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Travessia sonora pelo peru
Visita e caminhada a sítios arqueológicos de milhares de anos, passando por museus para conhecer os instrumentos sonoros ancestrais
Alta Montanha Deserto TrekkingEm julho de 2023 tomamos parte de um grupo organizado por Rodrigo Qowasi (56 9 5377 4093) e Eduardo Eu Escribens para um roteiro partindo da central do Peru, subindo até os vales andinos rodeados pelas Cordilheiras Negra e Blanca.
(Para saber sobre novas datas, detalhes e valores, visite https://puttutu.com/ )
Fomos visitando sítios arqueológicos de milhares de anos, passando por museus para conhecer os instrumentos sonoros que utilizavam nestes centros cerimoniais e também participamos de diversas festividades regionais que mesclavam o divino e o profano, o tradicional e o contemporâneo.
Fizemos nossos próprios instrumentos sonoros de cerâmica e de materiais orgânicos, como penas de pelicanos coletadas nas áridas praias e também tambores chamânicos de madeira e couro.
Toda essa experiência construiu em nós uma paisagem sonora que nos acompanhará por muito tempo.
E vamos ao relato:
Em Lima ficamos hospedados no charmoso Hostel El Patio, no coração do bairro nobre de Miraflores.
O “recorrido” iniciou-se em um centro de peregrinação ao sul de Lima, nas pirâmides de Pachacámac, que foi um dos primeiros deuses pré-colombinos do atual Peru. A palavra Pachacámac significa alma da terra, aquele que anima o mundo. Os antigos peruanos acreditavam que um único movimento de sua cabeça causaria terremotos.
A construção do templo iniciou-se pela cultura Lima, entre 200 e 600 d.C. O apogeu do oráculo de Pachacámac ocorreu precisamente no período do Horizonte Médio - Huari, quando se tornou um centro religioso que atraiu um grande número de peregrinos.
A influência dessa deidade era tão grande que quando os Incas conquistaram o lugar, não só mantiveram o culto a Pachacámac, como também o introduziram no seu panteão, elevando sua influência aos rincões do império.
No dia seguinte partimos para o norte de Lima, para explorar Caral, a primeira civilização das américas, que floresceu na mesma época que os Egípcios, e anteriormente às civilizações da meso-américa (do México). Foi descoberta pela arqueóloga Ruth Shady.
A civilização de Caral foi uma sociedade complexa teocrática e não ceramista da era pré-colombiana que incluía cerca de trinta grandes centros populacionais no que hoje é a região de Caral, na costa centro-norte do Peru. A civilização floresceu entre o quarto e o segundo milênios a.C., com a formação da primeira cidade datada geralmente por volta de 3.500 a.C., em Huaricanga, na região do rio Fortaleza. Foi a partir de 3100 a.C. em diante que os assentamentos humanos em grande escala e a construção comunal tornaram-se claramente aparentes, processo que durou até um período de declínio por volta de 1800 a.C..
O complexo de Caral possui diversas Pirâmides com funções administrativas e cerimoniais. A Pirâmide Mayor, mede 160 m por 150 metros e tem 18 metros de altura. As construções contam com sistema anti-sismico, capaz de resistir a terremotos, que são constantes no Peru.
Embora as artes visuais pareçam ausentes, a música instrumental era praticada, já que trinta e duas flautas, feitas de osso de pelicano, foram descobertas na praça circular principal.
No terceiro dia da Travessia, acordamos no simpático Hotel Las Aldas, na Praia La Gramita. Seu dono, Don Dante Scarpatti, de 90 anos, nos contou muitas histórias e sua interpretação sobre as figuras líticas de Sechin.
A cultura que vivia nesta região era conhecida como Sechín.
Chegamos às ruínas do Templo Las Aldas, a aproximadamente 300 quilômetros ao norte de Lima e a cerca de 20 km ao sul do vale do rio Casma.
