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Everton Leite 26/04/2023 10:55 com 1 participante
    Escaladas na Região de Itatiaia

    Escaladas na Região de Itatiaia

    Três dias de escalada na Pedra do Picu, Parque Nacional de Itatiaia e Bosque das Paredes Ocultas

    Montanhismo Escalada Trekking

    Primeiro Dia

    A viagem foi para a região do Parque Nacional de Itatiaia, e ao longo do feriado iríamos escalar no parque e nos arredores. No primeiro dia o plano era visitar a Pedra do Picu, um monolito de 120 metros de altura que reina imponente na Serra da Mantiqueira próximo à tríplice fronteira RJ/MG/SP, no município de Itamonte, em Minas Gerais, cidade na qual ficamos baseados, numa casa muito aconchegante que o Bernardo conseguiu pra gente. Chegamos na casa na noite do dia anterior, e não tínhamos ideia de como o vilarejo era bonito e agradável, fato que tomamos conhecimento no dia seguinte quando saímos logo cedo, a pé mesmo, para pegar a trilha do Picu. Durante o café da manhã já tivemos um spoiler ao olhar pela janela e ver a montanha se destacando longe sobre a floresta.

    Bem perto do começo da trilha há uma envasadora de água mineral que fornece água boa para quem quiser pegar. Enchemos nossas garrafas e demos início à trilha, pontualmente às 8:08. A caminhada começa ainda na vila, próximo às casas. Assim que começamos a caminhar, pouco antes de entrarmos na mata, apareceu um companheiro canino que nos acompanhou durante todo o dia, que apelidamos carinhosamente de Simba por ser todo peludão e remeter vagamente a um leão. Nesse primeiro trecho, que levou cerca de meia hora, a trilha passa por uma pequena mata e chega num pasto todo florido subindo num ritmo tranquilo, que nos dá a falsa impressão de que a caminhada seria fácil assim até o final.

    Impossível o dia estar mais agradável

    Aos poucos fomos adentrando na floresta mais densa, passando inicialmente por caminhos mais largos por onde aparentemente ainda circulam veículos ou carros de boi vez ou outra, e que lentamente vai dando lugar a uma trilha mais fechada e cercada de árvores, porém ainda bem marcada especialmente pelo fluxo rotineiro das vacas. A alta densidade de árvores é uma característica das florestas da região, aparentemente. Ao mirar as florestas mais ao longe é difícil distinguir árvores individuais, parecendo um grande maciço verde de vegetação. Na primeira hora a caminhada ainda é leve, sem muita inclinação. Num determinado momento tomamos uma decisão errada em uma bifurcação e saímos da trilha, o que nos custou quase uma hora de atraso. Decisão essa, altamente influenciada pelo pavor aos bovinos que o nosso guia mais experiente e conhecedor do caminho possui. O caminho correto tinha ao menos umas três vacas e supusemos que aquela era só uma rota qualquer frequentada por vacas e bois e não levaria a lugar algum.

    A circulação de vacas pela floresta cria caminhos alternativos no mato, que nos enganavam a todo momento, sendo difícil saber se estávamos no caminho certo. Eventualmente a trilha foi se fechando, passamos por diversas vegetações com muitos espinhos e carrapichos, o que nos levou a pensar que estávamos fora da trilha oficial. Apesar de não parecer a rota correta para a base da escalada, resolvemos insistir pois a direção fazia sentido e não queríamos desperdiçar o esforço de ter andado até ali, até que a trilha desapareceu completamente, e decidimos dar o braço a torcer e voltar até o ponto onde acreditávamos ter cometido o erro. Nota mental: Sempre estudar a trilha apesar de ter alguém experiente no grupo. Voltar logo que desconfiar do erro pode poupar muito mais esforço do que imaginamos.

    De volta à trilha certa e para compensar o tempo perdido, tentamos imprimir um ritmo mais acelerado. Na segunda metade do caminho vemos a trilha se tornar cada vez mais íngreme, com trechos escorregadios entre bambuzais que dificultavam muito a progressão. A todo instante algum galho ou vara de bambú se metia entre a corda ou na mochila, e em certos momentos a passagem se resumia a um túnel por entre a vegetação em que a maneira mais fácil de passar era engatinhando. Logo o meu ritmo diminuiu junto com o da Luíza, e nos destacamos dos demais. Era uma parada a cada 10 passos pra recuperarmos o fôlego, tudo dentro da normalidade. Particularmente, nos sentimos como soldadinhos rastejando em guerra e nos questionávamos a cada 30 min de exaustão por que raios nos submetemos à esse tipo de situação. Não seria muito mais fácil cozinhar, beber e bater papo como pessoas normais normalmente fazem?

