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Edson Maia 27/10/2019 13:02 com 1 participante
    Travessia Subaquática do Taim - Ciclotrekking

    Travessia Subaquática do Taim - Ciclotrekking

    Primeiro episódio da série de relatos da expedição Ciclotrekking - Pra lá do Fim do Mundo. Uma trip de bike até o extremo sul da Patagônia.

    Cicloviagem Acampamento Trekking

    Travessia "Subaquática" do Taim - RS

    Apresentação:

    Ciclotrekking - Pra Lá do Fim do Mundo

    Trata-se de uma expedição de aventura que será feita de maneira “solo”, autossuficiente e utilizando a bicicleta como principal meio de deslocamento! O objetivo é percorrer o cone Sul da América do Sul em uma viagem dividida em três etapas. A primeira delas tem início na cidade de Rio Grande no litoral do Rio Grande do Sul, passa por toda a extensão do litoral uruguaio até chegar na cidade de Buenos Aires, onde seguirá de ônibus até Bariloche.

    A segunda etapa da viagem intenta explorar alguns dos principais pontos de aventura na Patagônia Chilena e Argentina, percorrer a Carretera Austral e tendo como ponto mais extremo da expedição a Isla Navarino, no Chile.

    Após cruzar por lancha o Canal de Beagle e chegar em Ushuaia, inicia-se o terceiro trecho da viagem, que tem o Norte como rumo, percorrendo assim o desértico trecho da costa litorânea da Patagônia Argentina e posteriormente o retorno ao Brasil.

    A expedição Ciclotrekking – Pra Lá Do Fim do Mundo, tem como objetivo a realização de várias atividades de trekking e hiking nos principais parques nacionais, tanto no Chile como na Argentina.

    Essa expedição conta com a parceria do portal de aventuras Trekking RS, apoio da plataforma colaborativa de aventuras outdoor AventureBox, Solo Outdoor & Travel e força mais que especial da Loja Patos do Sul de Caxias do Sul.

    Ciclotrekking – Primeiro Episódio:

    Primeiro dia: Deus ajuda quem cedo madruga e acampa antes do temporal

    Dia 12 de Outubro, Dia das Crianças!!! Finalmente o início da aventura!

    Acordei cedo, 4 horas da matina e às 5 horas, meu amigo Rafael já me aguardava para me levar para a rodoviária de Porto Alegre, onde embarcaria às 6 horas da manhã rumo à cidade de Rio Grande em uma viagem de cerca de 5 horas.

    Ao chegar em Rio Grande, pouco antes do meio-dia, a ansiedade para começar a pedalar já atingia o nível máximo. Rapidamente mas com muita atenção tratei de montar toda a bagagem na bike e após, apontar o caminho para o Taim no aplicativo Maps.Me.

    Dei uma conferida no caminho que o app indicava e tomei o rumo sugerido. Após rodar cerca de 10 kms, tive uma dificuldade com a navegação pois o app me indicava um caminho inexistente. Explico: Ao configurar o perfil de viagem como bicicleta, o app toma alguns caminhos alternativos que tendem a encurtar ou tornar a pedalada mais tranquila e é aqui que mora o perigo. No meu caso, o caminho alternativo passava por dentro de uma estação de tratamento de água, onde e proibido transitar, dando de cara com um grande portão com guardas que explicaram que antigamente tinha o caminho liberado mas atualmente não mais. Deu ruim!!!

    Por conta desta trapalhada, perdi cerca de uma hora de pedal, além é claro, de percorrer inutilmente 10 kms. Começamos bem! Or not.

    Depois de reconfigurar o perfil de viagem para automóvel no app, finalmente tinha um caminho mais claro para seguir, embora um pouco mais longo.

    Para estes primeiros dias o plano era manter um ritmo leve, prestando muita atenção na bike, nos bagageiros e cruzar o trecho inicial, entre Rio Grande e Chuí em três ou quatro dias, dependendo das condições climáticas, principalmente o vento.

    Sabendo que para o primeiro dia, teria pouco vento e previsão de chuva para o fim da tarde, tratei de rodar o máximo possível enquanto tivesse luz natural e antes da chuva.

