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Eduardo Campos 25/10/2016 02:28
    Levando os Franceses para Passear nos Andes

    Levando os Franceses para Passear nos Andes

    Fac-símile de e-mails enviados aos amigos relatando uma viagem à Bolívia e Chile com dois amigos franceses em 2003.

    Caros Colegas,

    estou em Sucre, capital administrativa da Bolívia. Partimos de São Paulo, eu e mais dois amigos franceses (Fred e Phil), sábado pela manhã, de ônibus, e chegamos em Corumbá no domingo em Puerto Suarez, fronteira com Corumbá. Fomos então até Puerto Quijarro para pegar o famigerado trem da morte (pela segunda vez, no meu caso). Dormimos lá em uma pousada bem espartana (o que esperar de uma diária de US$2?). Madrugamos (4h45min) na fila para comprar as passagens. Depois de muito chacoalhar, assaditos de pollo e incontáveis paradas, chegamos em Santa Cruz de la Sierra (são 20h para percorrer 800km!!!). No mesmo dia pegamos um bumba para cá, Sucre (mais 16 horas!!!). Ficaremos aqui até depois de amanhã, quando partiremos para Potosi. A ideia é ir se "aclimatando" lentamente com a altitude, pois pretendemos escalar um vulcão com pouco mais de 6000 m. Em Sucre estamos a aproximadamente 2.700m, em Potosi já estaremos a 4.000m!!! A chance de começar a sentir os efeitos da altitude será grande. Veremos.

    Muita coisa já aconteceu nesses poucos dias. O pior de tudo foi um inseto que entrou dentro do olho do Phil no Trem da Morte. O olho dele inchou bastante, ficou vermelho e apareceu uma bola gelatinosa no branco dos seus olhos. Ele ficou, digamos, um pouco desesperado. Sabem como são os europeus, escutam muitas histórias de doenças tropicais... Ele queria que arrancássemos a "gelatina" com o canivete em plena noite e com o trem balançando muito!! Até que apareceu um cara de branco (roupa puída) dizendo-se médico acupunturista (é assim que se escreve?), fez uma massagem, enfiou três agulhas minúsculas no rosto do Phil, deu uns choques e ainda falou algumas mandingas. Resultado: tranquilidade emocional, pois o olhou continuou igual. Imaginem a cena do cara enfiando as agulhas no meio da noite e com o trem em movimento! Em Santa Cruz fomos a um oftalmologista que disse que não era nada grave. Melhor assim.

    Aqueles de vcs que já me conhecem há algum tempo sabem que já fiz essa viagem. Hoje, depois de sete anos, está sendo uma redescoberta. O lugar mudou bastante, mas muito permanece o mesmo. Acho que eu mudei mais. Está sendo muito legal retornar, ainda mais com esses dois amigos franceses que são muito divertidos. Claro que sinto a falta de meus tradicionais companheiros de viagem, sobretudo do Batata. Mas cada um está em um canto, fazer o quê?

    Ainda pretendemos atravessar o Salar do Uyuni, subir o Licancabur, atravessar o Deserto do Atacama e o parque Lauca no Chile, voltar para a Bolívia pelo parque Sajama, ir para La Paz e fazer um trekking ou na Cordilheira Real ou na Apolobamba. Mas sobre isso, escreverei mais tarde.

    Agora, se me dão licença, ai vão alguns recadinhos "particulares":

    Pot´s - achei o trem muito ruim, espero não ter que tomá-lo novamente. Verdade que está um pouco melhor, mas a molecada continua entrando dentro dos vagões vendendo assaditos e o trem para em todo lugar. Em compensação, comemos o rango do trem pela bagatela de 5 bolivianos, estava bom. O Fred e o Phil comeram duas vezes seguidas!!!

    Cara, o Fred está com novas expressões, do tipo daquele andar que vc conhece. Pena que não conseguirei descrevê-las. Tem uma cara que ela faz para dizer que se deu bem que é muita engraçada. O Phil entende bem de equipo de montanha, sabe para que servem as coisas e conhece as melhores marcas, ou seja, fala a nossa língua.

    Sinval- devemos chegar no Uyuni dia 13 ou 14. Estaremos em Potosi nos dias 11 e 12. Espero que seja possível encontrá-lo em algum desses lugares.

