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Peter Tofte 07/03/2017 08:08
    Sierra Nevada

    Sierra Nevada

    Subida e tentativa de travessia da Sierra Nevada, na Patagônia chilena.

    Montanhismo Trekking

    Após um dia de descanso em Malalcahuello (ver relato Lonquimay) onde aproveitamos para lavar as coisas, inclusive nosotros com ducha quente e repor alguma comida, seguimos dia 18/02/2017 para a 2ª etapa da trilha.

    O planejado era fazer o cume da Sierra Nevada (um estrato-vulcão extinto) e a sua travessia Norte-Sul até o outro lado, a bela Reserva Nacional Conguillo.

    Mapa com o Campo Base e o cume assinalados.

    Caminho até a R.N. Conguillio.

    O dia 18/2 amanheceu chuvoso. Esperamos estiar, mas a chuva insistiu. Assim, que jeito, saímos às 11 horas debaixo d'água.

    Não tinha importância sair mais tarde porque o campo base da Sierra Nevada não era muito longe (4 a 5 horas de caminhada). Por isso nos demos ao luxo de esperar a chuva parar, o que não aconteceu.

    Pegamos o asfalto até as Termas de Malacahuello, onde a estrada passa a ser de rípio. A partir daí entramos num vale bonito, no sentido Sul, que segue até o sopé da Sierra Nevada. O vale foi escavado pelo rio El Claro, afluente do Rio Cautín. O El Claro tem origem no gelo derretido da Sierra Nevada.

    Termas de Malalcahuello:

    Fiquei preocupado: começaram a lotear os terrenos do vale, mas ainda sem casas. Mesmo a Patagônia vai perdendo um pouco de sua solitude (A linguagem criou a palavra solidão para expressar a dor de estar sozinho. E criou a palavra solitude para expressar a glória de estar sozinhoTillich).

    Chovia sem parar. Após cerca de 2 horas e meia paramos numa cabana abandonada para um lanche. Logo prosseguimos, sempre na margem esquerda verdadeira do rio El Claro até chegar a uma casa em construção. Avaliamos se seria bom acampar ali. Não pareceu adequado. Além disto teríamos mais caminhada no dia do cume/travessia, já que ainda estávamos um pouco afastados do campo base.

    Subindo a estrada de terra debaixo de chuva.

    A estrada neste ponto desaparece e se torna trilha, que subia mais acentuadamente, entrando numa floresta de ñirres, lengas e coigues. O rio El Claro começava a ficar cada vez mais abaixo.

    Encontrei num tronco, esquecido ou abandonado, um par de luvas forradas com Thinsulate. No dia anterior percorri Malalcahuello buscando um par, porque havia esquecido as minhas em casa. Não achei nada adequado. Agora encontrei no meio da mata! Apesar de rotas, não me fiz de rogado. Calcei-as e mesmo molhadas ainda aqueciam muito bem, muito melhor que estar com as mãos nuas.

    Subimos por uma trilha que bordeava a floresta na encosta. Quando parava um pouco de chover era o vento que derrubava a água acumulada na copa das árvores.

    Minhas pernas estavam molhadas devido a minha calça “impermeável” deslaminada.

    Chegamos num platô com um descampado rodeado por ñirres arbustivos às 14 horas, o campo base, depois de cerca de 5 horas caminhando. A única água existente era um filete que descia de um brejo.

    Montamos rapidamente as barracas, porta a porta, debaixo de chuva. Ramon teve a idéia genial de pegar o footprint de sua barraca e converter num toldo, com ajuda dos bastões de trekking, formando um avarandado entre as portas das tendas.

    Campo base. Ao fundo, encoberto, o cume da Sierra. Teríamos que percorrer a crista a direita para subir até ele.

    Logo entramos nas barracas. Preparei um chá para nos aquecer. Continuou chovendo a tarde toda. Aproveitei para uma boa soneca. Paula e Ramon ficaram assistindo episódios de uma série que baixaram da Netflix, que haviam carregado no smartphone. Não se fazem mais trekkers como antigamente.... Pura inveja minha, que não tinha nada que fazer senão dormir, porque não trouxe um livro de bolso.

