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Fernanda Merolla 08/30/2020 18:59
    Travessia da Juatinga • Paraty • RJ

    Travessia da Juatinga • Paraty • RJ

    Travessia de Ano Novo na REEJ - Reserva Ecológica Estadual da Juatinga, extremo sul do estado do RJ. Alguns trechos foram feitos de barco.

    Trekking Camping Waterfall

    CONTEXTO

    Eu e mais cinco amigos fechamos de dar a volta na Reserva da Juatinga em Paraty no Ano Novo de 2015/2016, pois tínhamos ficado encantados com o lugar que conhecemos no ano novo anterior, que passamos na Praia do Sono. Dessa vez a ideia era explorar toda a reserva e passar pelo máximo de praias, começando pela Praia Grande da Cajaíba e chegando para o ano novo no Sono (a praia mais ao sul da reserva e uma das mais próximas de SP).

    No final das contas, nos arrependemos um pouco, depois de conhecer a Praia Grande que é um lugar maravilhoso, bem mais vazio e com ano novo bem mais tranquilo, assunto que vou voltar a falar no relato.

    A Península da Juatinga é onde a Serra do Mar de fato encontra o mar criando uma incrível sociobiodiversidade a partir da integração de ecossistemas de praia e montanha e da presença da população tradicional caiçara (indígenas e quilombolas também). Os caiçaras, população originada da miscigenação entre indígenas, negros e portugueses, ocupam e preservam historicamente a região do litoral sudeste ao sul, resistindo hoje apenas em poucas áreas como em Paraty. Lá, no entanto, eles não escapam da pressão da especulação imobiliária e de outros conflitos socioambientais que transformam seu modo de vida, entre eles o próprio turismo predatório.

    Nós como turistas nesses espaços, precisamos saber respeitar a população, a cultura local e o território. No ano novo a praia do sono chega a receber 10.000 turistas, o que sobrecarrega o sistema ecológico e social causando diversos problemas socioambientais. Se puder converse com os caiçaras, se interesse pelas questões do território e da cultura... Falo isso porque já fui lá muitas vezes e vi muito pessoas que estão ali totalmente alheias, agindo sem pensar no local onde estão (desde deixar latas de cerveja no caminho da trilha até fazer raves e soltar fogos).

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    ROTEIRO

    º Dia 1 - 26/12/15 - sábado
    RJ x Paraty (baldeação) x Praia Grande da Cajaíba (2h de barco)

    º Dia 2 - 27/12/15 - domingo - Praia Grande

    º Dia 3 - 28/12/15 - segunda-feira
    Praia Grande x Ibijiquara (barco) x Sumaca (2km de trilha)

    º Dia 4 - 29/12/15 - terça-feira
    Sumaca x Martim de Sá (+ - 3,8km de trilha)

    º Dia 5 - 30/12/15 - quarta-feira
    Martim de Sá x Ponta Negra (barco)

    º Dia 6 - 31/12/15 - quinta-feira
    Ponta Negra x Saco Bravo (trilha de 4,2km / 2h)
    Ponta Negra x Sono (trilha de 3,8km / 2h, passando pelas praias de Galhetas, Antiguinhos e Antigos)

    º Dias 7, 8, 9, 10 e 11 - 1 a 5/01/2016
    Praia do Sono x Vila Oratório (trilha de 3km)
    Paraty x RJ


    Segue um mapinha humildemente feito no Google Earth pra visualizar melhor:

    IMPORTANTE

    º A Reserva da Juatinga é acessível de barco (Cais dos Pescadores/Ilha das Cobras em Paraty ou em Paraty Mirim), e pela trilha Vila Oratório x Praia do Sono. Também é possível fazer a travessia do Saco do Mamanguá para a Praia Grande (trilha bem pesada).

    º A infra-estrutura da reserva é bem simples em relação à camping, cozinha, iluminação (na época desse relato ainda não havia chegado luz elétrica nas praias, o que aconteceu em 2017).