    Depois de 3 horas questionando frequentemente nossas escolhas de vida, chegamos à base da via que iríamos escalar, a Via do Naval, graduada em 3° IV E2, com um trecho de Vsup passível de ser feito em A0. A via possui 160 metros de extensão e é a mais clássica e utilizada para acessar o cume do Picu. Havia uma dupla na nossa frente que estava se equipando assim que chegamos, o que foi conveniente para descansarmos um pouco mais e fazer um lanche merecido depois daquela trilha trabalhosa. Decidimos que a primeira cordada seria formada pelo Bernardo, Aline e Érica, e eu e a Luíza seguiríamos atrás na outra cordada, pra não perdermos o costume.

    Simba atento enquanto nos equipávamos na base

    A via começa numa rampa de 2° grau com o primeiro grampo bem alto, a uns 25 metros do chão, mas é um trecho bem tranquilo e a rocha colabora com um mix de boa aderência e boas agarras que vão surgindo conforme vamos nos distanciando do chão. Após o primeiro grampo, a via cai numa horizontal para a esquerda, onde ainda é possível usar um friend pequeno para melhorar a proteção. Aqui fica o primeiro crux, num trecho onde é preciso desescalar alguns metros e fazer uma passagem lateral bem exposta para a esquerda, mas com boas agarras escondidas. Luíza, que não é muito de ter medo, ficou tensa nessa parte e até levou um escorregãozinho que garantiu mais uns roxos pra contar história. É um trecho relativamente técnico, que até me deu vontade de voltar e refazer de uma forma mais limpa. Vencido isso já damos de cara com a primeira parada. Daqui a vista já é surreal, com um visual incrível de todo o vale abaixo. Nesses momentos, já bate aquela leveza na alma, um leve arrepio de emoção e a gente lembra por que raios a gente se mete nessas “furadas”.

    Luíza no trecho de desescalada e horizontal

    Foi necessário mais uns minutos para respirar e recuperar as energias antes de continuar por conta do cansaço acumulado da trilha e do primeiro esticão, especialmente no lance de 4° grau que é um pouco exigente para os braços. A essa altura a cordada do Bernardo já estava chegando na segunda parada, e a Luíza assumiu a guiada da próxima enfiada, que é curta e tranquila, com agarras grandes que começam a predominar na parede. Chegando na P2 tivemos mais tempo para apreciar a paisagem, já que na terceira enfiada fica o artificial que naturalmente é demorado para ser feito, especialmente para o Bernardo que iria montar todo o esquema.

    Bernardo quase chegando no artificial, na seg da Aline

    Nunca havia feito artificial antes, então por isso ele deixou tudo montado com fitas e costuras, e tive só que usar os estribos improvisados e me puxar para cima. Foi bom sair da teoria e ver na prática como se faz. Após esse trecho e ainda na terceira enfiada há uma passagem meio em horizontal para a esquerda com boas agarras, bem aérea e exposta, onde se vê apenas a floresta lá embaixo e que deu um barato gostoso. Poucos metros acima e cheguei na P3, num platô gigantesco.

    Eu no platôzão da terceira parada puxando a Luíza

    Daqui até o cume restava apenas uma enfiada cheia, que a Luíza tocou na agilidade de sempre, e às 14h eu enfim estava me juntando aos demais no topo do Picu. A área do cume, notavelmente espaçosa, abriga um livro de registro para os que concluem a ascensão. Atingir o topo de uma montanha inacessível por outros meios que não seja a escalada é uma sensação extremamente gratificante.

    Os sorrisos de satisfação dizem tudo

    Deixando tudo devidamente registrado no livro

    Chegando ao topo, nos juntamos a três outros escaladores que haviam completado a escalada da via Frango a Passarinho, uma clássica e difícil via de 6° grau do Picu. Durante a descida, que normalmente é feita pela Naval, fizemos rapel junto com eles, compartilhando paradas e cordas e aproveitando para trocar ideias com os locais. Foi surpreendente quando um dos escaladores tirou uma tigela de poke da mochila como lanche de trilha. Esse rapaz do poke trabalha num restaurante nas redondezas, e garantiu que se a gente quisesse era só entrar em contato que ele agilizaria um delivery de poke pra gente. Pessoalmente, suspeitei que um poke, que consiste em peixe cru e outros ingredientes altamente perecíveis, estaria em perfeito estado depois de 3h de trilha e 2h de escalada. Mas confesso que estava muito bonito e deu vontade de experimentar (tanto que pedi um poke assim que cheguei no Rio).

