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Peter Tofte 23/08/2021 21:06
    Itatim, a Meca baiana da escalada em rocha

    Itatim, a Meca baiana da escalada em rocha

    Final de semana em itatim, sertão da Bahia, na caatinga entre inselbergs, com a ótima companhia de Ernani, Rodrigo e Marcelo.

    Trekking Montanhismo

    Caatinga não dá sombra nem encosto.

    Provérbio nordestino

    Foto panorâmica: vista norte a partir da Pedra do Crocodilo. Foto do Rodrigo.

    Foto avatar: cabeça-de-frade ou tamborete- de-sogra. Foto do Ernani.

    Itatim, situada as margens da BR 116, a 2:30 - 3 horas de carro de Salvador, é a Meca da escalada em rocha na Bahia. O estado possui uma das maiores concentrações de inselbergs do mundo e Itatim é uma das 5 áreas na Bahia onde encontramos estas formações. A região é um paraíso para escaladores e mountain bikers.

    Recebi do Ernani o convite para conhecer o lugar. Ele iria com o sobrinho Rodrigo e com o amigo Marcelo Novis. A ideia era acampar e explorar as redondezas.

    Chegamos em Itatim aproximadamente 10 horas da noite de sexta. Após umas cervejas, fomos para o banho e cama, pois o dia seguinte começaria cedo.

    Seis da manhã Ernani já estava nos acordando. Após um café reforçado saímos e em 15 minutos estávamos na porteira de um refúgio de montanha, com vista para a famosa Pedra da Boca, que é visível mesmo da BR 116, a Rio-Bahia. Descarregamos as mochilas e Ernani retornou com a pickup para estacionar na frente da pousada de onde saímos, onde um moto táxi o levaria de volta, onde fomos deixados.

    Ernani retornou na garupa da moto e partimos atravessando a porteira de uma fazenda e rumamos em direção a Pedra do Crocodilo, nosso destino.

    Partiu Crocodilo! Pedra da Boca. Da esquerda para a direita: Ernani Gonçalves, Marcelo Novis e Rodrigo Gonçalves.

    Pisávamos num terreno árido com vegetação de caatinga. Carregávamos de 4 a 7 litros de água cada um. A chance de encontrar um córrego com água nesta época do ano é nula.

    As árvores da caatinga são retorcidas e a maioria tem espinhos.

    Após uma hora, pegando um atalho, trilha direta, chegamos aos pés da Pedra do Crocodilo, num setor chamado de Rupestre devido a existência de pinturas rupestres nas paredes. Numa parede vimos chapeletas fixadas na rocha para prática de escalada.

    Emas representadas na pintura rupestre (ao centro).

    Subimos por uma fenda e deixamos as mochilas para alcançar um mirante e tirar fotos, Vista bonita. Um terreno bem plano quebrado aqui e ali pelos inselbergs. Vários deles tinham nome: Enxadão, Napoleão, Peitinho.

    Marcelo no mirante.

    Reparei que minha mão estava sangrando. Com qualquer descuido isto acontece. Quase toda a vegetação da caatinga tem espinhos. Caso contrário a cabra e outros animais a comem. Gramínea nenhuma.

    Vegetação típica no mirante. Cabeça-de-frade ao pé da foto.

    Gravatá unha-de-gato.

    Bela vista.

    Tiramos fotos e após descemos para pegar as mochilas. Avistamos mocós correndo pelo terreno lá embaixo. São roedores abundantes na região. Uma fonte de proteína animal para o sertanejo empobrecido pelas secas. Dizem que a carne é deliciosa. E como todo roedor tem altíssima taxa de reprodução tem risco zero de extinção.

    Seguimos pelo lado oposto ao ponto em que subimos. Baixamos para onde Ernani no final de semana passado havia visualizado um bom lugar para acampar (tinha vindo para escalar e andar de mountain bike).

