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Conhecimentos sobre Fogo no cenário dos Incêndios Florestais

    Um breve apanhado sobre a formação do fogo, técnicas de extinção e entendimento do cenário atual dos incêndios no Brasil

    O Brasil atualmente vem sofrendo com incêndios que acontecem simultaneamente de Norte a Sul, no país inteiro. É sabido que no período de junho a outubro temos a época de incêndios por estarmos aravessando uma temporada de seca. Assim, muitas formas espontâneas do surgimento do fogo acabam acontecendo por inúmeras razões, como por exemplo: altas temperaturas, baixa umidade, radiação solar, reações de fermentação, descargas elétricas, atrito de rochas e inclusive o atrito que a passagem de alguns animais causa na mata. Para um local seco, qualquer mínima fagulha serve de ignição nesse processo.

    Porém, o que temos visto em todos os telejornais são focos de incêndios criminosos, ou seja, gerados pela ação inconsequente do homem. O fogo, para ser útil e bem aplicado, deve estar sob controle, e isso está longe de acontecer dentro do cenário atual.

    Para compreender o que anda acontecendo no cenário brasileiro, é preciso conhecer um pouco mais a respeito do assunto.

    O fogo é uma reação química chamada combustão, que tem como característica a liberação de luz, calor, fumaça e gases. Podemos entender como ele é formado através do Tetraedro de Fogo.

    Toda substância capaz de queimar serve de combustível, que funciona como campo de propagação e alimenta a combustão. O oxigênio (O2) dá vida e intensifica a combustão e o calor é o elemento que inicia o processo de combustão, mantém e incentiva a propagação. Além disso, eleva a temperatura e provoca o desprendimento de vapores inflamáveis.

    A reação em cadeia, neste caso, é uma sequência de reações provocadas pelo grupo O2, calor e combustível gerando uma nova reação que se auto-sustenta, ou seja, que se mantém funcionando sozinha até que pelo menos um desses elementos se esgote.

    Desta forma, fica claro que, para extinguir o fogo, é necessário retirar pelo menos um dos elementos que compõem o Tetraedro do Fogo. Assim, podemos discutir os métodos para extinção:

    1. Retirada do combustível: é a extinção mais simples e consiste em interromper o campo de propagação do fogo.

    2. Resfriamento: é basicamente retirar o calor do material incendiado e a água é o agente mais utilizado neste caso.

    3. Abafamento: se trata de diminuir ou impedir o contato do oxigênio com o material combustível, não podendo ser feito em casos de incêndios de materiais que possuam oxigênio em sua composição química. Além disso, é o método mais difícil de extinção do fogo.

    Os incêndios que atualmente destroem nossas matas estão sendo combatidos principalmente através da retirada do material combustível e da técnica de abafamento.

    Como está sendo utilizado o método de retirada do material combustível?

    Bem, através de algumas técnicas como o aceiro. O aceiro é como uma barreira sem material combustível que retarda ou interrompe o avanço do fogo. Pode acontecer de forma natural, como na passagem de um rio , a presença de um lago, um penhasco, ou então pode ser criado no processo de queima controlada, por exemplo, onde brigadistas, bombeiros e guardas parque estão queimando uma parte da vegetação para que, desta forma, o incêndio não tenha mais aquela vegetação que serve de combustível para o fogo. Inclusive uma fake news andou circulando na internet dizendo que brigadistas e voluntários do ICMBio estavam ateando fogo na vegetação dos parques. Mentira. Estavam fazendo uso da técnica de aceiro, com uso de pinga fogo, para prevenir que as chamas se alastrassem. Acesse esta reportagem clicando aqui.

    E a técnica de abafamento?

    Principalmente utilizado por brigadistas, voluntários e guardas parque, o abafamento é feito através de uma ferramenta que se chama abafador manual. Consiste em um cabo de madeira com uma placa de borracha em uma de suas extremidades. A técnica é aplicada conforme o combatente abafa o fogo com a extremidade de borracha, cortando o contato com o oxigênio e, desta forma, rompendo o ciclo gerador do fogo. De tempos em tempos, conforme a borracha vai sofrendo desgaste há a necessidade da troca dessa placa.

    Isso quer dizer que o resfriamento não está sendo utilizado?

