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Fernanda 23/07/2019 17:54
    Caminho de Santiago de Compostela - Dia 01 SJPP a Pamplona

    Caminho de Santiago de Compostela - Dia 01 SJPP a Pamplona

    05 Maio 2019 - De Saint Jean Pied Port a Pamplona

    Cicloviagem

    Dia 05 de Maio de 2019. ♥ Dia 1 de pedal!

    Mais uma noite com alguns cochilos e despertei as 3h da manhã. Como dormir sabendo que dali a poucas horas eu estaria, finalmente, pedalando no Caminho de Santiago de Compostela? Impossível pegar no sono novamente. Por volta das 6h30 descemos para preparar o café da manhã, lanche para o dia e seguimos para o caminho.

    3°C com sensação térmica de 1°C e...que frio! Fomos para a saída da cidade pelo "Porte d'Espagne" e seguimos encarar o Pirineus, mas o que seria isso que tanto se fala?

    Pirineus é uma cordilheira que se estende por mais de 400km de extensão entre o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo, formando uma fronteira natural entre Espanha e França, limite da Península Ibérica. Para quem gosta de ciclismo, já deve ter ouvido falar dessa cordilheira, pois algumas etapas do Tour de France ocorrem nas subidas mais difíceis dos Pirineus. ♥

    Esse trajeto do Caminho de Santiago pelos Pirineus é conhecido como Rota de Napoleão. A maioria dos peregrinos escolhe fazer a subida por esse trajeto por conta das belezas naturais que encontra pelo caminho. Porém no inverno e meias estações, se o clima não está propicio, os moradores locais e a Oficina do Peregrino em Saint Jean Pied Port indicam o peregrino ir pela Rota Valcarlos (a estrada asfaltada cheia de curvas que já havíamos passado de ônibus para chegar a Saint Jean) pois o tempo nos Pirineus pode mudar inesperadamente com tempestades de neve e colocar em risco os caminhantes.

    Encontramos muitos peregrinos pelo caminho e seguimos pela estradinha, sempre subindo, com os encantos da paisagem verde de início de Primavera e uma névoa fria para nos lembrar que no Pirineus o clima é imprevisível sempre.

    Uma curiosidade, logo nos primeiros km avistei uma casinha de madeira com uma "Food Machine" (daquelas maquinas que tem saco de salgadinhos, refrigerantes e chocolates que são liberados com moedas e cédulas de dinheiro) no seu interior. Percebi então que há grande preocupação com a estrutura de alimentação e hidratação para o peregrino ao longo do caminho.

    Seguimos subindo e o clima esfriando cada vez mais, então com as mãos bem agasalhadas, acabei tirando poucas fotos desse trecho inicial de 5km até o Refuge de Huntto e depois pelos 3k seguintes até o Refuge Orisson. Porém, apesar dos poucos registros, nesse trecho conhecemos vários brasileiros: A Márcia, peregrina de Uberlândia que com muitos sorrisos estava sempre nos incentivando e fotografando para mostrar para os amigos que ser ciclista no caminho de Santiago é bem mais difícil que peregrino. *risos* Obviamente discordei dela, pois não consigo fazer as longas caminhadas que eles fazem com a mochila nas costas. O Leonardo e sua esposa, casal de Campo Grande, que em certo ponto da subida de terra surgem no meu caminho. Eu estava empurrando a bicicleta e, de repente, sinto que ela ficou mais leve. Pensei: "Uai, o que houve?" Olho para trás e lá estava o Leonardo empurrando os alforges para me ajudar. Sim, existem anjos pelo caminho. ♥ O Pedro, ciclista de Jundiaí que dividiu chocolate comigo no meio da subida e seguimos conversando até o Refuge Orisson. O Francisco, pernambucano de Ouricuri que acompanhava o Pedro e seguiu com a gente até Santiago de Compostela. ♥

    No Refuge Orisson paramos para carimbar a credencial, comer um lanche e tomar algo quente para esquentar o corpo: meu primeiro café com leite no Caminho (depois desse vieram dezenas... *risos*)!

    Ficar parada estava me deixando com muito frio e comecei a tremer demais, então deixamos o Pedro e Francisco no Refuge Orisson e seguimos pedalando para ficar o menor tempo possível parados. A partir desse ponto a temperatura estava muito baixa e o vento não dava trégua.

    Saindo do Refuge Orisson, continuamos subindo e, aproximadamente 3k a frente, avistamos a imagem da Virgem de Biakorri, também conhecida como Virgem dos Pastores ou de Orisson. Preciso falar que chorei? Na verdade nem vou relatar todas as vezes que me emocionei nessa viagem, pois vocês iriam achar que sou uma "manteiga derretida"! ♥ Abracei o Wilson e, nesse momento, a Márcia, peregrina de Uberlândia, registrou nossa emoção de estar no Caminho de Santiago...

    Seguimos subindo, afinal essa seria uma constante até o km 20, onde atingiríamos o ponto máximo no Collado Lepoeder com 1429m de altitude.

