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PP via Caratuva - a regra é da montanha
Planejamos ficar 5 dias nos cumes do Ibitiraquire mas, como sempre, planos são dos homens e as regras são dos Óreas (deuses da montanha).
Trekking Montañismo HikingNovamente usamos a desculpa de morar longe para tirar alguns dias acampado nas montanhas. Na verdade esse é nosso estilo, sempre que dá ficamos semanas acampando antes de voltar a vida na cidade. Dessa feita separamos umas férias e escolhemos as montanhas do nosso querido estado do Paraná.
Saímos de casa com a intenção de descer até Antonina subir o Marumbi e depois retornar a Campina Grande do Sul de onde alcançaríamos o Caratuva e depois o Pico Paraná, fazendo várias alças e chegando a quase todos os cumes do Ibitiraquire. Nós já tentamos esse rolê no ano de 2021, devo contar por aqui em outro post, mas o tempo acabou frustrando os planos.
No Final, O Planejamento é Só por Diversão
De início, depois de estar em Morretes, tivemos de abortar devido ao falecimento de um familiar na capital. A vida nos colocando sob seu jugo, dando a carta de quem realmente manda.
Depois do sepultamento, o tempo havia virado e a chuva prevista já havia adiantado 3 dias. Deixamos o Marumbi para depois e fomos ao Ibitiraquire.
Subimos o Caratuva sob um sol de rachar mamona, acampamos quase sozinhos no cume. Diga-se de passagem que é uma pena ver o que estão fazendo com o Caratuva. Faziam três anos que não subia lá, e fiquei apavorado com a destruição do habitat, as antigas erosões que formavam na época da chuva, agora são grandes bacias de solo exposto onde alguns miseráveis idiotas forram com as caratuvas restantes, sim, cortam a vegetação para forrar a p.... do chão da barraca, que, por frescura ou por falta de equipamento adequado acham o chão muito duro. Resumindo se torna uma gamela de lodo misturado com bosta, urina e mato podre, sem contar que com as enxurradas aquilo desce pelas encostas poluindo tudo e abrindo novas trilhas de água que são usadas como banheiro depois da chuva. É uma pena. Se não houver algum ação sobre, o Caratuva se tornará inabitável em breve.
Deixando de lado isso, como sempre a noite ali é uma maravilha. Antes, ainda, de o sol se pôr, as nuvens chegaram e foram cobrindo o Conjunto Ibitirati. Também chegaram mais dois casais e um jovem solito para acampar. Ninguém muito interativo, e quando avisei, os que tinham chego depois das nuvens, que o PP estava às vistas não deram a mínima, o cansaço parecia maior que o espetáculo.
A noite foi agradável, tirando as rajadas de vento, o frio nem parecia Serra do Mar. Já passei madrugadas muito geladas naquelas bandas! A manhã seguinte foi perfeita, a garoa antes do alvorecer limpou e baixou as nuvens. Quando o Sol despontou por trás do gigante o coração quase saiu pela boca.
O vento soprava calmo e contínuo, do su,l avisando que as coisas mudariam logo. Antes de sair da área de cobertura de telefonia os mapas indicavam um massa quente e úmida se aproximando pelo sul com possibilidade de tempestades elétricas. A previsão indicava essa mudança para a quinta feira, ainda era terça mas o bom senso disse para abortarmos o ataque ao Ferraria e Ferreiro, tocando já nesse dia para o PP. Foi o que fizemos.
Ainda antes das 09:00 a serra recebeu seu primeiro aguaceiro. Nós estávamos em um trecho errado da trilha da conquista, sé que ainda dá para chamar de trilha. Hoje parece mais uma pastagem com dezenas de carreiros de rato. Há três anos - minha última passada por lá - haviam três trilhas: uma bem demarcada, a trilha original; a trilha da bica de água, e; uma outra que não sei a finalidade, mas era uma alça no Caratuva, talvez algum ponto de água mais antigo. Dessa feita estava um caos. Cada ser vivente que passa lá acha que deve marcar a trilha melhor que estava, porém, não vê que tá andando onde não tá marcado porque está no lugar errado. Nessas épocas de GPS usado por quem não sabe nada de geografia, o resultado é um festival de fita e corda de apoio para todos os lados. Como resultado, peguei uma trilha que estava com sinal de uso recente e cordas de apoio. Assim que desci o segundo lance desconfiei que ia dar ruim, já caí numa canaleta de chuva do lado da montanha. Andamos mais uns cinquenta metros na esperança de eu estar confundindo e trilha ser ali mesmo, que nada, outro lance de descida com corda na direção da pedra apoiada. Já dá para imaginar o perrengue que foi subir de volta os três lances com a cargueira abarrotada.