    Por volta das 16 horas, já bem distante da cidade de Rio Grande, comecei a visualizar ao sul uma grande massa de nuvens negras e carregadas, esse era o sinal de alerta para que eu tratasse logo de encontrar algum lugar discreto e seguro na beira do caminho para acampar.

    Rodei por volta de uma hora mais até encontrar um pastinho escondido atrás de algumas árvores pequenas junto a rodovia.

    Nesta altura dos acontecimentos, o horizonte já apontava chuva e muitos relâmpagos.

    Tratei logo de montar o acampamento, fixando bem a barraca com todos os espeques. Também tive o cuidado de deixar todo o equipamento que não fosse utilizar para passar a noite, guardados nos alforjes e sacos estanques. Melhor prevenir, pois certamente a tempestade em qualquer momento iria me alcançar.

    Não demorou nem uma hora para começar a cair os primeiros pingos e logo na sequencia, uma pancada de água das boas com vento e muitas descargas elétricas que iluminavam tudo dentro da barraca, davam boas-vindas para minha aventura. Um bom teste para a barraca nova que estava sendo inauguranda debaixo de tempo ruim. Era o momento dela fazer jus ao nome Storm Break 2.

    A noite choveu bastante, mas como veremos adiante neste relato, nada comparado ao que aconteceu mais ao sul. Tive a sorte de pegar a tempestade de raspão.

    Distância percorrida no primeiro dia: 85 quilômetros.

    Segundo dia: Travessia subaquática do Taim e o bivaque das abelhas

    Entre a madrugada e o amanhecer, a chuva dera uma parada e com isso pude fazer meu café da manhã e com alguma tranquilidade, desarmar minha barraca que segurou bem o aguaceiro da noite sem molhar a parte interna, e também dei um jeito de montar toda a bagagem na bicicleta.

    Pouco antes das 8 horas, já estava pedalando rumo ao Taim.

    Era um momento de grande expectativa, afinal, estava realizando o sonho de cruzar a reserva Ecológica do Taim de bicicleta!

    Não demorou muito para a chuva, ainda que fraca, recomeçar e seguir caindo por toda a manhã.

    Foi um tanto frustrante pegar justo agora um clima ruim. Tinha planejado fazer muitas paradas no caminho para contemplar a fauna e flora do Taim e também, ao sair da área de proteção, acampar selvagem em algum cantinho bonito, fazer fotos e etc...

    Para completar o quadro desfavorável, a minha GoPro descarregou a bateria e com isso fiquei sem sequer fazer um registro mais completo da travessia debaixo de chuva.

    Início da tarde, já fora da área do parque, a chuva aumentou de intensidade, para minha sorte, não estava frio e após alguns minutos de pedal, encontrei uma parada de ônibus coberta, onde tratei de parar para esperar a coisa acalmar enquanto beliscava alguns biscoitos.

    Fiquei mais de hora parado e enquanto o tempo corria, e a chuva caia sem trégua. Aproveitei para dar uma estudada no caminho, usando o app IOverlander na esperança de encontrar algum lugar abrigado para montar acampamento. Descobri então que existiam dois posto de combustível pelo caminho até o Chuí. O primeiro fica por volta de uns 15 kms após o fim da área de preservação e o segundo 49 kms adiante.

    Assim que a chuva deu uma folga, tratei de tocar em frente até o primeiro posto. Lá tomei um café enquanto decidia se ficava por ali ou encarava os quase 50 até o próximo posto.

    Com a cafeína rolando no sangue, num rompante de ousadia misturada com uma pitadinha de imprudência, resolvi encarar a segunda alternativa pois se tivesse sucesso, no dia seguinte, com mais uma perna de oitenta e poucos quilômetros chegaria ao Chuí.

    O cansaço acumulado do dia anterior, somado ao clima chuvoso, fez com que meu rendimento do meio da tarde em diante caísse bastante. Olhava quase que o tempo todo para o odômetro e para a velocidade e ficava calculando quanto tempo ainda restava de pedal e a notícia não era boa: Para chegar ao destino escolhido, ter uma ducha quente e um lugar abrigado para dormir, deveria pedalar ao menos uma hora no escuro. Que dureza!!!

