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Jean Marcolino 17/08/2021 20:20
    Expedição Pedra Da Boracéia: A Gigante Da Serra Do Mar

    Expedição Pedra Da Boracéia: A Gigante Da Serra Do Mar

    Uma das montanhas mais isoladas da Serra do Mar Paulista guardada em terras indígenas.

    Montanhismo Cachoeira

    PEDRA DA BORACÉIA

    Desde que eu me lembre por gente sempre ouvia nas rodas de famílias entre meu pai e seus irmãos sobre uma tal de Pedra Queimada avistada de longe de um dos bairros de Salesópolis, e sempre percebi a vontade de meu pai em conquistar o topo da tão sonhada Pedra.

    Pedra da Boracéia vista de imagens de satélite

    Os anos se passarão e por obra do destino me tornei um apaixonado pela natureza, minha primeira conquista foi a famosa Pedra do Sapo figurinha carimbada e principal ponto turístico de Biritiba Mirim cidade onde moro, 1 ano após a conquista desse cume retornei a ele mais uma vez e foi aí que a paixão em subir picos nasceu de vez, logo imaginei se seria possível alcançar o tão sonhado cume da Pedra Queimada, mas aparentemente esse era uma tarefa impossível , pelo menos pra minhas experiências da época.

    O tempo passou , mas a bendita montanha nunca saia da mente, praticamente foram 2 anos falando de ir , tentando marcar datas, buscando informações dos poucos aventureiros que lá tiveram o privilégio de pisar e praticamente éramos bombardeados de informações fúteis, e até discursos desmotivacionais, mas depois de algumas pesquisas em cartas , mapas e coisas do tipo descobrimos que a Pedra Queimada era conhecida por Pedra da Boracéia, meu pai ficou meio decepcionado quando soube que a Gigante recebeu outro nome com o passar dos anos, mas bem nas cartas mantinha o nome Pedra Queimada e eu só queria mesmo era conquista lá, após alguns dias descobrimos um relato na internet de um grupo que conseguiu chegar até lá por uma rota inédita feita por eles, um grupo super experiente que acabamos nos tornando fã , e por incrível que pareça o relato mais foi um tapa em nossa cara do que motivação, 4 dias varando mato no peito em meio a selvagem mata atlântica sabe se lá aonde, descobrimos também através do relato dos grandes aventureiros que o acesso a Pedra ficava próxima a áreas da companhia Suzano e que se fossemos pego por lá seria multa na certa. Mas como todo bom aventureiro da Serra do Mar isso não poderia nos de realizar nosso sonho.

    Ao meio de nossas empreitadas surgirão novos aventureiros com o espírito e vontade de conhecer novos horizontes na Serra do Mar, um deles já tinha chegado até o cume da Pedra mas fazia muitos anos e não se lembrava do caminho usado apenas que existiam milhares de bifurcações, foi então que recorremos ao senhor que o guiou na época, conhecido como Zé, um cara das antigas, mateiro e experientes em andar na mata sem GPS, bússola ou algum recurso tecnológico dependendo apenas de sua vasta experiência em navegação e anos de conhecimento de toda aquela região.

    Após a data e grupo ser formado, o Zé nos informou que não poderia nos acompanhar mas que estava disposto a nos ajudar em tal empreitada, após o mesmo fazer alguns rabiscos numa folha como se fosse uma espécie de mapa mostrando os rios da região e por onde deveríamos atravessa los, ficamos confiantes em nossa capacidade de encontrar o melhor caminho. Além de todo tipo de ajuda com informações o Zé nos ofereceu a sua casa pra podermos dormir já que ela se encontrava a uns 20km da Pedra, pronto! Tudo estava se encaixando perfeitamente só dependia de nós realizar aquele grande feito e assim fomos pra mais uma noite de risadas e ansiedade pernoitar na casa simples e aconchegante do Zé, mas infelizmente mesmo com todos os recursos falhamos em encontrar a rota até o cume e abortamos a missão.

    Um mês após a primeira tentativa tivemos que recorrer a mais informações do nosso novo amigo Zé e o mesmo se interessou em se juntar a nós, após algumas desistências o grupo foi formado, novamente 5 homens, mas dessa vez eram os melhores do nosso ciclo de amigos, todos com o condicionamento nas alturas e assim se iniciou logo pela manhã de um sábado nosso planejamento de pelo menos dois anos.

    No início todo o trajeto já era de nosso conhecimento, até que depois de umas 3 horas de caminhada uma bifurcação se aparecia em nossa frente, e tomamos ciência de nosso erro, o caminho era no sentido norte.

    A picada seguia em nível com poucas subidas sempre margeando pequenos afluentes que ganhavam cada vez mais forças até que o estrondo ecoava naquela imensidão de mata, com o vento a balançar as copas das árvores e arapongas nos recebiam com seus cantos metalizados, até que em nossa frente surgiu um vale e com ele uma cachoeira era sinal que todos aqueles afluentes encontraram o belo Rio do Alferes.

    Cachoeira do Efér

    Era antes do 12h00 e já tínhamos encontrado um "atrativo" o que levantou a moral do grupo e fez com que todos entrassem debaixo daquelas gélidas águas com o sol ainda tímido e após alguns cliques e uma rápida refeição colocamos nossas cargueiras nas costas e seguimos nosso caminho que a cada vez mais ia se dificultando, atravessar rios no joelho, enfiar o pé na lama e varar mato era a moda daquela expedição até que uma trilha larga de abriu e com ela uma bifurcação numa pirambeira pra desanimar qualquer um, e começamos subir e subir até que alcançamos o cume de uma enorme crista da qual nos presenteava uma vista maravilhosa de todo aquele cinturão verde com suas milhares de árvores, uma vista belíssima que foi interrompida por nuvens, e como se não bastasse a pequena picada cheia de fezes de anta começou a se estreitar e nos surgiu tantos bambus que nossos passos eram impedidos e nossas mochilas enroscadas, fora os arranhões nos corajosos que foram de camiseta e sem luvas.