    º Conheça as iniciativas de Turismo de Base Comunitária TBC (Saneamento Ecológico na Praia do Sono, Instituto de Permacultura Caiçara [IPECA] no Pouso da Cajaíba e etc.)

    º Média de preço de camping em alta temporada: R$15 a R$25 (claro que tem aqueles hipervalorizados). Média de preço de um PF: R$ 20 a R$ 35.

    º No verão chove MUITO na região da Costa Verde, não se esqueça disso quando for arrumar o mochilão.

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    RELATO

    Dias 1 e 2 • 26 e 27/12/15

    Partimos bem cedo do RJ para fazer a longa baldeação até Paraty, mas que acaba saindo metade do preço de uma passagem comprada na rodoviária. O roteiro é RJ x Itaguaí x Conceição de Jacareí x Angra dos Reis x Paraty. Tudo foi como planejado e chegamos no fim de tarde no Cais dos Pescadores procurando barco. Ir pra Praia Grande de lancha demora cerca de 40min., custa uns R$ 50 se encher a lancha (umas 5 pessoas e bagagens talvez). Mas também tem barcos maiores que são mais lentos no entanto são mais baratos e cabem mais gente. Fechamos com os barqueiros (e se não me falha a memória com outras pessoas indo pra PG no cais) por R$ 30 e demoramos umas 2h pra chegar, já quase anoitecendo.

    A Praia Grande já foi o lar de mais de 40 famílias, hoje, no entanto, só duas resistem após diversos conflitos com um grileiro de terra que quer expulsar todas as famílias e desenvolver empreendimentos imobiliários na praia que afirma ser dele.

    Como já chegamos no escuro, a família da Dona Dica (importante liderança e resistência caiçara) deixou a gente dormir no quiosque da praia mesmo, sem ir pro camping dela que fica mais pra dentro da floresta. De manhã nos levantamos bem cedo. O lugar era tão lindo que não conseguimos ir embora no dia seguinte de acordo com nosso cronograma, então dia 27 só exploramos a PG e fomos em uma das suas cachoeiras.

    Com a falta de luz elétrica, acabou que tirei pouquíssimas fotos dessas viagem, uma delas foi dessa cachoeira e do rio que desagua na praia:



    Dias 3 e 4 • 28 e 29/12/15

    Como começamos a nos atrasar em nosso roteiro, os caiçaras nos deram a dica de ir de barco até a Ibijiquara (uma minúscula comunidade que é praticamente um cais) e de lá fazer a trilha para Sumaca, ao invés de atravessar as praias de itaoca, calhaus, panema, pouso da cajaíba para aí começar a trilha para Sumaca. Não lembro quanto foi a lancha, mas não demorou. Na Ibijiquara a galera até deu um mergulho antes de seguirmos a trilha:

    A trilha é relativamente pesada, principalmente por causa do peso de comida que ainda era grande (como viajamos no modo roots, não contamos com dinheiro para ficar comendo PF nos quiosques que custam no mínimo uns R$ 25. As trilhas no geral são parecidas, com muito sobe e desce, alguns trechos planos seguindo curva de nível e a travessias das próprias praias.

    A Praia da Sumaca dispensa comentários, e é uma das mais roots de toda a reserva, só tem um único morador, o Seu Manequinho, que dispõe de um camping e quiosque. Demos nosso rolê por lá e passamos à noite, no dia seguinte nos preparamos para fazer a trilha para Martim de Sá, também de dificuldade considerável tendo em vista o sobre e desce e o peso, mas o visual e a atmosfera do lugar dão um gás especial para seguir. Não tenho muitas lembranças de Martim, e nem fotos, mas lá também só há o camping da família do Seu Maneco (outra importante liderança, que faleceu recentemente [agosto de 2020]).

