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Wagner Tinoco 04/12/2018 22:19
    Travessia solo da Serra Negra em dois dias.

    Travessia solo da Serra Negra em dois dias.

    Realizada na parte alta do Parque Nacional de Itatiaia com pernoite na Pousada Pico da Serra Negra (Dona Sônia) em Itamonte.

    Tomei vergonha na cara e resolvi fazer minha primeira postagem aqui! Espero que gostem!

    A escolha da Travessia da Serra Negra em particular como primeira travessia solo foi porque eu já tinha ouvido falar muito bem do visual dela na oportunidade de um trekking até as prateleiras, por conta do terreno (que apesar de trechos bem técnicos, acho a progressão ali tranquila), do tempo (apenas dois dias), pela facilidade do pernoite em pousada (reduzindo os riscos - possibilidade de contato com a guarda do parque ao final do primeiro dia) e por conta do peso na mochila (sem barraca, fogareiro e toda a tranqueira que levamos em camping selvagem fica muito mais suave).

    Sempre fui um tanto conservador em relação a atividades solo, principalmente num ambiente hostil como o de montanha, mas precisava desse teste pessoal. Sabia que era capaz física e tecnicamente, faltava o fator psicológico. Um teste antes de encarar a Serra Fina logo depois.

    Fiz a reserva no parque com bastante antecedência (http://www.icmbio.gov.br/parnaitatiaia/), principalmente por conta da alta temporada e escolhi meio de semana justamente para evitar o crowd, fiz contato por whatsapp com a pousada da Dona Sônia - (35) 99965-6515 e fechei a reserva para a data. Paguei R$ 130 com jantar no dia 10 e café da manhã no dia 11/07.

    Como moro em Campos dos Goytacazes e dirijo um bocado pra chegar na região, fiz reserva para pernoitar na Vila de Maromba uma noite antes da travessia e uma depois. Fiquei na Pousada da Gruta - (24) 99306-5032/3387-1393. Ali deixei meu carro, pois ao final da trilha iria sair dali mesmo e paguei o transfer até a parte alta do parque (a parte ruim de fazer essas coisas sozinho é ter que pagar tudo sem ajuda). Quem fez o transfer foi o Sinval (filho dos donos da Pousada da Gruta) - (24) 99322-0861.

    Passei um tempo estudando a trilha, a previsão do tempo e os tracklogs que achei interessantes, lendo alguns relatos e batendo com os mapas, os pontos de água, me planejei e fui! Utilizei esse tracklog: (https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/travessia-serra-negra-em-itatiaia-marcelo-19442711) e um outro que não consegui fazer upload (não sei porque!). Um deles me tiraria da trilha original em um ponto e está aí uma coisa que não faço, principalmente sozinho - sair da trilha, pois é assumir um risco desnecessário com a fauna e flora e de se perder no local, além de degradar o terreno de forma descontrolada. A trilha em si é bem marcada com uma pintura característica em pontos estratégicos...

    Mas nos trechos iniciais, ainda na parte mais rochosa a sinalização poderia melhorar. Como estava com o GPS a mão.. a orientação foi suave!

    Recomendo que (sabendo utilizar) leve sempre bússola e um mapa da região mesmo com GPS, afinal tecnologia é uma beleza quando não falha!

    Achei esse mapa com excelente qualidade para impressão em A3: http://www.extremos.com.br/download/2015/0616_itatiaia/

    Dia 10/07/2018

    Iniciei a Travessia partindo da portaria do parque de Itatiaia na parte alta do parque por volta das 07:15 da manhã e estava uma friaca arrumada!

    Paguei as taxas de entrada (R$ 17,00) e permanência na trilha no dia seguinte (R$ 2,00 para brasileiros) ali na portaria mesmo e segui em direção a minha primeira travessia solo numa mistura louca de ansiedade, coragem e apreensão.

    De cara, para sair do ritmo basal, já se pega uma subidinha.. para acelerar a bombinha de sangue! Seguindo a orientação inicial dos guardas (super atenciosos), as placas e o gps é claro, peguei uma trilha à esquerda logo ali próximo à portaria. Mais à frente se tem outra opção de início passando pelo abrigo rebouças (onde a galera pernoita para atacar o Pico das Agulhas Negras), mas como eu já o conhecia, segui por ali mesmo.

    Galera daqui sabe, mas não custa comentar o básico... usar roupas em camadas é o que há, pois você tira e bota essas camadas o tempo inteiro na montanha e nesse início isso é bem frequente.

    Sem andar tanto já é possível visualizar esse lago lindo e o Pico das Agulhas Negras ali ao fundo à direita.

