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Ricardo Ávila 13/03/2020 11:16
    Peito do Pombo

    Peito do Pombo

    "Dizem que foi um ato de AMOR, chuva, pedra, raio e o grande Escultor que o peito do pombo criou..." Elysio - SANA - RJ

    Montanhismo Hiking Escalada

    Olá! Como sou novo por aqui, decidi fazer o relato de um local que é muito simbólico pra mim. Foi a minha primeira ascensão em montanha e decidi fazer um relato não de uma aventura específica, mas sim dessa minha primeira experiência com o montanhismo, de outras ascensões ao Peito do Pombo e da relação especial que tenho com essa montanha em particular. Por isso que deixei a data da atividade no início do ano 2000 e término na minha última ascensão, que foi em outubro de 2020. Não farei aqui um relato técnico, com dicas e bisus mas apenas contar como foram essas vivências.

    O Peito do Pombo é uma montanha de 1.400 metros de altitude com uma caminhada de aproximadamente 4 horas de subida, partindo do Sana, distrito de Macaé - RJ. Eu já frequantava o Sana desde 98, mas era mais no intuito de curtir as cachoeiras, acampar e curtir os forrozinhos e bares que tinham por lá. Fazer a trilha pro Peito do Pombo era um sonho, mas que parecia um pouco distante.

    Primeira ascensão

    Eis que numa noite, eu e meu irmão (Cristiano), estávamos dando início aos "trabalhos" e tinhámos acabado de abrir uma garrafa de vinho, quando vimos um grupo de Cabo Frio se organizando na praça pra fazer uma subida noturna até o Peito. Era a nossa oportunidade de subirmos! Perguntamos ao grupo se poderíamos acompanhá-los e eles disseram que sim, mas que já estavam de partida. Rapidamente corremos no camping, preparamos as mochilas e, com mais ou menos 15 minutos de diferença, começamos a subir pela trilha na esperança de alcançá-los até a Taba Pindorama (Camping do Jamil), que era o último local conhecido por nós. Por sorte eles fizeram uma primeira parada um pouco acima do Jamil, num primeiro córrego e quando chegamos bem ofegantes pelo ritmo que tivemos que adotar, o grupo se levantou e continuou a caminhar não nos dando o tempo de descanso que precisávamos. Sem maiores problemas continuamos acompanhando o grupo, agora menos ansiosos pois estávamos com pessoas que conheciam o caminho. Mais uma hora de caminhada e chegamos na beira do rio que cruza o vale e lá sim fizemos nossa primeira parada. Dali tivemos trechos bem puxados mas conseguimos terminar a trilha sem nenhum contratempo.

    Chegando lá em cima fiquei tão encantado que não consegui relaxar e dormir pra esperar o sol nascer. Meu irmão apagou e eu fiquei tirando foto do momento exato em que o sol começou a despontar no horizonte. Eu fiquei tão maravilhado que tirei várias fotos iguais e, como naquela época não existia câmera digital, meu filme acabou antes que eu pudesse ter uma foto da pedra inteira, que se tirava acessando um subcume ao lado.

    Descemos acompanhando o grupo e quando chegou na entrada pra cachoeira 7 quedas nos despedimos, pois resolvemos tomar um banho de cachoeira antes de finalizar a trilha.

    Segunda ascensão

    Um ano depois, fui com um grupo de amigos onde eu me propus a guiar o grupo. Eu e mais três amigos fizemos uma trilha noturna que não foi tão bem sucedida. Ficamos perdidos em alguns trechos e tivemos que esperar cerca de uma hora pra continuar a trilha com um pouco mais de luminosidade. Um dos amigos também sentiu bastante e, num determinado momento, disse que não iria continuar subindo, que nos esperaria na trilha e desceria quando estivéssemos voltando. Insistimos muito e ele nos acompanhou até o cume.

    Não pegamos o sol nascendo mas o visual de lá de cima estava incrível. Desta vez não fiz registros fotográficos.

    Terceira ascensão

    Em 2005, foi a primeira e única vez que fiz a trilha durante o dia. Eu e mais um conhecido que não estava bem preparado. Ele sentiu muito o cárdio na subida e o joelho na descida. Tive que subir e descer com a mochila dele, mas completamos o percusso.

    Também não fiz nenhum registro fotográfico.

    Quarta ascensão

    Após um período afastado das montanhas, dedicado à vida profissional e à música, retornei no Peito em março de 2017. Vi num grupo do facebook que algumas pessoas iriam subir e fui sozinho pro Sana pra me encontrar com esse grupo, e acompanhá-los.

    Acontece que perdi o horário do encontro e quando cheguei no Sana soube que o grupo já tinha começado a subir. Rapidamente peguei as coisas dentro do carro e disparei em direção à trilha. Havia mais de 10 anos que eu não ia, e estava muito apreensivo, mas sabia que em algum momento me encontraria com o grupo. A história se repetia só que desta vez eu estava sozinho na trilha. Peguei uma bifurcação errada e cheguei no leito do rio mas no ponto errado. Tentei atravessar sem sucesso e molhei a bota e a meia. Ali me dei por vencido e comecei a retornar, desistindo de continuar a subida. Quando cheguei na bifurcação, vi uma seta discreta numa árvore e ali percebi meu erro. Peguei o caminho certo e prometi pra mim mesmo que se não encontrasse ninguém, até a travessia do rio, eu daria meia volta. Por sorte quando cheguei no rio tinham 4 pessoas na outra margem. Pude, enfim, sentar pra descansar e puxar conversa com esse grupo que pra minha surpresa não era o grupo do facebook, o qual eu deveria encontrar.

