoje a estrutura está quase colapsando.

    Ao final do tour, Mario dos deixou na Praça principal de Évora, e fomos almoçar no Restaurante Pateo (Rua 5 de Outubro, Beco da Espinhosa (facebook.com/PateoEvora), do qual nosso guia é sócio.

    A pedida não podia ser melhor: bife de atum, bacalhau ao forno com pasta de grão de bico e salada.

    Depois fomos ao Museu de Évora, onde tem um pouco do espólio das Antas, como as placas funerárias, mas também cerâmicas da época romana e da ocupação islâmica na península.

    Museu de Évora, com a catedral medieval ao fundo e à esquerda, o muro do templo romano.

    Placas funerárias com padrões geométricos

    Lamparinas mouras

    Ânforas romanas

    Passamos também na Capela dos Ossos, junto à Igreja de São Francisco. Uma capela cujas paredes e colunas são totalmente revestidas com ossos humanos.

    Uma nova reflexão sobre o tempo e o que fazemos no presente.

    Évora é uma cidade incrível, com historia sendo contada há milhares de anos, por sitios megalíticos das primeiras comunidades sedentárias da Europa, por templos romanos, fragmentos do período islâmico, por catedrais medievais e pelo caloroso e receptivo povo que habita estas bandas na atualidade.

    Só não deu tempo para visitar as excelentes vinícolas da região, como por exemplo a Cartuxa http://www.cartuxa.pt/pt/, que oferce um tour guiado com direito a degustação...

    Fica a vontade de voltar, nem que seja pelo vinho!

    1 Comentários
    Isabel 25/04/2019 21:34

    Logo vamos conferir as belezas de Évora 😊

    Claudio Luiz Dias

    Claudio Luiz Dias

    Caraguatatuba

    Rox
    345

    Agrônomo pela ESALQ USP.Trabalha na CETESB (Agência Ambiental do Estado de São Paulo) desde 1990. Interesse por meio ambiente, historia e cultura (foco em cerâmica indígena)

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