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Marcelo Baptista 14/03/2016 22:55
    Expedição Argentina: Mendoza - Out/07

    Expedição Argentina: Mendoza - Out/07

    Cap. VI: Mendoza! Terra do vinho, porta de entrada para o maior pico da América do Sul, o imponente Aconcágua. Muitas aventuras por aqui!

    Salta a Mendoza - (12/10)

    Assim que levantei, deixei tudo pronto. Paguei o hostel, fiz reserva no hostel em Mendoza e fiquei esperando a hora de partir. Ainda almocei com a Ana, e fui ao terminal de ônibus; 15h45 saiu o FlechaBus. A viagem começou meio estressante: acontece que um maleiro (um rapaz que coloca as bagagens dentro do busão) me cobrou $1 só para colocar minha mochila no bagageiro. Um assalto! Já queria discutir com ele, mas contei até dez...

    O ônibus da FlechaBus, coche cama (leito), é muito confortável, serve refeições e tal...também, por $187, não esperava menos. Tudo seguia bem, os filmes em DVD iam se sucedendo, o jantar foi bom (frango a milanesa com arroz), e resolvi dormir. Então... Na madrugada, uma barreira da polícia rodoviária (Gendarmeria). Os caras sobem, olham, pedem documentos; mostrei a permissão de entrada e o RG, mas o maldito policial queria saber da minha bagagem. Disse que estava embaixo, e ele me diz: - Entonces, vamos bajar! O cara procurava por drogas, sei lá, qualquer coisa que me ferrase. De diferente, eu só tinha mel de uva, que comprei em Cafayate. O cara se interessou pelo meu shampoo:

    - Que és eso?

    Respondo – Shampoo, señor.

    O milico retruca – Para cabelito de milho?

    Que raio de pergunta é essa? Acenei com a cabeça, o cuzão ainda cheirou o produto...listo! Me liberou. Não resisti e falei:

    - Gracias, pau no cú... Como o português para eles é tão compreensível quanto o grego, resolvi arriscar e dar uma estocada, uma pequena vingança por esse contratempo idiota. Tudo certo...

    Voltei ao meu assento, meio puto ainda e com sono. Assim seguimos até Mendoza, onde na estrada mesmo já se vê a pré-cordilheira e alguns picos nevados. Estou um pouco cansado, mas vamos em frente, por aqui fico cinco dias.

    Mendoza – 1º dia (13/10)

    Cheguei ao Hostel Campo Base (Av. Mitre, 946) caminhando, da rodoviária até lá são como 8 quadras, e aqui na Argentina uma quadra tem 100m mesmo, tipo NY. Fui já perguntando pra um monte de gente onde ficava o hostel, para testar a receptividade: tudo bem por enquanto!

    O hostel é ótimo e, por ocasião do feriado de 12 de Outubro (algo como Dia da Pan-América, sei lá...) lotado; ao mesmo tempo que eu, chegaram vinte pessoas + ou -, um grupo bem animado e barulhento. Gostei do clima! O quarto demorou 2 horas para ficar pronto, onde aproveitei para conhecer a Plaza Independencia, uma praça central fantástica, enorme, belíssima; é muito movimentada, com um chafariz que é uma obra de arte, as pessoas caminhando tranquilamente. Isso me deu uma paz incrível, e Mendoza me arrebatou de primeira. Viveria aqui tranquilamente.

    Quando voltei ao hostel, tudo estava certo, e logo tentaram me empurrar um paquete turistico para qualquer lugar que eu quisesse...fiquei na minha. Banho tomado, tratei de sair para o cansaço não me pegar. Mendoza tem uma praça central (Independencia) e outras quatro equidistantes: España, Itália, Chile e San Martin. Comecei pela Plaza Itália, que estava em reforma. Segui para a Plaza Chile, onde havia um monumento em homenagem à amizade Argentina x Chile: os libertadores San Martin e O´Higgins de mãos dadas. É curioso notar que a despeito de monumentos, homenagens e afins, argentinos e chilenos vivem se cutucando: a rivalidade por aqui não é conosco, mas sim com os chilenos. Na praça havia ainda alguns cachorros e um mendigo (o único que vi aqui, o segundo em toda viagem até agora).

    A seguir, a Plaza San Martin. Linda, com um monumento impactante em bronze homenageando esse mito que é San Martin, o libertador da América espanhola. Esse personagem é onipresente em toda Argentina, seja em nome de ruas, parques, praças ou monumentos.

    Por fim, a mais bela delas todas: Plaza España! É uma praça com um chafariz fabuloso, todo ornamentado com azulejos que recontam a história de Mendoza! Nesse dia havia uma feira de artesanato, no estilo da Praça Benedito Calixto (quem conhece São Paulo, sabe do que eu estou falando; quem não conhece, sinta-se convidado a vir visitar), porém em menor proporção. Fiquei um bom tempo lá, apreciando a vida passar na correria das crianças, no vai e vem das pessoas olhando os artesanatos, no sol gostoso de início de primavera animando a todos. Fui vencido pelo cansaço, que bateu forte, e voltei ao hostel.