    Tratava-se de um escalador industrial que estava levando equipamento de escalada pra subir na cabeça do Pombo. Ele estava com sua sobrinha Sandy e uma amiga, mais a sua companheira. Eu e Sandy ficamos amigos logo de cara e subimos juntos conversando bastante. Chegando lá em cima encontrei o grupo com o qual eu deveria ter subido e esperamos o sol nascer. Foi lindo como vocês podem ver nessa foto abaixo.

    Eu estava muito feliz de voltar ali depois de 12 anos. Estava que nem pinto no lixo!

    O tio da Sandy escalou a base da pedra e prendeu a corda lá em cima. Depois a Sandy subiu jumareando e eu tive minha primeira experiência com a escalada. Uma ascensão em corda fixa até a metade da pedra. Não foi possível fazer o cume pois havia um enxame de vespas que ficaram bem agressivas.

    Quinta ascensão

    Minha penúltima ascensão lá no Peito foi com uns amigos e meu irmão. Fizemos em julho de 2019. Fomos em dois grupos separados. Meu irmão com três amigos num grupo que partiu 1 hora na nossa frente e eu, um amigo e mais dois casais. Eu levei o fogareiro e fizemos um delicioso capuccino lá em cima. O sol nasceu entre nuvens e ventava bastante.

    O dia ficou nublado e não conseguimos tirar muitas fotos.

    Na volta pegamos um pouco de chuva e muita lama mas valeu a pena!

    Sexta ascensão

    A última ascensão foi em outubro de 2020. Fiz a experiência de, pela primeira vez, fazer a atividade totalmente sozinho. Dessa vez não sabia se iria encontrar alguém no caminho ou lá em cima do cume, por isso resolvi levar um GPS e um SPOT por garantia.

    Comecei a caminhada às 1:30, um pouco mais tarde do que havia planejado, uma vez que geralmente se leva 4 horas pra chegar lá em cima, e o sol nasceria às 5:15. Logo nos primeiros minutos de caminhada começou a choviscar mas nada que não desse pra suportar. É claro que acende uma luz de alerta mas resolvi avaliar a situação quando chegasse na área descampada antes da travessia do rio. Quando cheguei nesse local a chuva deu uma trégua e consegui chegar no rio, sem maiores problemas. Atravessei pra outra margem e resolvi fazer uma parada de descanso. Nesse momento é que cometi um erro na trilha e ao invés de atravessar a cerca segui pela trilha que a margeia. Daí o GPS avisou e rapidamente concertei meu curso. No pasto minha maior preocupação era encontrar algum bovino e eu ia iluminando todo o pasto pra me certificar da provável presença de algum. Acontece que de repente baixou a maior serração, e meu campo de visão se limitou a poucos metros. Nesse momento hesitei em prosseguir. Mas não podia desistir assim tão fácil, embora estivesse sentindo muito a parte física. Fiz aquele trato mental que se ao chegar na trilha de mata fechada o tempo permanecesse fechado, eu daria meia volta sem pestanejar. Eis que alguns minutos depois surgem várias estrelas no céu e começa a despontar um vermelhidão no horizonte.

    Por um lado foi um alívio mas por outro a decepção de não conseguir pegar o nascer do sol no cume. Daí avisto o Peito do Pombo e lá em cima alguém pisca uma lanterna. Eu pisco a minha de volta e a lanterna se apaga. Bom pelo menos era um sinal de que eu não estaria sozinho.

    Daí cheguei na parte de mata fechada e poucos minutos depois já não precisava nem usar a lanterna. Mais uma hora de caminhada e pude avistar a pedra, magnífica!

    Fiz o contorno pelo morro adjacente e pude avistar que havia pelo menos umas 15 pessoas na base da pedra.

    Resolvi ficar afastado, no subcume de onde se tem a melhor vista da pedra. Depois algumas pessoas até se aproximaram pra tirar algumas fotos mas como estava ventando muito não vi problema quanto a isso. Fiquei ma minha tomando meu café e até tirei uma foto de um grupo que estava por ali.

    Depois todos foram descendo e puder ter bons momentos de quietude e paz...

    O retorno se deu sem maiores contratempos.

    Só gostaria de deixar registrado que na volta pude encontrar muito lixo no caminho, trouxe de volta esse lixo e fico bastante triste e revoltado em ver como temos pessoas sem consciência, frequentando esses locais que pra mim são sagrados e deveriam ser respeitados e preservados pra além da simples necessidade de se tirar uma foto, num lugar bonito.

    É isso, uma montanha que, por sua peculiaridade no formato, traz um fascínio muito grande para quem a avista e um encantamento sem medida para quem a visita...

    "...Tem gente que diz que é uma base natural de disco voador lá no alto do Sana

    Dizem que a pedra é um índio agachado que ainda vive lá em cima apaixonado pelo arraiá do Sana seu vale amado

    Mas mesmo parece um pombo empedrado com o peito estufado, guardião da região

    O Peito do Pombo traz o poder da pedra, o pombo, a paz

    O Peito do Pombo reluz o brilho do sol, a força da luz!

    O Peito do Pombo reluz o brilho do sol, a força..."

    Elysio - Sana, RJ.

    *Trecho da música Peito do Pombo da banda Raiz do Sana

    Ricardo Ávila
    Ricardo Ávila

    Publicado em 13/03/2020 11:16

    Realizada de 01/01/2000 até 20/07/2019

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    2 Comentários
    Bruno Negreiros 13/03/2020 11:36

    Bem vindo, Ricardo!

    Ricardo Ávila 13/03/2020 11:37

    Valeu ✌

    Ricardo Ávila

    Ricardo Ávila

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