    O vento continuava forte e o frio aumentando mesmo em constante movimento, pois é possível seguir pedalando pela maior parte do trecho, tive que vestir o último agasalho que restou no alforge para suportar a temperatura. Logo avistamos o gelo no topo das árvores e cobrindo diversos trechos de grama, então tinha a sensação de estar dentro de um congelador.

    Passamos pela Cruz de Thibault e pela fronteira entre a França e Espanha, com um marco de pedra escrito Navarra/ Nafarroa para sabermos que estávamos entrando em território Espanhol. ♥

    Sabendo que ao chegar no Collado Lepoeder teríamos atingido toda a subida dos Pirineus, a sensação de primeiro desafio cumprido foi enorme. Paramos um pouco num banco ao lado de totem com wi fi para pensar se desceríamos pela "floresta" ou pelo asfalto e lembrei da recomendação na Oficina do Peregrino em Saint Jean Pied Port para que todos descessem pelo asfalto. Seguimos a recomendação, mas antes uma pausa, em lugar protegido do vento, para um lanche...sentamos na grama e apreciamos o momento. ♥

    Mano do céu, que descida é essa até Roncesvalles? *risos* Acho que foram 6k de descida, que parei umas 4 vezes no caminho para tentar esquentar as mãos. Nunca tinha sentido tanto frio nos dedos como naquele momento...toda hora eu parava para bater as mãos nas pernas e tentar aquecer os dedos que estavam com sensação de "choque"! *gargalhadas*

    Obviamente quando cheguei na Igreja de Ibañetta, o Wilson e Francisco já estavam lá fazendo amizade com um casal de ciclistas da Alemanha. Um pouco de conversa num misto de Espanhol e Inglês, e seguimos para o Albergue Municipal de Roncesvalles encontrar o Pedro, que no Refuge Orisson decidiu seguir o resto do percurso de táxi.

    O Albergue Municipal de Roncesvalles é gigantesco com 183 camas e belíssimo. Muitos peregrinos optam por ficar na cidade e fazem a reserva antecipada pelo site para não ficarem sem hospedagem.

    Encontramos o Pedro já hospedado no albergue, mas decidimos apenas carimbar a credencial e seguir nossa meta do dia, que era chegar em Zubiri, ou seja, teríamos mais 20k pela frente.

    Saindo de Roncesvalles nos deparamos com a placa indicando que Santiago de Compostela é logo ali, distante 790k do ponto onde estávamos. ♥

    O Wilson ainda não estava se sentindo bem e precisava de medicação. Nesse momento tínhamos um dilema: parar em alguma cidade seguinte (Burguete ou Espinal) para descansar - sem estrutura de hospitais caso ele precisasse ou seguir para Zubiri, que era uma cidade maior com boa estrutura. Seguimos para Zubiri bem apressados, ainda mais quando ouvimos rumores de que os albergues das proximidades estavam todos lotados. (Ah, nessa hora lembrei de um peregrino comentando ter escutado que neste dia iniciaram a peregrinação - de acordo com a Oficina do Peregrino - 500 pessoas. Quando ouvi, não dei muita credibilidade, mas diante dos rumores passei a imaginar que pudesse ser verdade!)

    O caminho é muito bonito após Roncesvalles! Faltando uns 5k - de acordo com meu GPS fanfarrão - para chegar em Zubiri, o Wilson sumiu! *risos* Como assim? Por não estar se sentindo bem, ele acelerava para chegar mais rápido, mas sempre em bifurcações ele estava esperando para seguirmos juntos. Parei numa bifurcação e nada dele...fiquei preocupada e segui com o Francisco adiante. Outra bifurcação e nada do Wilson estar lá...já pensei o pior: "perdi o Wilson na Espanha!" ou "ele estava se sentindo muito mal...será que desmaiou?" Pedalamos mais um pouco e encontramos duas senhoras sei lá de onde. *risos* Não falavam inglês e não consegui compreender o que falavam. Tentei perguntar se tinham visto passar um ciclista por lá, mas foi em vão...

    Bem, pensei em voltar, mas o Francisco falou que era melhor seguirmos até Zubiri e, se não encontrássemos o Wilson lá, aí a gente voltava pra procurar ele. O trecho era uma florestinha bem bonitinha com umas pedras gigantescas no chão e uma super descida... No meio da descida, cumprimentei dois peregrinos e aproveitei para saber se tinham visto um ciclista passando por lá. O peregrino texano disse que sim (além de me contar que conhecia Manaus e gostava muito de São Paulo), que tinha visto um ciclista com bandeira do Brasil passar por eles. ♥ Ufa! Não tinha perdido o Wilson em terras estrangeiras.

