Caminho da Luz 2023

Foram longos meses pesquisando, assistindo a vídeos no YouTube, lendo em alguns poucos sites, buscando informações sobre pessoas que tinham se aventurado sozinho ou em grupo mas por conta própria no Caminho da Luz. Quase sempre me deparava com pessoas que iam com carro de apoio e contratando uma agência. Até que, depois de muita pesquisa, encontrei um relato aqui na aventrebox do Marcelo Lemos (https://aventurebox.com/marcelo-lemos e Instagram @marcelo_lemos_13 ) em que ele tinha feito sozinho. Era o que eu precisava, defini o período (5 dias caminhando de 15 a 20/julho), trechos (Tombos - Pedra Dourada, Pedra Dourada - Carangola, Carangola - Espera Feliz, Espera Feliz - Alto Caparaó e Alto Caparaó - Pico da Bandeira) e partir para reservar avião, ônibus e hospedagens. Decidi que faria em 4 dias andando até Alto Caparaó e no meu 5o dia subiria o Pico da Bandeira. Saí de São Paulo na sexta, 14/07 de avião para o Rio de Janeiro. No mesmo dia, peguei um ônibus na rodoviária para Tombos com saída em torno das 9h (viação Rio Doce). Cheguei a Tombos em torno das 17h30, viagem demorou mais do que o costume devido ao trânsito decorrente de obras na rodovia. Me hospedei no Hotel Serpa onde paguei R$160,00 ou 180,00 (não me recordo) em dinheiro pela credencial do peregrino, também dá direito a uma camisa e cajado mas dispensei pois já tinha dois bastões.

1o. dia 15/07 comecei minha caminhada, optei por sair sem tomar café da manhã pois só servem a partir das 6h30 e quis sair às 5h pois teria 42km pela frente.

Durante a parte da manhã fiquei a base de barra proteica, gel e muita agua. Os primeiros kms são pelo asfalto, até entrar numa trilha de terra que passa por diversas fazendas. Algo que me incomodou, principalmente nos dois primeiros dias foram os cachorros que corriam em minha direção sempre que me aproximava das propriedades, mas não houve ataque apenas o susto. Após alguns kms e horas caminhando na trilha de terra, uma seta amarela onde indica para onde o peregrino tem que seguir me direcionava para o alto de uma pedra mas com um caminho praticamente tomado por mato alto o que dificultou encontrar a trilha, o que salvou foi uma seta amarela no alto de uma montanha.

Diga-se de passagem, esse foi o único trecho em que o mato estava um pouco alto, mas segui em frente ate encontrar a trilha novamente. Depois de algumas horas caminhando, enfim, cheguei a gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Já tinha assistido a videos, mas presenciar pessoalmente é algo único. A gruta emana paz, uma energia forte de dentro dela que me tocou. Fiquei ali paralisado por alguns minutos , me recompondo antes de seguir adiante. Soube depois que no domingo, 17/07 é realizado uma missa anual no local e que uma grande peregrinação realizada pela ABRALUZ se iniciaria na segunda 18/07, saindo de Tombos.

Após mais algumas horas caminhando pela trilha de terra, enfim, cheguei a Pedra Dourada em torno das 15h. Fiquei hospedado da Pensão da Dona Ana onde tinha reserva realizada pelo whatsapp (32 98421-2154), paguei R$100,00 por um quarto individual, cama de casal e banheiro privado (existem opções mais em conta com banheiro compartilhado e cama individual). Aproveitei para dar uma breve caminhada pela cidade, colocar meus pés próximo a uma pequena queda de água próximo ao Hotel que fica no parque. No dia, um sábado já não tinham restaurantes servindo almoço, tive então que aguardar até as 18h onde fui a uma pizzaria que fica em frente ao parque da cidade, optei por uma pizza individual que serve muito bem uma pessoa.

2o. dia 16/07, acordei as 5h30, passei vaselina em algumas partes do corpo para evitar que asse, um pouco de pomada nos músculos, salompas no tendão que já começava a doer e esparadrapo entre alguns dedos. Desci para o café da manhã, que ainda não estava pronto mas prepararam um ovo mexido com pão e um café preto. Saí em torno das 6h/6h30 rumo a Carangola, inicialmente o plano era caminhar 48km de Pedro Dourada até Carangola (25km até Faria Lemos e o restante até Carangola). Saindo pela cidade, o caminho tem uma longa subida pelo asfalto até seguir pela trilha de terra. Um dia com subidas e descidas, muitas placas com as setas apagadas importante ficar atento para não entrar em trecho erradamente, praticamente a manhã inteira caminhando por dentro de fazendas em meio as plantações de café, um belíssimo visual.