    Dias 5 e 6 • 30 e 31/12/15

    Dia 30 chegamos à conclusão que se continuássemos a travessia de trilha não iríamos chegar a tempo do ano novo na Praia do Sono, porque depois de Martim a travessia continua com uma trilha difícil de 5,3km para o Cairuçu das Pedras e outra de 6,5km para Ponta Negra, praia já bem próxima do Sono. Então decidimos ir de barco de Martim para Ponta Negra, o que foi bem triste pois o trecho para Cairuçu e Ponta Negra é um dos mais bem preservados de toda reserva.

    A Ponta Negra é uma das praias mais populosas da reserva e foi a única que não ficamos em camping, pois fizemos um desenrolo com a Dona Branca, do camping da Branca. Fechamos baratinho um tipo de quartinho meio sóton mas que de qualquer forma só pelo colchão já foi um luxo, dormimos muito bem, até demais para o que tínhamos planejado no dia seguinte, o dia do Ano Novo.

    Na manhã do dia 31 compramos vários peixes com os pescadores e essa seria nossa ceia para mais tarde. O plano era fazer um bate e volta para o Saco Bravo, uma cachoeira que desagua no mar e é um dos grandes atrativos da reserva, e depois partir para a praia do Sono. Ou seja, uma trilha que ida e volta tem 8km e depois outra de mais 3km, e ainda curtir o ano novo no fim de tudo isso haha.

    Como dormimos muito saímos meio tarde, mas partimos para o Saco Bravo. A trilha é linda e também é um trecho bem preservado, apesar de longa não dá pra se perder e tem vários checkpoints no meio do caminho. Segue fotos da galera descansando no primeiro trecho da trilha que é um subidão e da cachoeira:

    Dado o rolê do Saco Bravo, voltamos sem enrolar muito para preparar nossa peixada e comemos muito bem, arrumamos tudo que precisávamos e partimos para o Sono já no final de tarde e uma ameaça de chovisco. A trilha passa pelas praias de Galhetas, Antiguinhos e Antiguinhos, com sobe e desce de morrinhos entre elas, até que é suave, mas como anoiteceu e ficamos com luz de poucas lanternas, demoramos mais.

    Mas foi uma adrenalina engraçada estar nessa missão correndo contra a hora do ano novo. Passamos na praia de Antigos, que é desabitada e nem se pode acampar e tinha um grupo lá no escuro no meio do mato fazendo fogueira e nos desejamos feliz ano novo. No último trecho da trilha, a grande Praia do Sono é avistada do alto do morro. Lá vimos muitas luzes, sons, presença, e ali eu senti um incômodo de ter saído de lugares tão tranquilos para estar no fervo da galera. Queria ter feito a travessia ao contrário haha.

    Chegamos quase 9h da noite no caos humano, montamos uma barraca em um camping aleatório e jogamos todas as mochilas dentro. Deu tempo de dar um jeito de tomar um banho, comer um pastel e contar os segundos. Lembro que nesse ano teve um caô com fogos que explodiram nas pessoas. E também lembro, claro, da tradicional fogueira gigante de ano novo e das pessoas correndo em volta dela. Encontramos outros amigos que estavam lá e nos juntamos com eles.

    De resto...

    O resto do plano era curtir os próximos cinco dias no Sono e ir embora num dia de semana, deixar passar o fluxo e o trânsito bizarro de fim de feriado na BR-101. O dia 1º foi clássico de morgação na canga depois do ano novo. Depois disso choveu muito e constantemente todos os outros dias, do nível que não dava pra sair da barraca nem pra fazer xixi. Só no dia 5, que fomos embora é que parou de chover. A trilha para Vila Oratório estava encharcada e exigiu muito cuidado, o único jeito era ir descalços.

    Essa foi uma das melhores viagens que fiz, mas estou até hoje devendo repetir essa travessia dessa vez totalmente de trilha e conhecer o remoto Cairuçu das Pedras.

    Fernanda Merolla
    Fernanda Merolla

    Published on 08/30/2020 18:59

    Performed from 12/26/2015 to 01/05/2016

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    Fernanda Merolla

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    Rio de Janeiro - RJ

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