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Caio Souza 10/17/2023 21:22
    Cicloviagem na Serra do Espinhaço

    Cicloviagem na Serra do Espinhaço

    Cicloviagem de 11 dias, saindo da serra do cipó até a vila do Tabuleiro, passando por lapinha da serra, Extrema e Candeias.

    Bike Trip

    Em agosto de 2023 eu e Ariane tiramos nossas típicas férias fora do período de alta temporada e por falta de planejamento optamos por uma viagem mais fácil de planejar, sem ter que comprar passagem aérea com antecedência. Conclusão: viagem para Minas gerais! Porém desta vez tivemos uma ideia diferente. Que tal fazermos uma ciclo viagem?

    Resumindo algumas informações, pesquisas e consultas a amigos que são referência no assunto, colocamos as bicicletas no carro e partimos em direção a Serra do Cipó - MG com o plano de fazer a travessia de Lapinha da Serra para Extrema, descendo para o sul em direção ao Tabuleiro. A partir de agora vou descrever os detalhes dessa aventura, dia por dia, para criar um diário de viagem e uma futura referência para novos viajantes!

    Momento da partida para aventura

    Dia 1: Começamos a viagem na Serra do Cipó a partir da pousada Estrada Real onde acordamos para deixar o carro e sair de bicicleta. O Sr. João não nos cobrou nada para deixarmos o carro estacionado e deixamos as chaves com ele para um eventual "resgate", coisa que ele próprio sugeriu e não estava no nosso planejamento inicial. Este é um exemplo de como as coisas acontecem sem nosso controle durante essas viagens, basta a gente confiar nos encontros e nunca deixar de nos comunicar com as pessoas.

    As 8h estávamos prontos com bicicletas e alforjes arrumados porém eu não me planejei direito e estava sem dinheiro algum na carteira. Com medo de não conseguir pagar de outras formas tentei tirar dinheiro na lotérica, já que na cidade, nem dali pra frente, teria caixa eletrônico ou banco disponíveis. Na lotérica tive a primeira negativa já que eles precisavam que entrasse dinheiro para poder trocar e a loja onde a proprietária trocava dinheiro só abriria 9h, muito tarde para nós. Sem esperança fui na padaria comprar umas bebidas e pra minha sorte o caixa aceitou me ceder 500 reais em troca de um pix. Problema resolvido e vamos pedalar!

    Para o destino que escolhemos tínhamos dois caminhos possíveis: pela estrada de asfalto ou por uma estrada de terra, com distâncias parecidas. O Sr. João nos sugeriu ir pela estrada de terra já que no asfalto a estrada era estreita e com a passagem de carros a viagem poderia ser perigosa. Essa já era nossa ideia inicial porém foi bom ter uma confirmação de uma pessoa que conhece a região.

    Saímos por volta das 9h sem ideia de como seria pedalar com peso e com planejamento de subir para Lapinha da Serra no mesmo dia, concluindo 38km de pedal no primeiro dia porém um detalhe contribuiu muito para nossa mudança de planos: no dia anterior tinha ocorrido o dia mais quente do ano em Belo Horizonte e para aquele dia a promessa era esquentar ainda mais! Além do calor insuportável a umidade estava baixíssima, somando com o horário avançado da saída pela manhã. A conclusão foi um pedal extremamente cansativo, com várias paradas em rios e propriedades no longo do caminho para encharcar completamente a roupa e conseguir aguentar o calor.

    Aproximadamente as 13:30h chegamos em Santana do Riacho após uma subida insana para coroar nosso tão sonhado almoço. Sentamos em uma pequena pensão para almoçar e decidimos que seria melhor dormir nessa pacata cidade pois ainda faltava 13km de subida para Lapinha da Serra e estávamos exaustos! Encontramos a pousada do Jacaré e após um banho, relaxamos as pernas para continuar no dia seguinte.

    Igreja na praça principal de Santana do Riacho

    Dia 2: No dia anterior tínhamos sentido a dificuldade de pedalar debaixo do sol forte e no calor então decidimos sair o mais cedo possível, tomando como referência o horário em que a padaria abria: 6h. Assim que a padaria abriu tomamos café, comemos nossos pães de queijo (estamos em Minas Gerais) e montamos nas bicicletas para encarar o aclive de 400m de altura nos próximos 10km.