    Chris- infelizmente não poderei ir a festa da Alice. Ligo assim que chegar

    Dionísio - nos encontraremos no Chile?

    Ale- tenho pensado demais em você, acho que é o mal de altitude. Saudades. Muitos beijos. Estou ansioso para revê-la depois de tudo o que passaremos.

    Ah! Afaste-se dos franceses que estiverem aí na Guatemala, pois os caras são muito perigosos!! Os dois que estão comigo são brincadeira!!! então atenção, heim!!

    Vou lhe escrever um e-mail com outro detalhes, que só são pertinentes a vc

    Para todos os demais, um forte abraço.

    Edu

    --- Eduardo Campos <dudex@usp.br> wrote: >

    Olá Colegas,

    Estou em San Pedro, Chile. Muita coisa aconteceu desde meu primeiro e-mail, em Sucre. Se tiverem um pouco de paciência, logo abaixo conterei algumas delas.

    Em Potosi (4.000m), sentimos uma fraca dor de cabeça e fatiga para subir as escadas. Para quem já se esqueceu das aulas de história, Potosi foi fornecedora de prata durante o período colonial. De lá se retirou tanta prata que alguns economistas afirmam que isso foi responsável por um grande processo inflacionário na Europa. Outros afirmam mesmo que inaugurou o processo inflacionário no sistema capitalista. Cabe aos amigos economistas confirmarem a informação.

    A cidade está situada ao pé do Cerro Rico, uma montanha de 5.000 m de onde se extrai todo o mineral (o desmonte é visível).

    Fomos a um bar onde fizemos amizades com os músicos que depois nos levaram aos bares nos quais não há estrangeiros. Fumamos, bebemos, cantamos, conversamos e nos divertimos (na verdade, não participei do fumamos e bebemos, hahaha).

    De Potosi pegamos um ônibus para Uyuni. A estrada de terra corta 200 km de paisagens maravilhosas. Com certeza é uma das mais belas estradas que já passei, e olha que tenho dificuldade em fazer classificações (na verdade não gosto muito desse tipo de comparação). A viagem deveria durar sete horas, mas durou um pouco mais, como sempre. Atrasos na partida, pneus furados (até agora foram quatro!!!), gente que sobe e desce, e tudo o mais de inesperado para nossa lógica ocidental.

    Sobre isso, queria dar uma palavrinha. Num primeiro momento ficamos nervosos com tantos atrasos e precariedades. Mas o povo daqui não. Diriam alguns: já estão acostumados, não têm outro referencial... Pode ser. Mas a relação que eles têm com o tempo é diferente da nossa. E mais, a relação sistema de transporte-usuário é mais democrática. Explico. Aqui, não impera a relação entre instituições, empresas no caso, como em outros lugares, e sim quem manda é quem está dentro do ônibus. Explico melhor. No Brasil, é a empresa de ônibus que decide quando parar e onde (um posto com um contrato prévio). Aqui são as pessoas que estão no ônibus que gritam: vamos Maestro, para o motorista não ficar embaçando, ou ainda: Tenemos hambre, para parar em algum lugar (isso é se o exército de ambulantes que invadem os ônibus não tenha sido suficiente para satisfazer os estômagos mais famintos). E a interação entre os passageiros??? E algo fantástico!! Uma verdadeira comunidade que dura o tempo do trajeto. Todos zelam pelo conjunto.

