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Edson Maia 28/01/2018 21:01 com 1 participante
    Cicloturismo Selvagem: Travessia da Praia do Cassino - RS

    Cicloturismo Selvagem: Travessia da Praia do Cassino - RS

    Travessia realizada em quadro dias na maior praia do mundo em extensão.

    Cicloviagem Acampamento

    Desafiadora e inóspita

    A Praia do Cassino, considerada a maior do mundo em extensão, é um convite à aventura, para aqueles que possuem o ímpeto de colocar seus limites psicológicos e físicos à prova em um dos lugares mais inóspitos e isolados do litoral brasileiro.

    Minha história com essa travessia começou em 2015, quando após muito meditar para encontrar alguma travessia desafiadora e selvagem, me deparei com o Cassino. De lá para cá, durante pelo menos umas 3 ou 4 vezes, tentei colocar o meu plano em prática, não fazendo o tradicional trekking de 7 ou 8 dias, como é de praxe para a galera trilheira, mas em 4 dias de pedal auto-suficiente. Porém, sempre que separava uma data e me organizava para executar a travessia, os indicativos climáticos me diziam não, fosse por conta do vento ou da chuva, a coisa não andava.

    Não sei se é só comigo que acontece, mas às vezes, tem coisas que quanto mais quero fazer, as circunstâncias tanto mais me dizem que não... Eu realmente já estava meio injuriado com a situação de ter abortado ao menos três vezes ao longo de dois anos, e por conta disto, tinha definido que neste verão (2018-2019), eu faria a travessia com qualquer condição de clima, sozinho ou acompanhado, pois a coisa já estava virando uma lenda que assombrava meus pensamentos... kkkk

    Como é de costume, organizei o roteiro, a logística necessária e após, lancei nas redes sociais um dos meus famosos “editais hiperativos” (cuidado se ler algum por aí, geralmente é convidando para entrar em alguma roubada). Não demorou muito, e logo arrumei a parceira do Marcelo e da Bruna que toparam por conta e risco a travessia de bike. Estava assim formada a trupe para o desafio.

    O plano, como disse anteriormente, era percorrer toda a extensão do Cassino em quatro dias, iniciando a travessia nos molhes de Rio Grande, seguir no primeiro dia até o Farol Sarita, no segundo dia alcançar o Farol Albardão, no terceiro dia atravessar o Concheiro pernoitando no hotel abandonado e por fim, no quarto dia, chegar ao final da jornada nos molhes da barra do Chuí. Dividindo assim, os mais de 230 kms em quatro pernas para não ficar tão pesada a pedalada, mas como mostrarei a seguir, quase nada aconteceu como planejado.

    O Primeiro Dia:

    Depois de viajar quase a noite toda, pois embarcamos na rodoviária de Porto Alegre às 2:00 horas da madrugada, chegamos por volta das 7 horas da manhã na rodoviária de Rio Grande.

    Tão logo desembarcamos, tratamos de iniciar a montagem das bikes e dos alforjes com todo equipamento, para poder então, tomar o rumo dos molhes de Rio Grande, o nosso ponto de partida. Ainda no caminho pra os molhes, fizemos uma rápida parada numa padaria para tomar um café para acordar de verdade antes de encarar o desafio.

    Por volta das 9:30 horas, com o sol já querendo mostrar suas garras, e após um rápido passeio nos mais de 4 kms dos molhes de Rio Grande, colocamos as magrelas na areia e começamos nosso pedal do dia.

    Na medida em que pedalávamos para o sul, começamos a nos aproximar do Balneário Cassino, que no dia 3 de janeiro, com tempo bom, estava lotado de gente e carros na areia. Foi bastante chato e complicado sair daquele mar de gente, pois a areia estava solta, e não conseguimos dar um ritmo adequado já nos primeiros 15 kms. Mas na medida em que pedalávamos sob o olhar curioso dos banhistas, aos poucos a multidão foi ficando para trás, a quantidade de carros diminuindo e o sol subindo com força.

    Embora o vento estivesse ao nosso favor, a areia da praia não estava muito convidativa para pedalar com as bikes carregadas, todavia não tínhamos outra escolha, era tocar em frente rumo ao sul, ainda que isso exigisse um esforço extra, que de certa forma, já era previsto.

    Por volta do meio-dia, com o sol realmente muito forte, chegamos ao naufrágio do navio Altair, sem nenhuma sombra, e depois de uma noite quase sem dormir, o cansaço começou a dar as caras na turma e, enquanto bebíamos água, decidimos mudar o plano original, desistimos de chegar ao Farol Sarita, a ideia agora era procurar um local com alguma sombra para poder montar o nosso acampamento, almoçar, esfriar a cabeça do sol e descansar. Dos 65 kms, aproximados que deveríamos percorrer, rodamos apenas 28 kms, e no momento em que avistamos um pequeno bosque de pinheiros junto a um rancho de pesca, resolvemos ficar ali. Após pedirmos autorização para o dono do local, tratamos de montar nosso circo e relaxar com direito a um bom banho de água doce numa pequena lagoa junto ao rancho de pesca. Foi um alivio e tanto.