Floresceu durante o Período Cerâmico inicial (1800-1000 a.C.) e é um dos poucos, senão único, templo construído à beira-mar e longe de fontes de água doce e terrenos que poderiam ser irrigados para a agricultura.
Apesar do estado avançado de deterioração das ruínas, é possível ainda observar espaços de edificação e praça circular rebaixada, alinhados com os movimentos solares.
Chankillo é um antigo complexo monumental no deserto costeiro peruano, localizado na bacia dos rios Casma e Sechin na Região de Ancash. As ruínas incluem a colina onde foi construído um forte, o observatório solar das treze torres, além de áreas residenciais e de convivência.
As treze torres foram interpretadas como um observatório astronômico construído no século IV a.C. Datações modernas indicam sua construção entre 320 a.C. e 200 a.C.
Assim, é o observatório astronômico mais antigo das Américas. Além de marcar a posição do Sol nos Solstícios de Verão e Inverno, é capaz também de marcar o movimento do Sol mês a mês, o que deve ter favorecido a previsão de tempos de semeadoura e de colheita aos antigos povos da Cultura Sechin.
As 13 torres, que medem entre 2 e 6 metros de altura, se alinham de norte a sul ao longo de uma colina. Diz-se que os habitantes de Chankillo conseguiam determinar a data com uma precisão de dois a três dias.
O fato de haver treze torres pode ser explicado pelo ciclo anual lunar, e não apenas solar.
E Chankillo tem uma localização privilegiada: fica próximo às colinas de Mongón, que formam uma barreira natural à neblina, o que explica em parte a excepcional visibilidade do observatório.
De fato, quando chegamos o tempo ainda estava um pouco nublado e aos poucos foi se abrindo, criando nuances incríveis de luz e sombra nas areias do deserto.
Atravessamos este vale seco e iniciamos a subida até o forte, decididos a conquistá-lo.
O sítio arqueológico abrange cerca de quatro quilômetros quadrados e já foi considerado um forte, um baluarte, um centro cerimonial e atualmente um templo fortificado.
Observamos que as muralhas são dispostas em forma ovalada. O acesso a cada patamar se dá por uma escadaria e uma passagem encimada com vigas de algarrobo ou huarango (Prosopis pallida), um tipo de árvore de madeira muito resistente que se dá bem no clima desértico, sendo um super alimento deste épocas imemoriais. Essas pranchas de madeira estão ali nos observando por mais de 2.200 anos, imutáveis.
E vencendo estrada, areia, pedras soltas e muro, chegamos aonde em sonho mora nossa própria imaginação de tudo que se passou neste local em seu apogeu. Contemplamos silenciosos a paisagem, usamos instrumentos sonoros pré-hispânicos como saudação, e iniciamos a descida, por entre dunas de areia fofa.
E para finalizar o dia, nos dirigimos a Cerro Sechin, localizado na província de Casma na Região de Ancash. Um lugar milenar que guarda segredos de anatomia humana e gera inúmeras proposições sobre sua real função.
Está datado de 2.000 a 1500 a.C
A estrutura principal, chamada de "Templo" tem uma forma piramidal. Media 300 metros de comprimento por 350 metros de largura e atingia uma altura de 35 metros. Foi construído em aterros com paredes feitas por grandes pedras alternadas por outras menores e revestida com argamassa; em seu interior havia tijolos cônicos de adobe. Em frente deste "Templo" cinco canchas ou praças, algumas com áreas circulares em um nível mais baixo, sem dúvida, tinham um caráter cerimonial. Todo este conjunto, orientado ao noroeste, estende-se por um espaço longo de cerca de 2 quilômetros de comprimento.
Este centro cerimonial e possivelmente, centro administrativo da Cultura Sechin , possui nos muros frontais a representação de uma procissão perfeitamente simétrica (em relação aos lados direito e esquerdo se dirigindo ao portão central) com soldados armados, líderes religiosos, escravos, cabeças decepadas, e partes esquartejadas de corpos humanos.
