Certamente, uma das frases que mais escuto de amigos que não praticam o esporte é: "Mas vai subir pra ter que descer tudo isso?".
A resposta mais prática que tenho pra esse questionamento é tão pouco rebuscada que a resumo em apenas uma letra: "É". Não adianta, não importa quantas vezes eu explique, a resposta sempre será essa, que é pra descer depois porque agora eu vou subir.
Acredito que apenas indo a reflexão fica mais óbvia... Aliás, antes da primeira experiência que tive eu achava exatamente isso, tô subindo pra descer. Até realmente sentir a montanha, é exatamente assim.
Muitos motivos me levaram ao Parque Nacional de Itatiaia em 2015, entre eles, um dos meus melhores amigos, o Léo Gatto. Talvez por essa experiência, que mais adiante vou relatar, e vai fazer sentido (prometo!), hoje a montanha seja tão significativa pra mim.
Como dito, em 2015 estive no PNI. Dizem por aí que precisamos passar por traumas na vida pra mudar o rumo de determinadas atitudes. Eu estava passando por um trauma e pensei "Por que não tentar?". De repente me vi na estrada com o Léo, que não é praticante de montanhismo, pra que pudéssemos aproveitar a vista das Agulhas Negras já que a temporada de montanhismo estava aberta. Mas olha como são as coisas... Eu não sabia nem que podia ir lá nas Agulhas, muito menos que tinha temporada certa pra ir.
Fomos, e na estrada uma coisa diferente começava a tomar conta do meu corpo. Não sabia na época o que era, mas hoje afirmo que já era a montanha me chamando. Ao chegar no Posto do Marcão e caminhar ao Abrigo Rebouças eu estava ao mesmo tempo embasbacada, empolgada e com a cabeça vazia de qualquer pensamento... Imagine uma criança que corre e olha ao redor descobrindo formas, cheiros, cores... Era esse o meu estado de espírito, uma libertação.
Do Rebouças fomos à Base das Prateleiras... Anda, anda, anda, trepa pedra, desce pedra... E quando cheguei ali... Ali tudo fez sentido! A dor no joelho desapareceu, os medos, desconfianças, traumas, receios, tristeza... Tudo foi embora. Eu estava ali, com o mundo aos meus pés, e só precisei de mim, de vontade, de força de vontade! Olhar a imensidão do alto me fez entender tantas coisas... Foi como um estalo. A vida estava ali me ensinando infinitas coisas sem falar uma palavra sequer, apenas abrindo meus olhos para o que eu estava cega há tanto e me fazendo acreditar que eu era capaz, que eu podia sim. Volto ao título desta matéria: A beleza de olhar o mundo do alto... Eu ressignifiquei isso em mim, sabe?! Não é só uma foto bonita ou uma vista de tirar o fôlego, não é só um local de descanso depois de andar... A beleza de olhar o mundo do alto está desde a motivação que te leva a subir até o cansaço mais feliz e satisfeito de quando você terminar de descer. A beleza, pra mim, ficou no processo, no percurso, no autoconhecimento, autocontrole... No fato de acreditar em mim mesma!
Essa beleza eu reconheço como um templo, e atualmente quando alguém me pergunta sobre o que é montanha pra mim eu digo que se trata de uma religião. É algo que eu acredito cegamente, que eu confio a vida, que me entrego sem pensar que vai ser raso e eu posso me machucar se mergulhar de cabeça. Essa beleza é algo que me completa e renova.
Fazendo um pequeno julgamento, talvez as motivações "erradas" tenham me levado à montanha, mas como o que é nosso sempre arruma um jeito de chegar até nós, eu só agradeço que veio, independente da forma.
Há alguns anos, traumas, medos, receios e desconfianças me levaram a caminhar incansavelmente pelo meio do mato, ficar boquiaberta com a imponência da natureza e me sentir privilegiada por poder estar ali.
Hoje o que me leva à montanha é a beleza do caminho, é olhar pro solo, pro mato, pras paredes que surgem do chão e me sentir grata pela naureza me receber e acolher ali. É me jogar na grama e ter uma sensação melhor que o mais fofo dos colchões poderia me dar. Montanha é algo que chamo de lar, e a beleza de olhar o mundo do alto não é simplesmente a vista maravilhosa do quintal desse lar, sabe?! Como uma casa, a minha casa, me sinto feliz, plena e completa assim que eu chego, que dou o primeiro passo em direção a ela. Se tá Sol, tá bom. Se choveu, tá bom também. Eu fico confortável e feliz só de estar em casa, entende?! A vista, olhar o mundo de cima, é só um complemento; a cereja de um bolo que já existe em todo esse processo.
Então, nunca fez tanto sentido responder a pergunta "Mas vai subir pra ter que descer tudo isso?". E sigo respondendo apenas: "É", mas um "É" embebido em suspiros de amor, conforto, segurança e um sorriso, sendo esse daquele mais espontâneo e sincero, daquele meio tímido meio falado... "É".
Perfeito. Eu só troco o "É" pelo "Vá"...
Vamos! Todo mundo deveria se dar a chance de ver o que a gente vê e sentir o que a gente sente! ♡
Só quem vive isso entende o que é ser uma criança olhando para cima repleta de admiração. Uma criança pulando e saltitando. Enfim, uma criança em paz e sorrindo. (Que último parágrafo).
"É" (:
Realmente é algo inexplicável, colocar os nossos corpos a prova, adquirir dores, bolhas, fadiga por "vontade própria" e ainda voltar feliz da vida. Como bom mineiro minha resposta é um pouco maior: É bom demais sô.