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E naqueles dias?

    Como conciliar menstruação, prática outdoor e o mínimo impacto?

    A maior parte de nós, mulheres, menstrua por 40/45 anos, em média, durante 4 ou 5 dias a cada 28 dias caso tenha seu ciclo regular. Além disso, muitas vezes o período menstrual se torna um tabu em nossas vidas, principalmente quando se trata da prática outdoor. Por experiência própria, o fluxo intenso ou as fortíssimas cólicas já cansaram de me privar de inúmeras experiências! Aliás, quantas de nós nos privamos de fazer algo por conta das consequências desse período?

    Pensando nisso, escrevo esta matéria. O objetivo aqui é tentar, de alguma forma, apresentar meios de conciliar o período menstrual com a prática consciente de atividades ao ar livre.

    De cara, o primeiro acessório pensado pela maioria de nós para ajudar a enfrentar este ciclo é o absorvente. Os primeiros absorventes dos quais temos conhecimento datam de 2000a.c., e tinham a forma de um "tampão" (algo próximo ao absorvente interno que conhecemos) feitos de papiro processado e que, posteriormente, era inserido no canal vaginal.

    Ao longo dos anos, com experimentações e o avanço nos estudos e pesquisas, o absorvente passou por mudanças com a finalidade de melhorar a nossa qualidade de vida. Fazendo um apanhado histórico rápido numa breve pesquisa com as mulheres da minha família, os primeiros absorventes usados por elas não eram absorventes propriamente ditos, mas simples toalhinhas de pano usadas para absorver o sangue menstrual. Com o passar do tempo, esses paninhos foram substituídos pelos absorventes descartáveis externos e internos.

    Absorvente descartável externo

    Absorvente descartável interno

    Voltado à prática outdoor, há inúmeros absorventes descartáveis externos, por exemplo. São mais finos que os convencionais e com uma tecnologia que consegue reter o sangue sem vazar por até 8 horas. Ainda assim, muitas vezes se tornam incômodos, fazem suar, geram assaduras devido à cobertura...

    Não somente isso, pensando no impacto que causa na natureza, um absorvente descartável leva por volta de 100 anos para se decompor. A mulher, durante um ciclo menstrual de 4 dias, por exemplo, utiliza de 5 a 6 absorventes diariamente, seguindo as indicações de tempo máximo de uso até ser trocado. Serão de 25 a 30 por cada ciclo, 240 a 288 por ano. E pensando por baixo, em 40 anos teremos utilizado, em média, de 9600 a 11520 absorventes descartáveis! Ou seja, o último absorvente que uma de nós usar na vida ainda estará aqui na Terra até que nasçam 3 ou 4 gerações dos nossos descentes!

    Talvez neste momento venha à cabeça: "E os absorventes internos? São apenas algodão, não é mesmo? É mais sustentável então, certo?!"

    Na verdade, não. Inclusive os absorventes internos podem receber plástico para aumentar a capacidade absorvente do algodão e também para conservar a sua forma e compactação; isso sem contar as embalagens. Fora que muitos ginecologistas avaliam que este tipo de absorvente suga o sangue mentrual mas também secreções boas para manutenção da saúde vaginal.

    No que diz respeito à nossa saúde, fui buscar informações sobre os absorventes descartáveis externos e internos com a minha amiga farmacêutica Liliane Guzzo. Segundo ela: "os absorventes descartáveis possuem na sua composição polipropileno e polietileno (polímeros termoplásticos) e poliacrilato de sódio (polímero absorvente). Para a saúde humana, a grande maioria das substâncias sintéticas possuem um alto perfil de segurança se utilizados dentro dos parâmetros estabelecidos por legislação sanitária vigente e apenas serão prejudiciais devido ao tempo de uso do absorvente, que se acaba se tornando um meio propício para crescimento de microorganismos."

    Se formos pensar no ambiente outdoor, esse é um lixo gerado que jamais pode ser descartado ou deixado para trás na natureza. Sem contar que, em um dia, como usamos de 5 a 6 absorventes, o volume de absorventes que temos que levar na mochila em alguma travessia começa a se tornar significativo também.