    Ao sair da cidade avistamos uma pequena oficina de motos e paramos para tentar resolver o problema da manopla do freio traseiro da bicicleta da Ariane que estava muito baixo. O mecânico nos arrumou uma chave torx e um pouco de fluido de freio de moto (DOT4) para completar o reservatório, que na emergência resolveu o problema.

    A subida foi menos cansativa do que o esperado com alguns trechos mais íngremes sendo pavimentados (a estrada em quase sua totalidade é de terra, de uma poeira muito fina). Por volta das 10:30h atravessamos o portal onde dizia "bem vindo a lapinha da serra" e logo tratamos de nos informar onde tinha uma padaria para nosso segundo café da manhã já que na noite anterior não tínhamos jantado. Achamos uma pequena padaria e lá perguntamos sobre alguma estadia BBB (boa, bonita e barata) e para nossa surpresa nos mostraram uma casa logo em frente de propriedade do Sr. Nezinho. Preço justo e em frente a padaria, estava perfeito! Nos instalamos, tiramos os alforjes das bicicletas e tomamos um banho para sair para o almoço.

    Chegada em Lapinha da Serra

    Logo de cara achamos o restaurante da Valéria, logo em frente as duas igrejas na região central da lapinha. Sentamos e fomos muito bem recebidos pelo clima agradável e familiar do local.

    Após o almoço resolvemos conhecer a famosa represa de Lapinha da Serra e pegamos as bicicletas, agora sem carga, para alcançarmos a represa. Após 2km de pedal sem muita dificuldade descemos para onde deveria ser uma grande corpo d'água. Como estávamos em agosto, no fim do período de seca, a represa estava com um nível de água baixíssimo e onde deveria ter água crescia uma grama verdinha onde muitos animais buscavam alimento, entre cavalos, gado e carcarás. Um grande campo verde, uma grande planície se estendia até onde a água, próximo a barragem, se espremia num canto esperando o verão chegar para de novo crescer e ser atrativo para turistas passearem de caiaque e stand-up paddle.

    Área alagada na represa de Lapinha da Serra

    Dia 3: O objetivo deste dia era conhecer a cachoeira do Bicame e retornar para Lapinha. Localizada a 14km da cidade sua trilha inicialmente se apresentou bem agradável nos primeiros trechos, serpenteando suave ao largo do grande paredão da serra do espinhaço. Até chegar a primeira porteira. A partir daí a trilha ficou péssima com muitas pedras soltas, cascalho e trechos difíceis de pedalar. Avançar se tornou uma tarefa bastante lenta e como boa parte deste caminho é o mesmo da travessia para a cidade de Extrema, que seria nosso próximo destino, nos acendeu um alerta de que poderia ser muito penoso conseguir chegar até lá na bicicleta a plena carga.

    Na segunda porteira conhecemos o Gilson, morador da região e funcionário da propriedade onde a cachoeira se encontra. Ele nos informou que a dificuldade da trilha ia somente até o Rio de Pedras, um trecho que terminava logo após vencermos um pequeno morro. Ele nos tranquilizou quanto ao caminho da travessia e nos sugeriu dormir em um rancho no meio da travessia, cujo dono era o Frank. Contato do Frank anotado partimos em direção a cachoeira.

    Conforme sugerido no texto de um outro viajante no wikiloc, deixamos as bicicletas escondidas no alto da montanha antes de pegarmos uma forte descida para a cachoeira. Seria muito penoso ter que subir as bicicletas de volta, isso foi uma ótima dica seguida por nós. Agora a pé descemos até a cachoeira e lá estava ela, imponente mesmo com a quantidade de água diminuída devido ao período de estiagem, porém ainda bem volumosa para mim que a estava conhecendo naquele momento. De água bem gelada e escura a cachoeira do Bicame foi nosso altar até a hora de fazermos um lanche de trilha para aguentar a fome até o retorno para a cidade.

