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Maria Comprida
Um clássico petropolitano. Montanha técnica e fisicamente exigente, localizada em Araras.
Hiking MontañismoMaria Comprida – 28/05/2022
A Maria Comprida é uma das montanhas mais emblemáticas da região serrana do Rio. Desde os tempos coloniais esse gigante monólito chamava a atenção dos transeuntes e servia como ponto de orientação. Com cerca de 1970m de altitude, sua trilha é técnica e fisicamente exigente, com diversos trechos de corda. Abriga a primeira via de escalada conquistada no Brasil com mais de 1000m de extensão, a Maria Nebulosa.
Foi conquistada na década de 30 pelo grande escalador Emérico Hungar. A via da conquista ou via da “Canaleta” durante muitos anos foi o único acesso ao cume da montanha. Mais recentemente, um montanhista descobriu uma passagem bem escondida que levava até o topo. Essa passagem ganhou o nome do seu descobridor: “Passagem Leander”.
Para vencer praticamente 1000m verticais nos pouco mais de 3,5km de trilha, é preciso antes enfrentar a burocracia do agendamento no condomínio Rocky Valley, em Araras (mais detalhes ao final). Além disso, por ter algumas passagens técnicas, existe um limite de 6 pessoas em cada excursão, contando com o guia. Por causa desse "gargalo" a agenda do condomínio está sempre cheia.
Em 2014 eu e Letícia em companhia de alguns amigos, tentamos chegar ao cume da Maria Comprida, mas eu estava bem resfriado e o cansaço, aliado à prudência, me fez desistir quando chegamos aos Camelos. E essa burocracia no agendamento do condomínio me fazia protelar uma nova tentativa.
A nova oportunidade surgiu através do CEP – Centro Excursionista Petropolitano. Quando nosso amigo Marcelo Figueiredo, condutor do clube, lançou a chamada para essa excursão no WhatsApp do clube, a adesão foi instantânea. Em poucos minutos, já havia uma lista de espera. Por sorte, a Letícia estava atenta e colocou o nosso nome imediatamente.
Na portaria do condomínio Rock Valley (Foto Nélson Toledo)
E no sábado, dia 28, com clima gelado, nos dirigimos até o centrinho de Araras, onde encontraríamos o guia e os demais participantes: Rangel, Nélson e Douglas. Todos reunidos, as 5h40 - ainda escuro, seguimos em direção ao condomínio, que fica na Estrada do Capoeirão, cuja entrada fica na altura do número 5200 da Estrada Bernardo Coutinho. Chegamos na portaria com o dia clareando.
O Marcelo foi conversar com o porteiro e verificar se nossa ficha estava devidamente autorizada. Tiramos algumas fotos e seguimos condomínio adentro até uma área de estacionamento específica para quem vai fazer a trilha. Arrumamos nossas mochilas, que continham equipamentos técnicos como capacete, baudrier (cadeirinha), mosquetões e freio. Marcelo também levava uma corda. As 6h30, iniciamos nossa pernada.
O trecho inicial não tem nenhuma dificuldade técnica, mas já começa bem inclinado. Bom para aquecer o corpo! Aos poucos, a inclinação cede um pouco e continuamos caminhando em um bonito trecho de floresta, nos aproximando das encostas da montanha, onde se iniciam os trechos de corda.
Recentemente, alguns montanhistas, capitaneados pelo guia Jeferson Costa do CEP, doaram seu tempo e fizeram uma grande manutenção trocando cordas, instalando degraus em alguns pontos e colocando proteções na Leander. Pudemos constatar o excelente trabalho executado pelo grupo.
Naturalmente, nesses trechos, a nossa velocidade diminuía bastante. Mas vencemos esses obstáculos sem maiores dificuldades. Depois da sexta corda, fizemos uma parada em uma pequena clareira, onde deixamos guardadas algumas garrafas de água para a volta. Aproveitamos para comer alguma coisa, e logo voltamos a caminhar. Depois de uma pequena descida chegamos no início da longa crista da montanha. A floresta agora ficava para trás, dando lugar aos arbustos.
Subindo por entre as nuvens (Foto Nélson Toledo)
Nos pontos mais complicados, continuávamos contando com o apoio de cordas e degraus. O clima, infelizmente, seguia fechado, sem proporcionar uma vista sequer. Esse trecho é a maior subida contínua do dia, chegando a 300 metros de desnível vertical. Por volta das 9h40 chegamos em uma elevação conhecida como “Camelo”. O Marcelo instalou a corda para descermos um trecho bem íngreme, com terreno escorregadio. É até possível descer em livre, mas é bastante prudente fixar uma corda no grampo existente. Alguns optaram por se equipar e descer de rapel. Marcelo, Rangel e eu optamos por usar a corda apenas como apoio. Ainda não tínhamos nenhum visual da parede majestosa da Maria Comprida.