Após mais de 23km caminhando já com pouquíssima água (mas com gel e barras proteícas de sobra) diga-se de passagem sobre agua / comércio, o caminho inteiro tem distancias grandes entre as cidades e nenhum apoio para os peregrinos/caminhantes que optam por irem por conta própria - apesar de terem trechos com bicas das cachoeiras, fontes - cheguei num trecho em que cruza uma rodovia. Uma placa indicava para seguir adiante em direção a Faria Lemos por mais 2km, chequei o aplicativo com GPS e informava que indo pela rodovia, em torno de 10km chegaria a Carangolas meu destino final do dia. Optei por seguir pela rodovia e evitar passar por Faria Lemos o que me renderiam mais 25km ao longo do dia, apesar de caminhar pela rodovia ser necessário ficar altamente alerta, foi uma decisão acertada apesar de sair um pouco da rota, pois ao final do dia contabilizei 35km ao invés dos 48km, o que me ajudou bastante da recuperação do dia seguinte. Cheguei em Carangola em torno das 14h, cruzei a cidade inteira até chegar ao Hotel Palace no qual já havia feito a reserva pelo whatsapp (32 3741-3895). Na chegada, me deparei com diversos peregrinos que iniciariam o Caminho da Luz no dia seguinte, estavam juntos com apoio da agência Rastro da Luz que os levariam no dia seguinte para Tombos. Tive oportunidade de conversar com um deles e comentou que estavam todos alojados num espaço alugado no hotel, mas soube que existem opções de pacotes individuais com a agência. O meu quarto era bem amplo, duas camas de solteiro e banheiro privado. Lavei minhas roupas e coloquei para secar na janela, dia seguinte apenas as meias que precisaram secar um pouco ao lado de fora da mochilha enquanto caminhada. Fui a um restaurante, único aberto e servindo almoço pelo horário, próximo a igreja e almocei. Depois fiquei pela praça, assisti a missa e a noite comi um hamburguer de frango indicado na recepção, próximo ao hotel.

3o. dia 17/07, acordei as 5h30 e arumei minha mochila, seguindo a rotina que sempre adoto nas caminhadas. Vaselina, salompas, esparadrapos, separei gel, enchi duas garrafas e desci para o café da manha pouco mais de 6h (apesar de que indicavam que o café seria servido as 6h30). Guardei duas bananas e uma maçã para consumir ao longo do dia. São alguns kms ao longo da cidade, até chegar na árvore mãe, trecho para quem sai de Faria Lemos em direção a Carangola, dali são alguns kms por uma trilha de terra até começar uma longa subida até chegar a uma estação / parada de trem desativada.

Esse trecho, no terceiro dia, até então na minha opinião tinha sido o mais bonito. O alto da montanha proporciona um visual único, com uma visão previlegiada. Após uma trilha, chega-se a um ponto em que tem uma bica de agua onde fica uma imagem do Cristo, um belíssimo ponto para respirar, meditar e recuperar o fôlego até seguir e passar pelo túnel de pedra.

Outro ponto alto do caminho é o túnel de pedra. Após algumas horas, o trecho passa por Ernestina que na minha opinião poderia acomodar um espaço para apoio aos peregrinos.

Após a trilha e algumas porteiras, em direção a Caiana o trecho percorre uma linda estrada com muitos minérios e cristais, em torno das 13h ainda que no inverno o sol forte começa a castigar. Ao chegar em Caiana, optei por encher duas garrafas de água e seguir direto para Espera Feliz, dali são mais 7km percorridos numa estrada de terra até chegar ao destino final do dia. Esse percurso é plano, até chegar numa leve subida de onde se vê a cidade após começar a descida.

Cruzei a cidade até chegar ao Hotel Pico da Bandeira no qual já havia feito a reserva para um quarto individual no valor de R$79,00 por whatsapp (32 3746-3200). O dia 17/07 é o feriado da cidade, em função disso, o comércio estava praticamente todo fechado no horário em que cheguei, o jeito foi comer um sanduiche de pasta de frango no hotel e as 19h fui jantar no bar central, próximo a rodoviária pois era o único lugar que servia comida. Lugar bem simples, mas a comida tinha acabado de ser servida no estilo buffet a kg.

4o dia 18/07, seguindo minha rotina, acordei as 5h30, fiz meus preparativos e fui tomar café da manhã. Uma mesa bem completa com frios, pães, ovos, salgados, frutas, até mesmo suco verde. Na minha opinião, foi o melhor café da manhã.

Nesse trecho, o peregrino/caminhante, tem duas opções de trajeto. Ir por Caparaó ou Galilélia/Boa Vista.

Ao sair da cidade, o caminho é todo percorrido por uma estrada de terra, com um fluxo considerável de carros, motos e caminhões. Apesar de alguns trechos de paz, uma manhã lindíssima com nascer do sol, foi um dia com muita poeira e alguns veículos não aliviavam ao cruzar por mim.

Após alguns kms, chega-se a Pedra Menina, um pequeno vilarejo onde tem uma vendinha e aconselho abastecer ali com água, frutas caso precise. Até Caparaó, não cruzei com nenhum outro local onde pudesse me abastecer com água. Dali, por mais algumas horas/kms cheguei no ponto onde precisa definir se irá por Caparaó ou Galilélia/Boa Vista. Nas pesquisas que fiz, o caminho por Galiléia economiza-se praticamente 3km e foi a minha opção.