    O Cassino nos dava boas-vindas com muito sol, calor, vento empurrando e areia pesada.

    Depois de jantar, fizemos mais uma reunião de cúpula onde ficou decidido que no segundo dia, levantaríamos antes do sol para poder render o máximo enquanto não estivesse tão quente, pois teríamos que compensar os quilômetros que faltaram do primeiro dia e chegar de qualquer maneira ao final do dia, no Farol Albardão, onde existe uma base permanente da Marinha do Brasil, na esperança de conseguir um pouso e nos reabastecer de água potável.

    Dados do dia:

    Início do pedal: 9:30 horas

    Final do pedal: 15:30 horas

    Distância computada: 28 kms

    Segundo Dia:

    Ainda escuro, o despertador tocou e de imediato, após uma boa noite de sono, tratamos de tomar um café da manhã bem reforçado, desmontar o acampamento e aproveitar a condição de vento N/NE que nos dava uma força.

    Começamos a pedalar com um visual alucinante do sol nascendo na linha do mar. O astral da trupe estava muito bom, seguíamos pedalando na direção da imensidão que parecia não ter fim com a praia praticamente deserta, apenas jeepeiros e caminhonetes 4x4 de pescadores, vez ou outra, quebravam a nossa solidão naquele deserto à beira mar.

    Nosso ritmo inicialmente estava bom, e antes das nove horas da manhã, avistamos o Farol Sarita. Feita uma rápida parada para fotos e tomar um fôlego, seguimos em frente, com o sol começando a nos castigar e tendo que ter o cuidado de controlar o consumo de água que já estava começando preocupar.

    Seguiamos em frente, sofrendo muito com a areia pesada e o calor, dando pequenas paradas a cada 50 minutos mais ou menos. Por volta das 11:30, paramos num arroio para nos refrescar pois o calor estava muito forte. Meus lábios começaram a rachar por conta do sal e do sol, e a sede era infinita. Com pouco mais de duas horas e meia de pedal, avistamos no horizonte a estrutura do Farol Verga, desativado a algum tempo... com o sol nos torrando inclemente, a sede e a fome batendo, decidimos parar no Verga, e aproveitar a pequena sombra que ele fazia para descansar, comer algo, se reidratar com a pouca água que nos restava e por fim, esperar o sol dar uma baixada para só então retomar o pedal.

    Ficamos cerca de 3 horas parados, onde deu para dar uma cochilada na modesta sombra do Verga e comer algo para reabastecer de energia para dar a tocada final. Faltavam ainda 30 kms aproximadamente para chegarmos no Albardão.

    Com o cair da tarde e o sol mais ameno, seguimos em frente, na fé e na determinação de chegar no Albardão antes do pôr do sol, embora tivéssemos combinado que o importante era chegar lá, independente da hora que fosse, mesmo que para tanto, tivéssemos que pedalar na escuridão da noite.

    Com pouco mais de uma hora, avistamos a estrutura imponente do Albardão no horizonte, ainda distante cerca de 10 kms. Avistar o farol nos renovou o ânimo, apesar do cansaço e da sede e, com mais uma hora pedalando, para nossa alegria, chegamos ao destino junto com o sol indo embora.

    Fomos muito bem recebidos pelo sargento Moreno, que gentilmente, nos acolheu disponibilizando as instalações da cozinha, banheiro com ducha e um quarto para nossa trupe, ou seja, um verdadeiro Oasis no deserto para viajantes cansados e castigados pela dura jornada de mais de 12 horas de pedalada.

    Dados do dia:

    Início do pedal: 6:45 horas

    Final do pedal: 21:00 horas

    Distância computada: 107 kms

    Terceiro Dia:

    Era sabido por todos que este seria o dia mais difícil, pois deveríamos atravessar o famoso e temido Concheiro, que nada mais é do que um imenso trecho de praia onde a areia mistura-se com restos de conchas, formando assim, um terreno fofo e de difícil locomoção que pode variar entre 15 e 50 kms, dependendo das ações da maré e do vento que alteram o terreno.

    Assim sendo, fizemos uso da mesma estratégia do dia anterior: acordar antes do sol, tomar um bom café da manhã e começar a pedalar antes do sol nascer. Além disto, ficou decidido que tentaríamos completar a travessia neste mesmo dia, sem parar no hotel abandonado para acampar pois, os indicativos climáticos apontavam que para o dia seguinte, entraria uma frente de vento S, e certamente isso seria um grande problema.

