Morro do Açu | P.N.da Serra dos Órgãos
Bate e volta no Morro do Açu, dentro do Parque Nacional da Serra dos Órgãos.
Montanhismo HikingMorro do Açu – 19/03/2022
Na minha singela opinião (ou puro achismo), a parte mais complexa de retornar às atividades físicas após alguma lesão é a questão psicológica. Sempre pairam sobre a sua cabeça inúmeras dúvidas sobre a sua capacidade de vencer determinados desafios, por mais conhecidos que eles sejam.
Eu venho lidando com uma lesão na cartilagem do meu joelho direito desde 2019. Fiz um trabalho numa clínica de reabilitação esportiva e consegui eliminar o problema, mas poucos meses depois, a pandemia colocou tudo a perder. As dores e os incômodos no joelho voltaram e por isso (e pelas condições impostas pela pandemia), passei a fazer atividades mais curtas.
Apenas em meados de 2021 voltei aos trabalhos de força na clínica, logo seguido pelo retorno à academia. Desde então, tinha tentado uma ou duas vezes fazer uma atividade mais longa e mais puxada, para testar a evolução desse trabalho. Mas somente agora, em março de 2022, aproveitando uma atividade do CEP – Centro Excursionista Petropolitano, é que eu consegui colocar isso a prova, com uma ida ao Morro do Açu.
Inserido no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, o Açu é um dos pontos de acampamento e abrigo para quem faz a famosa travessia Petrópolis X Teresópolis. O acesso é feito pela portaria de Petrópolis, que fica no bairro do Bonfim. Um bate e volta ao Açu é bom desafio tanto pela distância (16kms no total) quanto pela altimetria (aproximadamente 1200m de desnível positivo).
No dia combinado pelo condutor da atividade, Leonardo Carvalhaes, Letícia e eu chegamos na portaria exatamente no horário de abertura do parque, as 7h. Os demais participantes (Bruno, Marcelo, Nina, Renato, Emília e Jonathan) já haviam chegado e estavam começando os trâmites burocráticos para acessar o parque: preenchimento do termo de conhecimento de riscos e normas por parte dos integrantes da atividade e, posteriormente, a conferência de documentos pelos guarda parques. É válido frisar que, desde o término da concessão da Hope, a entrada no Parnaso é gratuita.
Liberados, iniciamos nossa pernada as 7h20 e o nosso primeiro objetivo seria chegar até a bifurcação com o Véu da Noiva. A Letícia, que também enfrenta alguns problemas físicos e está fazendo o trabalho de reabilitação, estava com o mesmo espírito: caminhar sem pressa, sem forçar e tentar chegar bem até onde fosse possível. Ela logo adotou um ritmo mais lento e eu a acompanhei. Só fomos reencontrar nossos colegas de excursão um pouco antes do objetivo. Fizemos uma pausa para descanso e seguimos, agora em direção a Pedra do Queijo. Já deixamos claro para todos que, se atividade ficasse pesada demais, voltaríamos. Então deixamos todos livres para seguirem no ritmo deles.
Letícia curtindo o visual, na subida para a Pedra do Queijo!
A subida até o Queijo alterna um trecho dentro da mata e outro mais aberto, com longos zigue-zagues, aproveitando a curva de nível do terreno. Mais uma vez, subimos sem pressa e alcançamos nossos amigos no Queijo, onde já faziam um lanche. Aproveitamos a parada para comer alguma coisa e nos hidratar. O relógio marcava 9h15 e o sol já estava firme no céu.
Depois de uns 20 minutos, retomamos a caminhada. Agora teríamos um dos trechos mais longos, até o Ajax. Logo na saída do Queijo, existe uma boa subida até um descampado conhecido como Morro do Gato. Em seguida, temos a única descida do trajeto de ida, mas o refresco acaba logo e voltamos a subir. Cerca de meia hora depois de deixarmos o cume do Morro do Gato, a Letícia disse que havia chegado no limite dela, sempre tendo em mente que é preciso ter pernas para a volta. Como eu estava me sentindo bem, resolvi continuar. Ela iria curtir a cachoeira e os poços, enquanto nos aguardava.