Nas paredes laterais, há representações líticas de partes de corpos humanos, como coluna vertebral, quadris, cabeças sem olhos, conjunto de olhos, mãos, pernas, intestino, estômago, etc.
No local há um pequeno, mas importante Museu, que guarda achados líticos, têxteis e cerâmicos encontrados no local.
Nas proximidades há ainda outros sítios arqueológicos da cultura Sechin, como Sechin Bajo e Sechin Alto, que estão em escavação e não tivemos tempo de visitar, desta vez.
No quarto dia da Travessia saímos cedo de Huaraz e seguimos para a cidade de Chavin de Huantar.
A estrada era linda, bem pavimentada e torturantemente sinuosa. Paramos num mirante para observar um lindo lago de águas da cor esverdeada.
Depois de túnel no topo da cordilheira, iniciamos uma descida por uma estrada bem pavimentada, mas com infinitas curvas, até chegar na cidade de Chavin de Huantar.
Chavin de Huantar é um sítio arqueológico que cobre 15 hectares. Era o eixo de coesão da cultura Chavín, situado nas margens do rio Mosna, tributário do Rio Maranhão. O principal motivo do progresso de Chavín de Huántar foi que se converteu na agricultura mais moderna e produtiva e inovadora de sua época e dentro dessa agricultura, o milho ocupava o lugar principal.
Essa cultura desenvolveu-se desde 1.500 até 500 a.C., ou seja, durante um milênio prevaleceu sua hegemonia em toda a região andina e sua área de influência.
O Templo de Chavin foi um badalado e poderoso centro de iniciação religiosa, tendo como base o uso do Cacto San Pedro ou Wachuma em Quechua (Echinopsis pachanoi), como planta de poder. O princípio ativo extraído do Cacto é a mescalina que deixa a pessoa com estado alterado de percepção.
O tempo em forma de pirâmide trunca (escalonada) possui inúmeras galerias e dutos. Nestes dutos, o som se propaga com exatidão e, a partir de aberturas externas, a luz do dia que penetra, ia sendo refletida por meio de pedras polidas até atingir o centro da Pirâmide, onde se encontra um ídolo de pedra, com feições de um humano transfigurado em felino, com um dos braços levantados.
Esta entidade é denominada de Lanzon. O ídolo original encontra-se no mesmo lugar em estava em seus dias de apogeu, no centro do Templo.
É incrivel poder adentrar no interior do Tempo- Pirâmide, em seus labirintos e observar dutos de ventilação e de luz.
As paredes externas do Templo eram decoradas com cabeças clavas, que demonstravam paulatinamente a transformação de um ser humano em jaguar, com suas presas aterradoras e olhos esbugalhados. A maior parte dessas cabeças está no museu de Chavin, restando apenas uma em seu posto original e solitário.
Depois de visitar Chavin de Huantar, e passar por Huari, que também estava em festa de sua santa padroeira, chegamos no final da tarde em Chacas , uma cidadezinha pitoresca e muito limpa, no estilo colonial no interior do Departamento de Anchash, com casas caiadas e balcões.
No subterrâneo da igreja, há um importante museu com lindas peças líticas e em cerâmica da cultura Recuay, também conhecida como Cultura Huaylas (200 a 600 d.C), com várias Pachas, vasilhas cerimoniais com formas humanas para conter chicha (bebida alcoólica fermentada a base de milho). Por um duto, geralmente saindo da cabeça da figura humana, o líquido era vertido ao solo como oferenda à Pachamama por ocasião da semeadura.
No final da tarde chegamos a Caraz, onde passaríamos os últimos e intensos dias dessa travessia...
