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Travessia Patagónica Internacional pelo paso Río Puelo

Travessia Patagónica Internacional pelo paso Río Puelo

Foram 56 km de trilha, cruzando a fronteira entre Chile e Argentina. Fomos de Llanada Grande (CH) a Lago Puelo (AR).

Trekking Montanhismo

PRÉVIA

No segundo semestre de 2017, eu e Ramon Quevedo, fizemos uma expedição sabática pelo Chile. Compramos uma passagem de ida-e-volta entre São Paulo e Santiago.

Como a data de volta ao Brasil, ultrapassaria a validade do visto turístico chileno de 3 meses, sabíamos que em algum momento da viagem, teríamos que cruzar a fronteira chilena para revalidar nossa estadia no Chile.

Decidimos cruzar a fronteira, quando chegamos na região dos Lagos. Depois de algumas orientações de chilenos e americanos, que conheciam a região, escolhemos a passagem fronteiriça Río Puelo, entre Chile e Argentina.

Essa passagem pode ser feita de dois modos somente: em embarcações fluviais ou a pé por uma trilha. Nem precisa dizer que escolhemos a segunda opção.

Essa travessia internacional fica na região da Patagônia, passando por rios e lagos rodeados por muito verde. Árvores caídas pelos fortes ventos também fazem parte da paisagem.

A cidade chilena mais próxima é a pequena Llanada Grande, e a cidade argentina mais próxima é Lago Puelo.

RESUMO DO TREKKING

  • Países: Chile e Argentina
  • Distância das capitais: Santiago (1070 km), Buenos Aires (1770 km)
  • Início: Llanada Grande, Chile
  • Fim: Lago Puelo, Argentina
  • Distância total: 56 km
  • Duração: 3 a 4 dias
  • Pontos de água: vários
  • Subida acumulada: 1513 metros
  • Descida acumulada: 1483 metros
  • Altitude máxima: 413 metros
  • Mapa da trilha: Wikiloc
  • Período do trekking: meados de novembro de 2017

COMO CHEGAMOS

Estávamos em Puerto Varas quando decidimos fazer essa travessia. Fomos de transporte público até Llanada Grande, onde iniciaríamos a caminhada.

Primeiro pegamos o único ônibus diário, que faz o trajeto Puerto Montt ao lago Tagua Tagua, passando por Puerto Varas às 8h30min.

São 3h45min de viagem até chegarmos no lago Tagua Tagua, onde é possível atravessá-lo por uma balsa. A chegada do ônibus é sincronizada com a balsa. Ele espera os próximos passageiros desembarcarem da embarcação, para voltar à Puerto Montt.

A balsa percorre o lago Tagua Tagua em 50 minutos. E ao desembarcarmos há outro ônibus nos aguardando do outro lado. Este ônibus vai até o Segundo Corral.

Antes de chegar no Segundo Corral, depois de 1h10min, o ônibus fez uma parada em frente a um mercado, já em Llanada Grande, onde se pode comprar alguma comida.

Neste ponto, pedimos para o motorista nos deixar na ponte Mapocho, a 7 km do 'centro' da Llanada Grande, no camping Mapocho Bajo.

ROTEIRO

No total foram 4 noites acampando, relatados com detalhes abaixo.

  • 1 noite no Camping Mapocho Bajo
  • 2 noites na casa de Vitor, sendo 1 dia de chuva (não contabilizei o dia de chuva no relato)
  • 1 noite no controle fronteiriço chileno
  • 1 noite na Pasarela de Lago Puelo

DIA 1: MAPOCHO BAJO – CASA DO VITOR

  • Total percorrido: 16 km
  • Tempo: 5h30min
  • Subida acumulada: 372 metros
  • Descida acumulada: 347 metros
  • Altitude máxima: 258 metros

Na primeira noite ficamos no camping pago Mapocho Bajo, perto de onde o ônibus nos deixou.

Esse camping fica a 3,5 km do lago Azul. Do outro lado do lago Azul, há uma trilha de 12 km que chega até o controle fronteiriço chileno. Mas como não sabíamos se haveria algum barco para cruzarmos este lago, decidimos fazer outra rota, passando pelo lago Verde, no outro lado da estrada.

Desse modo, voltamos para a estrada, sentido Segundo Corral e saímos à direita na placa El Balseo.

Continuamos em uma estrada de terra, passamos por um mini mercado, até chegarmos em um rio, onde é possível cruzá-lo em uma embarcação. Não sei qual é o destino desta embarcação. Nós seguimos à esquerda, passando por uma propriedade privada.

Entramos em uma trilha, passando por outras casas e algumas belas paisagens do lago.

Depois a paisagem fica bem coberta pelas árvores. Uma e outra abertura, vimos que estávamos margeando o lago Verde. Foi uma caminhada chata em uma trilha mais fechada, até chegarmos em um portão e uma ponte. Caímos na estrada novamente.