Como estava sozinho, meu ritmo estava bem mais rápido e mantive o pique na tentativa de alcançar o restante da turma. A subida estava fluindo bem, e em cerca de 15 minutos estava no Ajax, aonde a turma havia chegado poucos minutos antes. Aproveitei para pegar água e comer mais alguma coisa.
Seguimos morro acima, encarando a famosa Isabeloca. Uma subida bem íngreme que nos leva até o Chapadão, já bem próximo dos 2000m de altitude. Os primeiros 500 metros após o Ajax estão bem erodidos e precisam ser vencidos com cuidado, para evitar uma torção ou algo pior. Pouco depois, a trilha fica “melhor”. Seguimos sem pressa e em alguns momentos, parando para aguardar os mais lentos. Logo chegamos em um trecho que foi recuperado há alguns anos pelo parque, restabelecendo o trajeto original até o Chapadão e fechando o acesso aos atalhos que estavam assoreando as fontes de água.
Chegamos ao Chapadão antes das 11h e novamente fizemos uma pausa para reagrupar a turma e descansar um pouco para o trecho final. Para a nossa “sorte” o sol ficou escondido durante a subida da Isabeloca e não parecia que iria voltar.
Nosso destino à frente!
Com o nosso objetivo cada vez mais próximo, voltamos à pernada. Alguns minutos depois chegamos no mirante do “Graças a Deus”, que indicava 1,6kms até nosso destino. Tiramos algumas fotos e seguimos em frente. Como havia montanhistas experientes para acompanhar os mais jovens, nesse trecho a turma ficou mais dispersa. As 11h45, eu e Marcelo já estávamos em frente aos Castelos do Açu. Resolvemos fazer uma pausa para aguardar a decisão do condutor de ir até o Cruzeiro ou seguir direto até os Castelos. Ele chegou, tiramos a tradicional foto do grupo e seguimos até os Castelos, onde chegamos às 12h10.
Ficamos quase 1h30 por lá descansando, comendo, bebendo e conversando. Nem sempre nessa ordem!
Panorâmica no Morro do Gato!
As 13h40 começamos nossa descida, que foi finalizada as 16h45, quando cheguei na portaria acompanhado do Bruno (o restante da turma foi se refrescar nos poços) e encontrei com a Letícia. A descida castigou um pouco mais os joelhos e cheguei bem cansado, mas não senti nenhum incômodo na região lesionada do joelho. O cansaço não era diferente do que já havia experimentado em outras ocasiões nessa mesma montanha.
Ficamos mais alguns minutos papeando com os guarda parques e demos baixa nos nossos nomes no termo. Nos despedimos do Bruno, pegamos o carro no estacionamento e seguimos direto até Itaipava, onde paramos para beber uma merecida cervejinha.
Nos dias seguintes, fiquei sabendo que, por muito pouco, não encontramos com uma turma do Clube Excursionista Mineiro (Gisele e André) e com o Waldecy Mathias do CERJ, que estavam voltando de uma excursão interclubes no Pico do Glória. Uma pena, pois o pós-trilha com essa turma seria bem divertido!
No final das contas, a atividade foi excelente e serviu para mostrar que estou no caminho certo para enfim retornar às atividades mais longas e de maior comprometimento.
Observações:
1 – Apesar da extensão da trilha, existem pelo menos três bons pontos de coleta de água: um no começo da trilha, antes de chegar na bifurcação para o Véu da Noiva, outro no Ajax e o último ao lado do abrigo do Açu.
2 – Em função da pandemia e da saída da Hope, atualmente existem algumas limitações para acesso ao Parnaso. O parque permite a entrada de até 400 pessoas/dia para visitar os atrativos da parte baixa (até o Véu da Noiva), e 100 pessoas/dia para visitar os atrativos da parte alta (montanhas como Alicate, Glória, Cubaio e Açu). Dados de março/2022.




Amigaço, parabéns pela sua disciplina em seguir com seu tratamento e por se lançar aos percursos mais longos. O Açu é um lugar que vale o sacrifício e sempre te serei grato por me mostrar esse caminho em 1994. Em breve, estaremos marcando a caminhada dos 30 anos...