    Desci que nem foguete. No final da descida, bem na entrada da cidade, estava o Wilson super orgulhoso de me ver pedalando no meio do rock garden maluco. Preciso falar que ele tomou bronca por ter sumido? *risos* Ele explicou que ficou preocupado de não encontrarmos hospedagem e seguiu na frente para adiantar o albergue para nós. Porém, a notícia ruim é que não havia vaga na cidade - tudo "full"! - e teríamos que seguir até a cidade seguinte. A notícia boa é que nessa acelerada do pedal, o Wilson encontrou uma família de brasileiros que ofereceu medicação para a sinusite dele e não teríamos que acionar o seguro saúde para ir a um hospital. ♥

    Ligamos para diversos albergues próximos e tudo lotado...só encontramos hospedagem em Pamplona. Assim, já havíamos pedalado 47k e teríamos mais 20k pela frente. Sabe aquela idéia inicial de não fazer reserva durante o caminho e ficar nas cidades conforme o ritmo do pedal e do corpo? Pois bem, depois desse dia mudamos isso e passamos a reservar a pousada do pernoite seguinte no final de cada etapa.

    Pausa para comer e seguimos pelo caminho das setas amarelas para Pamplona, mas o pedal não estava rendendo e decidimos sair para a carreteira com a intenção de chegar antes do anoitecer ao nosso destino. E a pergunta que não queria calar: estávamos numa carreteira ou numa autovia? Sabíamos que é expressamente proibido trafegar de bicicletas nas autovias pela Espanha, correndo o risco de sermos presos e multados (pelo que ouvi falar em torno de €250). Mas vocês acham que a gente estava entendendo a sinalização das estradas? Aff, pedal cilada total. Encontramos um rapaz passeando com seu cachorro, que nos acalmou falando que era permitido pedalar naquela estrada. ♥

    Enfim, Pamplona, hostel e descanso! ♥

    Ficamos no El Camino Urban Rooms, em quarto triplo (€15 por pessoa).

    ♥♥♥♥

    1º dia de pedal em números: 3°C temperatura, 69k pedalados, 2.207m de altimetria acumulada, 6 cidades/pueblos visitados, 0 vagas em albergues em Zubiri e 1 cilada de mais 20k até Pamplona (*risos*).

    (texto originalmente publicado no blog: www.nadafragil.wordpress.com)

    Fernanda
    Fernanda

    Publicado em 23/07/2019 17:54

    Realizada em 05/05/2019

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    12 Comentários
    Patrícia Valente 24/07/2019 11:07

    Sensacional.... obrigada por compartilhar Fernanda!!!

    Fernanda 25/07/2019 07:38

    :) Opa, muito obrigada, Edson! estou fazendo o planejamento para Abril do próximo ano e se tiver dúvidas te chamo sim. Obrigada. Patricia, obrigada! Ainda tem 14 dias de aventura do Caminho de Santiago...assim que eu for me adaptando com essa plataforma, vou publicando com maior agilidade. ;)

    Vitor C. 25/07/2019 08:48

    Que show. Me diz uma coisa, as bicicletas vocês levaram do BR? Sabe se existe algum serviço de aluguel de bicicletas ao longo do caminho? Obrigado..

    Fernanda 25/07/2019 13:13

    Olá Vitor. Levamos do Brasil sim. :) Para nós foi o melhor custo /benefício por conta de termos bike fit nas magrelas e decidirmos ir até Portugal pedalando depois do Caminho Francês. Conheci pela internet o pessoal do Tour4Friends , que são brasileiros residentes em Madrid, que da um suporte pros peregrinos e pode te auxiliar nos contatos para aluguel de bike ao longo do caminho. Aqui no blog eu falo um pouco do planejamento: https://nadafragil.wordpress.com/2019/05/14/e-o-caminho-comecou/ De nada e precisando de alguma ajuda ou dica, pode chamar... :) Lá no blog já postei até o 5º dia do caminho...aqui estou mais devagar, pois estou aprendendo como funciona ainda. :) Buen Camino!

    Karyl Mattos 22/09/2019 22:26

    Olá Fernanda, vou fazer o Caminho de Santiago de Bike no final deste ano, teria alguma dica de treinamento para fazermos?

    Fernanda 23/09/2019 08:14

    Olá Karyl! Tudo bem? Vai fazer de bike também? Se você temo costume de pedalar, não terá nenhuma dificuldade. Se não tem esse costume, faça pedaladas para condicionar! 3x por semana com pedaladas de 30k está ótimo! o caminho é bem gostoso e lindo! aproveitem muito. beijão e buen camino

    Karyl Mattos 24/09/2019 14:04

    Olá Fernanda, tudo ótimo. Obrigado pela dica. Fique a vontade para sugerir algo que julgáres importante para nós, esqueci de te comentar, vou fazer o Caminho com o meu filho de 14 anos.

    Fernanda 26/09/2019 13:23

    Que bacana, Karyl! Com certeza será uma aventura para ficar na memória para sempre. Caso tenha alguma dúvida pode me chamar no email fernanda.sunega@gmail.com Buen Camino e divirtam-se ! <3

    Fernanda

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