    Comecei a trilha com uma garrafa de 1 litro de água. Cheguei ao primeiro ponto de água. Abasteci a garrafa e toquei em frente... achei a trilha inteira muito bem servida de água e com apenas essa garrafa é tranquilo de fazer a não ser que seja um beberrão de água.

    Primeiro ponto de água:

    Mais à frente cheguei a um ponto de onde já se consegue ver os tais "ovos de galinha"...

    Logo depois a cachoeira Aiuruoca... (quase não consigo pronunciar esse nome!)

    Mas nem tudo foram flores e cachoeiras nesse dia...

    A previsão do tempo não era das melhores para esse dia, mas como não tinha tempestade prevista, abracei a missão e segui o plano.

    Começou uma chuva bem leve por volta das 11:00h e comecei a procurar um lugar relativamente abrigado pra almoçar meu sanduba com isotônico, eis que caminhando mais um pouco, encontro num rancho, uma cabana de madeira e telha de zinco pertinho de um riacho. Já eram 11:30h. Parei, olhei o lugar todo antes de entrar até pra não tomar chumbo de algum morador, mas não havia ninguém lá e pensei: "que presente! consegui meu abrigo para almoçar!". No dia anterior dei carona a um casal de músicos argentinos super maneiros, o Pablo e a Antonela e senti esse presente - o abrigo, como uma retribuição do universo!

    Havia um estrado de madeira no chão e sobre ele uns colchonetes com esterco de vaca em alguns pontos (as vaquinhas fizeram o lugar de hotel). Fiquei bem atento à possibilidade de cobras, aranhas e/ou carrapatos. Tudo tranks, pousei a mochila numa madeira, preparei o isotônico, saquei o sanduba da mochila e ataquei! Passei um tempinho ali observando a chuva que aumentou um pouco, traçando meu rango com meus pensamentos.

    Andar sozinho é perigoso, mas igualmente mágico! Você é o dono total do seu tempo, do seu ritmo e dos seus pensamentos. Aguardei um pouco, a chuva reduziu e segui em frente.

    Cheguei a outro riacho onde me abasteci de água de novo, com umas cachoeiras pequenas, mas lindas ao longo dele..

    Mais à frente encontrei um cupinzeiro de respeito que fiz questão de registrar... o cupinzeiro é o da esquerda tá!

    Estava bem de equipo (achando) e acreditei que daria tudo certo mesmo se chovesse, mas... deu ruim! A chuva aumentou e meu abrigo parkha, velhinho de guerra da Trilhas&Rumos falhou!

    Faltando mais ou menos umas 2 horas de caminhada pra chegar à pousada da Dona Sônia, a calça que eu estava usando começou a molhar, que molhou as meias e que molhou as botas (impermeáveis) por dentro... que delicinha! "charco" "charco" charco" charco" era o som do meu caminhar! hahaha, mas o pior foi a parkha que começou a deixar passar água da chuva pro corpo e estava esfriando... pqp! Que frio da porra!

    Mas segui em frente. Tinha muda de roupa seca na mochila para o dia seguinte e aqui vai mais uma dica básica: colocar tudo o que não pode molhar em sacos plásticos separados e todos dentro de um saco plástico maior e mais forte dentro da mochila.

    Além da água de chuva ser um risco para seus equipos, vc pode cair na água com mochila e tudo numa travessia ou sua própria água de beber vazar dentro da mochila.

    Não confie na capa da mochila ou em mochilas impermeáveis! Aprendi isso no Exército e já evitei boas roubadas com isto! Percebam que no checklist de equipo tem relacionada a calça impermeável! Acrescentei esse item depois das botas molharem por dentro aqui nessa trilha!

    Cheguei a pousada por volta das 14:30h intanguido feito um cachorro na chuva, mas deu tudo certo! Pernada rápida porque estava sozinho, mesmo tendo parado bastante pra fotografar! Até aqui foram em torno de 16 km se não me engano.

    Joguei minhas coisas no quarto, me alonguei (aliviando para o dia seguinte), dei um mergulho no chuveiro, comi uma barrinha e fui descansar. Mais tarde Dona Sônia, super atenciosa me chamou pra jantar e colocou minhas botas próximas ao fogão à lenha pra secar e que depois passaram a noite atrás do freezer para completar. Pela manhã estavam secas. As roupas deixei penduradas na varanda pra escorrerem a água reduzir seu peso, mesmo porque com o frio que fez à noite eu sabia que não secariam e não secaram mesmo. Continuaram úmidas, mas pelo menos mais leves.

