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Dante Cavalhero 11/07/2021 13:34
    Trekking no Pico Santo Agostinho

    Trekking no Pico Santo Agostinho

    Dia que conheci o Pico Santo Agostinho, localizado no Parque Estadual Serra do Papagaio - MG.

    Montanhismo Trekking

    O objetivo da viagem era subir o Pico Santo Agostinho ou Pico do Garrafão, que faz parte do Parque Estadual Serra do Papagaio (PESP), uma unidade de conservação criada em 1998, que possui uma área de 22.917 hectares, já abrangendo os municípios de Aiuruoca, Alagoa, Baependi, Itamonte e Pouso Alto.

    Bom, mas vamos para o relato.

    No dia anterior à minha saída, já havia baixado os mapas da estrada e organizado todos os meus equipamentos (para conferir é só ir no checklist). Como seria somente uma noite, não teria tanta coisa assim, mas alguns equipamentos eram mais volumosos por serem de frio, por isso usei uma mochila de 70 litros; fui com essa, pois a outra que eu tenho é de 35 litros e não caberia, mas acredito que uma de 50 litros já dá conta do recado tranquilamente.

    Tem muita gente que não gosta de separar as coisas da viagem e fazer a logística, mas eu gosto bastante, já dá aquele frio na barriga pré-viagem.

    Equipamentos que usei no trekking

    Acordei às 6h da manhã de uma quinta-feira, tomei meu café da manhã, e era só colocar tudo no carro e sair rumo ao Pico Santo Agostinho. Saí de Águas de Lindóia – SP às 8h e, após longas horas – aproximadamente umas 6h de estrada, para ser mais preciso – devido ter muitos caminhões na estrada, consegui chegar em Alagoa – MG. Não tinha muita certeza de como chegar, porém, já sabia que teria algumas estradas de terra e, como tinha o mapa baixado no GPS, foi tranquilo e deu tudo certo para chegar lá. Quando entrei no vale e tive a visão aberta do Pico ao fundo, fiquei arrepiado! Que lugar lindo!

    Vale com o pico ao fundo.

    Em uma casa situada logo na entrada no vale, bati palmas e uma senhora saiu da casa com uma cara de estranhamento, acredito que não porque poucas pessoas vão lá, mas talvez por ser um dia aleatório e estar sozinho para fazer a trilha. Perguntei se poderia abrir a porteira para continuar o caminho até a entrada da trilha e se poderia deixar o carro em frente à casa dela. Ela me disse que era melhor não deixar na frente da casa porque os cavalos e as vacas ficavam soltas e provavelmente poderiam bater no carro ou algo do tipo.

    Não contestei, afinal, se ela me disse isso deve ser porque pode ter ocorrido isso com alguma outra pessoa que deixou o carro lá. Ela me informou que eu poderia deixar o carro logo na entrada da trilha ou na casa de outra pessoa que morava um pouco mais perto da trilha. Bom, achei melhor deixar na casa de uma outra senhora, que me atendeu com muita educação e tivemos um diálogo breve sobre a trilha, agradeci por deixar o carro lá, peguei a mochila e segui para a entrada da trilha.

    Olhei no relógio e eram quase 15h, já estava tarde, mas sabia que daria tempo de chegar ao cume pelo que tinha lido em outros relatos. É uma trilha curta, mesmo que seja só subida, com um pouco menos de 4 km e um ganho de 643 m. Logo na entrada da trilha era possível ver o pico lá no fundo e já tive que parar e tirar uma foto.

    Entrada da trilha e uma araucária solitária dando as boas vindas.

    A trilha em si não é técnica e é bem demarcada. Felizmente, o sol não estava tão forte no dia, um clima perfeito para andar. O silêncio na trilha era constante, estava até com saudades desse contato com a natureza.

    Um trecho logo no começo da subida.

    Em uma parte da trilha, encontrei uma placa branca que imaginei ser a placa que indicava que, a partir dali, se estava entrando em uma área que pertence ao Parque Estadual Serra do Papagaio (não sei o porquê estava em branco, mas em outros relatos vi que era uma placa do PESP). Nessa parte, eu cometi um pequeno erro no caminho: era para, ao passar a cerca, margeá-la, ao invés disso, eu entrei na mata mais fechada. Felizmente, percebi logo meu erro e consegui voltar para a trilha principal.

    Placa em branco do Parque Estadual Serra do Papagaio

    O caminho certo, margeando a cerca.

    Como estava com a mochila cargueira cheia, meus passos estavam mais lentos e tinha que parar mais vezes para descansar, algo que foi acontecendo com maior frequência ao longo do caminho. O lado bom de parar era que dava para apreciar a vista maravilhosa enquanto tomava água e aproveitar para tirar algumas fotos.

    A vista contrária ao pico.

    Uma das poucas fotos que apareço.

    Estava começando a ficar um pouco preocupado com o horário porque queria chegar na área de camping ainda com luz para montar a barraca tranquilamente. Comecei a apertar o passo e fazer paradas mais curtas. Na montanha, foi só o sol ir baixando que o vento já começou a ficar gelado e a temperatura foi caindo gradualmente. Coloquei o fleece, as luvas e continuei caminhando em ritmo mais forte.

    O sol se pondo no caminho.

    Em uma parte da trilha, se encontra uma placa indicando que faltam 500 m para o cume. Nesse ponto, o trecho é curto, mas a trilha é em mata fechada.

    Placa indicando o o caminho de mata fechada.

    Quando terminei a parte de mata fechada, andei somente um pouco mais e já cheguei na área de camping, um pequeno bosque que protege muito bem do vento. Achei um bom espaço e montei rapidamente minha barraca.

    Placa indicando área de camping.