    O carregador solar do Ramon hoje foi de pequena utilidade. Mas, de modo geral, é muito bom. Preso no topo da mochila carrega o que precisamos durante a caminhada e pesa um pouco menos que o power bank que eu utilizava.

    Final da tarde, uma trégua na chuva e pudemos cozinhar e comer fora das tendas. Mínima de 11ºC durante a noite.

    Ramon e Paula filtrando água.

    Dia 19/02 chuvoso, conforme a previsão. Decidimos ficar acampados. No dia seguinte a previsão era de sol com nuvens. Não queríamos fazer a travessia com nuvens e chuva. Aproveitei para por o diário da viagem em dia.

    Dia 20/02. Era para acordar às 6 horas. Mas como Ramon viu o tempo com cara feia, ainda nublado, aguardamos nas tendas. Às 7 horas eu chequei e ainda estava nublado. Oito horas Ramon me despertou com um grito: “abriu o tempo, abriu total!”.

    O cume da Sierra Nevada estava bem visível. O dia ficou lindo. Isto é incrível na Patagônia. Apesar de já ter presenciado isto várias vezes, ainda me espanto. Como o tempo muda rapidamente!

    Desarmamos as tendas, tomamos um café rápido e partimos. A subida até a crista é puxada. Atravessamos um bosque de ñirres com troncos caídos que atrapalhavam o avanço. Pinturas amarelas indicavam a trilha.

    Cume visto do bosque de ñirres.

    Começando a subida.

    Para chegar ao começo da subida para o cume basta seguir a crista no sentido Sul. Em dado ponto podíamos avistar seis vulcões. O que mais se destacava era o Llaima, a SW, e os Lonquimay e Tolhuaca ao N/NO. O lago Conguillo estava coberto por nuvens.

    LLaima.

    Percorremos por duas horas e meia esta crista até que, perto do trecho final, o terreno ficou bem mais acidentado.

    Crista. O mapa chama esta aresta da Sierra Nevada de Sierra Caracoles.

    Havia um ponto com água num excelente local para acampar, a cerca de 200 a 300 metros verticais do cume. Seria um acampamento de altura bem legal. Se soubéssemos poderíamos ter subido já no 1º dia até ali.

    Bom lugar de acampada, com água, no fundo do pequeno circo.

    Pedreira ruim de avançar. Ascendemos até um selado com gelo. Tentei avançar pela superfície gelada sem crampons (o aclive não era acentuado), mas o gelo duro me fez escorregar para trás. A ponta do cabo do piolet não conseguia perfurar o gelo.

    Resolvemos seguir pelo caminho paralelo, ao lado, livre de gelo, que parecia ser o que todos seguiam.

    Após a subida acentuada chegamos num pequeno vale, de onde, finalmente, após 20 a 30 minutos chegamos à aresta final e fizemos o cume (2.554 metros).

    A Patagônia não tem montanhas tão elevadas como nos Andes centrais, mas merecem o respeito dos andinistas devido ao clima da região.

    Ramon preencheu o livro de cume. Lanchamos, e tiramos poucas fotos, prejudicadas pela grande quantidade de nuvens que agora envolvia a montanha. Ainda queríamos atravessar a Sierra Nevada. Havíamos partido tarde e a subida, especialmente no trecho final, foi lenta.

    Vistas do glaciar Leste.

    O caminho segue em paralelo ao filo, pelo lado Leste. O lado Oeste é uma escarpa.

    Porém, após apenas 30 minutos, descobrimos um torreão no filo que nos obrigava a contornar descendo bem pelo extenso glaciar Leste da Sierra Nevada.

    Vista do torreão. Uma queda vertical de 50 a 70 metros e o grande glaciar Leste. É possível ver algumas gretas.

    O glaciar era de gelo duro e sujo, quase sem neve cobrindo-o. Aqui e ali avistávamos algumas gretas de respeito, que tranqüilamente engoliriam uma pessoa. Avaliamos: não dava para subir e descer o torreão que estava na crista. Teríamos que seguir baixando e subindo o glaciar para contorná-lo. Mas, apenas com piolets, sem crampons, era uma manobra bem arriscada. Embora o declive do glaciar em geral não fosse muito acentuado, no início da descida era bem inclinado. Se escorregássemos, sem corda para fazer a segurança, poderíamos parar numa greta.