    Terminado o rapel, que foi muito agilizado pelo nossos colegas da Frango a Passarinho, começamos a nos preparar para voltar para nossa casinha temporária. Se subir a trilha de aproximação foi complicado, descê-la não seria diferente. Em alguns momentos o skibunda era a melhor técnica para evitar os escorregões, que mesmo assim foram inevitáveis. Durante a maior parte da descida eu e a Érica fizemos a linha do devagar e sempre, ficando para trás porém minimizando as quedas. Luíza, com seu jeitinho desastrado de ser, conseguiu além de ir devagar, tomar muitos tombos. Bernardo e Aline dispararam na frente como sempre, mas em compensação era um tombo a cada dez passos. Uma vez ouvi o Jô Soares dizer “Como é possível alguém se perder na descida? É só ir descendo que uma hora você chega.”, e ele claramente não tinha ideia do que estava falando. Embora tenhamos errado algumas vezes no caminho de volta, não perdemos muito tempo dessa vez. Logo estávamos novamente no pasto florido, quase no pôr do sol. Ainda houve um momento em que nossos pés ficaram atolados na lama no trecho final da trilha, o que me fez lamentar não ter trazido minha bota. Finalmente, nove horas depois estávamos novamente enchendo as garrafas na empresa de água e voltando para casa.

    Araucárias e montanhas são sempre uma bela combinação

    A escalada é uma atividade que exige preparo físico que nem sempre temos, planejamento que nem sempre fazemos e dedicação que às vezes vem nem sei de onde, mas também proporciona recompensas indescritíveis, como a sensação de estar no topo de uma montanha, com uma vista privilegiada do mundo ao seu redor. No final das contas, o que importa é a jornada, os perrengues superados e as histórias para contar. E sem dúvida, a aventura no Picu foi uma dessas histórias memoráveis.

    Segundo dia

    O espanco do primeiro dia foi real. Preparar comida na noite depois da escalada do Picu foi de realidade à ilusão muito rápido, e acabamos pedindo uma pizza. Entre as opções do cardápio havia uma de pinhão, que o Bernardo fez questão de pedir pra gente experimentar. E ela não decepcionou. Tentamos nos recolher mais cedo, já que no dia seguinte iríamos ao Parque Nacional do Itatiaia e sairíamos cedo de casa para começarmos numa hora razoável.

    O plano era fazer o cume das Prateleiras, uma vez que não havia mais vaga para ir no Agulhas Negras quando fizemos a reserva. Apesar das tradicionais péssimas condições da estrada do parque, conseguimos ir de carro até o Abrigo Rebouças, o que foi um aconchego para as nossas pernas que ainda sofriam as dores do dia anterior. Passamos rapidamente no banheiro do abrigo e começamos a caminhada.

    A trilha até as Prateleiras é bem simples, principalmente quando comparada à trilha do Picu. No caminho vemos diversos setores de escalada, como o Paredão Carolina e o Paredão Amizade, e já fomos pensando no que poderia ser feito caso voltássemos cedo das Prateleiras. Essa trilha tem as melhores características que uma trilha pode ter: praticamente plana, bem sinalizada, com visuais deslumbrantes ao longo de todo percurso. Pra nossa sorte, o dia estava super aberto com um céu azul de ofuscar a vista e com o Agulhas sempre imponente nos acompanhando em todo trajeto. Tava tudo perfeito até que uma leve irritação surgiu na minha cabeça e percebi o quão chato é o tec-tec da ponta do bastão nas pedras. Resolvi guardar o bastão e o cenário ficou inteiro perfeito. O som desse silêncio especificamente, é um dos meus sons preferidos. Ele traz uma paz de espírito inigualável e sempre me lembra a musica “the sound of silence” quando penso nisso.

    A trilha, apesar de simples e prazerosa, exigia um mínimo esforço que talvez alguns de nossos membros não estivessem tão dispostos assim. Luíza e Érica já apresentavam sinais de cansaço evidentes nos primeiros quilômetros, tendo crises de riso a cada degrau de pedra que tinha que subir. Como diria Frejat: “E que você descubra que rir é bom, mas rir de tudo é desespero”. E era desespero mesmo, mas melhor rir que chorar. Bora tocar pra cima.