    Deixando o transporte de lado, voltemos ao périplo. Bom, foi em Potosi que encontramos o Sinval e a Ju. Muito legal encontrar amigos na viagem. Voltamos a reencontrá-los no Uyuni e devemos assim permanecer até La Paz. Atravessamos o Salar e Lipez em três dias. A imensa área de sal (um fundo de lago que secou) é espantosa. O relevo do altiplano, as lagunas e os animais dessa região, com certeza compõem um dos mais belos cenários da América (tenho um amigo que diz preferir os Andes ao Himalaia! Difícil dizer.) Aqui, chega a fazer menos 30 graus à noite, mas felizmente só presenciamos menos dez. Dormimos em refúgios precários. Ainda bem que carregamos nossos sacos de dormir. Deixarei os detalhes desse trajeto para contar-lhes pessoalmente, com o auxilio das fotos, pois minha redação não é suficiente para descrever tanta beleza (talvez as fotos tb não sejam, mas quem sabe acompanhadas de uma boa narração?). Amanhã iremos "escalar" o Sirecabur. Estava previsto o Licancabur, mas mudamos por algumas razões. A primeira delas é que para subir o Lican é preciso retornar a Bolívia, o que envolve taxas e burocracia. A segunda é que o Sire é mais alto, ou melhor, ultrapassa a barreira dos 6.000m, algo notável para montanhistas iniciantes como eu. O Lican tem "apenas" 5916m, contra os 6.050 do Sire, que ainda exige uma escalada mais técnica. Estou apreensivo por conta da altitude. Verdade que estamos fazendo uma aclimatação há algum tempo (passamos por lugares com 5000m), mas sei que tenho grande problema com essa questão que os físicos explicam. Porém, alguns fatores me tranqüilizam. Primeiro, que a pressão esta estabilizada, sinal de que o tempo deverá continuar bom. Segundo, e mais importante, estou acompanhado de dois franceses (na verdade um é basco) que nasceram ao lado dos Pirineus e dominam todas as técnicas de escalada e portam todo o material indispensável. Só para vcs terem ideia sobre o que eles trazem na mochila:

    uma garrafa de vinho rose, outra de uma pinga basca e outra de Manzana Verde, quatro latas de patê basco, uma bola de futebol e um quilo de chumbo (aquele de mergulho) que fica indo de uma mochila para outra, pois cada hora um é sacaneado. Pois é amigos, eu sou o único do grupo que já havia ultrapassado os 3.000m de altitude. Veremos o que isso vai dar. Para terminar, gostaria de apontar a diferença que a bebida e a bola fazem na viagem. Como muitos de vcs sabem, numa viagem como essa, o ideal é colocar a menor quantidade possível de coisas dentro da mochila (três camisetas, uma calca, três cuecas...), e então os caras resolvem trazer bola e vinho!! Porém, esses ítens atraem muitos novos amigos. Basta pararmos em algum lugar e aparecermos com a bola nos pés (infelizmente muitas vezes ela teima em não ficar próxima aos meus pés) que aparece uma galera. O mesmo com o vinho. Temos muitos novos "amigos". Muito deles graças ao Philippe, um cara com a incrível capacidade de atrair pessoas.

    Bom, é isso por enquanto.

    Agora os recados pessoais.

    Marli - Parabéns pelo casamento, pena que não poderei ir a festa, uma vez que será em Londres. Mas assim que possível dou um pulo aí.

    Edê - pode deixar que quando for visitar os filhos da Marli também passarei na sua casa.

    Jacó - não é mole não jogar bola nas alturas!!!

    Rafão - que tal arrumar uma pelada com os franceses?Tenho certeza que vc gostaria de descontar os 3 X 0.

    Batata - como está por aí?

    Rubens - espero encontrá-lo em SP antes que vc volte para Espanha. Lamento perder sua festa.

    Chris - também lamento perder sua festa (porque todo mundo resolveu dar festa justamente quando não estou?). Quero conhecer a casa nova e ver a Alice

    Ale- a saudade esta aumentando. Espero que esteja tudo bem por aí na Guatemala. Beijos

    Ah! Esqueci de contar que tentaram dar dois golpes no Sinval. Um os caras se passaram por policiais da imigração e queriam levá-lo para um lugar e no outro jogaram uma espuma em suas costas, armaram uma zona enquanto outro tentava roubar sua pochete. É, casal e mulher sozinha são os alvos prediletos. Lê, se cuida aí, heim!!!

    Abraços a todos,

    Edu

    >Subject: Arica
    >Date: Sun, 20 Jul 2003 19:26:06 -0300
    >
    >Caríssimos,

    estamos em Arica, Chile, contra nossa vontade. A ideia era passar por aqui somente para o Philippe molhar os pés no Pacífico e então nos dirigirmos para o Parque Lauca, na fronteira com a Bolívia. Porém, devido a grande quantidade de neve, os ônibus não estão cruzando os Andes. Quem sabe amanhã?

