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Leia ouvindo: Work Song (canção de Hozier)
É eu sei, vai parecer clichê...
Mas o caminhar intenso, o sol escaldante, a superação dos últimos dias... As quedas, as risadas, a simplicidade, cada oásis de praia ou cachoeira ao final de um pesado percurso... Mais uma vez me ensinaram o quanto o "impossível" só tem poder quando eu acredito nele.
Obrigada, existência. Por me ensinar a ser forte, sempre e cada vez mais.
Gratidão natureza, por sempre me acolher num oceano de verdades e respeito.
Carnaval, avenida de boas lembranças com direito a quarta-feira de "alegrias"!
(Resgistro pós travessia em 2018)
Relato:
O ano é de 2018, dias 09 a 13 de fevereiro, mais precisamente feriado de Carnaval.
É incrível como a vida nos dá não aquilo que queremos, mas sim aquilo que precisamos; eu sempre aprendo muito mais quando isso acontece e não que seja fácil, mas é que simplesmente não sobra alternativa se não aprender.
No caso dessa viagem, foram as duas coisas juntas, tanto o que eu queria como o que eu estava precisando.
Eu até gosto do Carnaval e da ideia dos 4 dias eufóricos como se não houvesse grandes problemas na face da Terra, para então na quarta-feira de cinzas nos depararmos com a realidade de que não, a vida não é só confete, alegria e bebedeira... É, as vezes eu até gosto do Carnaval. Mas nesse ano de 2018 especificamente eu queria mesmo era fugir para o silêncio que reside na natureza, e entrar em contato um pouco mais comigo mesma.
Surgiu-me a oportunidade, um pouco de última hora, de fazer a travessia da Ponta da Joatinga em Paraty. Diga-se de passagem, eu nunca havia feito uma trilha que levasse mais que 3 ou 4 horas... Eu nunca tinha levado dentro de uma mochila nas costas tudo o que eu precisaria pra sobreviver durante 4 dias... Eu nunca tinha tido a necessidade de ser tão auto-responsável por mim e por minhas escolhas; aliás, a vida muitas vezes me exigiu sim responsabilidade e maturidade, mas não de uma maneira tão crucial: não, eu não podia simplesmente parar e desistir no meio do caminho, eu tinha que realizar a travessia até o final.
Enfim, voltando ao relato, segui para Paraty com a agência de viagens Aventurista e mais um grupo com cerca de 12 pessoas. Fomos de ônibus, chegamos lá de madrugada e entramos no barco que nos levaria por cerca de 2 horas até o Pouso de Cajaíba - uma sossegada e bela praia com um pequeno vilarejo e moradores locais muito hospitaleiros. Chegamos, tomamos café da manhã, contemplamos um pouco do lindo dia e iniciamos o trekking até Martins de Sá, uma praia lindíssima com uma enorme espaço para camping (possui chuveiro e espaço de cozinha).
No dia seguinte seguimos para praia do Cairuçu das Pedras, que na minha opinião foi um dos cenários mais lindos dessa travessia, a minha sensação é a de que estávamos isolados do mundo. Ficamos acampados no quintal do seu Aprígio e de sua família, com uma vista absurdamente maravilhosa!!! Tive a oportunidade de adentrar na casa de barro construída por eles e ouvir algumas das histórias que nem de longe seriam contadas por alguém que mora na cidade grande.
Um especial momento desse lugar, foi ter podido ficar deitada observando um céu extremamente estrelado do alto de uma pedra quentinha aquecida pelo sol intenso durante o dia onde também pudemos assistir um nascer do sol fantástico!
Infelizmente durante a chegada até Cairuçu, eu acabei tendo uma torção no meu pé, o que me impossibiltou de seguir via trekking até a Ponta Negra e Calhetas (que é um dos trechos mais difíceis e técnicos), por esse motivo acabei fazendo o percurso de barco - ruim por um lado (não realizei a travessia completa), mas revigorante e encantador por outro. Ter o vento tocando o rosto juntamente com as gotas do mar a cada batida da proa nas águas, me proporcionou uma refrescante satisfação por estar ali, além de claro contemplar aquele lugar paradisíaco por um outro ponto de vista...