Apesar do mapa físico local indicar uma área de acampamento próximo, não encontramos camping por perto. Estávamos nós, sentados na calçada, olhando para o mapa, com interrogações em nossos semblantes, tentando decidindo o que faríamos; quando um cordial chileno, chamado Vitor, passou por nós e ofereceu sua casa para acamparmos em seu quintal. Apesar da enorme faca que ele carregava (se eu estivesse em São Paulo, sairia correndo), aceitamos o convite.

DIA 2: CASA DO VITOR – CONTROLE FRONTEIRIÇO CHILENO

  • Total percorrido: 15,5 km
  • Tempo: 5h30min
  • Subida acumulada: 414 metros
  • Descida acumulada: 335 metros
  • Altitude máxima: 413 metros

O Vitor vive sozinho em uma casa simples, com energia gerada por um gerador e por placa solar. Devido o mau tempo, dormimos duas noites no quintal de sua casa, junto com seus 3 cachorros e diversas galinhas. Sem água quente para banho, ficamos sujinhos mesmo. Como ele gosta de um bom papo, comprou um garrafão de vinho para estimular a prosa. Nossa companhia, durante o dia chuvoso, acabou sendo nosso 'pagamento' pelo camping. Foi uma boa troca.

Para o relato, não contabilizei este dia 'extra' chuvoso.

No dia seguinte saímos da casa de Vitor, rumo à Argentina.

A trilha começa na frente da casa de Vitor e segue margeando o imenso lago Las Rocas, passando por outras casas. O caminho no começo é largo e sempre protegido do Sol. E alguns pontos com vista para o lago alegram nosso dia.

Entre as árvores, uma placa e uma pequena trilha nos levaram para uma praia, onde deve funcionar um camping na alta temporada.

Surgem árvores de troncos alaranjados dominando e estreitando o percurso.

No meio da trilha havia um caminho de madeira. A princípio achamos que a trilha seguia por lá, mas nos deparamos novamente com o lago Las Rocas e um pequeno barco, que serviu como um banco de descanso temporário.

A trilha continua estreita até chegar em uma casa em construção. Provavelmente um futuro hotel. A partir desta construção a trilha fica larga novamente.

Em todo o percurso, só vimos duas praias: a do camping e a praia que fica na ponta do lago Las Rocas, a 200 metros dos Carabiñeros. Nessa última praia há um campo de futebol e é permitido acampar.

Depois de 5h30min de caminhada chegamos nos Carabiñeros da fronteira chilena. É permitida a passagem a pé pela fronteira somente de manhã, pois a caminhada para Lago Puelo, a próxima cidade, são de 12 horas.

Também não havia transporte aquático no momento. O policial explicou que devido algum problema com a empresa responsável, o transporte fluvial estava suspenso temporariamente.

Sem outras opções, dormimos solitários no campo de futebol.

DIA 3: CONTROLE FRONTEIRIÇO CHILENO – LAGO PUELO

O ideal seria dividir este dia em duas etapas, como segue:

3.1. Controle fronteiriço Chileno – controle fronteiriço Argentino

  • Total percorrido: 16 km
  • Tempo: 5h30min
  • Subida acumulada: 550 metros
  • Descida acumulada: 579 metros
  • Altitude máxima: 380 metros

Estávamos 8h15 da manhã nos Carabineros de Chile pegando nosso papel de saída do país. Fomos bem cedo para aproveitar o dia.

Seguimos nossa jornada rumo à Argentina, margeando agora o Lago Inferior.

O início da trilha é bem largo. Vimos marcas de pneus no chão, provavelmente de um quadriciclo.

Entre os controles fronteiriços, perto do lado chileno, há uma fazenda e uma casa abandonada. Depois dessa fazenda, a trilha se fecha.

O clima da Patagônia aparece com seus fortes ventos. Como estávamos em um bosque com árvores altas, ficamos um pouco protegidos do vento gelado. Dava um pouco de receio ao olhar para cima, ver e ouvir as árvores balançando. Muitas já estavam caídas no caminho, algo bem típico nesta região.

A trilha tem um sobe e desce que aquece o corpo. E de vez em quando há uma abertura com vista para o lago Inferior, que está a nossa direita.

Há alguns riachos para cruzar e em 3 deles tivemos que tirar as botas para não molhá-las. Mas nada assustador. A água gelada batia nas canelas. Nos outros riachos tínhamos ajuda de pedras e rudimentares troncos de árvores.

Apesar do guarda nos falar que o terreno não era bom para acampar, vimos alguns lugares interessantes para montar nossa barraca. Mas para não criarmos problemas com os Carabiñeros, seguimos em frente.

Quase chegando na fronteira com a Argentina é possível avistar a intersecção do lago Inferior do Chile, com o lago Puelo da Argentina. Foi uma das mais belas vistas da travessia.

A fronteira entre Chile e Argentina fica no meio da trilha. Somente duas placas indicavam que estávamos entre dois países. Este foi o momento mais legal desta travessia. A única fronteira que atravessamos a pé, até então, foi a confusa, lotada e caótica ponte da Amizade, em Foz de Iguaçu.