    Bom, imagino que vocês devam estar curiosos sobre a escalada. Tenho muito a contar sobre essa excelente experiência, mas deixarei os detalhes para uma calorosa conversa, porém, dessa vez, com poucas fotos, pois fazia um frio danado lá em cima (menos 15) que a única vez que tirei as luvas para tirar fotos quase congelei minhas mãos.

    O Sirecabur (Mãe da Montanha) tem 6.050 metros, sendo a vertente a 500 metros do cume muito inclinada, com um solo areno-pedregoso intercalado por grandes matacões de basalto. Começamos a subida por volta das 7h30. Às 10h atingimos os 5.900 metros. Foi quando a montanha me fez chorar pela primeira vez. Eu e o Fred estávamos nos sentindo muito bem, mas o Phil estava muito devagar e cansado. Então, como havíamos conversado antes, ele achou melhor desistir, pois no seu ritmo não seria possível atingir o cume, uma vez que o tempo estava fechando e se as nuvens atingissem a montanha logo se criaria uma fina camada de gelo sobre o basalto que o tornaria muito escorregadio e perigoso. Ele desistiu por nós. Isso me comoveu de um tal modo que chorei. Não sei se estava mais sensível devido ao efeito da altitude. Não escrevo isso para justificar meu pranto, pelo contrário, orgulho-me dele. Na hora, pensei em toda empolgação no nosso amigo basco (ele era quem mais estava entusiasmado) e no seu gesto que quase desisti de continuar. Foi então que ele fez um sinal, colocando sua mão no coração querendo dizer que estaria conosco, que me fez continuar. Às 11h30 chegamos à cratera do vulcão (6.000 m). Eu estava muito cansado e com sono (mais uma vez a altitude). Agora "só" faltavam 50 metros de grandes rochas de basalto, ou seja, uns 30 minutos. Deixamos nossas coisas em um platô para fazer o ataque final. Passados dez minutos resolvi desistir. Avisei ao Fred e ao guia que estavam mais à frente (não havia mais ninguém na montanha) que não se preocupassem, pois estaria descansando no platô.

    Acontece que tive dificuldade para encontrar o caminho de volta. Não conseguia raciocinar direito. Lembrei-me da tragédia no Everest de 1996 quando um guia sentou-se para descansar e morreu devido à letargia. Claro que meu caso era muito mais simples, mas isso me despertou e me fez raciocinar um pouco. Subi sobre alguns matacões e então avistei nossas mochilas. Estava desesperado para alcançá-las. Voltei ao platô e deitei-me. Apesar do frio e dos calafrios que sentia, cochilei.

    Acordei com o Fred, assustado com a bagunça que eu havia feito, e então começamos a descer. Eu estava muito tonto e ele me amparava. Nessa hora, como sempre, me lembrei das coisa importantes da vida. Que bom que tinha um amigo ali para me amparar. De que valia todo o equipo de montanha que carregava, o equipo de foto, a grana? Eu só queria o conforto do colo da Ale e do seu carinho. E claro, da companhia dos bons amigos (acho que o efeito da altitude ainda não passou, pois continuo emotivo e abobado).

    Fui descendo, cambaleando e vomitando. Aos 5.900 m me senti melhor e então pude descer escorregando sobre os pedregulhos. Ao chegar no acampamento base, abraçado ao Fred (ele havia atingido o cume), muito emocionado, até encontrar o Phil. Todos nos abraçamos. Foi a segunda vez que a montanha me fez chorar naquele dia. Pode parecer pouco para vcs aí, mas pra nós foi uma experiência que nos uniu muito. Não lamento tanto não ter atingido o topo. Fico feliz por ter conseguido ultrapassar os 6.000 metros. Muitos podem pensar "Pô, desistiu faltando 50 metros!" Pois é, subir é só a metade do caminho. É na descida que acontecem 80% dos acidentes na montanha. Estou inteiro para a próxima. Será que algum de vcs quer vir junto?