Nesse dia cheguei no camping antes do que o grupo e acabei conhecendo o querido Edu Farias - que foi muito gentil e amigável comigo!!! Almoçamos juntos e fomos conhecer a cachoeira Galhetas, que se tem acesso por uma trilha tranquila com cerca de 30 minutos.
O Edu Farias me apresentou o grupo de trekking Mochiroots, o qual a partir dessa viagem eu passaria a fazer parte também.
No dia seguinte seguimos para a finalização da travessia, passamos pelas praias de Antiguinhos, Antigo e após uma árdua descida, chegamos na Praia do Sono. Importantíssimo ressaltar que nesse último dia contamos com uma baita tempestade! Fizemos as trilhas debaixo de chuva - daí já podem imaginar, era barro, era suor, era areia dentro da bota, no cabelo, na boca e na coisa toda - mas posso falar (?), o último trecho (que eu acabei realizando de forma solo) mata a dentro, debaixo de chuva, foi um dos melhores momentos em toda minha "vida outdoor".
Tomar as rédeas da situação (realizar a trilha sozinha mesmo), ter que estar atenta ao trajeto, às dificuldades encontradas no caminho juntamente com a sensação refrescante da chuva (pensa num carnaval em que eu passei calor de verdade, durante os 3 dias anteriores fez um sol de rachar!), me trouxeram a nítida noção de que assim é também na vida: assumir o controle, fazer escolhas, permanecer vigilante e ainda assim se manter num estado poroso que te permita enxergar com encanto cada detalhe sagrado ao redor.
Para mim, essa travessia foi extremamente difícil, primeiramente pela minha falta de preparo físico, pela minha falta de conhecimento e experiência na prática de trekking (imagina, eu levei até binóculos na minha mochila, ela estava bastante pesada e inclusive agradeço ao Rapha Gil que me ajudou a carregá-la em alguns momentos, alguns não, vários!!!), pelo calor absurdo que fez, pela minha falta de equipamentos adequados (usei uma yellow boot da Timberland - pensem se meu pé não fritou e encheu de BOLHAS).
Enfim.
Não foi nada fácil.
Mas de uma maneira um pouco estranha, todo esse perrengue me fez querer mais. Me fez querer superar o que havia dado errado, me fez querer testar meus limites mais outra e outra e outra vez, me fez querer conhecer mais intimamente aquela que sempre me acolhe de maneira carinhosa... Nossa Mãe Natureza - que pra mim é a mais perfeita personificação do Criador.
(Infelizmente eu perdi meu celular onde tinham meus registros fotográficos, peguei algumas compartilhadas do grupo)
massa o seu post, Marcella! todo mundo começa mais ou menos assim e que bom que é assim! siga em frente!
Obrigada, Edson! Meus primeiros relatos... Tentarei ser mais técnica também, na medida em que for alimentando a plataforma!
Linda essa Travessia!
Linda mesmo, Patrícia! 🙏😍😉
Adorei seu relato tão rico em detalhes. Tua conexão com a natureza me fez lembrar de uma canção do Sagrado Coração da Terra, chamada o Grande Espírito. Conhece? Que venham outras trilhas e que vc compartilhe suas emoções sempre com esse entusiasmo! Abraço.
André, procurei essa música no Spotify, mas não encontrei. Não a conheço! Amém, que venham muitas outras trilhas e todo aprendizado que elas proporcionam! Abraços
Aqui está um álbum para você… Grande Espírito Sagrado https://open.spotify.com/album/2ThESTdKW1dpEZGXxnUBXo?si=oPbbZ_L4QUaK94k8hhBBcA Tô te mandando o álbum inteiro. Adoro essa banda!
Que relato lindo Marcella. Li ele escutando a música que indicou, e que fantástica sintonia. Gratidão por partilhar a experiência tão rica em detalhes.