    Por volta das 6:30 horas, com o dia amanhecendo e nos presenteando com um espetáculo de cores, e antes do sol começar a querer fazer churrasco da gente, começamos nossa jornada.

    Inicialmnete conseguimos evoluir bem, mais uma vez com o vento favorável, mas após 20 kms a coisa começou a ficar bem complicada: O Concheiro apresentava suas armas.

    Pedalar no Concheiro é algo muito complicado e desgastante. O esforço físico beirava o extremo. É uma sensação de se estar subindo uma montanha o tempo todo.

    Na medida em que pedalávamos e que o tempo passava, com a temperatura aumentando e o cansaço acumulado dos dias anteriores se fazendo sentir de uma maneira absurda, não conseguíamos manter uma velocidade média normal para cicloturismo. Estávamos rodando com pouco mais de 8 kms/h, ou seja, o dia se desenhava como uma verdadeira tortura.

    A dificuldade extrema de pedalar nestas condições, fez com que aumentasse muito nosso consumo de água, e isto logo se tornou um problema que só não foi maior, por conta de estarmos na temporada de veraneio, e após rodar mais de 30 quilômetros, começamos a encontrar pescadores que na maioria das vezes nos davam água gelada para beber.

    Avançávamos lentos e de certa forma, desanimados, pois o trecho do Concheiro, ao que pudemos observar, passava facilmente de 40 quilômetros, ou seja, muito mais do que os 15 ou 20 quilômetros que pretendíamos inocentemente encontrar.

    Numa destas paradas para pedir água, já exaustos de tanto pedalar lentos e empurrar as bicicletas, encontramos a família da Rosana que estava ali pescando e curtindo a praia deserta. Pedimos água e começamos a conversar com a turma, explicando de onde estávamos vindo e onde deveríamos chegar... papo vem, papo vai, lá pelas tantas, fomos presenteados com a melhor coca-cola das nossas vidas, e não só isso, servida em taças! Não tive dúvida nenhuma, aquilo ali era um milagre! Imagine você, no deserto, já sem água, debaixo de um sol fortíssimo, e de repente, aparecem anjos com a coca-cola mais gelada e deliciosa que você já bebeu na sua vida... É ou não um pequeno milagre? Ficamos extremamente emocionados e agradecidos com aquele gesto da Rosana e sua família.

    Após uma despedida emocionada dos nossos anjos do deserto, seguimos em frente, ligeiramente renovados pela coca e pelo milagre.

    Num misto de sobe e desce da bike, empurra e pedala, fomos seguindo lentos e cansados, sem conseguir melhorar a velocidade média. Eu fazia as contas nas minha cabeça, e vendo que faltavam apenas 40 quilômetros, distância facilmente superável em condições normais, mas ali, naquele terreno, demoraria pelo menos 6 ou 7 horas... duríssimo conduzir uma bike carregada naquelas condições. Com certeza, esse foi o momento mais difícil para todos. Mais se empurrava do que pedalava, mas mesmo assim, seguíamos em frente pois não existia um plano B naquela situação.

    Depois de horas, de sofrimento, começamos a ver as primeiras casas e ranchos de pesca nas proximidades do Balneário Hermenegildo, e após conversar com a Bruna, decidimos que na primeira sombra que aparecesse, iríamos parar para descansar e esfriar o corpo, pois nossa moral e nossa dignidade tinham sumido...kkkk Creio que faltando uns 15 quilômetros para chegarmos no Hermenegildo, encontrei um casebre junto de uma duna que fazia uma pequena sombra. Sinalizei para a Bruna e tratamos de fugir do sol, já deveriam ser por volta das 16 horas. Ficamos prostrados ali, bebendo a pouca água e comendo balas de banana, na esperança de reunir energias para tocar em frente. Neste momento, fomos novamente ajudados, desta vez, por outro ciclista que estava fazendo o pedal na praia, mas sem carga e com sua esposa no carro de apoio. Infelizmente esqueci o nome deles, mas o fato é que ofereceram uma carona para nossos alforjes e nos deram frutas para comer... Assim, com essa força, conseguimos seguir em frente e alcançar, finalmente o Hermenegildo, onde tratamos logo de ir para um barzinho e tomar uma cerveja bem gelada para tentar restabelecer a nossa moral que caíra por terra, ou melhor, pela areia...kkk

    Faltavam cerca de 12 kms até a barra do Chuí no entanto, nós já não tínhamos forças para seguir e além disto, o balneário estava lotado, dificultando pedalar na faixa de areia. Fim de linha.

    Tratamos de encontrar uma casa para alugar por uma noite, para assim, poder tomar um bom banho, fazer um jantar reforçado e dormir numa cama. Sem muita demora, tudo estava resolvido e aquele sofrimento todo de mais de 12 horas de pedal, já fazia parte da história.

