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Tudo que você precisa saber para evitar acidentes com cobras

    Acidentes com cobras podem e devem ser evitados. Faça seu esporte e lazer em segurança!

    Papo de Cobra
    30/08/2020 10:28

    As trilhas constituem um elemento cultural presente nas sociedades humanas desde os tempos remotos e serviram no passado como via de comunicação entre os diversos lugares habitados pelo homem, seja devido a necessidade de deslocamento, do reconhecimento de novos territórios e até da busca por alimento e água. Nos dias de hoje as trilhas têm sido utilizadas como via de condução a ambientes naturais, para contemplação da natureza, prática de esportes radicais, recreação e ecoturismo. Cada vez mais as trilhas estão deixando de ser um simples meio de deslocamento para se tornarem um novo meio de contato com a natureza. Esse contato, por outro lado, aumenta a interface entre o homem e diversas espécies animais. Muitos desses animais possuem toxinas, podendo causar acidentes graves que podem levar a sequelas graves ou até mesmo o óbito se não tratadas adequadamente. Animais que possuem toxinas e formas de inocular essas substâncias são denominados animais peçonhentos. Os principais animais peçonhentos que podem causar acidentes graves nas trilhas são as serpentes, mas acidentes também podem ocorrer por picadas de aranhas, escorpiões e abelhas.

    Em todo o Brasil, o número de acidentes por animais peçonhentos vem crescendo. Atualmente cerca de 28.000 acidentes por serpentes são notificados anualmente no país. Esse aumento é devido principalmente ao desequilíbrio ecológico ocasionado por desmatamento e alterações climáticas ocorridas ao longo de vários anos. No estado do Rio de Janeiro as serpentes peçonhentas que mais causam acidentes são principalmente as jararacas e jararacuçus, mas acidentes com cascavéis e corais também são relatados.

    A característica que define e caracteriza uma serpente peçonhenta no Brasil é a presença de um orifício na região anterior da cabeça da serpentes, entre o olho e a narina, chamado de fosseta loreal. Esse é um órgão termosensores que facilita a localização de presa para sua alimentação, mas que atua também na sua defesa contra predadores. O único grupo de serpentes peçonhentas no Brasil que não apresentam a fosseta loreal são as cobras corais verdadeiras. Desta forma, o formato triangular da cabeça, o formato da pupila e os desenhos no corpo de uma serpente, apesar de muito populares, não são características confiáveis para se identificar se uma serpente é ou não peçonhenta.

    As jararacas e jararacuçus (gênero Bothrops) são responsáveis por cerca de 90% dos acidentes por serpentes no país. Vivem em áreas de matas, mas podem ser encontradas em áreas abertas. Normalmente ao serem surpreendidas permanecem imóveis ou procuram a fuga, mas se pisoteadas ou se sentirem ameaçadas podem se defender, injetando seu veneno. Nas trilhas são mais encontradas nas primeiras horas do dia, aquecendo-se com os primeiros raios de sol da manhã ou ao entardecer. Podem se camuflar muito bem na vegetação, inclusive nas árvores, dificultando sua localização. A vítima de um acidente por jararacas pode apresentar dor intensa, edema (inchaço) no local da picada e que pode se estender pelo membro, hemorragia (sangramento) no local da picada ou distante dele, equimose, abscesso, formação de bolhas e necrose. São comuns sequelas em atendimentos que demoraram muito ou que não foram tratados.

    As cascavéis (gênero Crotalus) vivem principalmente em áreas abertas e no estado do Rio de Janeiro vem aumentando sua população na região centro-sul, em municípios como Vassouras, Valença, Paraíba do Sul e outros. Mais recentemente têm sido encontradas também em matas fechadas, inclusive no Parque Nacional de Itatiaia e ultimamente tem alcançado a região serrana. A vítima de um acidente crotálico pode apresentar dor discreta ou ausente, edema discreto, parestesia, queda das pálpebras, visão dobrada, visão turva, urina avermelhada e marrom, podendo chegar a insuficiência renal nos casos graves e ao óbito.