Atravessar essa fronteira, no meio de uma trilha, onde certamente somente nós andamos naquele dia, e talvez naquela semana toda, foi algo MUITO DIFERENTE do que já havíamos feito até então. Aproveitamos, que não havia ninguém olhando, e ficamos um tempinho por lá, brincando de pular de um país para outro.

Logo que passamos a divisa imaginária, percebemos as diferenças na trilha. A trilha no lado Argentino pertence a um Parque Nacional. É bem sinalizada e todos os cruzamentos fundos de rios, tem uma ponte. A trilha é bem melhor e mais agradável.

Seguimos até chegar no controle Argentino, onde fomos recebidos por um jovem simpático.

Tudo ia muito bem, até mostrarmos nossas identidades brasileiras. Ele nunca tinha visto a identidade brasileira e nos perguntou se teríamos passaporte. Expliquei que não precisa de passaporte para transitar entre os países do Mercosul, e por isso não estávamos com os nossos. E como disse o Ramon: "Para tudo, sempre tem a primeira vez na vida". Mas tinha que ser conosco?

Apareceu um oficial sênior, para avaliar os dois indivíduos que tentavam entrar na Argentina. Mostramos o ticket do avião de entrada em Santiago (ainda bem que eu tinha guardado) e insistimos no acordo do Mercosul (que visivelmente ele desconhecia!). Ele entrou no escritório, ficou um tempo por lá. Saiu novamente, falou algo com a palavra "ilegal" e olhou para nossas caras indignadas. Entrou novamente, e finalmente saiu com nossa liberação. Carimbou em cima do papel de saída do Chile e assim seguimos.

No controle argentino há um lugar para acampar. Estávamos com pouca comida e depois de quase não entrar na Argentina, por despreparo do responsável, achamos melhor sair de lá. Vai que ele muda de idéia...

Seguimos mais uma longa pernada até a cidade de Lago Puelo.

3.2. Controle fronteiriço Argentino – Lago Puelo

  • Total percorrido: 9 km
  • Tempo: 4h30min
  • Subida acumulada: 177 metros
  • Descida acumulada: 222 metros
  • Altitude máxima: 369 metros

Seguimos a trilha com indicação das placas “Pasarela”, que é uma ponte que cruza o rio Puelo.

A trilha em si é tranqüila. Mas o acúmulo das 6 horas anteriores nos deixou bem cansados. O ideal é se programar para acampar no controle Argentino, e quebrar esse dia em dois.

Neste trecho, encontramos alguns trekkers indo em direção à fronteira Argentina. Foram os únicos que vimos até então.

A passarela do Rio Puelo é muito linda, com muitas flores coloridas, amarelo, vermelho, lilás. Vale a pena a visita. E é de fácil acesso. Fica ao lado da rodovia que liga as cidades Lago Puelo e El Bolsón. Foi um excelente fim para essa jornada.

A passarela fica a 2 km do centro da cidade de Lago Puelo. Mas como estávamos exaustos, após 25 km de trekking, nem cogitamos de andar mais 2 km em busca de hospedagem. Montamos nossa barraca em um lugar mais reservado ao lado do rio Puelo mesmo. Foi uma noite 'clandestina'.

Valeu muito a pena, pois conseguimos apreciar as cores mudando com o pôr do Sol, naquele lugar deslumbrante.

No dia seguinte descobrimos que no outro lado da rua havia um camping pago. Fazer o quê...

Depois desta travessia, ficamos um mês neste lado argentino. Ao lado de Lago Puelo fica a agradável cidade El Bolsón. Um lugar perfeito para trekkers mochileiros. Há vários refúgios de montanha e conseguimos conhecer 7 deles.

Sem dúvidas, este trekking, foi a melhor opção de chegarmos na Argentina. Gostamos tanto da experiência de uma travessia internacional, que para voltar para o Chile repetimos a dose por uma rota diferente.

CUSTOS

  • Airbnb Puerto Varas, diária casal: $CLP 20000,00
  • Ônibus de Puerto Varas até Tagua Tagua, ida, individual: $CLP 4500,00
  • Balsa Tagua Tagua, individual: $CLP 1050,00
  • Ônibus Tagua Tagua até Llanada Grande, individual: $CLP 1000,00
  • Camping Mapocho Bajo, diária individual: $CLP 4000,00

Cotação em 24/11/2017:
$USD 1,00 = $BRL 3,22 = $CLP 633,35

DICAS

  • Leve passaporte, mesmo se seu país pertencer ao Mercosul. O controle argentino não estava preparado para receber nossas identidades brasileiras.
  • No primeiro dia, tente atravessar o lago Azul com uma embarcação. Provavelmente será um dia de trekking mais interessante do que contornar o lago Verde.
  • Planeje dormir uma noite no controle fronteiriço argentino.
  • Nunca deixe seu lixo. Traga-o de volta.

QUER MAIS?

Eu e Ramon Quevedo estamos curtindo uma vida sabática, focando no que mais gostamos de fazer: viajar trilhando.

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Paula @mochilaosabatico
Paula @mochilaosabatico

Publicado em 16/08/2018 18:22

Realizada de 15/11/2017 até 18/11/2017

1 Participante

Ramon

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