Quando fui descobrindo todo esse mundo Outdoor heis que surge a travessia Serra Fina pelos vários relatos dizia ser a travessia mais difícil do Brasil, um lugar inóspito sem muitos pontos de água, muitas escaladas, exposição ao vento, frio e sol.

Pensei: - Nossa senhora acho que nunca irei conseguir fazer algo assim!

Mas com o passar do tempo e realizando algumas trilhas e cada vez mais apaixonada por esse mundo novo, decidi então que iria para esse desafio, me ingressei no projeto Serra Fina do grupo Trilhadeiros organizado pela Alexandra.

Ao longo de um ano fui me preparando fiz questão de conhecer os principais picos que compõem a Serra Fina individualmente para sentir o nível do desafio, fiz algumas travessias e também me ingressei em outros esportes (conto mais em outra história rsrs).

Agora vamos ao que interessa rsrs….contarei resumidamente....Imagens vale mais que 1000 palavras!

1° dia - Começa subida para o primeiro pico Capim Amarelo, essa já havia visitado e sabia o tamanho da subida, em pouco tempo fui ficando para trás por causa do peso da mochila, até o corpo engrenar na caminhada e TB o cansaço de não dormir e o stress da semana.

Caminhei a maravilhosa crista sozinha e fui acompanhando o nascer do sol por detrás das montanhas.

Crista da Serra Fina

Algum tempo depois cume conquistado, registro no livro, uma pausa e como ainda havia energia alguns integrantes decidiu continuar e armar acampamento numa área mais a frente na travessia.

Livro de cume do Capim Amarelo

Acampamento armado, pausa para alongamentos, yoga e jantar.

Acampamento (Danilo, Claudinha, Franco, dois amigos, Alan e eu)

2° dia - Jornada começa cedo em direção a Pedra da Mina, logo de cara outra subida forte com lama escorregadia e muita atenção durante o percurso.

Para minha surpresa comecei a sentir uma fadiga nos músculos da perna e até o corpo engrenar novamente fui em ritmo mais lento. Outros corredores de montanha decidiram ir mais forte para garantir lugar no pico e armar as barracas, seguiu eu, Alan e Danilo.

Com paciência, algumas paradas, uma pausa na cachoeira Vermelha chegamos ao cume.

Cachoeira Vermelha (paramos para pegar água)

Como ainda era cedo e chegamos animados, decidimos por um bônus trilha e ir ao cume do avião. Uma montanha ao lado da Pedra da Mina que algumas décadas atrás um pequeno avião caiu e até hoje existem os destroços no local.

Cume do Avião (Danilo, Eu e Alan)

Novamente pausa para fotos e contemplação. Hora de voltar para nossa casa (barraca rs), na chegada surge um helicóptero dos bombeiros para um resgate inusitado nada grave.

Fim do dia com pôr do sol maravilhoso, jantar e descansar.

3° dia - Esplêndido amanhecer na Pedra da Mina e hora de seguir caminhada para o terceiro pico o 3 estados. Exatamente a divisa entre SP, RJ e MG.

Outro dia longo a percorrer com foco e cuidado em cada passo, observando muito bem onde pisar, se apoiar, os totens indicando a direção, controlar a respiração a cada subida que parecia interminável, fazer pausas em mirantes e tentar enxergar o mais longe que a vista alcançasse.

Finalmente chegamos no último cume importante da travessia o 3 Estados, famoso por possuir uma estrutura de ferro de 3 lados escrito o nome dos estados no qual faz divisa.

Maciço do Agulhas Negras

Momento de apreciar o pôr do sol, jantar, apreciar a linda noite estrelada e descansar.

Foto Maravilhosa da Adri - Noite Estrelada

Amanhecer

4° e último dia - Mais um lindo nascer do astro rei e o dia começa com a galera desmontando acampamento para começar a descida, foram 3 dias inteiros andando acima dos 2.000m acima do nível do mar e é neste momento que se nota o quanto estávamos em altitudes elevadíssimas, mais algumas horas de trilha e a travessia chega ao fim parando no asfalto para aguardar o nosso resgate o Totó motorista da van.

Plantas lindas pelo caminho

Fim de trilha (Sitio do Pierre)

Novamente mais um bônus trilha, eu e mais 3 (Alan, Danilo e Wil) ainda bem animados e com disposição andamos mais 3km na rodovia (detalhe subida) para chegar na Garganta do Registro para uma deliciosa cerveja e pastel de queijo hummmm.

Particularmente não achei a Serra Fina esse monstro todo que as pessoas relataram, claro tem que estar com preparo físico em dia, confesso que poderia ter me saído melhor, mas o que importa é que fiquei imensamente satisfeita comigo mesma, não estava treinando adequadamente esses últimos meses por vários motivos...

Atualmente muitos amigos próximos e familiares acham que surtei kkkk vc é louca para que se enfiar no meio do mato? Para que se cansar tanto? Passar frio? Não tomar banho? Carregar esse peso todo? Sentir fome e sede?

Explico-lhes:

• Na selva de pedra é mais fácil eu ser atropelada do que cair de um penhasco;

• Posso confiar em um trilheiro mais que um colega de trabalho que passa anos ao meu lado;

• Traiçoeiramente sou atacada no mundo corporativo do que uma cobra me envenenar;

• Um marginal pode me roubar a vida mais facilmente do que ser o jantar de uma onça;

• Tranquilamente posso dormir com um sapo próximo do que suportar os sapos que tenho que engolir;

• Prefiro atingir a exaustão para ver o pôr e nascer do sol do que ter que entregar um projeto;

• Mesmo com todo conforto do meu lar não consigo dormir mais que 5 horas, a mente fica em constantes turbilhão de pensamentos, porém na montanha/mato inacreditavelmente consigo atingir até 12 horas de sono.

• Muitas vezes prefiro compartilhar minhas vitórias com amigos outdoor do que com familiares;

• Me orgulho em ser chamada de bicho do mato do que workaholic;

• E finalmente minha felicidade se concentra no que posso vivenciar/apreciar/recordar/compartilhar e não nos bens que possuo.

Simmm voltarei para as montanhas/mato do meu país e fora dele até quando tiver saúde e disposição! Pretendo também levar outras pessoas/filho/familiares que estiverem afim de sentir a mesma sensação.

Até muito em breve com outras aventuras!

Trilhadeiros muitissímo obrigada, vocês estão em meu coração!

Um forte abraço e um longo beijo!