    Com frio, fome e cansado, na medida que o tempo passava, meu ritmo caía ainda mais e a escuridão da noite acabou por se estabelecer no meu caminho.

    Neste dia rasguei meu protocolo de cicloviagem no ítem que recomenda nunca viajar à noite. Não tinha muita escolha e o que me tranquilizava era saber que naquele trecho da rodovia o movimento de carros e caminhões é baixíssimo.

    Segui pedalando no breu da noite por quase duas horas até avistar as primeiras casas do povoado e com mais alguns minutos, apareceu a iluminação forte no horizonte noturno indicando aque o posto de combustível já estava no alcance.

    Cheguei quase às 20 horas, me arrastando e todo molhado. Que perrengue!

    Na lojinha de conveniência, a equipe do posto tomava um mate enquanto assistia TV. Entrei e perguntei se poderia acampar ali e como previsto, tive a resposta afirmativa. Perguntei se tinha algum lugar para tomar um banho e a resposta novamente foi afirmativa. Por fim, perguntei se o restaurante estava aberto ou se tinha algo para comer, mas por conta do horário, a resposta foi negativa. Tudo bem! Dois dos três problemas resolvidos já me deixavam muito satisfeito, depois de tudo que passei naquele dia.

    Mas se você leu tudo até aqui e acredita que os problemas acabaram, ledo engano.

    O pessoal do posto de combustível foi muito bacana, me emprestaram o chuveiro quente e me explicaram que eu poderia acampar no posto de polícia abandonado que fica ao lado.

    De banho tomado e roupas secas, fui armar meu bivaque na salinha escura que deveria ter 2x3 metros. Estendi meu isolante no chão e abri meu saco de dormir mas no momento em que coloquei desodorante, apareceram algumas abelhas. Não sei se atraídas pelo cheiro ou se pela luz da lanterna, só sei que elas vieram na minha roupa e eu num golpe único, ligeiro e sem pensar muito, entrei no saco de dormir, e fechei o mesmo completamente, como um casulo. Ainda assim, acabei levando ao menos duas hospedes para dentro. O resultado foram duas picadas, nos braços. Kkk

    Cansado, com sono e agora preocupado com as abelhas do lado de fora. Será que tinha um enxame dentro da sala? Como eu faria para sair daquela sala pela manhã? Foram tantas emoções...

    Por conta da preocupação com as abelhas acabei não dormindo direito.

    Distância percorrida no segundo dia: 98 quilômetros.

    Terceiro dia: Vento contra é ruim, mas vento lateral é pior.

    Acordei antes dos primeiros raios de luz e preocupado com as abelhas, liguei a lanterna para tentar localizar o suposto enxame e poder assim, escolher a melhor estratégia para dar o fora daquela situação.

    Para minha surpresa, todas as abelhas que apareceram na noite, estavam mortas no chão. Somente com os olhos de fora e a luz da lanterna, vasculhei o teto e paredes para ter certeza que não tinha um enxame na sala. O silêncio também era um bom indicativo, pois enxames sempre fazem um som característico.

    Amanheceu fazendo um pouco de frio. Tomei coragem e pulei para fora do saco de dormir quentinho, joguei todas as minhas coisas para fora da sala e comecei a arrumar a bagagem na bike.

    Após aprontar tudo para pegar a estrada, esperei até às 7 horas para poder tomar café da manhã no restaurante do posto de combustível.

    O dia, mais uma vez com cara de poucos amigos e o clima prometia céu nublado, frio e vento contra. Que delícia!

    Ainda que eu estivesse com certo cansaço acumulado dos dois primeiros dias, tanto pela falta de treino como pelas altas quilometragens, tinha firme o objetivo de terminar a travessia de Rio Grande ao Chuí neste dia. Faltavam 85 kms para chegar!

    Iniciei o pedal por volta das 8 horas, e sem grandes atrativos pelo caminho, para matar o tempo, ficava pensando nos destinos que me aguardam no Uruguai, Argentina e Chile.

    Por volta das 11 horas, o vento ficou de lateral e ganhou intensidade. Para minha sorte, ou, menor azar, as rajadas de vento me tocavam para fora da pista.