    Érica, Luíza e eu já na segunda metade da trilha

    Aline e Bernardo, apressadinhos na frente

    Chegando na base das Prateleiras, Bernardo deu início aos trabalhos de escalada do dia na via Sexto Sentido, uma esportiva bem técnica graduada em VIsup que fica de cara para quem chega, na Pedra do Ídolo. Enquanto ele se arrumava, um escalador local passou por nós e já adiantou que naquela hora da manhã, enquanto a via está na sombra, o grau sobe para um VIIa. Bernardo sentiu isso na pele, literalmente. A temperatura estava bem baixa com vento soprando constantemente, e a rocha parecia uma pedra de gelo, além de ser naturalmente abrasiva, criando uma combinação terrível para os dedos. Com o auxílio do clipstick improvisado com os bastões de caminhada, ele saiu minimamente protegido costurando já o terceiro grampo. Depois de alguns minutos de luta, ele chegou até acima dessa terceira proteção, mas as condições forçaram a desistência e ele desceu batendo queixo.

    Bernardo no limite do que a pedra permitiu

    Claramente não havia a menor condição de tentarmos entrar na via, tanto pela dificuldade quando pelo frio, então decidimos partir logo para a via do cume. O caminho mais utilizado é a Via Sul, que justamente por ser mais acessível tende a ter trânsito de turistas menos proficientes na escalada. Por isso sugeri de irmos pela Via Norte, que possui uma graduação parecida e é tão clássica quanto, porém menos frequentada. Pegamos o guia, vimos o croqui, a descrição da via e demos início. Como já estávamos na base da Sexto Sentido, a Norte começa bem ao lado à esquerda. Por ser uma via bem tradicional e antiga, os grampos são quase inexistentes e a via percorre os blocos naturais de pedra tentando seguir uma linha orgânica, o que torna a navegação complicada. Com isso, nos perdemos logo no primeiro terço da via. O caminho que o guia citava não parecia óbvio e quando tentamos improvisar acabamos em pontos sem saída.

    Perdidos na Via Norte

    Uns tentando achar a via, outros tentando segurar o riso

    Depois de pelejar por algum tempo vimos que não ia dar em lugar nenhum e resolvemos voltar ao início e decidir o que faríamos. De volta à base das Prateleiras, tínhamos a opção de fazer a Via Sul ou procurar uma escalada mais certa, ou ainda tentar fazer os dois. Como já passava de meio dia, julgamos mais prudente fazer o que seria garantido, e optamos por ir para o Paredão Amizade, que possui duas vias curtas de 4° grau em aderência. Infelizmente não faríamos o cume das Prateleiras.

    Pegamos a trilha de volta para o Rebouças para acessar o próximo local de escalada. Depois de 30 minutos na trilha chegamos no ponto de sair do caminho principal e ir em direção ao Paredão Amizade. A parede é visível da trilha e a princípio parecia ser uma travessia simples de uns 200 metros de mato. Até o rio que encontra-se no meio do caminho o mato segue na altura da cintura e é bem tranquilo de ser vencido. Dali em diante o panorama mudou bastante, com o mato ficando cada vez mais alto até o ponto de ultrapassar nossas cabeças. Apesar do terreno estar completamente seco, esse mato me lembrou muito a vargem alagada do sítio de Miracema, e a cada passo meu instinto e minha memória me faziam pensar que meu pé iria afundar na lama que não existia, mas por sorte o problema foi apenas o mato alto cortante. Acho que eu e Érica fomos os únicos a ter uma boa relação com esse vara mato. Eu que guardo uma memória afetiva com esse tipo de ambiente e a Érica adorou a experiência de passar por isso uma primeira vez. Já o Bernardo teve uma farpa enfiada no dedo, a Aline ficou levemente claustrofóbica no meio do mato fechado e levou alguns cortes e arranhões, a Luíza se apoiou algumas vezes nos matos com espinho e guarda alguns até hoje nos dedos.

    O ponto preto atrás de mim é cocuruto da Luíza

    Depois da batalha que foi vencer essa macega, Luíza e Érica acharam melhor não escalar e resolveram ficar tranquilas na base. Com isso, Bernardo, Aline e eu fechamos uma cordada de três na via Amizade. Ela é graduada em 3° IV E2, e é melhor protegida do que a outra via da parede, a Surpresa. Bernardo guiou a única enfiada de 45 metros e eu fiz a sua segurança enquanto a Aline tirava um cochilo na cama de mato que ela improvisou. “Se eu dormir, puxa a corda que eu acordo.” Na minha vez, levei as mãos para o céu e agradeci por não ter precisado guiar, já que ela possui diversas passadas delicadas, ou ao menos foi o que eu achei considerando todo o cansaço acumulado. Apesar disso, é uma via bem prazerosa de fazer, numa aderência cheia de abaulados e por vezes completamente lisa sem nada para as mãos, do jeito que satanás gosta. Depois de mim a Aline, braba como sempre, subiu de boas.

