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André Deberdt 03/01/2024 10:01
    PALEOTOCA DO GANDARELA

    PALEOTOCA DO GANDARELA

    Importante sítio paleontológico, representado por um abrigo subterrâneo utilizado no passado por exemplares da extinta megafauna.

    4 x 4 Espeleologia Hiking


    Paisagem da Serra do Gandarela observada a partir de um de seus mirantes.

    A Paleotoca do Gandarela (cavidade AP-38) é um importante sítio paleontológico, representado por um abrigo subterrâneo utilizado no passado por exemplares da extinta megafauna. É formada por uma rede de galerias interligadas, que somam 340m de comprimento, e ainda guarda as marcas das garras dos animais que nela habitaram, possivelmente preguiças ou tatus gigantes. Está localizada na Serra do Gandarela, fora dos limites do Parque Nacional, na divisa dos municípios mineiros de Caeté e Santa Bárbara, em uma área onde a Vale pretende implantar o Projeto Apolo de mineração.

    Nos estudos iniciais realizados em 2009, a Vale omitiu a existência da Paleotoca e tentou suprimi-la durante as atividades de prospecção. Porém, pesquisadores a visitaram em 2011 e novos estudos foram realizados por intermédio do Ministério Público de Minas Gerais, que recomendou medidas para a sua proteção, obtendo decisão favorável da Justiça, além da recomendação para o seu tombamento. Em agosto de 2023, a Vale recorreu da decisão. Maiores informações a respeito podem ser obtidas no site Águas do Gandarela.

    Diante do imbróglio jurídico e dos interesses distintos pela área, as restrições de acesso tendem a aumentar com o passar do tempo, motivo pelo qual decidimos visitar a Paleotoca antes que seja tarde demais.

    Partimos de BH às 7h da manhã, em um veículo 4x4, rumo à Nova Lima e Rio Acima, por onde adentramos o Parque Nacional da Serra do Gandarela. Fizemos uma breve parada no Mirante do Gandarela para apreciar a paisagem e continuamos a subir a serra pela via de acesso principal, saindo dos limites do Parque. Na bifurcação para a Lagoa do Metro, pegamos o caminho da esquerda, passando por uma tronqueira recém-instalada. Como não encontramos nenhuma placa proibindo o acesso, seguimos em frente, por uma via bastante erodida, em meio à mata fechada, até a área de canga (campo rupestre ferruginoso) onde está localizada a Paleotoca, já dentro dos limites do Projeto Apolo, da Vale.

    A Paleotoca, identificada por duas grandes placas como cavidade AP-38, fica em uma pequena capoeira no meio da canga, ao lado da estrada onde estacionamos o veículo. As duas entradas são bem visíveis, porém estreitas. Munidos de capacetes e lanternas, entramos na cavidade sem maior dificuldade, onde nos deparamos com diversas pequenas galerias, algumas delas com o piso alagado pela água da chuva que percola pela rocha ferruginosa e porosa característica da canga.

    O deslocamento pelo interior desta cavidade exige certo contorcionismo, agachamento e andar de quatro a maior parte do tempo. Mas o encantamento pelo local é imediato. Trata-se de um ambiente bastante diferente de uma caverna com feição cárstica ou uma cavidade ferruginosa típica. A conformação cilíndrica dos dutos e as inúmeras marcas de escavações e garras nas paredes evidenciam, de forma inquestionável, que aquele local serviu de abrigo para representantes da megafauna.

    Vasculhamos algumas galerias por cerca de uma hora, evitando os pontos alagados para não impactar demasiadamente aquele ambiente raro e de elevada importância paleontológica. Com a dor nas costas aumentando devido à necessidade de andarmos agachados o tempo todo, decidimos sair e deixar um pouco para ser visitado em uma próxima oportunidade, no período mais seco do ano.

    Assim que saímos, notamos um veículo se aproximando do local. Era a segurança terceirizada da Vale que, de início, nos confundiu com pesquisadores. Feitos os cumprimentos e as devidas apresentações, tivemos uma conversa animada com os dois vigilantes, muito simpáticos por sinal, sobre a Paleotoca, o Projeto Apolo e as demais mineradoras no entorno. Segundo eles, ainda não há proibição de circulação no local, uma vez que a via de acesso é de servidão. Porém, nos recomendaram retornar pelo mesmo caminho que viemos, até a tronqueira, onde a estrada está em melhores condições. Nos despedimos e seguimos o nosso rumo.

