T'aí um evento que foi muuuuito planejado! Mas todas as vezes alguma coisa acabou travando e precisávamos mudar os planos... Já estávamos vendo a hora que ia babar de vez! Mas, as coisas, quando são pra acontecer, simplesmente fluem.

Numa das muitas tentativas, a Josye jogou datas em nosso grupo de meninas e a que aparentemente agradava uma boa quantidade eram os dias 2 e 3 de julho de 2022. Depois de muitas animações e desistências, às vésperas do evento, éramos exatamente cinco mulheres: eu, Josye, Débora, Graça e a Mari. Outras duas meninas desistiram por conta de trabalho e outros compromissos inadiáveis que surgiram.

Entre nós, fizemos os combinados de barracas, comida, etc. E marcamos de nos encontrar no sábado, às 7h, em frente à delegacia da Penha. Quando eu e Josye chegamos, a Graça já estava lá e a Débora, que havia buscado a Mari na rodoviária, estava estacionando na rua ao lado.

Acomodamos as mochilas rapidamente e em poucos minutos estávamos no caminho. Por conta da hora, optamos por tomar café em casa mesmo e não fazer paradas.

Deixamos o carro em um restaurante a 800m da entrada, para que o nosso resgate pudesse levá-lo à Teresópolis e percorremos estes últimos metros até a portaria de Petrópolis a pé.

Já na portaria, entregamos a documentação necessária, mostramos o agendamento para pernoite solicitado e aprovado e, quando era umas 9h40 já estávamos começando nossa pernada.

Portaria do PARNASO - Sede Petrópolis

Andávamos bem, num ritmo constante até que cerca de 1h15 depois já estávamos na Pedra do Queijo. Paramos 10/15 min para fotos e tocamos para o Ajax, onde faríamos uma parada mais longa para almoço.

No Ajax, encontramos algumas pessoas. Um rapaz era guia, amigo da Graça e estava levando dois rapazes. Além deles, um grupo de quatro pessoas. Mais fotos, comemos, preparamos um belo tang de abacaxi... Os três rapazes saíram, uns 5/10 minutos depois nós começamos a subir a Isabeloca.

Sem muita demora atingimos o Chapadão. Pausa para fotos e tocamos na curta subida até o "Graças a Deus", local icônico de onde é possível ver quase todo o caminho percorrido. Mais uns minutos e estávamos olhando o Açu.

Graças a Deus (foto da Débora)

As meninas estavam animadíssimas. Fizemos mais algumas fotos e tocamos até a área de acampamento. Se não me falha a memória, era mais ou menos 15h quando chegamos no Abrigo do Açu e devia ter umas cinco barracas já montadas, então tinha espaço mais que suficiente para montar as nossas.

Rapidamente comecei a organizar as coisas na barraca que dividi com a Mari, enquanto Graça, Josye e Débora montavam as outras barracas. Com tudo já arrumado, tomamos um belo banho de lenços e vestimos roupas quentes. A Josye sugeriu que fossemos até o cume Sul para curtir o pôr do Sol tomando um chá quentinho e todas tomamos na hora! Pegamos lanterna e utensílios de cozinha e lá fomos nós. Cruzamos os imponentes castelos e caminhamos até um belo mirante. O dia estava tão limpo que foi possível ver o Rio de Janeiro com muita clareza! E claro, aproveitar o pôr do Sol maravilhoso! (Ah, sem chá. Levamos tudo ali, menos o fogareiro rs)

Cume Sul - Açu (foto da Débora)

Conforme ia escurecendo, dada a ventania, resolvemos retornar ao camping para cozinhar e podermos descansar. Eu e Josye ficamos responsáveis pela comida! Eu preparei grão de bico com temperos em casa e levei congelado. A Josye preparou frango. Lá fizemos dois strogonoffs divinos, com arroz branco e batata palha! Nossa janta foi GOURMET! Para acompanhar, um vinho a base de tang sabor uva aveludada. Que jantar, meus amigos!

Após encher as pancinhas, fomos lavar as coisas e já deitar. Afinal, o despertar seria às 3h da manhã, pra dar tempo de levantar o acampamento e irmos curtir o nascer do Sol em um dos lugares mais lindos de toda a travessia: os Portais de Hércules.

Acordamos, arrumamos tudo e lá iniciamos nossa caminhada. Um frio de rachar o bico que nos acompanhou durante toda a madrugada. Saímos do Açu e fizemos a subida até o Morro do Marco. Em vez de deixar as mochilas escondidas, pois estávamos com preguiça de separar as coisas para o café (além do medo de esquecer algo de novo), levamos tudo pros Portais. Chegamos rápido e encontramos um bom lugar pra assistir a um dos mais incríveis espetáculos naturais: o nascer do Sol.