    Deitei, mas não dormi; levantei e fiquei sabendo que iria ter um asado (churrasco) no hostel: $25 por cabeça. Paguei. O churras foi ótimo, comi, dancei e conheci gente do mundo inteiro. Adoro esse tipo de festa. Amanhã decido para onde vou.

    Mendoza – 2º dia (14/10)

    Eu já acordei meio mal da garganta, doendo um pouco, catarro...mal sinal.

    Estou aproveitando um pouco para andar nessa cidade linda. Hoje eu resolvi ir ao Parque San Martin (Av. Boulogne Sur Mer), uma área verde enorme e super aproveitada pela população mendocina. Andei umas 10 quadras até os portões do parque, que já te dão as boas vindas com grande estilo! Entrei no parque, um caminhão com torcedores de um time de futebol qualquer passa, fazendo barulho. De repente, são emboscados do nada, com gente saindo de trás das árvores e moitas, jogando pedras. Foi uma cena meio non sense, e muito bom para que eu me lembre que não estou no paraíso...

    Procurei o Centro de Info Turistica do parque, onde uma simpática moça me passou o mapa do parque. Como uma cidade organizada e turística que se preze, a moça me indicou um tour por todo o parque, por módicos $6. Gracias, señorita... Caminhei bastante, com um objetivo: chegar ao Cerro de la Glória, ponto mais alto da cidade, que se situa dentro do parque. Para essa missão, o mapa do parque se mostrou muito útil. Passei por alamedas lindas, um estádio de futebol (me disseram que teve jogo de Copa do Mundo aqui), muita gente com cães, enfim, qualidade de vida. Isso é Mendoza. Aliás, aqui se pode andar muito tranquilo, segurança total, uma sensação perdida no Brasil...caminhei bastante, subi bastante também, mas cheguei ao Cerro. A visão é linda, panorâmica, e o monumento lá é dos mais bonitos que eu já vi!!

    Desci o morro, e saí em frente do zoo: sim, dentro do parque há um zoológico, mas nem cogitei entrar...preferi pegar um bus, tava na hora de comer. Eu senti que estava piorando, cansado. Saí para comer, rodei muito, mas achei um lugar bom/barato: El Rey de la Milanesa , onde comi um 1/4 de pollo con limon y papas fritas, muito bom!! Uma gaseosa (refrigerante) para acompanhar. Duas coisas: aqui se toma gaseosa a toda hora, Pepsi e Coca-Cola disputam aqui cabeça a cabeça; e aqui se pode comer sossegado, sem que um menino de rua te peça 500 vezes uma moeda. Aqui é a paz!

    Me senti febrío. Fui para o hostel e logo o frio chegou forte por aqui. Não tive tempo de mais nada: vi o time de rúgby nacional (chamado de Los Pumas por aqui) tomarem uma surra da África do Sul (Sudafrica en espanhol) por 36 x 13, em jogo válido pela Copa do Mundo de Rugby; tomei uma medicina (remédio), e fui deitar. Definitivamente, estou gripado e rouco.

    Mendoza – 3º dia (15/10)

    Morto.

    Assim eu me sentia quando acordei, morto.

    Quase morto, melhor dizendo. Porque tive força para me levantar, tomar um banho, e me animar um pouco. Tomei desayuno com uma galera gringa que mora em Santiago, bem legais. Saí pra andar um pouco, respirar ar puro; hoje é feriado ainda, tá tudo muito tranquilo. Acabei indo para o terminal de buses perguntar sobre preços e horários para Puente del Inca, entrada do Parque Provincial Aconcágua. Voltei e decidi acompanhar aquela mesma galera gringa do café da manhã numa visita guiada a duas bodegas e uma fábrica de chocolate. Foi bem interessante, acabei comprando um vinho muito bom, tipo Crianza, na Bodega Familia Di Tommazo, amadeirado, forte. A produção de vinho na região mendocina é enorme, saindo daqui os melhores vinhos argentinos da atualidade. Nesse tour acabei conhecendo dois brasileiros, Gabriel e Lucas, lá do Recife (PE); gente boa os gemeos.

    Quando voltamos, pedi que me deixassem perto do terminal de ônibus: decidi ir amanhã para Puente del Inca, ver o Aconcágua. O bilhete custa $15,65, e são 4h de viagem. Voltei ao hostel, e confesso que não estou bem, esse resfriado, junto com os lábios rachados, estão me perturbando. Comemos umas empanadas que Gabriel, o Cozinheiro preparou, e fui dormir. À noite chegaram duas chicas ao quarto, bem nojentinhas, que me perturbaram a noite toda porque eu ressonava durante o sono.Duas vacunas (vacas em bom português), que me fizeram dormir muito pouco, e isso justo no dia que eu tinha de descansar para pegar o ônibus ás 6h da manhã.

