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Ricardo Feres 25/03/2022 14:24
    El Chaltén (primeira visita)

    El Chaltén (primeira visita)

    Trilhas na região do Fitz Roy e Cerro Torre, em minha primeira parada em El Chaltén.

    Trekking Montañismo Acampada

    Esse relato é parte dos textos publicados na página , que eu escrevi durante minha viagem de seis meses pela Patagônia, que resultou no livro As Mais Belas Trilhas da Patagônia. Apenas uma ou outra foto apresentada aqui faz parte do livro, se quiser ver mais fotos que fazem parte da publicação, clique aqui.

    Flamingos na beira da Ruta 40

    Há anos que eu estava curioso pra conhecer El Chaltén, uma charmosa vila que se autointitula como a capital do trekking da Argentina. Ainda antes de chegar na vila a vista para o maciço do Fitz Roy impressiona e faz com que o motorista divida sua atenção entre a estrada e as montanhas.

    El Chaltén e o maciço do Fitz Roy vistos da estrada

    Nascer da lua visto do mesmo mirante da foto anterior

    Ao chegar em Chaltén vem a boa sensação de estar em um local que vive do turismo mas que não perdeu sua alma por isso. Dá gosto passear pra conhecer seus bares, restaurantes e, como em toda pequena cidade da Patagônia, pra brincar com os muitos cachorros soltos pelas ruas. E foi o que eu fiz nos dois primeiros dias, enquanto esperava o tempo melhorar para poder fazer o primeiro circuito da minha lista.

    Em Chaltén se pode fazer quase todas as trilhas no estilo bate-volta, pra quem quer ter o conforto de dormir na vila, mas eu não sou o maior fã de ir e voltar pelo mesmo caminho, então juntei diversas trilhas pra caminhar em um circuito de 4 dias, acampando pelo caminho. O outro circuito que quero fazer, em volta do Cerro Huemul, só pode ser feito com acampamentos, mas esse vai ficar pra depois, agora é a hora de conhecer o tão famoso Fitz Roy!

    Carpintero negro macho com aproximadamente 35 cm

    A previsão dizia que haveriam dois dias de muito sol e um terceiro dia com mudança de tempo à tarde, então resolvi retirar a primeira perna do circuito pra fazê-la depois, estando assim nos pontos mais importantes (Fitz Roy e Cerro Torre) nos dias com melhor luz pra fotografar. Já que haviam me falado que um remis (táxi com preço fixado antes da corrida) até o início da trilha sairia por 800 a 1000 pesos (60 a 75 reais), resolvi ir com uma van que cobra 400 pesos e sairia às 07:30, tendo como destino a Hostería El Pilar.

    Eu preferiria ir antes, mas pela diferença de preço, sem problemas em perder meia hora. Aí vem a primeira dica: não peguem as vans, elas se atrasam pra chegar, daí se perde ainda mais tempo porque passam em outras pousadas e andam incrivelmente devagar na estrada de terra. E eu ali, olhando aquela luz incrível e pensando se chegaria em tempo de fotografar… Respira fundo, relaxa porque não tem o que fazer e a previsão é boa pros outros dias também.

    Outra coisa que eu não sabia é que a van faria paradas pelo caminho, dando tempo pra quem quer fazer selfies e ouvir chatices curiosidades sobre a região. Bom, já que não tinha jeito, também saí pra fotografar e foi quando vi que o polarizador estava errado, não tinha o mesmo tamanho da lente que uso pras trilhas. Epa, espera aí, o polarizador está certo, a lente é que está errada! Pois é, na noite anterior a lua estava tão linda que eu coloquei a teleobjetiva pra fotografá-la, voltei correndo pra pousada e me esqueci de recolocar a lente certa. Enfim, fico imaginando o que pensaram as pessoas que me viram olhando pra câmera e falando “MERDA MERDA MERDA” sei lá por quantas vezes.

    Avisei o motorista da van que eu voltaria andando e tentaria uma carona pelo caminho. Uns 5 minutos depois já apareceu uma picape vermelha, estiquei o dedão e, só por garantia, fiquei no meio da estrada, assim se ele não quisesse me dar carona, teria que me matar. Chegando em Chaltén, o chileno gente boa que estava dirigindo me falou que precisava virar à direita, então eu desci e saí andando rapidamente pra pousada, quando vi que o celular não estava no bolso. Imagine a cena de um sujeito com uma cargueira nas costas correndo atrás de uma picape vermelha… Eu sei, pode rir, agora eu também dou risada disso, mas na hora eu só conseguia pensar “parece a primeira vez que você faz trekking, que idiota!”.