    As corais verdadeiras (gênero Micrurus) são serpentes peçonhentas de hábitos fossoriais, vivendo enterradas ou sob a camada superficial de folhas e normalmente aparecendo quando o solo é revolvido ou escavado ou então após chuvas fortes, quando a terra fica úmida e fofa, facilitando o deslocamento desses animais. Apresentam cabeça de formato ovalado e recoberta por grandes escamas simétricas no alto da cabeça, característica essa muito mais frequentes em serpentes não-peçonhentas do que nas peçonhentas que normalmente se caracterizam por apresentarem cabeça triangular e minúsculas escamas no alto da cabeça. As corais são mais um exemplo de que o formato triangular da cabeça não caracteriza uma serpente peçonhenta, visto que elas, apesar de fortemente peçonhentas, não apresentam essa característica. As corais não possuem a capacidade de abrir muito a boca, o que não a permite desferir "botes" como a grande maioria das serpentes peçonhentas. Se elas não possuem um grande poder de ataque, possuem, por outro lado, um excelente poder de defesa. Ao se sentirem ameaçadas normalmente escondem a cabeça e levantam a cauda, de forma enrolada fazendo com que essa se assemelhe a região da cabeça. É muito comum que, ao se observar corais com esse método de defesa, as pessoas a peguem pela cauda, possibilitando que a serpente morda na região dos dedos, causando o envenenamento. Uma outra forma de defesa que a coral utiliza é se fingir de morta ao ser surpreendida, virando-se com o ventre para cima e ficando imóvel. O ato de pegar o animal nas mãos, pensando tratar-se de uma serpente morta, permite que a coral morda nos dedos, causando o acidente.

    Outro grupo que pode causar acidentes é o grupo das surucucus (gênero Lachesis), que são as maiores serpentes peçonhentas do Brasil, podendo alcançar os 3,5 m de comprimento. Porém como vivem em áreas de mata primária são extremamente raras do estado do Rio de Janeiro, tendo sua maior incidência na região amazônica e fragmentos de matas no Nordeste do país.

    É importante, em caso de acidente tentar manter a calma e fazer procedimentos simples como lavar o local da picada com água, se possível permanecer em repouso mantendo o membro atingido elevado, e ser conduzido até o atendimento médico o quanto antes. Porém talvez mais importante do que deve ser feito é saber o que não se deve fazer em hipótese alguma: não se deve cortar ou perfurar o local da picada, nem apertar tentando fazer com que o veneno saia, o veneno imediatamente é absorvido pelas correntes sanguíneas e linfáticas e esse procedimento além de não ajudar, acaba criando mais complicações.

    Também não se deve amarrar o local da picada, o chamado “fazer garrotes”, uma vez que esse procedimento concentra o veneno, e em serpentes cujo veneno seja necrosante, isso vai acelerar a morte do tecido, podendo levar a uma sequela como a amputação do membro. Nunca colocar nenhum tipo de substância no local da picada como pó de café, alho, folhas de plantas etc. E lembre-se também de não oferecer nenhum tipo de bebida alcoólica ao acidentado, prática infelizmente muito comum realizada por total desconhecimento sobre os acidentes.

    Em uma atividade de trilha ou montanhismo é fundamental que haja um bom planejamento e uma orientação prévia para todos os participantes, para que estes saibam o que fazer e para onde ir em caso de acidente, uma vez que o tempo é um fator decisivo para que esse tipo de acidente não venha a deixar sequelas ou mortes.

    Lembre-se de não tentar capturar ou matar a serpente. Não há necessidade de levar a serpente causadora do acidente, pois uma equipe médica treinada estará apta a reconhecer o tipo de acidente e qual tratamento efetuar.

    Para conhecer mais sobre as serpentes e outros animais peçonhentos e os procedimentos para se evitar acidentes por eles, inscreva-se no nosso canal

    https://www.youtube.com/papodecobra?sub_confirmation=1

    O respeito e o cuidado com o meio ambiente somados ao conhecimento sobre a prevenção dos acidentes ofídicos por parte desses profissionais é o único caminho para que o número desses acidentes diminua em todo o país e que as atividades de trabalho e lazer no contato direto com a natureza seja realizada com segurança.

    Cursos e palestras sobre prevencao de acidentes em trilhas e em atividades out-door (presenciais ou online) podem ser contratadas através do email papodecobra@gmail.com

    3 Comentários
    Renan Cavichi 30/08/2020 12:49

    Excelente matéria Claudio! Nesses mais ou menos 10 anos praticando trekking e hiking tive pouco contato com cobras, umas 3 ou 4 dessas cobras verdes cruzando a trilha (que dão um belo susto rs) e umas 3 jararacas, duas na Ilhabela e outra em Ubatuba na trilha do Corcovado, sempre quietas no seu canto. Tenho uma dúvida, não tive nenhum contato com jararaca em montanhas passando da faixa dos 2 mil metros de altitude, isso foi só por acaso mesmo ou existe algum hábito dessa espécie de ficar em regiões mais baixas?

    Renan Cavichi 30/08/2020 12:49

    De modo geral existe alguma característica associada as espécies em relação a altitude?

    Papo de Cobra 30/08/2020 13:02

    Obrigado Renan. A distribuição está diretamente relacionada com a espécie. Normalmente as Jararacas (Bothrops) ocorrem em regiões baixas, algumas podem chegar até 800 a 1000m de altitude, mas são poucas. Não conheço trabalhos que mostrem espécies vivendo mais alto do que isso. Abs

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