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CARTA DE UM MONTANHISTA PARA SUA ESPOSA

    Autoria : Cristina Ares

    Bia na Trilha
    17/05/2023 00:42

    CARTA DE UM MONTANHISTA PARA SUA ESPOSA Meu amor, vou para a montanha novamente e vejo nos seus olhos a reprovação silenciosa de te deixar sozinha...

    Não me julgue, não é que eu não queira estar com você, mas sim que eu preciso estar comigo mesmo, mas eu sei, que por mais que você insista em tentar entender a ângulo que me embarca para a montanha, você nunca poderá compreender...

    É que eu sinto na alma esse amor por espaços abertos, por tocar nas pedras, na fogueira e na aventura. Preciso de um lugar longe, com água e vento.

    Quero me sujar, descuidar da minha aparência, sentir o cansaço, queimar o sol meu rosto, congelar a gelada e passar frio. Quero ver um rio, plantas, animais selvagens, flores silvestres, neve, gelo, lama, pedras...

    Quero sentar e rir com meu parceiro de escalada, quero sentir saudades e imaginar você esperando meu retorno. Eu minto pra mim mesmo e digo que essa será a melhor saída para a montanha que eu vou realizar na minha vida... embora eu saiba que na próxima, eu volto a dizer a mesma coisa... E já no acampamento...

    Estou feliz. bengala na mão e ver o cume que me hipnotiza.... é uma paz única. Às vezes sinto que nasci em épocas erradas, onde o triunfo do homem é medido em plásticos de cartão de crédito, onde o frio é regulado por um termóstato e o calor do verão não existe quando acender um ar condicionado. Nasci em uma época de traições e lutas por uma conta bancária, onde tudo se compra e venda. Mas quando escalo, meu amor, me afasto deste mundo de buzinas, de fugas venenosas, me afasto do conforto, do luxo e da televisão que idiotiza.

    Eu posso aceitar as regras do jogo, sou civilizado o suficiente para viver neste espaço louco, mas deixe-me escapar de vez em quando. Amo minhas botas, meus arnes, meu capacete e cordas, porque elas são o brinquedo que me transporta para este grande jogo na montanha, e peço-te que não vejas nelas um instrumento de morte, porque elas são de vida... Nunca me sinto mais vivo do que quando as empunho atrás de uma via.

    E verás que quando eu não puder mais fazer isso, estarei sentado ao sol, onde me ponham as mãos carinhosas dos nossos filhos ou as tuas, e um sorriso distante será desenhado nos meus lábios ressecos. Não pense que é a velhice inevitável, mas que estarei lembrando de alguma saída para a montanha.

    E se me visses abatido e sozinho, entediado na minha cadeira, coloque nas minhas mãos o meu arnes ou o meu capacete a minha bengala gastada, ao tocar-lhe e rasgar as suas formas de aço, transportar-me-ei no tempo verás então que minhas mãos apertarão o velho parceiro tentando recuperar esses momentos já idos..

    Talvez seja, meu amor, que hoje eu vou para a montanha, para poder guardar esses momentos... e assim poder viver feliz... no amanhã...

    Autoria : Cristina Ares

    Foto Ilustrativa (a original não tem tamanho compativel para o post)

    Publicação de Conquistadores de lo inutil

    Pedimos desculpas pelo caso à autora porque durante muito tempo esta carta foi involuntariamente adjudicada ao antigo colaborador Perico Star que nos enviou.

    2 Comentários
    Felipe.rocha79 21/05/2023 23:38

    Textaço 🤘🏼🥾⛰️

    1
    Bia na Trilha 02/08/2023 20:26

    Exatamente como é,né

    1
    Bia na Trilha

    Bia na Trilha

    SP

    Rox
    349

    Não importa se vc vai devagar contanto que não pare!

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