    Desta forma, somos levadas a pensar em algumas alternativas que sejam ao mesmo tempo práticas e sustentáveis. Com certeza você já ouviu falar sobre as calcinhas menstruais, absorventes reutilizáveis de pano e coletores menstruais.

    Absorvente reutilizável de pano

    Os três exemplos dados são super sustentáveis. As calcinhas menstruais e os absorventes reutilizáveis de pano tem a mesma dinâmica do absorvente descartável: absorvem o sangue menstrual. Ambos possuem camadas de tecidos absorventes e impermeáveis fazendo com que a gente se sinta bastante segura e sequinha. Fora o fato de que essa primeira camada de tecido é bastante macia e geralmente de algodão, minimizando as chances de alergia. Vale dizer também que possuem diferentes perfis e tamanhos para os diferentes fluxos. Porém, não se tornam alternativas muito práticas quando pensamos que, por serem reutilizáveis, seria necessário deixar de molho, lavar, esperar secar... Se for uma trilha ou travessia seca (com poucos ou nenhum ponto de água), essa logística da higiene seria totalmente falha por conta da gestão de água, por exemplo.

    Por outro lado, para trilhas curtas, podem ser uma excelente opção. Tanto a calcinha quanto o absorvente de pano podem ser usadas por até 3 horas, dependendo do fluxo menstrual. Chegando em casa, basta seguir o processo de deixar de molho em água fria, lavar com sabão de coco biodegradável e secar. Eles duram em média de 3 a 4 anos de uso, substituindo de 900 a 1200 absorventes descartáveis que seriam utilizados neste período.

    Já os coletores menstruais são literalmente pequenos copinhos de silicone hipoalergênico que funcionam como coletores internos, ou seja, o sangue vai ficando depositado neste recipiente; ele pode ser usado por até 12h. Em trilhas e travessias, basta descartar o sangue que ficou coletado na terra, fazendo um buraco de 15 a 20cm de profundidade. Sobre a higienização do copinho coletor, ao retirá-lo é necessário lavar com água; depois é só recolocar. Ao final do ciclo, ele deve ser lavado com água e sabão neutro, fervido e guardado numa embalagem apropriada.

    Vale lembrar que um único coletor menstrual tem durabilidade de 5 a 10 anos de uso, substituindo de 1200 a 2880 absorventes descartáveis.

    Beleza... Mas qual a opção mais bacana para mulheres que estão praticando esportes ao ar livre?

    As calcinhas menstruais e absorventes de pano são pouco práticos e precisam ser levados em embalagens específicas separando os limpos dos já utilizados. Em casa, só higienizar normalmente.

    Os absorventes descartáveis externos foram os menos confortáveis por conta da cobertura, porém são práticos. Diferente do externo, o interno ficou bastante confortável apesar de ser chato de colocar, mas é uma opção bem prática. Apesar disso, ambos geram bastante lixo fazendo com que sejam as piores opções para mim: é necessário descartar individualmente por conta do sangue e só depois no lixo geral.

    Coletor Menstrual

    O coletor a princípio é mais incômodo de colocar que um absorvente descartável interno; com o tempo vai ficando mais fácil inserir certinho. Levando uma pázinha, que pode servir também pro descarte das fezes, podemos enterrar o sangue. Com 200ml de água é possível higienizar o coletor e reinserir. Ficou bastante confortável por conta da maleabilidade do material. Como disse, pode parecer até um pouco bizarro num primeiro momento, mas com o tempo vai ficando mais fácil de colocar e é a opção que causa o menor impacto no meio ambiente.

    Portanto, levando em conta praticidade, conforto e consciência ambiental, na minha opinião, acredito que o coletor menstrual seja a opção mais adequada para as praticantes de esportes outdoor.


    Bônus: e as cólicas menstruais?