    Não parei para almoçar, apenas tomava água, de hora em hora fazia uma rápida parada para comer alguns biscoitos, tijolinhos de doce de banana para ir administrando a fome e a canseira do pedal contra o vento. A velocidade média não passava de 12 kms/h.

    Num dos muitos momentos de livres pensamentos, no início da tarde, lutando contra o vento que me jogava para fora da pista, me dei por conta que a batalha contra o vento e a monotonia da estrada estavam sendo apenas uma pequena amostra grátis do que virá pela frente, se eu conseguir chegar nas regiões mais austrais da Patagônia. È bom passar trabalho já de cara para não ter um trauma maior mais adiante. kkkk

    Às 16 horas cheguei na entrada para o Balneário Hermenegildo. Dali em diante, por volta de 15 kms me separavam do merecido pouso e descanço. Uma distância tão curta mas ao mesmo tempo, tão longa. Fosse pelo vento ainda mais forte, fosse pelo desgaste dos mais de 200 kms em três dias.




    Levei mais de uma hora e meia para completar o trecho final e tomando o rumo da Barra do Chuí, poder aportar no Camping Route 66 e dar por fim a primeira parte de minha jornada pelo extremo sul do Brasil e preparar o coração, a mente e a bicicleta para invadir o Uruguai, rumo à Patagônia.

    O plano era permanecer dois dias no Chuí pra fazer algumas compras, trocar moeda e descansar, porém a chuva não dava trégua e com isso acabei ficando quatro noites acampado na Barra do Chuí.

    Distância percorrida no terceiro dia: 87 km.

    A Aventura é agora!

    Domingo, dia 27 de outubro, dia de eleições no Uruguay, enquanto escrevo esse relato, aqui no camping em Piriápolis, depois de rodar quase 300 kms desde o Chuy, amanhã sigo em frente para chegar, se tudo der certo, em Buenos Aires no dia 2 de novembro, pois espero poder corresponder ao convite da galera do Massa Crítica de Buenos Aires e ocupar o espaço das bikes com os hermanos.

    Em breve, novo episódio cheio de coisas para contar.

    Dale!

    Cobertura Online

    Acompanhe a expedição Ciclotrekking também em nossa página com a Cobertura Online, escute nossos podcats e veja nossa localização em tempo real através do nosso rastreador SPOT Gen3.

    Edson Maia
    Edson Maia

    Publicado em 27/10/2019 13:02

    Realizada de 12/10/2019 até 14/10/2019

    1 Participante

    Ciclotrekking

    Visualizações

    4202

    7 Comentários
    Fabio Fliess 27/10/2019 20:44

    Buenas meu brother! Irado o relato, como sempre!!!! Aguardando os próximos! Soca a bota nesse pedal... Abraços.

    Renan Cavichi 28/10/2019 16:28

    Que perrengue meu amigo hahah! Acompanhando a trip e os podcasts! Demais! Bons ventos!

    Edson Maia 29/10/2019 08:00

    Fala meus brothers! Começamos a parada com algumas dificuldades climáticas que até são boas para antecipar o que pode vir pela frente na medida que as latitudes aumetarem...kkkk Vamos nessa! Aquele abraço!

    Douglas Dessotti 15/11/2019 15:50

    Muito bom . Acompanhando aqui 💪✌️

    Jackson Jorge 17/11/2019 09:40

    Show de bola, parabéns pela aventura inspiradora!

    Mascarenhas 22/12/2019 16:23

    belezura de relato, cara!👋👋👋 agora em 2020 vou descer pra Patagônia de magrela, e já imagino os perrengues da aventura 😄

    Alessandro Bastos 30/05/2021 21:55

    Showww demais reviver estes momentos Ed...Saudades irmão!

    Edson Maia

    Edson Maia

    Imbituba - SC

    Rox
    2002

    Um pouco cigarra. Um pouco formiga. Não necessariamente nesta ordem. Instagram: @ciclotrekking

    Mapa de Aventuras
    www.trekkingrs.com/ciclotrekking


    Mínimo Impacto
    Manifesto
    Rox

    Dri @Drilify, Renan Cavichi e mais 442 pessoas apoiam o manifesto.