    Nesse local encontrei vestígios de fogueira. Reforço que é proibido fazer fogueiras em Unidades de Conservação, os incêndios provocados em áreas protegidas são devastadores e demora muito para que ocorra a recuperação total do ecossistema.

    Felizmente, o PESP já possui desde 2009 um Plano de Manejo que é um documento muito importante para nortear o planejamento e gestão de uma Unidade de Conservação, o que não é uma realidade para grande parte das Unidades de Conservação do Brasil. Não há fiscalização para entrar no Pico, mas existem placas sobre as regras no camping. Portanto, não custa nada fazer nossa parte, respeitando e utilizando o ambiente de forma responsável. Quem ama, cuida.

    Após montar a barraca, corri para o mirante para ver o pôr do sol.

    Vista do mirante.

    Pôr do sol lá do mirante.

    O pico é a parte mais alta de todo o parque, totalizando 2.359 metros, sendo o 29º na lista das maiores montanhas do Brasil. Do mirante, é possível avistar outras montanhas da Serra da Mantiqueira, como o Pico do Papagaio.

    O frio e o vento gelado vieram com força, ou seja, estava na hora de colocar uma roupa mais quente e preparar meu jantar. Depois de comer, peguei minha câmera e fui olhar as estrelas. Nossa, nem lembrava quando tinha sido a última vez que tinha visto um céu tão estrelado! Aproveitei para tentar tirar uma foto de longa exposição. Fazia muito tempo que tentava tirar fotos das estrelas, mas nunca ficavam boas. Desta vez fiquei bem satisfeito. Só parei de ficar olhando o céu quando o chá acabou e o frio e o vento estavam incomodando (pelo meu termômetro estava 5 ºC!).

    A sorte de ter um noite estrelada.

    Entrei no meu saco de dormir e logo já me sentia bem aquecido. Na Mantiqueira, no período de outono e inverno, a temperatura cai abruptamente à noite, algumas vezes chegando a temperaturas negativas, por isso é importantíssimo ter equipamentos adequados para não passar um perrengue.

    O silêncio da noite só era quebrado pelo som do vento nas folhas das árvores e na barraca. Fiquei pensando em como o dia tinha sido incrível e como estava feliz com tudo o que estava acontecendo. Tem dias que fazem a vida valer muito a pena.

    Nunca tive o costume de escrever durante as viagens, mas dessa vez, talvez por estar sozinho, tive um tempo para ficar refletindo e escrevi um trecho que resumiu bem o que sentia naquele momento:

    Hoje o tempo parou.

    A palavra que mais se aproxima do que sinto neste momento é liberdade. Sensação de estar no lugar certo. Por algum motivo, me sinto conectado de algum modo com a montanha. Talvez não seja uma conexão com a montanha, mas sim um lugar em que eu consiga me conectar comigo mesmo. Ou, talvez, eu só esteja buscando uma resposta onde não deva existir, somente sentir.

    Não demorei muito para pegar no sono. Acordei às 5h30 para ir ver o sol nascer e, obviamente, estava muito frio, mas, mesmo assim, lá estava eu, cheio de roupas e olhando os raios de sol cortando as montanhas. Se tivesse alguém comigo, com certeza teria me escutado dizer alguns palavrões ao ter aquela vista.

    O sol nascendo e rasgando as montanhas.

    Voltei para o acampamento, fiz meu café da manhã e comecei a arrumar minhas coisas. Enquanto estava descendo, aproveitei para tirar mais algumas fotos onde é possível avistar, ao fundo, o Parque Nacional do Itatiaia (PNI). O PESP integra o Corredor Ecológico da Mantiqueira e a Área de Proteção Ambiental (APA) Serra da Mantiqueira, sendo uma área contínua do PNI, onde, juntas, protegem a um dos maiores fragmentos de vegetação nativa da Mantiqueira.


    Ao fundo é possível ver o planalto do Parque Nacional do Itatiaia.

    A descida foi bem tranquila e rápida, graças aos bastões de caminhada, durando aproximadamente 1h30. Um pouco depois eu já estava no carro. Olhei para dentro da casa para agradecer e me despedir, porém não vi ninguém e resolvi entrar no carro e seguir meu caminho. Estava na hora de dizer um até logo para este lugar incrível que ficou marcado na minha memória.

    Última foto antes de descer toda a trilha.

    O cansaço no corpo e a ausência de confortos eram um conjunto de coisas que afastariam qualquer sensação de bem-estar nesses dois dias. Somos acostumados a sempre querer mais e mais do que precisamos no dia a dia, não estou dizendo que não gosto de confortos, mas dias assim sempre me fazem refletir sobre o como preciso de pouco para ser feliz.

    Por uma vida com mais dias assim.

    O relato é simples, mas espero que ajude quem ainda estiver com dúvidas sobre o Pico.

    Caso seja inexperiente, contrate um guia! O guia não vai só te mostrar o caminho, mas vai ajudar na logística, equipamentos e segurança.

    Importante: eu levei toda a água que iria consumir, ao todo foram 4,5 litros. Vi em outros relatos que há água no Pico, mas resolvi não arriscar.

    Dante Cavalhero
    Dante Cavalhero

    Publicado em 11/07/2021 13:34

    Realizada de 20/05/2021 até 21/05/2021

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    2 Comentários
    Bruno Negreiros 12/07/2021 12:26

    Lugar lindo demais...

    Dante Cavalhero 12/07/2021 17:35

    Sim! O lugar é incrível!

    Dante Cavalhero

    Dante Cavalhero

    São Paulo - SP

    Rox
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    Biólogo, guia de turismo e fotógrafo amador. Me aventuro nas horas vagas e de vez em quando escrevo sobre. Seja um sucesso total ou um perrengue inesquecível.

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