ESPAIRECER

Nas grandes capitais, buscar locais para espairecer vem se tornando algo fundamental para uma boa qualidade de vida.

29/05/2022 12:14

Parque Burle Marx, na Zona Sul de São Paulo. Um pequeno oasis de Mata Atlântica em meio ao caos metropolitano

Espairecer de vez em quando é fundamental. Romper com o cotidiano, esquecer por um momento as preocupações, distrair a mente por meio de uma atividade de recreação... O montanhismo foi uma forma que muita gente encontrou para praticar este hábito saudável. Mas para o cidadão comum como eu, que mora e trabalha em uma capital, nem sempre é fácil fazer desse hábito salutar uma rotina diária.

Na época em que morei em Brasília, costumava buscar alento no Parque da Cidade (Parque Dona Sarah Kubitschek). Com uma área de 420 hectares, projeto de Oscar Niemeyer, obra paisagística de Burle Marx e área urbanística desenvolvida por Lúcio Costa, o local reúne atrativos para todas as idades. Correr ou pedalar na pista de 10km ao final do dia, emoldurado pelo inigualável céu da Capital Federal, que proporcionava sempre um novo espetáculo de luzes e cores a cada final de tarde, é algo de que sinto saudade até hoje. O principal diferencial era poder circular livremente por um espaço agradável, sem maiores preocupações. Colocava o fone de ouvido e esquecia da vida por cerca de uma hora.

Tentei encontrar locais parecidos nas demais cidades em que morei, porém sem sucesso. Na capital mineira, onde moro hoje, correr pelo bairro implica em ficar atento ao trânsito, pessoas, assaltos... Pode funcionar como atividade física, mas não para espairecer.

Em visita recente à capital paulistana, minha terra natal, tive uma grata surpresa. Quem poderia imaginar que, em um rápido passeio de bicicleta, encontraria uma situação semelhante à que vivi em Brasília, em meio ao caos de uma das maiores e mais populosas cidades do mundo? Sim, me refiro à Ciclovia Rio Pinheiros, representada por um conjunto de pistas pavimentadas e bem sinalizadas, atualmente com 21,5 km de extensão, ao longo das margens do “rio” homônimo.

Inaugurada em fevereiro de 2010 como parte do projeto Parque Linear Pinheiros e entregue à iniciativa privada em 2020, a maior ciclovia da região metropolitana de São Paulo adota um traçado isolado das áreas com circulação de veículos, limitada pelo rio, pela linha férrea da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos e pelas pistas da Marginal Pinheiros. O circuito mais extenso é o da margem leste (21km), enquanto o da margem oeste conta com apenas 11km.

Embora ainda pouco utilizada por grande parte da população, seja por desconhecimento ou por receio quanto ao mau cheiro causado pelo rio retificado, transformado e estagnado, o local tem forte potencial para se tornar uma excelente área de lazer, prática de atividades físicas e, até mesmo, como alternativa de deslocamento pela cidade, uma vez que está conectada à rede de transportes metropolitanos.

De fato, o mau cheiro do “rio” pode representar certo incômodo em dias mais quentes, mas não um impeditivo para o uso. Para os mais observadores e que gostam de acordar cedo, pode reservar algumas surpresas interessantes quanto à fauna, na forma de aves paludícolas, algumas pouco comuns em regiões urbanas, além de capivaras, cágados, lagartos e outros animais mais tolerantes a ambientes antropizados e degradados.

A partir da ciclovia também é possível ter acesso a parques urbanos, dentre eles o Parque Villa-Lobos, o Parque do Povo Mário Pimenta Camargo e o Parque Burle Marx, este último, embora pequeno, com uma bela área florestada com remanescentes de Mata Atlântica, cortada por diversas trilhas, que nos permitem esquecer da vida por alguns momentos.

Espairecer é fundamental!