    O quão poético é fazer uma via chamada Amizade numa viagem entre amigos?

    Apesar de lenta, a varação de mato para retornar à trilha principal foi menos traumática do que na vinda, já que ninguém estava afim de se arranhar nem se cansar além do necessário. Aline e Bernardo estavam resolvidos a dar um mergulho nas águas gélidas da Cachoeira das Flores, que fica próxima ao abrigo. Enquanto eles davam um tiro pra chegar lá mais rápido e com o corpo quente, eu, Luíza e Érica seguimos o caminho de volta na maciota, até porque subir os eventuais degraus de pedra da trilha já se provava dificultoso a essa altura.

    Se olhar bem dá pra ver os dois tomando coragem

    Depois disso seguimos de volta até o carro, uns de corpo e alma lavados, outros de corpo e alma cansados. Impossível não mencionar o Agulhas Negras, o bonitão do parque, que mesmo sendo visto só de longe era capaz de exibir toda sua imponência a todo instante que levávamos os olhos em sua direção. Mas ele que me aguarde, pois voltarei, e dessa vez para ver o PNI do seu ponto mais alto.

    Terceiro Dia

    O último dia seria curto. Tínhamos horário para chegar de volta no rio e precisaríamos pegar a estrada de volta 11:30. Por isso, o destino foi o BPO, ou Bosque das Paredes Ocultas, que fica em Queluz e possui mais de 60 vias esportivas a partir de 5° grau. Acordamos cedo no pique de arrumar a casa, já que não voltaríamos mais. Aproveitei minha insônia do dia anterior para matar o máximo de tarefas que pude, então sobrou menos coisa para fazer de manhã.

    Último registro na casinha

    Tocamos então para o BPO, que fica a uns 40 minutos da casa e fica no caminho de volta. A aproximação foi bem tranquila, levando no máximo 10 minutos. E adivinha? Novamente apareceu um cachorro para nos acompanhar durante o dia, que apelidamos de Tobias. Tínhamos algumas informações sobre o local à mão, e começamos a procurar os setores mais fáceis. Para nossa desagradável surpresa, boa parte dos setores estava molhada, e sem melhores informações paramos numa via de 7a.

    Tobias rapidamente descobriu que a corda era mais quentinha que o chão gelado

    A via começa fácil até a segunda proteção, e olhando de baixo parecem haver boas agarras mais acima na parede, que na verdade são todos abaulados. Bernardo firmou uma briga ferrenha com a via por mais de 40 minutos, que no fim precisou ser vencida com ajuda de estribos improvisados para passar o provável crux. Na descida ele montou o top rope nos próprios grampos, já que era certo que nenhum de nós conseguiria fazer toda a via para limpar no final. Apesar disso, todos fomos até a metade da via, que tem movimentos interessantes e factíveis.

    O que sobrou do Bernardo depois da briga

    Durante as tentativas, chegaram outros escaladores com mais conhecimento do local e nos indicaram uma via mais simples que estaria seca, a Sequinha, de nome bem sugestivo. Enquanto eu, Luíza e Érica tentávamos o 7a, Bernardo e Aline foram abrir a Sequinha. Essa sim foi gostosa de fazer. Ela é um Vsup com um crux em oposição que não se encontra todo dia. Se passar com o beta já foi difícil, imagino para a Aline descobrir na hora como fazer. Mais acima há outro crux mais complicado, e acho que todos pularam o lance pela costura. No geral, é uma via técnica, mas sem exagero, com um lance de força no final, bem no nosso nível mesmo.

    Teria sido ótimo ter feito mais vias no BPO, porque o lugar é bem bacana, mas nosso horário bateu e tivemos que retornar. Na volta para o Rio ainda passamos no Madero para almoçar, que estava no nosso imaginário desde a vinda.

    Escrito em colaboração com a Luíza

    Everton Leite
    Everton Leite

    Publicado em 26/04/2023 10:55

    Realizada de 21/04/2023 até 23/04/2023

    1 Participante

    Luiza Bastos Ribeiro

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    Everton Leite

    Everton Leite

    Rio de Janeiro

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