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A realização de um sonho.
Setembro chegou e com ele muita ansiedade pois estava se aproximando a data de algo muito importante. A Escalada do símbolo nacional do montanhismo, o Dedo de Deus, mas também um sonho de menina, pois passei a infância ouvindo sobre muitas montanhas que meu pai falecido há 31 anos nos contava, mas o Dedo de Deus era a montanha especial do coração dele. Mas algo me separava deste sonho, o medo de altura.
Então decidida a ir o guia marcou um treino comigo no dia 02/09/21 para orientações porque não tenho experiência em escalada, e a data da realização deste grande sonho seria no dia 10/09/21.
E choveu no dia 2 e o guia não tinha mais agenda para o mês de setembro, eu não podia desistir ali, não podia esperar o Léo, a temporada de montanha estava acabando e minha cirurgia se aproximando.
Então com a ajuda de uma amiga escaladora eu consegui achar outro guia excelente o Fabrício Vieira.
Conversei com ele, disse o que já havia feito em montanha e a única escalada que havia feito em artificial o Dedo de Nossa Senhora. Marcamos um treino no dia 10/09/21 em que ele me passou orientações, fiz uma aderência de 25 metros, um rapel bem tranquilo para me familiarizar com o freio. Aprendi a me ancorar, recolher as fitas que eu ia usar na Maria Cebola. E então era aguardar uma janela boa do tempo para escalar o Dedo.
21/09/21 O Grande dia.
Despertador tocou às 5h, tudo arrumado coração com batimento acelerado, ansiedade gritando.
Começamos a trilha às 5h50 não foi um trecho difícil, fizemos sem forçar com 50 minutos, chegamos na base dos cabos, nos equipamos. O guia passou algumas orientações.
O primeiro trecho é em zero, o guia colocou umas fitas e seguiu pelos cabos até que minha corda ficou esticada esse era o momento de eu começar a subir. Sem campo visual com guia, confiei na segurança e fui. Segurava na fita de cima, recolhia a de baixo até que cheguei nos cabos de aço. Fiz esse trecho sem medo. Sozinha sem campo visual com o Fabrício, segui as orientações dele. "Ju, não pisa no molhado" a rocha estava seca, porém tem trechos úmidos, e escorregar logo no início não seria bacana eu ficaria com medo. Fiz o trecho mais complicado dos cabos sem dificuldade.
Então veio o trecho com trepa pedras e lances de escalada. Mais uma vez o sinal para subir seria a corda esticada. Veio outra orientação "limpe a terra da sapatilha". Comecei a subir, neste trecho eu olhei para o abismo na minha lateral direita e pensei: " eu venho nestes lugares porque sou maluca". Segui subindo, estava fluindo, nos trechos onde exigia técnica, ser forte me ajudou muito. E entala aqui, se espreme ali, faz força lá, enfim o contato visual com o Fabrício. O trecho das fotos lindas antes da Maria Cebola. E ele disse: "Ju vou tirar foto sua aqui e filmar também". Eu olhei para para o abismo na minha lateral esquerda e disse: Fabrício não filma, não quero foto, só segura essa corda, se eu escorregar você me segura, escrevi isso rindo agora, mas na hora foi tenso. Ainda bem que ele não me escutou.
A temida Variante Maria Cebola.
Não sei o significado do nome, mas minha teoria é de que os escaladores "choram" ao passar por ela.
Enfim o trecho que a meu ver era o mais difícil para uma pessoa que tem medo de altura, já que ia passar beirando o abismo.
Olhei o vale, aquele abismo de beleza indescritível e ouvi as orientações do guia.
"Segura na fita e entra, vou colocar essas mais curtas para te proteger, um móvel depois da curva e você vai escalar bonitinho sem "roubar."
E acabou o contato visual e comunicação ali é algo difícil.
E começou um monólogo de dez minutos de Juliana com Juliana.
"Eu estou com medo" "mas você está com a segurança" "você disse que só não ia chegar se passasse mal ou morresse no caminho" "você tá bem viva" " simbora mulher, coragem". E foi o passo mais difícil que dei na vida, entrei na Maria Cebola. Segura na fita, recolhe a anterior, confesso que não olhei para trás, recolhi o móvel e fui escalando e entalando a mão. Maria Cebola vencida. Ufa
As Chaminés
E veio a grande chaminé, entrei na fenda com pensamento positivo, me dizendo que se eu havia vencido a Maria Cabola, venceria a chaminé também.
Sem curso de escalada, sem nunca ter feito uma chaminé na vida, mas com muita força de vontade, havia chegado o momento de colocar em prática os mais de vinte vídeos que vi no YouTube sobre como movimentar mãos e pés para fazer uma chaminé, chegou a hora de colocar em xeque os treinos de força na academia.