    Mendoza – Puente del Inca (16/10)

    Acordei um pouco melhor do que deitei, apesar daquelas duas filhas das putas me incomodarem a noite toda. Eram 5h da matina quando o galo (meu celular!) cantou. Em 10 minutos estava pronto para ir. O ônibus das 6h saiu ás 6h15, e viajou 4h até Puente del Inca; eu só vi duas dessas quatro horas, aproveitei o caminho para dormir um pouco, me recuperar da noite mal dormida.

    Quando abri os olhos, já estava entre as altas montanhas nevadas: caramba, que sensação fantástica! Não consegui dormir mais. O ônibus segue margeando o Rio Mendoza, que provem do degelo das montanhas; o ônibus passa por vários vilarejos, uns hotéis de beira de estrada, e também por outros hotéis que se revelam, num olhar mais cuidadoso, serem resorts cinco estrelas perdidos por aquelas imensidão seca...é um caminho impressionante essa Ruta Nacional 7 (RN7), que vai rasgando os Andes em direção ao Chile!

    Puente del Inca nada mais é do que um punhado de casas ao lado esquerdo da estrada, com um destacamento do Exército Argentino do outro lado, tudo isso cercado por enormes montanhas com neves. Parece pouco, mas é um cenário espetacular. Desci, impactado ainda, e logo busquei a ponte que dá nome à “vila”: ela é amarelada, uma ponte natural, e que as água termais, sulfurosas e com todo tipo de substâncias minerais, cobrem com esse limo amarelo. Há uma construção, um antigo hotel, que foi destruído por uma avalanche (!!), e dele só restaram as ruínas.

    Perguntei a um cara de lá, Emílio, dono de um refúgio, o que havia para ver mais; me explicou assim um caminho mais curto para chegar ao Parque Provincial Aconcágua, que segui prontamente. Esse caminho passa por trás da aduana argentina, e economiza 1,5km de estrada, e o visual é belíssimo! Pela primeira vez vi gelo de montanha, parece gelo picado...Bom, cerca de uma hora depois, cheguei ao parque, á entrada dele. Dali se vê o Aconcágua todo, mas a base dele está a 40km dali, um dia de viagem a pé! Mesmo assim é como se estivesse ali na minha frente, majestoso! Fiquei um bom tempo parado ali, pensando, contemplando...voltei à vila pelo mesmo caminho.

    Fazia muito sol, o céu estava de um azul profundo, mas o vento frio fazia parecer que não. Na verdade, a pele queima tanto pelo sol quanto pelo vento. É inóspito, e eu só estava a 2800m acima do nível do mar. A vilinha de Puente del Inca tem sempre turistas, motoristas que estão indo ou voltando do Chile. Essa estrada deve ser fantástica, penso em fazê-la mais no futuro, até Santiago. Aproveitei para comer um lomito, e esperei o ônibus das 16h45 de volta para Mendoza; esperavam ali para pegar o mesmo bus umas oito pessoas, a maioria funcionários do parque. Cheguei podre em Mendoza, quase às 21h, e só tive tempo de comer algo (que acabei comprando num supermercado próximo) e dormir. Mas decididamente muito feliz!

    Mendoza – 5º dia (17/10)

    Último dia em Mendoza. Decidi isso assim que acordei. Já bateu no meu coração a vontade de pegar estrada, seguir.

    Vamos aos preparativos: fazer mochila, cambiar, pagar o hostel, dar uma última volta na cidade... Comprei a passagem para 22h, indo desta vez para Córdoba, pela empresa TAC, um coche cama que me custou $90. Voltei ao hostel, mochila pronta, tudo certo. Por aqui, é hora da siesta; e olha, dá um sono danado mesmo nessa hora...

    A tarde passou rápida, caiu a noite. La pelas 21h, me despedi do pessoal do hostel; vão deixar saudade todos eles, Gastón, Paola, Gabi, Gabriel Cocinero, todos, sem exceçao! Muy buena onda, como se diz aqui. Foi uma boa passagem, Mendoza está guardada no meu coração. Peguei o ônibus da TAC e segui viagem. Tudo ia bem, serviram o jantar, a RN 7 estava calma; então... Estava dormindo, e despertei com o ônibus parado no acostamento, em frente a um posto. Demorou pra cair a ficha...Desci, procurei o chofer (motorista), e perguntei o que passava: problema mecânico, uma correia estourou! Resumindo: cinco horas parado, um ônibus reserva só chegou às 8h, mais ou menos, e seguimos viagem, finalmente.

    Chegamos às 13h em Córdoba, meio cansado e entediado.

    Marcelo Baptista
    Marcelo Baptista

    Publicado em 14/03/2016 22:55

    Realizada de 01/10/2007 até 29/10/2007

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