    Não. O resfriamento está sendo utilizado porém em menor escala, como aconteceu na Serra Fina, na região compreendida entre os estados de São Paulo e Minas Gerais em julho desse ano. A água foi despejada por aviões e helicópteros em áreas de difícil acesso para tentar conter as chamas que avançavam de forma voraz. Brigadistas, bombeiros, guardas parque e voluntários não tem como deslocar água em quantidade suficiente para combater o fogo na maioria dos locais dada a dificuldade de acesso e a logística do manejo da água, sendo muito mais eficiente a utilização dos outros métodos mencionados acima.

    Estudar e se informar é super interessante, principalmente para sabermos como agir em casos de incêndios florestais já que, com frequência, estamos em contato com a natureza, fazendo trilhas, acampando, etc. É importante ressaltar também que nunca devemos combater o fogo sozinhos!

    Porém, mais do que saber a respeito do fogo, sua formação e métodos de extinção, está a nossa consciência ambiental para que possamos preservar e cuidar do meio ambiente. Através de boas práticas como não acender fogueiras, não jogar guimba de cigarro no mato, não soltar balões, entre outras, é possível reduzir os casos de incêndio em parques Nacionais, Estaduais e Municipais, bem como diversas áreas de preservação. Além disso, não podemos deixar de mencionar também que alguns incêndios se iniciam por perda de controle de queimadas para limpeza do terreno no cultivo de plantações. As queimadas agrícolas provocam perda de nutrientes e reduzem a umidade do solo influenciando negativamente nas produções.

    Por sinal, cabe aqui uma definição. Queimada é o nome da técnica agrícola que consiste, como dito acima, na 'limpeza' do terreno das plantações, formação de pasto, entre outros. Já incêndio é quando ocorre o fogo de maneira não controlada, causando uma série de perdas e transtornos. Uma queimada pode se tornar um grande incêndio.

    No caso de incêndios criminosos, vale recordar que a Lei n. 9.605/98 sobre Crimes Ambientais dispõe no Artigo 41 que provocar incêndio em mata ou floresta tem pena de reclusão de dois a quatro anos, além de multa. E, em seu parágrafo único dispõe que se o crime é culposo, ou seja, agiu sem cuidado, de forma imprudente, a pena é de detenção de seis meses a um ano, além de multa. Bem, lei até que temos alguma, falta fazer valer de forma eficiente.


    Por fim, é preciso falar sobre os impactos que a natureza sofre quando é destruída pelos incêndios. Os danos são infinitos, mas podemos citar principalmente a redução da biodiversidade, facilitação de processos erosivos, redução na proteção de nascentes, redução da resistência de árvores e outras plantas ao ataque de pragas, destruição da matéria orgânica do solo... E a lista só aumenta. Nós sentimos esses impactos através da péssima qualidade do ar, aumento das temperaturas, uma série de problemas respiratórios provocados pela fumaça; e não podemos esquecer da série de traumas psicológicos causados na população consciente que atua na preservação ambiental.

    Este ano, no Brasil, segundo o INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, tivemos 175.671 focos de incêndio florestal, resultando numa área destruída de 121,3 mil km² que passa por todos os diferentes biomas brasileiros, representando uma perda incalculável de área verde, que levará anos para se recuperar, ou talvez nem se recupere totalmente.

    Foto retirada do site do INPE em 07/10/2020.

    Todo o conhecimento apresentado aqui foi amplamente estudado durante os cursos teóricos e práticos de Combate ao Fogo e Sobrevivência na Selva ministrado para turma 634 de Comissários de Bordo da Escola de Aviação Civil Fly Training Center.

    A foto de capa desta matéria é do fotógrafo Carl de Souza e foi retirada do site: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-10-01/recorde-furia-dos-incendios-na-amazonia-e-no-pantanal-se-intensifica-em-setembro.html

    3 Comentários
    Fabio Fliess 07/10/2020 19:56

    Excelente Dani. Isso deveria ser matéria de colégio! 🤨

    Bruno Negreiros 07/10/2020 20:05

    Matéria extremamente necessária nesse momento em que o fogo virou projeto político!

    Marcelo Tartari 07/10/2020 22:08

    Ótimo tema, considerando que a cada ano está ficando mais quente o Brasil

    Danielle Hepner

    Danielle Hepner

    Rio de Janeiro - RJ

    Rox
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    nerd! professora de matemática apaixonada por montanhas, viagens, doguinhos e ukulele.

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