    Recados Particulares

    Aninha - Em primeiro lugar eu gostaria de lhe agradecer por me avisar que os recados particulares podem ser lidos por todos foi ironia, para quem não percebeu, tá?). Assim, peço a todos que só leiam aquilo que lhes diz respeito. Em segundo, lamento muito pelo bolo da sexta-feira. Vc não imagina o tanto que os franceses são enrolados. Estamos sempre nos atrasando para tudo. O Phil é algo absurdo. Naquela sexta, depois de buscá-lo no aeroporto, fomos jantar e passamos em alguns bares. Nesse trajeto ele perdeu os cigarros e a carteira. Deu tudo certo no final. Que tal marcarmos algo para assim que voltarmos?

    Ale, cadê você? Vc decidiu quando volta da Guatemala? não agüento mais tomar mate de coca na tentativa de apaziguar a saudade. Pior, o mate não faz efeito nenhum contra os males do coração.

    Batata, meu amigo. Claro que vc deveria estar lá na montanha comigo ao invés de demolir o Canadá inteiro. A sua despedida no aeroporto foi muito triste, tive que segurar as lágrimas. Vê se descobre por aí alguma coisa que mantenha os pés quentes em baixas temperaturas (isso foi o pior na montanha), pois vamos precisar para quando formos ao Alasca (E aí Ale, topas??). Assim que eu voltar para SP tentarei te ligar. O Fred e o Phil mandam um abraço. Imagino que o Sinvas também.

    E aí Bala? Quer dizer que na próxima vc estará com a gente? Beleuza!!!

    abraços,

    Edu

    >Subject: La Paz
    >Date: Sun, 27 Jul 2003 15:57:12 -0300
    >
    >Queridos colegas,

    estou em La Paz, contra a minha vontade, pois estava previsto fazermos um trekking partindo de Sorata. Infelizmente o tempo meteorológico nos impediu. A Cordilheira está encoberta por nuvens, há muita umidade e não vemos nada. paciência.

    La Paz é muito frenética. Gente e carros por todos os lados, desde muito cedo até tarde da noite. A cidade está situada em um fundo de vale no altiplano a mais ou menos 3.600 metros (apesar de toda a nossa aclimatação ainda nos cansamos quando subimos rapidamente as escadas). Imaginem uma av Paulista cheia de carros e microônibus buzinando e transeuntes no meia da rua e calçadas, rodeada por escarpas repletas de casas sem reboco, todas na cor marrom. Voilá La Paz.

    A nossa passagem pelo Parque Lauca, no Chile, foi muito especial. Ficamos num pequeno povoado (50 pessoas aproximadamente) chamado Chucuyo. Lá ficamos hospedados em um pequeno quarto mantido por D. Mati, uma sexagenária aymará muito simpática, com um humor tímido, que nos fazia bifes de alpaca maravilhosos (garanto que são melhores que os bifes de lhama). Toda a infra-estrutura era muito precária (claro que não havia chuveiros!!!), porém o lugar e as pessoas compensaram o frio e a falta de banho. A vista do vulcão Parinacota (6.340 metros) desde o amanhecer até o anoitecer nos preenchia de satisfação por estarmos em um lugar como aquele. Confesso que tive vontade de subi-lo, mas para isso precisávamos de alguns equipamentos que não dispúnhamos, como piolets (parece uma pequena picareta), crampons (cravos para as botas), barraca que suporte baixas temperaturas, fogareiro que funcione em altas altitudes, enfim, toda uma parafernália técnica. Bom, ficará para a próxima.

    Lá fizemos uma caminhada de aproximadamente 25 km passando por campos cercados por montanhas e preenchido por lagunas, alpacas, vicunhas, "coelhos" e muitos pássaros. Foi muito extenuante, pois a caminhada sempre aconteceu acima dos 4.300 metros e muitas vezes por um terreno arenoso. Por fim chegamos a um imenso lago, Chungará, de onde podíamos ver o Parinacota e seu reflexo no belo azul do lago.

    Minha viagem está chegando ao fim. Resta ainda fazermos um downhill de bike até Coroico. Partiremos da altitude de 4.600 m e chegaremos ao 1.500 metros. Dá pra imaginar a declividade???!!! espero que os freios estejam em bom estado. Para complicar, a estrada que percorreremos é considerada a pior do mundo devido ao grande número de acidentes. A cada duas semanas um carro ou microônibus despenca desfiladeiro abaixo. Veremos no que isso vai dar.

    Assim que chegar em SP mando novas notícias.

