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Volcan Láscar - Atacama
Subida à cratera do vulcão Láscar, o mais ativo no norte do Chile.
Montanhismo Trekking Alta MontanhaO deserto do Atacama é um lugar fantástico. Indescritível muitas vezes. Estive com a esposa durante uma semana lá e, respeitando uma aclimatação progressiva, reservei o último dia para subir um vulcão em altitude. Na região há muitos, dezenas de vulcões cujos cumes se concentram numa faixa de 5.000 a 6.000 metros.
Originalmente subiria o Cerro Toco, com cume a 5.600m, partindo de uma base aproximada de 5.200m. O desnível não é tão grande, mas sempre deve se respeitar uma subida em altitude, ainda mais considerando as condições locais, como a variação de temperatura e, obviamente, a baixíssima umidade (o deserto do Atacama é o 2º local, em média, mais seco do planeta, só perdendo para a Antártica).
Nos hospedamos em San Pedro de Atacama (2.400m) e organizei os dias para subir gradualmente a altitude, além de possibilitar o máximo de passeios para a esposa grávida. A progressão ficou desta maneira: 2.400, 2.400, 3.600, 4.100, 4.200 (estes dois últimos dias fui sozinho). No sexto dia seria o “ataque” ao vulcão. Fizemos todos os passeios de van com uma agência local (tem muitas na vila), no esquema bate-volta.
Alguns passeios realizados
Tudo estava correndo bem até a véspera, no dia seguinte iria acordar umas 7h30, sem pressa, tomar um bom café da manhã no hotel a partir pro Cerro Toco. Então recebi uma mensagem da nossa agência às 20h57 (sim, 3 minutos antes de todas agências fecharem) dizendo que ocorreu algum problema com o guia e não haveria guiada para o Cerro Toco, só iriam para o Vulcão Láscar e a van passaria entre 5h e 5h30 da manhã.
Pelo pouco que sabia, o Láscar era um vulcão mais distante, e mais difícil. Até tentei ver se teria o Cerro Toco com outra agência, uma respondeu que não, e como passava das 21h não conseguiria mais nada. Aceitei o Láscar, e tentei dormir. Claro que não tive o melhor sono por conta dessa pequena ansiedade inesperada rs. O Láscar também tem um cume na casa dos 5.600, mas o trajeto é mais longo, e parte de uma base mais baixa.
No dia seguinte o guia passou no hotel só por volta das 6h15, com algum atraso. No seu 4x4 tinham mais 3 brasileiros e 1 indiana. Depois de 1h30 de estrada rumo a sudeste paramos na belíssima Laguna Lejía para tomar o café da manhã. Ali tinha mais uns 5 grupos de outras agências que iam subir o Láscar. Mais uns 20 minutos de estrada de terra, já bem mais precária e chegamos até onde o carro conseguia subir. No meu app de altímetro (que tem uma precisão de +/- 20m) marcava 4.850m.
Café da manhã neste cenário
Após se equipar com capacete (pelo risco do vulcão expelir algum material, já que o Láscar é o mais ativo do norte do Chile),bastões de caminhada e complementar as roupas de frio, iniciamos a subida. Estávamos em 9 clientes (8 brasileiros e 1 indiana) e 2 guias. Com o guia principal na dianteira e a guia-assistente por último caminhamos bem devagar, um ritmo tranquilo para a caminhada que deveria durar umas 3h. Após poucos minutos vimos descendo uma cliente de outro grupo que desistia, uma idosa que claramente não tinha noção de onde estava se metendo. Mais uns 15 minutos e uma moça de nossa “equipe” também começava a sentir a subida. Ela ainda tentou mais um pouco, mas também desceu. A guia-assistente a acompanhou até o carro, enquanto eu assumia o fim da fila. Depois de uns 50 minutos do início paramos para descansar um pouco, tomar e comer algo. Aproveitei pra tirar água do joelho. Nesse ponto apareceu mais um brasileiro de outra agência que se juntou a nós, pois o restante da pequena equipe dele tinha desistido e eles só tinham um guia.
Outros 50 minutos de pernada e paramos novamente. Em nossa equipe todos tinham alguma base aeróbica. 3 capixabas praticavam corrida, 3 catarinenses praticavam ciclismo de estrada e eu que tento subir montanhas sempre que possível. A indiana, cuja experiência desconheço, estava com dificuldade, mas continuou. No último trecho de caminhada estávamos divididos em dois grupos, e dessa vez segui na turma da frente. Quando estávamos a poucos metros do fim da caminhada o guia disse que na semana anterior um alemão inventou de subir por um outro lado do vulcão e na volta faleceu após um infarto (aconteceu de fato, dia 4/11/24), e por isso só seria permitido chegar até a beira da cratera do vulcão, a 5.500m. Depois a outra guia disse que em 2022 o vulcão entrou em erupção enquanto um guia levava alguns clientes (também ocorreu, de fato, e há um vídeo impressionante no Youtube), por isso não podíamos chegar no cume real, somente 100m acima, numa trilha à direita.
Estava me sentindo muito bem, com vontade de chegar ao cume, mas não era permitido, e havia mais uns 3 grupos neste ponto final, então ficamos por ali mesmo. O tempo da subida ficou em umas 2h45. O vento, que sempre é um fator a se considerar numa ascensão desta, estava um pouco mais forte neste ponto, mas nada que preocupasse. O guia fez uma medição que indicou um vento de 75km/h, estranhei porque parecia uma brisa comparada ao que tinha pegado no mesmo ano no Huayna Potosi. Uma pausa mais longa para fotos, água, etc. e começamos a descer. Na descida cada um foi no seu ritmo. Os mais apressados chegaram após somente 30 minutos (praticamente correram). Também dei uma acelerada, só parei para curtir mais o visual, tirar umas fotos, e cheguei em 40 minutos. Logo chegaram os demais e voltamos, todos bem.
Depois dessa experiência ficou a vontade de subir o Licancabur, que chega a quase 6.000m, e é o vulcão mais destacado em San Pedro de Atacama, além de ser um triângulo perfeito sob qualquer perspectiva, muito bonito. Caso volte, poderei usar o Cerro Toco para aclimatação.
Que aventura , Pilo ! Que venham muitas mais 👏👏👏