    Cachoeira do Bicame

    De volta a cidade resolvemos fazer um almoço tardio no restaurante da Valéria para tentar voltar mais tarde para o evento tão esperado da noite, uma banda cover do Legião Urbana, exaustivamente relembrado pela Valéria a todo momento em que chegava alguém diferente no restaurante. Para encurtar a história, não tivemos disposição para assistir a banda que começou a tocar pra lá das 21h.

    Dia 4: Dia de descanso. Depois de 3 dias pedalando nossos corpos clamaram por um dia de folga, até pelo fato de que faríamos a travessia e precisaríamos de disposição extra. Durante esse dia conseguimos contato com o Frank e fechamos a estadia no seu rancho, mudando nossos planos de, ao invés de ir para Extrema direto, parar no meio do caminho e dividir o trecho de 32 km de travessia, que agora com a experiência de pedalar com a bicicleta carregada percebemos que poderia ser muito penoso.

    Durante a noite ventou e choveu muito. Ficamos de olho na previsão do tempo para cancelar a travessia se necessário. A previsão para os próximos dias se mostrou otimista porém nós não contávamos com uma surpresa decepcionante.

    Dia 5: "Malas" prontas, acerto de contas com Sr. Nezinho, café da manhã reforçado, corpo descansado, temperatura amena. Estava tudo perfeito para o início da nossa travessia pelo parque estadual da serra do intendente, localizado na serra do espinhaço. Agora já conhecendo o caminho a subida da trilha se mostrou muito mais fácil do que da primeira vez. Subimos até a bifurcação que leva a cachoeira do Bicame porém agora a gente continuaria a direita em direção a travessia do Rio de Pedras. A trilha realmente continuou ruim, até pior do que o trecho para a cachoeira porém continuamos confiantes de que depois do rio a trilha seria melhor, conforme relato do Gilson. Após forte descida num trecho impossível de ficar em cima da bicicleta devido a grande quantidade de pedras grandes e soltas, chegamos até o Rio de Pedras. Para nossa surpresa encontramos uma correnteza muito forte para uma simples travessia. Munido de um cajado improvisado encontrado no caminho, tentei atravessar sozinho, sem a bicicleta, para sentir até onde dava pra se sentir seguro. Para nossa decepção estava impossível atravessar a pé o que tornava a ideia de levar uma bicicleta com carga impraticável. Um certo desespero nos tomou conta já que não conseguindo atravessar o rio deveríamos voltar até Lapinha da Serra, um caminho longo e difícil, e agora com carga. Paramos para pensar um pouco e como estava quase na hora do almoço resolvemos comer e tentar pensar numa solução, e quem sabe o tempo de preparo do lanche poderia nos mostrar que o rio estaria baixando já que a chuva tinha sido de madrugada. Após comermos tentei mais uma vez passar o rio sozinho porém sem sucesso novamente. Com a ajuda do drone tentei localizar numa visão aérea um trecho alternativo de travessia porém sem sucesso. Com a moral no chão tivemos que voltar e para completar pegamos chuva, o que nos derrotou ainda mais. Decepcionados, molhados e cansados voltamos para Lapinha da Serra para encontrar o Sr. Nezinho e voltarmos para o mesmo quarto onde estávamos hospedados. 28km de esforço jogados fora.

    Travessia do Rio de Pedras com água acima do normal

    Dia 6: Após muita consulta aos sistemas de previsão do tempo e depois de acompanhar atentamente uma eventual chuva pela madrugada, decidimos retornar ao nosso plano de atacar a travessia. Pela manhã o tempo se mostrou ensolarado embora a temperatura estivesse se mostrando amena, o que era o mais desejado no momento. Renovados de vontade partimos da mesma forma que fizemos no dia anterior, subindo a trilha pela terceira vez, papeando com o Gilson pela terceira vez, porém agora com um desfecho diferente conforme relato a seguir.

    Ao chegar no Rio de Pedras a diferença era nítida: a descida do nível da água revelou uma calçada feita de concreto para passagem dos viajantes, que no dia anterior era impossível de ver. Aproximadamente 50cm de altura de água separavam um dia do outro e foi possível passar sem dificuldade alguma com a bicicleta, com a água ficando bem longe do alforge. Ao cruzar o rio um alívio me tirou um grito de vitória. O medo de ter que voltar tudo de novo era passado, eu tinha agora toda a travessia pela frente com todas as maravilhas imaginadas pelos relatos e fotos que eu tinha pesquisado com tanto gosto. Agora era só continuar e aproveitar a viagem!