    Olhamos o local, mas decidimos seguir um pouco adiante onde descobrimos um espaço melhor, mais amplo, com um areal convidativo debaixo de uma grande rocha inclinada que se erguia a uma altura de 15 metros. Ficava no início de uma fenda entre rochedos gigantescos. A erosão comeu o espaço entre estes rochedos imensos criando corredores e fendas.

    Local escolhido. Ao fundo uma fenda que canalizava o vento que vinha do outro lado da montanha. Foto do Rodrigo.

    Nenhuma água por perto. Usaríamos aquela que trouxemos. Banho nem pensar.

    Após o recorrido lanchamos e descansamos na sombra, esperando a hora mais quente do dia passar. Montamos as barracas. Eles instalaram as tendas debaixo do rochedo sem o teto (sem o fly) porque não havia risco de chover debaixo daquela pedra.

    Eu montei minha tenda tipo pirâmide debaixo de uma árvore próxima. Muita folhagem no chão. Tive que varrer um pouco. Poderia até bivacar junto as barracas deles, mas estava querendo testar a nova tenda ultralight vermelha e não cabia embaixo da pedra onde estavam.

    Mais tarde Ernani resolveu explorar as redondezas sozinho. Depois, com o sol um pouco mais baixo, eu, Marcelo e Rodrigo, contornamos os rochedos e subimos para um lajeado de onde se avistava Itatim, para pegar sinal de celular e falarmos com nossos familiares.

    Pedra do Crocodilo do lado Oeste. Nosso acampamento está ao pé da pedra do lado oposto. Foto do Rodrigo.

    Uma luz suave de final de tarde permitiu fotos bonitas na volta para o acampamento.

    Paredão de dezenas de metros, lado leste do crocodilo. Estavamos acampados no sopé,

    Notamos que o povo aproveita os lajeados de pedra em declive para fazer pequenos açudes. Se a água da chuva escoar e cair no solo arenoso seco ela será rapidamente absorvida e o gado e os caprinos não terão o que beber.

    Ao anoitecer começamos a preparar a janta. Diversidade de fogareiros: eu com um a álcool, Marcelo com um a gás e Ernani com um de gravetos, tipo pirolítico. Este último é muito eficiente e não deixava fumaça (ele queima também os gases de combustão). Era uma diversão para Ernani alimentá-lo com gravetos. Parecia uma fornalha. Fomos de comida liofilizada e miojo.

    Depois compartilhamos cachaça com mel e caipirinha. Bebemos quase um litro de cachaça a beira da fogueira. O fogo foi fácil de acender porque a palha do licuri tem uma cera bem combustível. Muita conversa e muitas risadas. Acampamento com fogueira é muito bom (onde permitido e com os devidos cuidados).

    Batizamos este local especial de Moca do Tocó. Era para ser Toca do Mocó, mas foi o que saiu na hora devido a malvada, a manguaça, a bendita cachaça.

    Brincando com as sombras.

    As comidas que restaram para o dia seguinte foram penduradas para evitar ataques de rabudos (espécie de ratos silvestres).

    Noite linda, lua cheia iluminando o paredão de rocha. Meu pensamento voou para a Luna! Podíamos andar sem headlamps na caatinga.

    A dormida foi boa, sem frio, ajudada pela bagaceira.

    Ao acordar percebi que o inflável estava murcho. Apesar do cuidado em varrer as folhas, em colocar um poncho como foot print e um isolante casca de ovo como proteção por baixo do isolante, um espinho conseguiu furá-lo. Anos sem problemas com o inflável e, primeira vez na caatinga, ele fura. Fica a lição. Escolha muito bem o lugar onde vai dormir, melhor ainda: não leve isolante inflável para este ambiente cheio de espinhos.

    Café farto. Saímos por volta de 9:40 após desmontar acampamento e carregarmos as mochilas. Íamos explorar a Pedra do Crocodilo, tentar descobrir um caminho para o cume que Ernani, ontem na sua exploração, achou ter encontrado o seu começo.