Após 5 dias de viagem por sítios arqueológicos e cidades interioranas, e continuando na região de Callejon de Huaylas (localizado em um vale entre as Cordilheiras Negra e Blanca), chegamos a Caraz. O nome Caraz vem de uma agave muito comum na região chamada de Cara. Tiramos as bagagens da Van (incluindo o “container” do nosso amigo mexicano Álvaro) e caminhamos até o Glamping Yaku Rumi do nosso companheiro de viagem Eduardo Eu Escribens. (@yakurumi_tipis_y_camping). O chamado Glamping é a mistura das palavras “glamorous camping”, que nada mais é do que um camping de luxo, um serviço que se assemelha aos acampamentos, porém com mais conforto. Nós ficamos em tendas ao melhor estilo indígena da américa do norte, iguaizinhas às que eu via nos filmes de faroeste nos anos 1960 (Rin-Tin-tin, Daniel Boone, Chaparal, entre outros). O céu estava incrivelmente estrelado, com a Via Láctea se expondo sem nenhum pudor. Fiz alguns testes de astrofotografia e fiquei impressionado com as fotos do céu feitas com celular pelo Tito. No Ateliê de Eu Escribens aprendemos a montar um tambor xamânico. A estrutura em madeira já estava pronta e o couro já estava furado para amarração. Aprendemos como fazer amarração das duas partes de couro sobre a estrutura de madeira e os ajustes necessários para “afinação”. Pudemos também aprender a fazer a alça para segurar o tambor e ganhamos de presente as batutas (para bater no tambor). Ao final da tarde, nos dirigimos a pé até o sítio arqueológico Tumshukaiko, passando por campos de plantação de flores e canais de irrigação, para assistir uma representação em Quechua de como eram os rituais de agradecimento à Pachamama e aos Apus (montanhas sagradas), bebendo Chicha e ouvindo um senhor de 90 anos tocando simultaneamente flauta e tambor, enquanto a noite caia sobre a Cordilheira Branca, fazendo aparecer a primeira estrela (ou seria um planeta?). No dia seguinte, participamos de um ritual Temazcal no Glambing do Eduardo Eu Escribens, às margens do Rio Llullán. Temazcal é o nome dado a um local construído na forma de um iglu, com armação de fibras vegetais, coberto com pesadas mantas peruanas, para a realização de banhos a vapor. Os indígenas mexicanos a utilizavam para a purificação do corpo e do espírito através dos elementos sagrados: o fogo e a água. Entramos no Temazcal acompanhados de nossos tambores recém-construídos O chão estava forrado com folhas verdes de eucalipto (não pode ser folha seca pelo perigo de pegar fogo) e no centro, um buraco no chão. Depois de estármos todos dentro desse iglu, uma pessoa colocava no buraco do chão, com auxílio de uma pá, grandes pedras que ficaram por horas numa fogueira ao lado. Cada pedra era recebida com toques de sino, batidas de tambores e ervas aromáticas. Depois que cerca de uma dúzia dessas pedras estavam devidamente acomodadas e saudadas, a porta foi fechada com mantas e iniciou-se a aspersão de água sobre as pedras, criando vapor, enquanto entoávamos hinos à natureza e ao nosso espírito. Antes de ir embora de Caraz, fomos ao sítio arqueológico Tumshukaiko. O guia explicou os significados da Chacana (cruz andina), símbolo gravado em alto relevo num dos muros da edificação. As investigações recentes sugerem que o sítio pertence ao período Pré-cerâmico tardio (ao redor de 2.500 anos antes de Cristo (o que significa cerca de 4.500 anos antes de nossa Era). Sedimentos superiores mostram evidências de ocupações mais tardias da cultura Recuay (ou Huaylas) ao redor de 300 a.C a 500 d.C. Há muros em forma circular com pedras talhadas e a construção foi sendo ampliada com novos muros e enchimento do espaço entre os muros com pedras e terra. Já foram descobertos alguns túneis, escadarias e acessos entre os muros.Os artefatos mais destacados desta cultura são a cabeça de pedra (cabezas clavas) e as pedras triangulares, que mostram claramente os vínculos com a civilização de Chavin de Huántar.
Assim, terminamos essa travessia sonora. O Grupo retornou a Lima, ma eu e o Carlo ficamos em Huaraz para exploram mais da Cordilheira Blanca.
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