    Travessia do Rio de Pedras agora com nível normal

    Após o alívio de conseguir passar o rio subimos uma pequena colina e já fomos atropelados por uma paisagem surreal. Pequenas colinas de vegetação baixa, verdinhas, desenhando suaves formas até onde a vista alcança, recortadas por algumas formações rochosas delicadamente posicionadas harmoniosamente a paisagem. Nem a subida era íngreme. Pedalávamos olhando ao redor. Ouvi muitos relatos de que a região era linda, minha expectativa era alta porém ainda assim fiquei completamente embasbacado com esse lugar. Nenhuma foto, nenhum relato consegue traduzir o que é este lugar.

    A paz e a beleza do lugar nos deu mais força para continuar seguindo até o rancho. Pedalar ali não era esforço algum, cada subida era uma nova paisagem além da colina. Sem perceber chegamos no nosso destino.

    Paisagem após o Rio de Pedras em direção ao Rancho de Pedras

    Fomos bem recebidos pelo Daniel, o caseiro. Logo ao entrar fomos servidos de um café feito no fogão a lenha e conhecemos a instalação: uma cozinha ampla, rústica, com um grande fogão a lenha. Um grande rádio FM em forma de caixa de madeira tocando músicas sertanejas, chapéus de palha pendurados na parede, um pequeno altar com uma santa não identificada no canto, uma mesinha no centro onde casa pé era a metade de uma árvore. Só a cozinha daria um capítulo de um livro. Do outro lado um grande dormitório com 4 camas de solteiro, junto a ele um banheiro amplo com água quente que nos foi informado que era vindo de uma serpentina que passava dentro do fogão de lenha. Água quente a lenha! Do lado de fora dois cachorrinhos amigáveis, uns burros em um cercado, uma pequena horta, galinhas andando de lá pra cá gritando "tô fraco". Um lugar digno de estar no meio daquelas colinas surreais, daquela perfeição de ambiente.

    Cozinha rústica do Rancho de Pedras

    Após um banho e um almoço tardio descobrimos que era noite de lua cheia. Ela nasceria as 16:26h e ficamos a espera de mais essa beleza natural para coroar nossa aventura. Após sermos beijados pela luz cálida do luar adormecemos pesado na noite fria de Minas Gerais.

    Lua cheia no céu do Espinhaço

    Dia 7: Acordamos junto com o sol e nos preparamos para partir novamente. No desjejum café com tapioca feita com queijo e salaminho. Protetor solar a vontade, o sol promete para o dia. Nos despedimos do Daniel e descemos pela parte traseira do rancho, segundo uma trilha de fitas vermelhas amarradas na vegetação indicando o caminho de uma prova de mountain bike que seria realizada 3 dias para frente. As fitas nos ajudaram bastante indicando a direção certa no caminho para Extrema, embora estivéssemos seguindo também pelo wikiloc. Logo saindo do rancho nos deparamos com uma grande subida, porém de inclinação razoável, até uma pequena estrada de terra no alto de um grande paredão que seguia transversal ao aclive. Olhando além da montanha já era possível avistar a cidade de Extrema num nível abaixo no nosso, indicando que nosso caminho até lá seria moleza. Segurando a bicicleta no freio fomos até Extrema fazer um lanche para continuar seguindo rumo a comunidade de Candeias, descendo 18km para dentro do vale que vai dar no tabuleiro. Extrema é uma pequena vila onde só existe uma mercearia como comércio local e, obviamente, uma igreja.