    Para quem sente dores muito intensas, como eu, recomendo primeiro que busque com o profissional ginecologista de sua confiança a razão dessa dor e possivelmente algum remédio. Se não tiver remédio disponível, por algum motivo não gostar de fazer uso de medicação ou preferir alternativas mais naturais, se mantenha aquecida e busque fazer pressão massageando, em movimentos circulares, a pelve, região abaixo do umbigo. Pode usar algumas gotas de óleo essencial de Lavanda em algum creme ou diluído em um pouco de água para esse processo. O processo de aromaterapia da lavanda possui alto potencial calmante e antiespasmódico, aliviando as contrações uterinas que geram as cólicas.

    Alguns chás também podem ser utilizados para ajudar no controle da dor, como o de Gengibre, por exemplo. Além de ser uma bebida quente e aromatizada, o gengibre tem propriedades analgésicas, proporcionando algum alívio para as dores tão incômodas que sentimos nesse período.

    Referências:

    https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2019/09/absorvente-interno-tampao-menstruacao-saude-mulher-poluicao-plastico

    https://drauziovarella.uol.com.br/mulher-2/6-perguntas-sobre-o-coletor-menstrual/

    https://www.ecoabs.eco.br/plantar-a-lua-e-seguro-derramar-sangue-menstrual-na-terra/

    7 Comentários
    Nicole Pierotti 18/03/2021 18:38

    Sensacional abordar esse tema! Eu sempre sofri MUITO com isso e o coletor mudou a minha vida... Bem, não totalmente já que ele não da conta das cólicas e nenhum remédio dava conta das minhas cólicas, me limitando muitas vezes a sair de casa para não desmaiar na rua. Pra mim a melhor opção foi o DIU Mirena, que reduz o fluxo (ou zera) e mais q isso, reduz as cólicas limitantes. Antes eu precisava de cerca de 6 ponstan ao dia e outros remédios para dor no intervalo entre eles, utilizava remédios para dores severas sublinguais, para ter efeito mais rápido, mas não resolvia 100%. Hoje em dia, um dorflex e a dor vai embora, e um mini absorvente dura o dia inteirinho. Eu realmente recomendo para as mulheres que estão na dúvida é querem o maior conforto na prática esportiva.

    Danielle Hepner 18/03/2021 18:47

    Oi Nicole! Assim como você sempre sofri com fluxo intenso, muitas cólicas... E já deixei de fazer muita coisa por isso. Te confesso que não cogitei a possibilidade do DIU por ignorância minha mesmo, porque sempre que penso a respeito vem na cabeça como se fosse um procedimento muito invasivo, mas acho super válido e importante falar a respeito! Ainda estou me adaptando ao coletor, tempo de uso, conhecer o fluxo nesse cenário... Aprendizado né?! Bacana demais o seu comentário, obrigada por dividir a sua experiência!

    Nicole Pierotti 18/03/2021 18:50

    Eu usei o coletor por quase 3 anos antes de colocar o DIU, mas realmente o coletor não dava conta pra mim. Muito intenso, e comecei a não aguentar mais tanta dor, pois teria que partir para remédios fortes demais. ,como Tramal. Eu tinha medo do Mirena pois não gosto de nada hormonal, mas foi uma das melhores decisões da minha vida! Eu acho que vc vai gostar do coletor. Depois que a gente se adapta à ele (uns 3 meses eu diria) fica muito prático :)

    Dri @Drilify 28/03/2021 06:26

    Obrigada

    Danielle Hepner 28/03/2021 19:26

    Valeu Josye e Dri! ♡

    Liliam Pereira 29/03/2021 15:42

    🧡

    Eli Gonsalves 04/04/2021 14:52

    🍃🔴🟢 além de ser ecologicamente correto coletor, absorvente reutilizável é importante ressaltar que o nosso sangue tem conexão direta, sagrada e fortíssima com a terra 🌎 , como nas antigas culturas doi ensinado. Não é nada legal jogar no lixo! Não tem haver com prática espiritual e sim natural. Amei a matéria e estou tentando me adaptar a esses novos métodos, não só na montanha mas no cotidiano também. Grande abraço

    Danielle Hepner

    Danielle Hepner

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    nerd! professora de matemática apaixonada por montanhas, viagens, doguinhos e ukulele.

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