Tivemos de voltar lá encima, antes dos arbustos, de onde pude ter alguma visibilidade da crista e marcar uma direção no mapa e no GPS. Daí pela trilha original haviam vários locais com cordão "bloqueando" a trilha, cada vez que tinha um cordão a trilha abria para os dois lados. Até tentamos seguir uma dessas marcações, mas ela sempre estava indo no sentido das canaletas e, ou voltava para trás ou dividia novamente em mais algumas trilhas. Se não fosse os anos no mato, com o tempo já fechado como é normal por ali, entraria em desespero fácil. Bom, prometo que vou parar de ficar puto com isso.
Finalmente chegamos na famosa "trilha branca" e partimos para o PP. No caminho não encontramos ninguém indo ou vindo, terça feira né. Chegamos no cume era muito cedo ainda, apenas 14:00.
Como o tempo estava virado, e o aguaceiro já começava, decidimos dormir ali mesmo, para no outro dia ir aos outros três cumes do conjunto: Tupipiá, Ibitirati e União. Mal montamos a barraca e a chuva apertou. Nesse dia restou dormir, no final até o sono foi preocupante, pois haviam relâmpagos no horizonte e ao menor sinal de carga elétrica teríamos de desembarcar.
Enfim amanheceu, e sem chuva, por enquanto. No leste o sol se levantou imponente e no sul a chuva apertava. Antes ainda do astro ficar realmente alto começou a garoar formando um arco-íris perfeito sobre o Siririca e os Agudos. Mais um sinal de que o caldo entornaria.
Tomamos um café rápido e rolamos a encosta para o Pico União queríamos retornar rápido para começar a descer, mas não queríamos desistir de tudo o que havia planejado. Na travessia do União para o Ibitirati escutamos a primeira trovoada. Os cabelo ficaram em pé. Rapidinho subimos no cume, só o tempo de observar algumas nuvens marotas se reunindo sobre o Caratuva.
Escalamos a parede do PP debaixo de chuva, ainda um aguaceiro mas que com o vento e o frio parecia um inferno. Juntamos a tralha que estava preparada e começamos a descida. Lá embaixo no A2 vi duas barracas montadas, pensei, bom pelo menos se resolvermos ficar no A2 não estamos sozinhos. sim nosso plano incluía uma noite no A2 com ataque aos Camelos.
Quando chegamos no A2 a trilha já era uma cachoeira e os raios caiam na Farinha Seca ali perto. Das duas barracas havia restado uma, a outra quebrara. Falei com os três ocupantes para vazarmos dali porque a coisa ia ficar feia, eles disseram que esperariam a chuva passar. Eu e a Bruna fincamos pé, quase uma remada no rio que descia pela trilha. A partir daquele chapado antes do A2 fiquei mais aliviado, já estávamos bem baixo e então os raios já não seriam um problema, precisava redobrar a atenção com o terreno para não cair.
Não demorou para olhar para trás e ver os três ocupantes da barraca no nosso encalço, fugindo também. Foi ótimo porque o trecho do da corcova e a parte lisa da trilha descendo o A1 fizemos em 5. No A1, separamos, os três queriam passar no Caratuva. Expliquei sobre a trilha e qual deveriam seguir, comentei para não confiarem no tempo porque, acredite, a chuva havia passado, mas a previsão era de tempestade nas próximas horas.
Descemos o resto da trilha bem lentamente, frustrados pelo plano mais uma vez ter ido, literalmente, por água abaixo, mas felizes pela oportunidade de novamente ter aprendido, afinal, ver a montanha molhada daquele jeito só quando a chuva pega no meio do caminho, pq ninguém em sã consciência inicia um projeto debaixo de água.
No final, foi cômico, porque depois que chegamos no Getúlio o tempo começou a abrir e não choveu mais. A noite o três paulistas da barraca chegaram na fazenda onde estávamos acampados e e falaram que tinham adorado a vista do Caratuva. Já sem chuva, só não ficaram lá acampados porque o equipamento havia sido comprometido na tempestade.
Mais uma vez a Serra do Mar imperando. Fomos ainda ao Marumbi e esticamos até Antonina, mas fica para outro post. Sempre escrevo sobre as travessias e outras bobagens além de disponibilizar mais fotos no site/blog: https://www.foradatribo.com/di%C3%A1rios
E um vídeo de recordação fica no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=PI54vT8hlI4