Vencida essa etapa, começamos um dos trechos de montanha mais bonitos que já percorri. A crista não tem grandes dificuldades técnicas, mas é bastante exposta. Passamos “de passagem” pela segunda corcova do Camelo e aos poucos vamos nos aproximando do paredão rochoso da montanha. A trilha começa uma descida voltando a entrar em um pequeno trecho de mata.
Pouco depois, volta a subir forte até chegarmos na entrada da Passagem Leander. O relógio marcava 10h40. Embora bem inclinada, a primeira metade da Leander é bem tranquila de ser vencida. O trecho seguinte é mais complicado e volta a ter cordas fixas para auxiliar na subida. Algumas passagens são bem expostas.
Logo chegamos a um trecho erodido, onde a passagem de água está fazendo uma grande canaleta no terreno frágil. O platô ao final desse ponto indica o término da passagem Leander. Olhando para trás, temos uma bonita vista dos Camelos.
A subida agora volta a ter uma cara de “trilha”, com trechos bem inclinados e escorregadios. Em dois trechos de rocha, foram instalados degraus para facilitar a subida. Aos poucos, o terreno vai perdendo inclinação e nos aproximamos do amplo cume. As 11h30 cheguei ao cume e me juntei ao Nélson e ao Rangel. Esperamos um pouco pela Letícia, Marcelo e Douglas. Todos chegaram bem.
Galera no cume: eu, Rangel, Nélson, Douglas, Letícia e Marcelo.
Fizemos um lanche reforçado, nos hidratamos e assinamos o livro de cume (aliás, o livro de cume mais embrulhado que eu já vi em 35 anos de montanhismo). De tempos em tempos as nuvens abriam e nos permitiam ter algum panorama. E todos corriam para tentar tirar alguma foto.
Ficamos no cume até as 12h35 e como o tempo prometia ficar nesse “abre e fecha”, resolvemos descer. A descida até o trecho erodido foi bem rápida e logo começamos a descer a Leander. No trecho mais complicado, o Marcelo fixou a corda e todos desceram rapelando até o final da corda. Eu fui o último a descer antes do Marcelo tirar a corda, pois ainda tive que me equipar. Nesse momento, o tempo resolveu abrir definitivamente e o sol chegou com força.
Marcelo e eu aceleramos na medida do possível para alcançar o restante do grupo. Em um determinado ponto, vimos que eles estavam nos esperando no topo da segunda corcova. Todos reunidos, seguimos em direção a primeira corcova, onde o Marcelo novamente colocou a corda para facilitar a subida.
A gigantesca Maria Comprida
Agora sim, com o dia lindo que fazia, podíamos vislumbrar a imensa parede da Maria Comprida. Parecia inacreditável que há um par de horas atrás estávamos em seu cume. Os celulares trabalharam incansavelmente em busca das melhores fotos. Mas nenhuma delas consegue traduzir a grandiosidade dessa montanha. Ainda enebriados pelo visual, retomamos a nossa descida. O objetivo agora era descer o restante da crista até o platô onde deixamos as garrafas de água. A Letícia havia deixado uma garrafa de água de coco congelada, que ainda estava geladinha.
Continuamos nossa descida, vencendo os últimos trechos de corda e degraus. Fiz uma pequena parada após a última corda, para arrumar a mochila e curtir um pouco o ambiente. Uma parte da turma estava um pouco à frente e a Letícia e o Marcelo ficaram um pouco para trás. Desci esse trecho de trilha praticamente sozinho, aproveitando a natureza.
Um pouco antes da trilha terminar, encontrei com o Douglas, Nélson e Rangel que faziam uma pausa para descansar. Seguimos juntos e as 16h45 finalmente chegamos ao carro. Poucos minutos depois a Letícia chegou com o Marcelo. Guardamos nossos equipamentos, trocamos de roupa e seguimos para o centrinho de Araras para uma merecida comemoração.
Regras para agendamento:
- O acesso se dá somente com agendamento pelo e-mail trilhamariacomprida@gmail.com, com antecedência máxima de 45 dias.
- Os clubes excursionistas e a Aguiperj farão agendamento através de e-mail oficial de cada entidade, informando o guia responsável, independentemente das datas reservadas para guias comerciais e montanhistas não federados.
- Serão permitidos 2 grupos por dia, de no máximo 6 pessoas cada um, incluindo o guia, sendo 1 grupo de guias comerciais ou montanhistas não federados e 1 grupo de Clubes/Aguiperj, que são associados à FEMERJ.
- Guias comerciais e montanhistas independentes poderão agendar um final de semana ou feriado a cada 2 meses, podendo realizar agendamentos durante a semana.
- Serão destinadas 6 vagas para carros, sendo 3 vagas para excursões dos clubes e Aguiperj e 3 vagas para os guias comerciais e montanhistas independentes.
- É obrigatória a assinatura do termo de responsabilidade.
- É obrigatória a identificação de quem entra por outro acesso e sai pela portaria do Condomínio Rock Valley.
Amigaço, parabéns pelo cume. De fato, você escreveu muito bem, nenhuma foto traduz completamente a visão ao vivo desta apaixonante montanha.