    Confesso que nesse final de dia bateu uma bad fudida! Pensei em pegar um buzão ao amanhecer e voltar porque estava sem capa de chuva, afinal minha parkha falhou, a chuva tinha aumentado muito e não parecia que iria parar nunca mais (e choveu all fuckin night long!), mas conversando com Dona Sônia, ela me disse que era pra continuar, pois o caminho mais longo eu já tinha feito e que no dia seguinte eu pegaria apenas uma "subidinha de nada" e depois seria só descida e devia ser a metade da distância do primeiro dia. Ainda me arrumou uma capa de chuva simples que ela tinha, mas que aceitei como se fosse o melhor presente que uma criança poderia querer! Olha o universo cuidando de mim de novo via Dona Sônia! Ainda pretendo mandar umas capas de chuva daquele mesmo tipo pra ela poder continuar a boa ação!

    Dia 11/07/2018

    Dia lindo! Sol maravilhoso! Hora de continuar.

    Café da manhã na pança, mochila pronta, fui fazer o alongamento e aquecimento das articulações e o filho ou netinho da Dona Sônia (não me lembro o parentesco), de uns 4 anos me acompanhou cheio de desenvoltura! Moleque lindão e levado! Na tarde anterior estava sapateando na chuva dando trabalho!

    Pé na trilha! Comecei por volta das 08:30h e logo pela "subidinha de nada" de 600 metros de desnível! Coração na boca! Hahaha... não atentei para o detalhe que Itamonte é Minas! "Logo ali" de mineiro vocês sabem como é, então "subidinha de nada" não era pra ser diferente!

    Mas fui administrando e curtindo a paz da solidão. Ritmo estabilizado, bora começar a tirar fotos!

    O visual desse trilha é lindo demais, do começo ao fim. Passei por áreas abertas de montanha, por matas, por riachos... uma variedade de cenários, uma região abençoada com tudo de lindo!

    Nesse segundo dia, em boa parte do caminho dá pra ver a trilha indo ao longe como nessa próxima foto..

    Só encontrei aves pelo caminho, os tico-ticos no parque são bem sem vergonha e interagem bem com todos e alguns só faltaram me ajudar a carregar a mochila! No geral, a conexão com tudo a minha volta foi uma experiência maravilhosa.

    Sem gritaria, no silêncio total, até esses falcões estavam ali de boa só de olho no movimento, de olho na situação!

    No caminho teve um momento de cagasso... encontrei fezes de algum felino e pelo tamanho da obra não parecia ser pequeno. Pra quem não sabe, as fezes desses animais costumam ter pelos (os mesmos ficam se lambendo, tomando "banho" e os pelos passam para as fezes) e esse foi o sinal. Bem, melhor prevenir do que remediar... faca de sobrevivência numa das mãos, bastão de caminhada na outra e logo em seguida, para incrementar o cagasso, entro em alguns corredores como este...

    Graças a Papai do Céu não vi o(a) "dono(a) da obra" e continuei em frente.

    Final da caminhada por volta das 13:45h, cheguei enfim a Vila de Maromba muito menos cansado do que no dia anterior, afinal nesse dia realmente a maior parte foi descida e foram em torno de 8km com um clima excelente, sem um pingo de chuva! Suave!

    Vila de Maromba à vista!!!

    Valeu muito a experiência! Próxima missão: Serra Fina (rolou em Agosto). Depois solto os detalhes!

    Pra quem leu tudo ou só fez a "leitura dinâmica"... obrigado pela moral!!!

    Wagner Tinoco
    Wagner Tinoco

    Publicado em 04/12/2018 22:19

    Realizada de 10/07/2018 até 11/07/2018

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    4 Comentários
    Fabio Fliess 05/12/2018 13:46

    Boa Wagner! Travessia irada essa! Pena ter pego chuva!!! Ainda to devendo um relato aqui da minha aventura nessa trilha em 2013. Fizemos a travessia em um dia só! Foi punk, mas divertido... Abração e bem vindo!

    Wagner Tinoco 05/12/2018 14:15

    Valeu Fabio!

    Jeff Almeida 06/11/2019 14:30

    Parabéns pelo relato! Está na pauta fazer essa travessia!

    Caio 28/01/2020 20:23

    Nooiiii miiiiic

    Wagner Tinoco

    Wagner Tinoco

    Campos dos Goytacazes - RJ

    Rox
    26

    Bacharel em Educação Física. Técnico de Estabilidade - Petrobras. Trekking, Montanhismo, Surfe, Aikido, Tiro Esportivo, Mountain bike e Yoga.

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    www.instagram.com/wagnertinoco80/