Portais de Hércules

Enquanto o Sol nascia, eu e Josye seguimos na preparação do café/chá da manhã. Nossa refeição era nada mais nada menos que sanduíches de ovos mexidos com queijo e cream cheese em um pão de grãos. Curtimos demais aquele momento. Outrora estive nos Portais com tempo fechado, Hércules estava chateadíssimo que não avisamos da visita e deixou o tempo nublado. Mas dessa vez, o tempo estava lindo e pegamos um nascer inesquecível!

Depois de muito aproveitar, arrumamos tudo, catamos todo o lixinho e tocamos pra cima até voltar à trilha da travessia para terminar de descer o Morro do Marco e começar a subida infinita do Morro da Luva.

A Luva é aquela subida chata que, quando acha que acabou, é só uma pegadinha do malandro. Subimos tranquilas, constantes e logo menos vimos que era cume! Eu tinha um certo apego com a descida da luva pois anos atrás, na minha primeira Petrô × Terê, tinha feito uma foto que achei linda! Repeti a dose:

Descida da Luva

Ali resolvemos parar pra comer uns lanchinhos, tomar água e admirar mais ainda a beleza da travessia. Além disso, descansar um cadinho pois logo a frente teríamos o Elevador.

Fizemos a descida até cruzar a cachoeira, e já encontramos a pedra vertical com a via ferrata instalada (e bem enlameada). Subimos sem problemas, uma após a outra, sempre constantes e unidas.

Logo após o elevador, fizemos uma curta subida ao Morro do Dinossauro seguida de uma íngreme descida até o Vale das Antas. Retomando minha primeira Petrô × Terê, lembro que esse foi um trecho difícil para mim, psicologicamente falando. A inexperiência e falta de confiança da época me fizeram perder as unhas de dois dedos do pé, além de me cansar excessivamente por descer agachada. Entretanto, ali, junto das meninas, dessa vez a montanha não parecia mais tão assustadora. E, dessa vez, desci de pé, cheia de segurança e curando antigos traumas.

No vale, percebi que minha água estava terminando e aproveitei para reabastecer no pequeno córrego que por ali passava. Depois dessa pequena pausa, subimos novamente até chegar ao Dorso da Baleia. O Sol estava forte, o dia lindo e quente. No lajeado de pedra não havia sombra. Apesar do desgaste, decidimos não parar. Pouco mais a frente, num belíssimo mirante em frente ao paredão de pedras do Garrafão, encontramos um grupo com muitos rapazes. Alguns pareciam estar surpresos por ver cinco mulheres sozinhas fazendo a travessia. A surpresa era tanta que até foto eles quiseram tirar com a gente.

Mirante do Garrafão

Dali, tocamos até o trecho do Mergulho, onde finalmente encontramos sombra e resolvemos parar para fazer um almolanche. Não lembro ao certo quanto tempo paramos ali, mas recordo que a sombra estava muito maravilhosa rs. Enquanto comíamos, a Josye já estava preparando a corda para auxiliar a descida do Mergulho.

Depois de algum tempo paradas, começamos a retomar o caminho. Descemos o Mergulho, e iniciamos o último toca pra cima até o Cavalinho. Passamos por mais esse trecho, sempre juntas, uma ajudando a outra. Em pouco tempo, estávamos no cume da Pedra do Sino, ponto culminante da Serra dos Órgãos.

Cume da Pedra do Sino

Do Sino, muito felizes, dada a hora, começamos a descer até o Abrigo 4. Pausa para mais algumas fotos, e então descemos os 11 quilômetros finais num ziguezague infinito até a Represa. Era mais ou menos 19/20h quando concluímos a travessia mais bonita do Brasil!

Considerações:

Bem, emocionalmente falando, me sinto muito privilegiada de poder compartilhar momentos assim com outras mulheres. Foram dois dias de muitas coisas boas compartilhadas, de muito companheirismo e parceria, além de contemplação de um ambiente lindo, de uma conexão sem igual com a natureza.

A travessia Petrópolis × Teresópolis é marco do montanhismo. Pra nós, ela também é um marco de história, de muita troca, de autoconfiança, de amizade...

Cinco mulheres livres, leves e soltas, caminhando belíssimas, exalando alegria e muitas risadas e bom humor. Obrigada por tanto, meninas!