    Nossa segunda parada foi na Lagoa do Metro, segundo consta na literatura, um dos lagos naturais de altitude formados em áreas de canga da Serra do Gandarela. Eu e Dênio visitamos este local em maio de 2018, quando o nível da água estava bem mais elevado. Na ocasião, tivemos a impressão de que se tratava de uma cava de mineração alagada, devido às edificações abandonadas e áreas mineradas no entorno, mas, ao que tudo indica, trata-se de um lago natural formado pelo acúmulo de água da chuva em uma área de canga. Infelizmente não encontramos maiores informações a respeito.

    A partir da Lagoa do Metro, parte uma antiga estradinha, atualmente tomada pela vegetação, que passou a ser denominada como “trilha Jurassic Park”, compondo o conjunto de trilhas informais do Parque (vide Wikiloc). O nome provavelmente se deve à grande quantidade de samambaiaçus ao longo do trajeto, que dão ao local um certo ar pré-histórico, sugerindo que, a qualquer momento, um Tyranossaurus rex sairá da mata.

    Seguimos pela trilha por cerca de 2,5 km, até uma caverna denominada Lapa do Calango (cavidade GAND_0094) que, inicialmente, nos pareceu apenas uma grande projeção de rocha dolomítica, mas que se revelou uma caverna de fato, quando subimos até uma abertura em sua parte superior. Para nossa surpresa, nos deparamos com estalactites, estalagmites e até uma coluna, além de espeleotemas diversos, entre coralóides e pequenas helectites, típicos de formações carbonáticas.

    Na volta por Caeté, ainda passamos pelo povoado de André do Mato Dentro, que, por algum motivo que desconheço, me trouxe uma certa sensação de afinidade imediata. Por que será?

    Interior da Paleotoca do Gandarela.

    Em busca da preguiça-gigante. Ou de vestígios da presença dela!

    Mas não tivemos a sorte de encontrar representantes da megafauna, apenas este simpático exemplar da herpetofauna, um sapo-cururu (Rhinella sp).

    Um conjunto formado por 340m de galerias estreitas interligadas.

    Por onde tínhamos que passar de cócoras ou engatinhando.

    Alguns trechos alagados, com marcas das garras nas paredes, evidências de que os dutos foram escavados.

    A cada passo, mais evidências da presença pretérita da megafauna extinta.

    Marcas de garras por toda a Paleotoca.

    Depois de um tempo, a coluna vertebral e os joelhos comçam a ser sentidos. São poucos os locais que permitem ficar em pé.

    Hora de retornar para a superfície.

    Depois fomos visitar a Lagoa do Metro, um dos lagos de altitude em formação de canga, existentes na Serra do Gandarela.

    E em seguida caminhamos por um trecho da trilha Jurassic Park, até a Lapa do Calango.

    A denominação da trilha possivelmente se deve à grande quantidade de samambaiaçus. Note que o colega está prestes a ser atacado por ferozes Velociraptors!

    De início, a Lapa do Calango nos pareceu um grande abrigo de rocha dolomítica, sem maiores atrativos.

    Até entrarmos por um conduto superior, que nos revelou alguns belos espeleotemas.

    Na volta, ainda passamos por um distrito de Santa Bárbara, com o qual me identifiquei bastante.

    Mapa com o roteiro percorrido, entre as cidades de Rio Acima e Caeté.

    André Deberdt
    André Deberdt

    Publicado em 03/01/2024 10:01

    Realizada em 29/12/2023

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    3 Comentários
    Marcelo Lemos 06/01/2024 20:37

    André, obrigado por trazer este curioso e peculiar roteiro. Espero que seja preservado diante dos interesses privados. Os 340 metros de galerias representam a totalidade da paleotoca ou é possível que haja mais trechos ainda não explorados? Abraço. E se você encontrar o local "Marcelo do Mato Dentro", me avise por favor. Preciso de um desses!!!

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    André Deberdt 07/01/2024 07:13

    Oi, Marcelo! A cavidade já foi bem estudada e mapeada, portanto, são apenas estes 340m ou 345m, dependendo do estudo (vide https://www.cavernas.org.br/wp-content/uploads/2021/07/35cbe_164-169.pdf). Quanto à localidade em sua homenagem, ficarei atento nas próximas incursões. Mas sinta-se convidado à participar dessa busca! 

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    Marcelo Lemos 07/01/2024 08:28

    Perfeito, André. Obrigado pela indicação e pela resposta. Opa... Vamos marcar esta busca!!! Rsrs. Abraço.

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    André Deberdt

    André Deberdt

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    Biólogo e montanhista filiado ao Centro Excursionista Mineiro.

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