    Jukebox indicando preferência musical em Extrema

    Seguindo o caminho começamos a encontrar longos trechos de descida porém o sol começava a nos castigar pois já passava das 11h. Muitas descidas depois começamos a ver no GPS que estávamos perto. Era uma ótima notícia já que estávamos cansados e o calor já tinha drenado quase toda nossa energia. Na indicação de distância restante constava 1km, aleluia! Estamos quase lá! Porém para nossa surpresa a pequena vila era no alto de uma montanha e esse 1km seria uma das partes mais difíceis da viagem. Quase sem forças empurramos as bicicletas numa ladeira tão íngreme que tínhamos que usar as pontas dos pés. Eram cinco passos e uma parada pro coração não colapsar. Subimos e ao chegar no alto avistamos uma pequena rua com humildes casas e zero comércio. Já era mais de 13h e precisávamos urgentemente de um almoço e uma estadia. Perguntando a uma mulher que estava passando descobrimos que não existia um restaurante naquele lugar. Em tom de suplica perguntei a um homem que avistamos numa casa onde era possível arrumar um almoço e estadia. Por ironia do destino este homem tinha hospedagem para oferecer e ainda nos levou de carro numa mercearia para comprarmos comida para preparar um almoço. Sempre tem alguém para nos ajudar quando a gente precisa.

    Ao nos deparamos com a casa que ele tinha a oferecer como hospedagem ficamos maravilhados: uma ampla casa no alto da montanha de frente para o vale, com vista para o por do sol. Uma casa perfeitamente decorada com móveis rústicos e amplos janelões para o abismo. O que era necessidade agora tinha virado luxo. Tínhamos topado com um lugar incrível!

    Casa / chalé alugado em Candeias

    Dia 8: Dia de descanso. Estava bem fácil nossa vida agora neste lugar lindo, de frente pro vale vendo toda a variedade de pássaros comendo frutas do pé. Jabuticaba, pitanga, carambola. Dois cachorros super amigáveis. Uma brisa agradável e internet super rápida.

    O dia passou lentamente, assim como a chuva no final do dia. Ficamos deitados assim como os cachorros, esperando o tempo passar.

    Dia 9: Acordamos tarde com um tempo bem fechado porém sem chuva. Para "tarde" leia-se 8h da manhã. Nossa rotina durante a viagem era acordar junto com a luz do dia, por volta das 6:30h.

    Após fazermos nosso café e esperarmos as nuvens se dissiparem levando junto com elas a nossa preguiça, arrumamos a mochila e resolvemos conhecer o Cânion do Peixe Tolo a pé, já que aquela subida de Candeias nos tirou qualquer vontade de empurrar qualquer coisa na volta. Saímos por volta das 10:40h e rumamos em direção ao Cânion, descobrindo o caminho conforme íamos andando.

    Descobrimos estarmos no caminho errado logo de frente a um rancho (rancho do peixe tolo indicava o mapa) e resolvemos parar para perguntar o caminho. Neste momento fomos recebidos por inúmeros cachorros que anunciaram nossa chegada e uma senhorinha chamada Dona Noêmia. Ela nos indicou uma trilha antiga por dentro de sua propriedade e seguimos pra lá após bebermos água da torneira, proveniente de alguma nascente por perto. Aliás é curioso como na roça você pode deixar a torneira aberta, a água vai fluir de qualquer jeito.

    Encontramos a trilha principal e paramos numa área de camping para fazer um sobrevoo com o drone já que a entrada no Cânion é espetacular. Drone no alto, fotos e vídeos registrados, quando de repente sou alarmado pelos gritos da Ariane: uma infestação de carrapatos! Eram muitos subindo por nossas pernas! Corremos dali e fizemos uma inspeção pelas pernas e roupas garantindo que não daríamos nenhuma carona pra bicho nenhum.

    Após alguns poucos quilômetros avistamos a cachoeira do Bocaina. A segunda cachoeira mais alta de Minas Gerais! Ela tem aproximadamente 200m e é tão alta que a água chega no poço em forma de chuva, um verdadeiro espetáculo.

    A volta foi tranquila porém neste dia somamos 18km andados a pé, o que me fez dormir imediatamente ao deitar na cama.

    Vista da entrada do Cânion do Peixe Tolo

    Dia 10: Hoje nos despedimos de Candeias e do hospitaleiro Daniel. Arrumamos nossos alforjes, lavamos a louça, colocamos a casa em ordem. Nos despedimos dos cachorros (Ninoca e Monego) e descemos aquela maldita ladeira.

    Durante a descida o tempo se apresentou muito úmido e em certos trechos pegamos uma pequena garoa, o que nos fez colocar a capa de chuva nos alforjes.