    Dados do dia:

    Início do pedal: 6:30 horas

    Final do pedal: 18:45 horas

    Distância computada: 72 kms

    Quarto dia:

    Sem muita preocupação, aproveitamos para descansar depois do suplício que foi o pedal do dia anterior. Tomamos café em slow motion, lavamos roupas, revisamos e lubrificamos as bikes para finalizar os 12 kms restantes... Afinal quem poderia nos impedir de completar esse misero trecho, depois de tudo aquilo que passamos até então? Resposta: O vento sul, que jogou o mar direto na areia e fez a praia sumir de vez, tornando assim, impossível para qualquer veículo de rodas seguir por aquele caminho.

    A decisão de chegar o mais perto possível do final, foi a nossa salvação pois se por algum motivo tivéssemos parado para acampar, certamente teríamos que ficar um dia parado por conta da maré e do vento. A praia estava fechada.

    Num misto de decepção e alivio, decidimos seguir até a barra pelo asfalto e assim, completar a travessia, ainda que não 100% pela areia.

    Missão cumprida!

    Recordando agora, tudo que passei, posso garantir que o Cassino, até aqui, foi a travessia mais difícil que eu já tive a oportunidade de fazer.

    Por mais que se esteja preparado, as condições da praia são sempre uma incógnita, podendo ajudar ou dificultar muito as intenções daqueles que pretendem se arriscar por lá, mas sendo como for, é uma experiência única, extrema e necessária para aqueles que querem descobrir seus próprios limites físicos e psicológicos.

    Para finalizar quer agradecer de todo meu coração aos meus parceiros de pedal Bruna Fávaro e Marcelo Rudini, companhia que fez toda a diferença no perrengue e também à todos que nos ajudaram durante a jornada, com o pouso para descanso, uma fruta e as muitas garrafas d’água. Certamente sem essa turma toda, a coisa teria sido muito mais difícil.

    "Se vai tentar, vá até o fim."

    Charles Bukowski,

    Edson Maia
    Edson Maia

    Publicado em 28/01/2018 21:01

    Realizada de 03/01/2018 até 06/01/2018

    1 Participante

    Bruna Fávaro

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    35 Comentários
    Alberto Farber 27/08/2019 08:19

    David, entre em contato com esse numero (+55 53 8111-0347), o nome é Zé. Ele tem uma pequena agência de turismo em Rio Grande, organiza saídas de trekking e cicloturismo pela praia do cassino. Realmente recomendo.

    Leuterio Luiz de Lara 28/07/2020 13:53

    Olá, Edson e Alberto, já assisti várias vezes o relato de vocês. Estou me preparando, física e psicologicamente, para fazer uma travessia solo entre os dias 03 e 07 de setembro deste ano (2020). No ano que vem, pretendo fazer a mesma travessia, porém, caminhando. Já fiz a travessia motorizado no ano passado e tive a oportunidade de conhecer o "abismo horizontal". Abraços e grandes aventuras!

    Paulo Cornelius 24/06/2021 11:22

    Bom dia Edson, tudo bem?? Que legal, curti muito a sua travessia. Estou me preparando pra fazer esse percurso tbm, poderia me dar umas dicas?? Como vc fez pra dormir e levar água e comida para todos???

    Paulo Cornelius 24/06/2021 11:24

    No final da frase cortou, era pra ser todos "os dias"...

    Edson Maia 24/06/2021 12:55

    Olá Paulo! Tudo certinho! Para dormir, é bem tranquilo, basta ir para atrás das dunas ou ainda, aproveitar algum pequeno grupo de pinheiros, e com isso, ficar mais abrigado de eventuais ventos mais fortes. Já a água, eu inicie com 6 litros em garrafas pets e consegui reabastecer um pouco na primeira noite junto de um rancho de pescadores onde tinha um poço. Depois no farol Albardão também reabasteci minhas garrafas. Além disto, pelo caminho existem vários arroios que desaguam na praia... basta ter algum produto para tratar a água ou um filtro.

    Edson Maia 24/06/2021 12:55

    Qualquer outra questão, manda aí e eu tento ajudar.

    Paulo Cornelius 24/06/2021 13:04

    Opa, tudo certo Edson?? muito obrigado pela tua atenção e disponibilidade. E valeu pelas dicas!!! Grande abraço!!!

    Edson Maia 24/06/2021 14:20

    De nada, Paulo! Vai lá faz a trip e depois conta aqui no AB como foi a experiência. O Cassino é muito bacana mesmo. Abraço!

    Edson Maia

    Edson Maia

    Imbituba - SC

    Rox
    2002

    Um pouco cigarra. Um pouco formiga. Não necessariamente nesta ordem. Instagram: @ciclotrekking

    Mapa de Aventuras
    www.trekkingrs.com/ciclotrekking


    Mínimo Impacto
    Manifesto
    Rox

    Peter Tofte, Bruno Negreiros e mais 442 pessoas apoiam o manifesto.