    Enfim, cheguei na pousada, troquei a lente, chamei um remis e daí soube que custaria 1.500 pesos! Até ontem estava entre 800 e 1.000, agora custa 1.500? Dei tchau e boa sorte pra taxista exploradora e resolvi fazer esse circuito por outra trilha, com início na própria cidade, já que eu não iria mesmo pra Pedra do Fraile. Irritado (comigo mesmo) até não poder mais, pensei “essa é a hora de usar os ensinamentos da meditação e yoga”, mas logo me lembrei que não consigo meditar e que só fiz 3 aulas de yoga, então resolvi andar até as coxas ficarem queimando, isso sim me acalma.

    No final, quer saber? Mudar o ponto de início da caminhada foi a melhor decisão, já que a trilha que sai de Chaltén em direção ao Fitz Roy é linda demais, quase sempre com vista pra montanha, que vai crescendo a cada passo.

    A trilha tem pouca elevação até chegar o último km, quando fica bem íngreme pra poder vencer um desnível de 500 metros. Enfim, a subida não é grande coisa pra quem tem costume de fazer trilhas, levando o trilheiro até a Laguna de los Tres, bem na frente do Fitz Roy, que se eleva por mais de 2 km acima da laguna, atingindo 3.350 metros de altitude.

    A dica número dois pra quem quer conhecer Chaltén é: vá no verão. Isso porque no inverno a Laguna de los Tres fica congelada e, se você não souber que ali tem um lago, vai achar que é uma planície na beira da montanha. Claro que é bonito, mas a vista que se tem no verão é ainda mais cativante, então eu voltarei em janeiro pra ter esse visual também.

    Dica três é: durma no acampamento Poincenot e madrugue pra poder estar lá em cima logo cedo, vendo o sol pintar o Fitz Roy de laranja. É importante saber que o sol bate na montanha meia hora antes do horário em que ele nasce, de acordo com os aplicativos, que estão ajustados para quem está bem abaixo, lá na vila. Muita gente chegou no horário oficial que o sol nasce mas perdeu o melhor momento.

    Em vez de acordar pra ver o sol nascer, resolvi ir durante a noite pra poder fotografar sob a luz da lua cheia. Não vou dizer que é agradável sair da barraca no meio da noite e passar horas a 4 graus negativos, mas valeu cada segundo, foi bom demais estar na beira da laguna sozinho, com a lua iluminando as montanhas e sem ouvir qualquer barulho que não fosse da minha respiração.

    Sobre a Laguna de los Tres congelada, iluminado pelo luar.

    Junto com a luz foram chegando as pessoas e, depois de tomar café e me aquecer, era hora de seguir até o acampamento De Agostini, junto da Laguna Torre, que dá vista pro Cerro Torre. Dia de caminhada bem tranquila, já que o ganho de elevação é pequeno. Chegando no acampamento, montei a barraca e fui dar uma olhada na laguna, mas como a luz não estava boa, resolvi ficar na barraca e dormir bem cedo pra, mais uma vez, acordar de madrugada e aproveitar a luz da lua e o amanhecer.

    Cerro Torre e Laguna Torre sob o luar

    Glaciar Grande e Cerro Torre

    Depois de mais um café com vista panorâmica, desmontei acampamento e voltei pra El Chaltén com a certeza de que o título de capital argentina do trekking não é à toa.

    Ricardo Feres
    Ricardo Feres

    Publicado en 25/03/2022 14:24

    Realizado desde 09/10/2019 al 19/12/2019

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    2 Comentarios
    Edson Maia 26/03/2022 08:50

    Muito massa, Ricardo! Quem vai para El Chaltén sempre quer voltar... Passei 11 dias por lá, entre trilhas e vadiagem na vila durante a trip que fiz de bicicleta em 2020. O lugar é realmente ímpar! Belas fotos!

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    Ricardo Feres 26/03/2022 17:03

    Muito obrigado, Edson! Tem razão, dá vontade de voltar sempre e eu pretendo fazer isso no próximo verão, saudades de lá.

    Ricardo Feres

    Ricardo Feres

    São Paulo

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    Fotógrafo de natureza e autor do livro As Mais Belas Trilhas da Patagônia

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