Ao chegar em Galiléia, existe apenas uma igreja que estava fechada e uma escola, já sem água, pedi licença para entrar na escola e uma professora que me abordou gentilmente deixou eu encher uma das minhas garrafas. Após algumas horas caminhando, 11h30 cheguei ao ponto em que os caminhos voltam a se encontrar que é na saída da cidade de Caparaó e onde tem um mercadinho local, aguardei abrir (12h) onde me abasteci com água e logo depois segui em direção a última parada do dia Alto Caparaó. Após 8km mais ou menos, já dá para se avistar a cidade, andei por dentro dela por mais uns 2km até chegar na pousada Cantinho Bistrô Alto Caparaó onde tinha feito reserva (valor de R$140,00) para 1 pessoa pelo whatsapp (32 8525-1186), no local, eles tem um restaurante em baixo dos quartos mas no dia não funciona, mas soube de relatos que é uma excelente comida, infelizmente não conseguir experimentar. O local fica em frente da igreja e em volta tem alguns restaurantes, mercadinho, então não precisa andar muito. Ao final do dia, contabilizei 32km.

5o dia, o grande dia de conhecer o Pico da Bandeira. No dia anterior, conversando com algumas pessoas, me alertaram que eu dificilmente conseguiria subir os 18km, descer os 18km e chegar para pegar o ônibus as 17h45, apesar da minha teimosia, resolvi seguir com a recomendação dos locais e contratei um "jeepeiro" para me levar até o estacionamento para subir o Pico. Confesso que até a hora de subir o Pico, ainda me remoia em arrependimento de não subir a pé desde a pousada, mas falo com muita tranquilidade de que foi mais uma decisão acertada. Falei com alguns contatos que consegui, por ser apenas eu, queriam me cobrar R$200, R$250,... mas consegui negociar e o Roberto (32 8426-5775) me cobrou R$180,00 para me levar até a Tronqueira, o estacionamento e depois me buscar. Se estiver em grupo, o valor pode chegar a metade. Voltando ao grande dia, as 8h o motorista estava a minha espera e seguimos até o estacionamento do Parque, antes é necessário que na guarita preencha um livro com seu nome e dados, é uma forma deles terem controle e segurança de quem sobe e desce.

Um pouco antes das 9h iniciei a subida, estava sem a mochila (o que me ajudou bastante) uma garrafa de água, um corta vento, um gorro, 2 sachês de gel e um par de bastões. São 4km andando por uma trilha muito bem indicada por estacas em amarelo até chegar ao Terrerão, onde é possível acampar e passar a noite. Até o Terrerão, poucos trechos tem conexão de celular e num determinado momento tem um trecho para abastecer de água. O Terrerão tem apoio com guias para quem quiser acompanhamento ao pico, banheiro e a casa de pedra, local onde na época da Ditadura a guerrilha se encontrava para reuniões.

Segui pela trilha, rumo ao Pico, desse trecho ao cume são em torno de 4km, pensei: - 1 hora ou menos estarei lá em cima. Mera ilusão, não tinha ideia do que me esperava daquele ponto para frente. Os 2 kms em diante a subida vai ficando cada vez mais ingreme e a trilha com muitas pedras, a vista cada vez mais deslumbrante e as nuvens ficando cada vez mais baixas. Uma mistura de entusiasmo, fadiga, realização, satisfação, pensamentos do incio do caminho ao ponto em que estou, motivações para fazer o caminho, tudo ali num único momento, uma conexão enorme com a natureza com algo maior que não conseguimos enxergar toma conta de mim. Chega-se num ponto em que já se avista a cruz no cume mas ainda bem pequena. O trecho final é praticamente uma escalada, os bastões auxiliaram bastante e após alguns metros que pareciam intermináveis, cheguei, enfim ao cume. O Pico transmite uma energia inexplicável, algo muito superior que toca a gente, um sentimento único que fica na lembrança para sempre. Passei ali um bom tempo, conheci dois amigos, tiramos fotos e conversamos um pouco. Com sentimento de missão cumprida, mas ao mesmo tempo não querendo sair tomei coragem e desci a trilha até a Trunqueira para voltar no Jeep para a cidade de Alto Caparaó. Tomei um banho no camping, me indicaram procurar uma senhora que costuma cobrar R$10,00, assim o fiz, depois almocei e peguei o ônibus para Munhaçu. As 22h, o ônibus partiu de lá rumo a rodoviária Novo Rio e as 8h20 embarquei no Santos Dumont para São Paulo. Na minha opinião, o Caminho da Luz tem trechos lindíssimos, como por exemplo de Carangola para Espera Feliz com um visual maravilhoso, diversas cachoeiras, mas o ponto alto é o Pico da Bandeira, é algo fantástico e super indico. Quem quiser pegar dicas, informações ou tirar dúvidas, me coloco a disposição. Podem me mandar e-mail para valealexandre08@gmail.com