    Subimos por uma fenda e escondemos as mochilas. Seguimos por um belo labirinto de pedras com vegetação típica. No chão dezenas de coquinhos de licuri secos, cortados como se fosse por uma faca. Obra dos mocós, que roem os coquinhos com seus dentes afiados, parecendo uma serra de tão perfeito o corte. Eles não comem o coquinho, mas um verme no seu interior. Ele é comestível e vários membros do Bushcraft BA já experimentaram. Dizem que tem gosto de coco e requeijão. As fezes ovaladas dos mocós atapetavam o chão em vários pontos mostrando como eles são abundantes.

    Chegamos num mirante com bela vista. Tiramos fotos logo antes de uma chuva ligeira cair sobre nós.

    No mirante havia muito gravatá amarelo, o unha de gato. Tem espinhos recurvados que parecem unhas do animal ou anzóis. A roupa, se prender, deve ser cuidadosamente retirada da unha porque senão rasga o tecido.

    Descobrimos uma fenda que subia em diagonal até o cume. Começamos a explorar, mas pelo adiantado da hora só percorremos um pequeno trecho da canaleta e resolvemos deixar o cume para outra vez. O moto boy tinha horário combinado para buscar Ernani.

    Na canaleta.

    Na descida barba-de-velho nas árvores.

    Voltamos e passamos junto da Pedra da Boca, onde encontramos pessoas praticando escalada em rocha. Foto Rodrigo.

    Ernani buscou o carro e nos apanhou em seguida. Retornou a pousada para um rápido banho e fomos para um restaurante afastado da cidade, o Quixabeira. Recomendamos! Boa comida e vista bonita.

    Muitos escaladores de rocha do sul do país se mudaram para Itatim onde construíram refúgios de montanha e dão aulas de escalada em rocha. Opções e vias não faltam!

    Ótima viagem com a excelente companhia do Ernani, Rodrigo e Marcelo. Muito bom o entrosamento da turma.

    Um mês e meio depois o Ernani teve a idéia de inspecionar a bota que usou em Itatim. Com a ajuda de um cortador de unha olhem o que ele tirou do solado:

    Relato dedicado ao Ernani, idealizador e guia desta trip, grande mestre mateiro!

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado em 23/08/2021 21:06

    Realizada de 20/08/2021 até 22/08/2021

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    7 Comentários
    Fael Fepi 24/08/2021 08:52

    Massa ! Peter. Show de bola.

    Peter Tofte 24/08/2021 10:03

    Valeu Fael!

    Ernani 24/08/2021 10:05

    Excelente trip... alternativa maravilhosa para testar equipamentos novos e pertinho de Salvador. Itatim e Santa Terezinha são cidades acolhedoras e com infinitas opções para pratica de esportes de montanha. Mas o melhor dessas Trips, sem dúvida, é fazer amizade com o povo local e ser abraçado por eles. Que venham muitas idas a Itatim! Obrigado pelo delicioso final de semana Mestre Peter! Rox!

    Peter Tofte 24/08/2021 10:07

    Obrigado Ernani!

    Marcelo Avila 01/10/2021 23:35

    Muito legal o relato ! Itatim já está na mira já tem um tempinho…

    Rodrigo Oliveira 08/10/2021 14:39

    Como de costume, ótima leitura! Por causa desse mesmo e famigerado Ernani, comecei a escalar e agora, aviciado, não paro mais. Escrevo este comentário numa sexta-feira, a tarde, esperando apenas às 18 para pegar a estrada para esse lugar maravilhoso que deveria ser preservado e transformado em um parque dedicado a escalada! E por isso mesmo, merece que pressionemos o poder público para isso! Trilhas, escalada, trekking, mountain bike, geologia, pinturas rupestres... Itatim é um paraíso!

    Ernani 14/10/2021 14:22

    Quem quiser conhecer, tem que ir logo. No ritmo que vai, vão dinamitar todos os Inselbergs. 

    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

    Rox
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    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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