    Já tínhamos caminhado por volta de 20km, estava mais que claro que alcançar o cume de uma montanha isolada na Serra do Mar não seria tarefa fácil, até por que era possível contar nos dedos os corajosos que tinham ousado tal façanha, descemos pirambeira abaixo e voltamos pro vale num rio calmo e estreito, segundo o Zé esse era o rio que formaria uma grande queda e assim estaríamos próximos de nosso objetivo então a escolha foi seguir caminhando por dentro do rio até que numa brecha nos enfiamos mata abaixo até acessar a grande queda com mais de 50 metros, conhecido por cachoeira do Mestre ancião.

    Cachoeira do Mestra Ancião

    Agora sim estávamos próximos do caminho, eu só tentava imaginar como seria de fato a subida da gigante, mas fui alertado que ainda teria muito perrengue antes de iniciar a subida, assim fomos subindo pela mata íngreme se agarrando em galhos e torcendo pra não colocar a mão em nenhuma jararaca ou aranha, até que chegamos ao topo da grande queda e a nossa frente se estendia uma bela janela com uma borda praticamente infinita e a nossas costas uma queda discreta mas muito chamativa com seu poço de águas cristalinas e fundo de areia.

    Cabeceira Mestre Ancião.

    Cachoeira Pedra Grande

    Bom, era hora de finalmente enfiar a cara no mato e chegar até a base da gigante Pedra Queimada, ou Pedra da Boracéia para os da nova geração como nós, e foi um sobe e desce por meio de bambuzais, espinhos e e galhos até que depois de tanto subir chegamos numa grande torre de energia coroada em cima de um grande morro e exatamente naquele ponto conseguimos ter nosso primeiro contato com a gigante Pedra da Boracéia, era maior do que eu imaginava uma subida íngreme que poderia facilmente rivalizar com a subida final do Pico dos Marins, uma pedra colossal que não era possível avistar o fim, rodeada por capins em sua enorme laje de pedra, já era nítido que não seria uma subida fácil mas a alegria era tanto que nada mais importava, nos jogamos morro abaixo, escorregando se agarrando em qualquer vegetação e torcendo pra não despencar desfiladeiro abaixo até chegarmos num vale onde um filete de água corria por ele, nosso último ponto de água e como a ideia era pernoitar no cume precisaríamos para consumo e também para cozinhar, 30 minutos depois chegamos até a base da colossal montanha e eu beijei a rocha e no pensamento agradeci por ter conseguido chegar até ali.

    Agora era hora do ataque final, já tínhamos nós lascado o dia todo, andando mais de 20km num sobe e desce, varando mato, com roupas encharcadas era óbvio que não seria nossa melhor subida mesmo com o coração saindo pela boca a mente só ordenava para o corpo se jogar pra cima, a cada passo olhavamos pra trás e a vista era maravilhosa, com toda a planície de Salesópolis e suas represas, certamente era uma vista linda mas já sabíamos que o cume seria melhor pois nos proporcionaria uma vista privilegiada de todo litoral já que essa montanha serve como limite entre o terreno em nível e a partir dela a serra despenca de maneira violentamente.

    Represa Ribeirão do Campo


    Depois de tanto subir chegamos ao cume da então sonhada Pedra da Boracéia, a gigante paulista da Serra do Mar, um sonho de meu pai realizado por mim, ao lado da montanha tem alguns picos que deixam a paisagem mais e mais única, a nossa esquerda era possível avistar Ilha Bela e seus belos contornos, olhando a nossa frente a Tribo indígena Silveiras, o condomínio usado por nós para fugir do Mangue numa outra travessia, mas principalmente o Mar, aquela imensidão azul num degradê com o céu com a ilha Montão de Trigo se destacando no mar, a praia de Boracéia com suas areias douradas, aquilo era Serra do Mar, a SERRA SELVAGEM do Brasil, era realizar um sonho,conquistar o objetivo, uma montanha que diferente de tantas outras não possui livro de cume pois poucos foram os que tiveram o privilégio de pisar naquele local e por nossa sorte poderíamos desfrutar de um nascer do sol no dia seguinte.

    Cume da Pedra da Boracéia.

    Nascer do sol assistido no cume

    Jean Marcolino
    Jean Marcolino

    Publicado em 17/08/2021 20:20

    Realizada em 17/08/2021

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    5 Comentários
    Divanei Goes de Paula 18/08/2021 19:12

    Parabéns, somos privilegiados de botar os pés no cume dessa montanha , principalmente porque por hora, é uma trilha ainda selvagem , que nos remere aos primórdios do MONTANHISMO RAIZ.

    Jean Marcolino 18/08/2021 20:38

    Grande Mestre Divanei agradeço o comentário, seu relato foi essencial pra acendermos a chama desse sonho, você é inspiração.

    Divanei Goes de Paula 18/08/2021 21:36

    Que nada , o mérito é todo de vocês. Abraços pra toda galera.

    Claudio Luiz Dias 25/08/2021 07:28

    Parabéns pela coragem de iniciar uma trilha assim difícil, pela conquista do objetivo e por nos trazer um relato bem legal com ótimas fotos.

    Jean Marcolino 26/08/2021 08:01

    Poxa Cláudio agradeço pelo prestígio a está escrita simples, tudo de bom pra ti.

    Jean Marcolino

    Jean Marcolino

    Rox
    45

    IG @jean.marcolinovera

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