    Após muitas subidas e descidas chegamos na vila do Tabuleiro. Foram 17km percorrendo o vale e logo na chegada a cidade avistamos imponente a cachoeira do Tabuleiro. Descemos uma grande ladeira para chegar na vila e identificamos um restaurante ótimo que tínhamos visitado em 2019, na ocasião de uma viagem para conhecer a cachoeira. A comida é ótima! Restaurante da Família, logo na entrada da cidade. Almoçamos, pedimos indicação de pousada e recebemos indicação da pousada da Fernanda, para onde nos dirigimos.

    Após nos instalarmos decidimos sair para procurar um café e a padaria que nos indicaram estava fechada (já era a tarde) e paramos para perguntar num bar onde acharíamos um café. Uma mulher magrinha atrás do balcão que era chamada de Cici perguntou se a gente queria que ela fizesse um café pra nós e aceitamos, junto com pães de queijo que estavam saindo do forno. Neste momento encontramos um rapaz que nos serviu num restaurante em Lapinha da Serra, um rapaz chamado Jonas.

    Jonas estava com um amigo chamado Vinícius e logo nos enturmamos com cervejas na mão e ficamos ainda mais próximos das histórias da região. Vinícius por coincidência trabalha com o Daniel, de Candeias, nosso breve anfitrião, dando aula de artes na região. Vinícius nos contou a trajetória de Daniel como musicista tocando com um artista africano chamado Mamoud Ba. Uma história muito louca de como o Daniel veio parar em Candeias, organizando eventos de comunidade alternativa. Ouvimos também a história de ciclo viagem do Jonas que andou 8 mil km e descobriu que sua esposa estava grávida no meio da viagem. Foi uma tarde cheia de histórias onde eu treinei a arte de ouvir. Diante dessas histórias as vezes acho que minha vida é de plástico.

    Entre várias cervejas vimos alguns jovens chegando na praça carregando instrumentos musicais e descobrimos um ensaio de um grupo chamado Quebra Tabu, um grupo de percussão nos moldes dos blocos do Rio, tocando maracatu e afins. Uma noite maravilhosamente arranjada pelo mais puro acaso na nossa viagem.

    Ensaio do bloco Quebra Tabu

    Dia 11: Acordei com dores nas pernas devido a caminhada pro Peixe Tolo, não de pedalar. Tomamos café e fomos visitar a gigante que dá nome ao vilarejo para fazermos uma selfie com o drone. 2,4km de subida até a entrada do parque porém com as bicicletas sem carga, ô quanta diferença!

    Fizemos a foto que marcaria o final da viagem na magnífica cachoeira do Tabuleiro junto com as bicicletas. Um excelente lugar para terminar esta jornada de 11 dias pedalando por lugares tão lindos. 175km conhecendo pessoas tão diferentes, lugares tão calmos e pacatos. A quantidade fenomenal de pássaros, de plantas, de histórias. Uma experiência fantástica que recomendo a todos!

    Término da aventura em frente a cachoeira do Tabuleiro

    Obrigado por acompanhar minha pequena aventura!

    No instragram postei mais fotos: @caiosms

    Caio Souza
    Caio Souza

    Published on 10/17/2023 21:22

    Performed from 08/24/2023 to 09/02/2023

    Views

    449

    5 Comments
    Marcelo Lemos 10/18/2023 06:34

    Seja bem-vindo, Caio. Relato detalhado de uma grande aventura. Parabéns! Sempre há um anjo no nosso caminho na hora em que a gente menos espera.

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    Fabio Fliess 10/18/2023 18:35

    Bem-vindo ao @aventurebox, Caio. E parabéns pela aventura e pelo relato rico. Essa região é realmente espetacular.

    Marcelo Lemos 10/18/2023 20:44

    Caio... Esse Fabio Fliess aí que comentou, eu devo minha vida de montanhista a esse cara!!!! Amigaço... O Caio é o professor Pardal do meu trabalho. Sempre inventando algo.

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    Fabio Fliess 10/19/2023 18:16

    Que nada amigaço. Você que construiu esse caminho, cheio de realizações.

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    Caio Souza 10/18/2023 21:01

    Obrigado meus amigos! Espero escrever muito mais!

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    Caio Souza

    Caio Souza

    Rio de Janeiro

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