    Antes de finalizar, gostaria de agradecer a todos que me enviaram mensagens, é muito legal saber que vcs também estão curtindo um pouquinho a viagem e que não estou lhes entediando. E ainda convidá-los para uma Fiesta Latina que farei lá em casa no dia 5 de agosto com o intuito de mostrar as fotos, contar os causos, apresentar os franceses, tomar mate de coca, conversarmos, rirmos... Conto com a presença de todos vcs. darei mais detalhes (endereço, horário...) no final desta semana.

    abraços,

    Edu

    Colegas,

    Chegamos na quarta-feira depois de encararmos algumas boas horas de viagem e ainda continuamos no ritmo de aproveitarmos o máximo de tempo possível para conhecer coisas novas. Agora que estamos em São Paulo, aproveito para mostrar um pouco do que acontece por aqui para os franceses. Ficamos boa parte do dia e da noite na rua, só hoje é que consegui sentar na frente do computador para contar-lhes o final da viagem e sobre os detalhes da "Festa Latina". Vamos lá. Terminamos nossa viagem com uma experiência que exigiu uma boa mistura de loucura, um pouco de perícia e muita sorte: a descida de bicicleta pelos 66 km da estrada que liga La Cumbre a Coroico. Como já disse, são mais de 3.000 metros de desnível. Começamos por um trecho asfaltado, rodeado por lindas montanhas, onde pudemos atingir grande velocidade, pois as curvas eram relativamente suaves e largas. Após atravessarmos um túnel de aproximadamente 500 metros, onde o Sinval perdeu o controle e bateu na parede (felizmente nada mais grave que o susto, escoriações e roupa suja), atingimos o trecho de terra, o mais perigoso e, conseqüentemente, mais emocionante. Muita pedra, areia e trechos de barro. Curvas bem fechadas que proporcionaram muitas derrapagens e saídas pela tangente que nos levavam ou aos barrancos ou aos abismos. Foi nesse trecho que nos distanciamos do grupo. Até então todos vinham na mesma balada, mas aqui o pessoal (eramos uns quinze) usou mais o freio enquanto nós três (eu, Fred e Philippe) perseguíamos um ao outro e, sobretudo pressionávamos o guia que ia à frente. Depois de uma meia hora de descida paravamos para esperar o restante do grupo, em alguns trechos a diferença de velocidade era tamanha que ficávamos uns quarenta minutos esperando. A descida exige bastante dos braços e pescoço, mas a sensação é ótima.

    Ao final, nos demos conta do certo risco que corremos ao passar tão próximo do desfiladeiro e, sobretudo de nos chocarmos com os numerosos caminhões que vinham no sentido contrário, mas, quando estávamos sobre as bicicletas, só pensávamos em descer o mais rápido possível. Tanto que, apesar da linda paisagem, não parávamos quase nunca para tirar fotos.

    A balada é recomendada para aqueles que curtem bicicleta e têm uma certa destreza. Nós ficamos com muita vontade de fazer outras semelhantes. Mas isso ficará para uma próxima viagem.

    Bom, sobre a "Festa Latina" é o seguinte: acontecerá aqui em casa na terça-feira, dia 4 de agosto, a partir das 21 horas. A ideia é reunir vocês que acompanharam um pouco da viagem e mostrar as fotos, falarmos sobre nossas impressões, contarmos os casos engraçados e, claro, apresentar vocês, meus amigos, para meus companheiros franceses de viagem. Por favor, para aqueles que não se incomodarem, eu pediria para trazer umas bebidinhas, pois aqui, felizmente, não é a França e nunca sabemos quantas pessoas comparecem às festas (espero que aqueles que estão no Brasil compareçam!!!!). Venham e tragam quem vocês quiserem. Ah, preciso fazer uma ressalva. Não haverá o prometido mate de coca, pois na correria dos últimos dias não foi possível encontrar os famosos saches. A não ser que meu amigo Dionísio leia este mail a tempo e me faça o favorzão de trazer na bagagem uma caixa extra. Seria possível meu camarada???

    Forte abraço e até terça,

    Edu

    Eduardo Campos
    Eduardo Campos

    Publicado em 25/10/2016 02:28

    Realizada de 30/06/2003 até 31/07/2003

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