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Marcelo Vieira 11/10/2019 18:59
    Transespinhaço 2019

    Transespinhaço 2019

    De Altamira a Cemitério do Peixe pela crista do Espinhaço. 163km em 5 dias de travessia.

    Longa Distância Trekking Montanhismo

    Tenho publicado pouco por aqui ultimamente. Primeiro, por uma falta de motivação, dado o que tem se tornado o "montanhismo" no Brasil nos últimos anos. Segundo, justamente por fugir dos circuitos 'pop', muito do que faço não pode se tornar público. Mas há histórias que merecem ser contadas, e essa é uma delas.

    Eu e Douglas nos encontramos na rodoviária de BH às 9:00. Eu havia passado a noite no ônibus viajando até lá. Fomos de Uber até outro terminal rodoviário, onde tomamos um onibus pra Nova União, e de lá outro até Altamira. Começamos a caminhada às 14:00 do dia 02 de agosto.

    Altamira é um vilarejo com algumas casas. Planejávamos almoçar por lá antes de iniciar a pernada, mas não havia onde. Sem problema, estávamos preparados pra ir em auto suficiência. E quando eu digo preparados, não quero dizer carregados de comida e equipamentos. Estávamos mentalmente preparados pra aceitar aquilo que nos foge ao controle, que é na verdade o que determina o sucesso ou não de um projeto. Para se ter ideia, não levamos sequer fogareiro e gás. O que levamos de comida podia ser consumida sem cozimento. Ir leve tem muito mais a ver com uma postura em relação ao ambiente do que com equipamentos caros. Conforto pesa muito, e não é essencial.

    Após caminhar por 5km em uma estradinha de terra, chegamos a Altamira de Cima, onde a estrada acaba e a trilha inicia subindo a serra. Em pouco tempo, estávamos já nos limites do Parna Serra do Cipó, e seguimos em direção à cachoeira das Braúnas.

    A tarde ia caindo à medida que caminhávamos. Apesar de cansados de uma noite mal dormida (eu passei a noite no ônibus pra BH), caminhávamos bem, e os espaços abertos do Espinhaço são um conforto pra qualquer um que goste de uma boa pernada.

    Já no final do dia chegamos à bifurcação entre a trilha das Braúnas e os Currais. Um grande 'X' no céu indicava a direção que deveríamos seguir. Deixamos as mochilas e corremos até a cachoeira, onde pudemos avistá-la com o resto de luz do dia que restava. Voltamos até as mochilas, e retomamos nossa caminhada, agora noturna. Aguardamos os olhos se acostumarem com a escuridão antes de ligarmos as headlamps, e seguimos por quase duas horas até os Currais, onde seria nosso pernoite, cruzando alguns charcos e um rio. Chegamos aos Currais por volta das 20:00, que estava ocupado com alguns brigadistas. Montamos as barracas do lado de fora. Neste primeiro dia, caminhamos 29km, das 14:00 às 20:00.

    Saímos tarde no segundo dia, pouco depois das 8:00, e seguimos em direção ao Alto Palácio, nosso objetivo do segundo dia.

    Em menos de duas horas chegávamos à Casa de Tábuas, outro ponto de apoio/pernoite oficial do parque. Fogão a lenha e beliche, um verdadeiro luxo! Douglas acendeu o fogo, e tivemos água quente pra um café.

    A partir daí, seguem as vistas incríveis da travessia Alto dos Palácios x Serra dos Alves.

    Seguimos por horas a fio por campos sem fim, de uma beleza só encontrada no Espinhaço. Em dado momento, a terreno começou a ficar 'enrrugado'. Estávamos nos aproximando do Travessão, un cânion que corta a cadeia de montanhas.

    Mais algumas horas caminhando, e o segundo dia foi chegando ao seu fim. Já víamos e ouvíamos a rodovia, mas ainda era cedo pra montar acampamento, e nem consideramos a possibilidade de fazer isso às margens da rodovia. Ao pôr do sol estávamos no alto do morro da torre, saindo dos limites do Parna Cipó.

    Quando anoiteceu, já estavamos na rodovia, fora dos limites do Parque. Sabíamos que mais à frente encontraríamos a APA do morro da Pedreira, mas até onde sabíamos o caminho até lá atravessa uma propriedade particular. Independente do discurso de liberdade de acesso, sempre mantivemos a política de pedir respeitosamente permissão de passagem por qualquer área que atravessamos (nas áreas do Parna, solicitamos permissão com antecedência). No entanto já era noite, e seria complicado encontrar um caseiro, segurança ou até mesmo proprietário armado, e ter tempo de explicar nosso propósito. Atravessamos a passagem para pedestres e seguimos pelo que parecia ser uma estrada abandonada, que se estreitava cada vez mais até se tornar um single track.

    Após uns poucos km, vimo o que parecia ser um farol à distância, mas o movimento estava estranho. Andando mais um pouco, chegamos à conclusão que deveria ser uma lanterna, pelo movimento intermitente, e estaria apenas a alguns metros de nós. Apagamos nossas headlamps e consideramos o que fazer, aguardar uma aproximação ou seguir em frente. Acendemos nossas heads e seguimos, esperando sermos abordados mais à frente, o que nunca aconteceu. Ao chegar próximo ao rio que teríamos de cruzar, o mistério das luzes se resolveu: eram pequenos focos de uma queimada que ainda não havia sido extinta. Seguimos por uma boa área de queimada, com o Douglas apagando os pequenos focos que encontrávamos e ainda insistiam em permanecer acesos. Quando chegamos ao alto de uma colina, onde o terreno era plano o bastante para montarmos acampamento, o vento estava tão intenso que nos fez mudar de ideia e seguir um pouco mais. Acabamos montando as barracas do outro lado dessa mesma colina, em um descampado mais ou menos plano. Já eram quase dez da noite, e estávamos cansados pra continuar. Neste segundo dia, caminhamos aproximadamente 38 km, das 8:10 às 21:40. Estava uma noite quente, dormi sem o sobreteto da barraca.

    Continua...

    Marcelo Vieira
    Marcelo Vieira

    Publicado em 11/10/2019 18:59

    Realizada de 02/08/2019 até 06/08/2019

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    5 Comentários
    Fabio Fliess 12/10/2019 16:35

    Irado demais esse percurso. Muito lindo! Parabéns Marcelo!

    Marcelo Vieira 13/10/2019 15:09

    Obrigado, Fabio! Aos poucos vou terminando o relato, rsrs. Um abraço!

    Jone Rodrigues 13/10/2019 16:15

    Sensacional!!! Parabéns!

    Luiz Carlos Piccinin 15/10/2019 08:41

    Sensacional o seu relato Marcelo. Não pude deixar de notar o primeiro parágrafo... Compartilhamos o mesmo sentimento.

    Marcelo Vieira 15/10/2019 19:16

    Obrigado Jone, obrigado Luiz Carlos! Luiz, é reconfortante saber que ainda existem montanhistas 'de verdade', compartilhando o mesmo sentimento.

    Marcelo Vieira

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