    Desistimos de prosseguir na travessia. Uma pena, porque o Conguillo é muito bonito, ao sopé do Llaima. Fica para uma próxima, com crampons!

    Meia volta volver e descemos até o campo base, onde chegamos por volta das 19 horas. O caminho pela crista foi em meio a vento e nuvens. Porém podíamos observar, lá embaixo, o vale e Malalcahuello ensolarados.

    Ramon montou as barracas meio puto porque era a terceira noite que acampávamos ali. Trekkers são nômades, não gostam de ficar muito tempo no mesmo lugar.

    Tomamos um banho de panela no riacho (nos dois dias anteriores o banho foi de chuva). Como amanhã seria meu último dia de trilha, Ramon usou meu gás para aquecer a água do banho de Paula. A água quente era colocada numa garrafa PET de 2 litros. Ramon tem uma tampa plástica toda perfurada que leva nestas ocasiões. Fechou a PET com esta tampa e comprimiu a garrafa fazendo um chuveiro muito legal para Paula. O amor é lindo.... Entretanto o tempo para a recarga de água quente na garrafa PET foi o suficiente para fazer Paula tremer de frio aguardando a água quente para enxaguar.

    Acordamos e saímos as 9:30. Dia lindíssimo. A descida pela floresta, mesmo caminho da subida ao CB, foi bonita. Nem parecia a mesma floresta molhada e escura de dois dias atrás.

    Descendo para Malalcahuello, com o dia lindo. Lonquimay ao fundo, à esquerda.

    Passamos pela casa em construção onde encontramos um pedreiro. Conversamos e deixei o par de luvas com ele.

    Chegamos a um restaurante a beira da estrada (comida de paso) em Malacahuello quase às 13 horas, com calor, onde devoramos sanduíches e aproveitamos o WiFi. Lá soube os horários de ônibus para Curacáutin, onde pela noite pegaria o ônibus de volta para Santiago. No ônibus, durante a descida de Malacahuello para Curacautín, pude observar como é belo o vale do rio Cautín.

    Ramon e Paula prosseguiram para fazer trilhas pelo Chile até o final do Carnaval. Grande companhia a deles, ratos de trilha calejados. Que venha a próxima. Espero que eu possa acompanha-los em alguma trilha no ano sabático que pretendem tirar.

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado em 07/03/2017 08:08

    Realizada de 18/02/2017 até 21/02/2017

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    17 Comentários
    Peter Tofte 23/05/2017 15:06

    Uau!! E vocês, Ramon e Paula, serão os primeiros brasileiros a completá-la!!! ;=))

    Ramon 23/05/2017 21:35

    Não sei. Tem a teararoa a pct e uma lista enorme. Mas se eu pegar ela quero fazer uma continuação. A GPT termina em El Chalten. Porque não expandir ela até a Tierra del fuego? Acho que o primeiro difrol pode ser inesquecível...

    Peter Tofte 24/05/2017 13:38

    Aventureiros! Realmente são voluntários que contribuem para a GPT desbravando e mapeando o caminho. Então vou ver seu relato do caminho até a Cruz do Fim do Mundo (Cabo Froward)?!?!

    Ramon 25/05/2017 16:59

    ....hum.... Se eu sentir confiança no packraft que eu construí e ainda não testei... Se eu tirar Minhas dúvidas de água fria em caiaque como o uso de drysuit...talvez sim. Sobre o packraft www.diypackraft.com

    Peter Tofte 26/05/2017 16:18

    Testa antes aqui no Brasil! É aquele que vc compra o kit para montagem, que vc comentou em Lonquimay?

    Peter Tofte 26/05/2017 16:21

    O projeto é legal. Mas e o remo? Como transportar na mochila?

    Ramon 01/06/2017 14:49

    O próprio. Já peguei um remo desmontável na decathlon. É que eu não moro em Salvador.....senão, já estava testado!

    Peter Tofte 02/06/2017 10:29

    KKKKK. Mas tem muita represa aí por perto!

    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

    Rox
    3913

    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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