E não é que deu certo? Parece que nasci fazendo chaminé, fui eficiente e fiz rápido.
Cavalinho do Dedo de Deus
Passado as Chaminés veio esse trecho com bastante exposição e fiz força para conseguir jogar minhas pernas curtinhas por ele. Mais um trecho vencido. E eu não imaginava que estava tão próxima do cume.
Passo do Gigante
Não tenho registro em foto deste trecho. Se inicia com uma pequena chaminé e surge o passo do gigante, com uma visão lateral incrível do vale. Você coloca o pé bem na pontinha de uma pedra e projeta a outra perna para um passo bem largo para outra extremidade.
E feito o passo caminhei lateralmente por uma fenda que tem uma vista belíssima. Mas também é amedrontador. E sem saber que estava chegando na escada olhei e vi o pé dela. Já subi o trecho chorando, tomada de muita emoção. Corri e abracei o guia, agradeci por ele ter acreditado em mim, por ele ter me ajudado a realizar um sonho de criança.
A Escada.
O sonho de muitos montanhistas estava ali na minha frente. Eu que tenho tanto medo, consegui. Cheguei no lugar que tinha desenhado na minha memória há uns 37 anos, meu montanhista favorito, meu pai Alfredo Marques me falou várias vezes sobre o Dedo de Deus.
Um sonho quase impossível, virou realidade.
Setembro é meu mês, mês que completei 44 anos, mês que decidi mudar de vida há um ano saindo de um casamento de 26 anos, indo viver. Mês que realizei um grande sonho de menina.
Dois dias antes de ir eu ouvi de alguém: " Não vá. O Dedo de Deus não é para qualquer um. Você vai travar e vai gastar seu dinheiro à toa.
Mas, acreditei em mim e no meu sonho e realizei.
Fiz essa homenagem ao grande homem da minha vida, meu pai.
Estava também encerrado o meu projeto pessoal The Big Four.
O Cume
E às 10h45 do dia 21 de setembro eu cheguei no cume do Dedo de Deus.
Uma alegria sem tamanho.
Nossos sonhos não tem idade, o melhor da vida é hoje, a vida é hoje.
O Término
Fizemos o rapel tradicional pela Teixeira, que frio na barriga. Não é todo dia que temos um abismo lindo daqueles aos nossos pés. No meu caso nunca, porque eu nunca havia feito um rapel negativo, dá para acreditar?
Continuamos a trilha sem pressa curtindo o visual, ainda tínhamos tempo de sobra para batermos nossa meta.
E encerramos na pista às 14h45.
Toda a ansiedade havia passado e só tinha gratidão e felicidade habitando meu ser naquele momento.
Agradeço demais aos meus filhos que me apoiam sempre. Um mês mostrando vídeos sobre o Dedo de Deus, me escutavam falar e diziam: "Mãe você vai conseguir". O apoio de vocês é fundamental.
Amo vocês ❤️
Obrigada, Fabrício Vieira por acreditar em mim e me guiar para a realização de um sonho.
Às 15h fizemos nosso brinde pela conquista.
Obrigada por me encorajar a reescrever o relato. Realmente a vida é uma caixa de surpresas. Compartilhe conosco sua ida ao Dedo de Deus. Tenho certeza que seu relato nos permitirá sentir um pouquinho da sua emoção.
Por nada. É pelo bem do montanhismo! Sim, vai surgir meu relato. Tá no forno!!!
Juliana, to soluçando aqui c seu relato. Meu pai tbm era montanhista e eu tbm tenho q superar esse medo de altura. Vc me passou forças p realizar sonhos. Vamos em frente guerreira! Qq dia darei meu relato aqui tbm. Fica c Deus!
Aline, fico muito feliz que tenha te passado forças. Você vencerá, tenho certeza! "Sempre em frente, não temos tempo a perder." Aguardo seu relato. Abraço. Fique com Deus!
Aguardo mais relatos seu tbm! Rsrs Grande beijo p vc. Deus lhe abençoe sempre.
Que relato incrível! Muito inspirador, Juliana! Parabéns pela aventura! Cada vez mais o medo diminui e a vontade de encarar esse desafio aumenta! Obrigada por compartilhar!
Obrigada, Danielle! Embora sinta medo, confiar no equipamento me permite as aventuras. Já estou gerando no coração várias aventuras para próxima temporada. Grata pelo comentário.
Nossa!! Que relato extraordinário!! MEUS PARABÉNS POR ESSA CONQUISTA!!