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Rogério Alexandre Francis 03/11/2021 20:25
    Pico Paraná - com visão e com vista!!!

    Pico Paraná - com visão e com vista!!!

    Subida de desagravo, pos costelas quebradas no ataque insano da dupla Amanda - Daniela

    Trekking Montanhismo Acampamento

    Partimos de SP no começo da tarde, visando viajar sem pressa e evitar que eu precisasse dirigir com sono. Errei algumas vezes o trajeto, principalmente ao sair da estrada e buscar a vicinal que nos levaria até a fazenda Pico Paraná. Apesar de longa, devido à distância e a velocidade de segurança da Lady, com algumas paradas em função das obras na estrada, a viagem foi espetacular, alternando longos papos, lanches de beira de estrada e uma “seleção” ruim de musicas, que só parecia ter chororô … depois de evitarmos (felizmente) conhecer o bar do Magrão chegamos às 22h na fazenda, na intenção de pegar um quarto e dormir cedo, para iniciar a trilha bem descansados. Infelizmente, por ser noite de quarta, o pessoal da fazenda só chegaria mais tarde… cansados, preferimos armar barraca, e cair pra dentro. Sem pressa, seguindo o combinado de curtir a viagem, acordamos 6:40, mais ou menos, comemos pastéis com Coca Cola, arrumamos mochilas e começamos a subir umas 8:20… desconhecendo o q me aguardava, tendo ouvido histórias tenebrosas quanto a taxa de sucesso na subida, procurei reduzir bem o peso da minha cargueira … a minha estava pouco abaixo dos 11 kg e a da Amanda, pouco acima de 7 kg, cuidando de poupar as costelas, não completamente calcificadas … Mal saímos da base, a trilha de acesso à trilha, já começa a subir de forma suave, mas constante. Eu andava atrás, deixando a Amanda ditar o ritmo (forte) da subida. Logo percebi, entre suar, ofegar e gracejar que havia sido imprudente ao não começar com pelo menos ½ de água para mim, para hidratar na subida. Felizmente, a Amanda, precavida, tinha preciosos 500 ml, que dividimos em pequenos goles, aliviando um pouco os efeitos do sol matinal. Passamos as placas de orientação, parando pra fazer um lindo registro dessa forma paranaense de pensar: além das distâncias, em Km, havia orientações sobre os itens de equipamento recomendados, o grau de dificuldade e uma estimativa de tempo de trilha para cada um dos destinos. Lá embaixo, antes de iniciarmos a subida, passamos pelo controle do parque, onde uma zelosa guarda-Parque, havia nos inquirido sobre o planejado para a pernada, os equipamentos que portávamos, anotando cada detalhe. Foi legal registrar o quanto estávamos preparados. Em conjunto, tínhamos , sem considerar os celulares, 7 (!) lanternas … GPS, tracklog, cobertores de emergência, apitos, adesivos de aquecimento… subíamos preparados para qualquer eventualidade, inclusive prestar auxílio à outro montanhista, se fosse necessário. Ali, nas placas, essa sensação de independência, de liberdade responsável, se fazia novamente presente. Seguimos, quase que em cota, descendo pouco até alcançarmos o primeiro, e segundo alguns, o único, ponto de água da trilha. Uma bica, com uma pequena caixa para conter a água que escorre da encosta do Caratuva. Nesse momento, como o pessoal que vinha no sentido contrário (voltando do PP) insistia que não havia água pra frente entendemos melhor coletar toda água que pudéssemos. Eu levava, dentro da mochila uma garrafa de 2,5 l e outra de 1/2 litro, vazias. Amanda tinha iniciado a trilha com aqueles (salvadores!) 500 ml, duas garrafas de 1 l cada e uma segunda garrafa de 500 ml. Tínhamos condição de armazenar 6 litros e assim fizemos. Na subida até ali, havíamos contado apenas com 0,5 l, e eu havia sentido a pressão do próprio descuido, nos lábios secos, e, não fosse o cuidado da Amanda, teria sido BEM pior. Com a mudança de vegetação para campos de altitude, logo perderíamos o abrigo da mata e sentiríamos mais o sol. Temeroso de que ela forçasse demais as costelas quebradas na subida anterior, havia pouco mais de 20 dias, não posso negar que fiquei aliviado quando ela, ainda que sob protestos, permitiu que eu colocasse a água na minha cargueira. Determinada, turrona, brava, independente do que pensarem dessa mulher incrível, é preciso reconhecer: ela sabe escutar, refletir e até ceder quando a argumentação é sólida. Vestimos novamente as cargueiras e seguimos em direção ao A1, reabastecendo nas águas (muitas) que minam da encosta, à esquerda… passamos céleres pela bifurcação do Itapiroca, à direita… logo depois encontramos um pessoal retornando do PP e trazendo um casal que passara, desapercebido, pela placa… seguimos em frente, trocando impressões sobre o difícil equilíbrio entre liberdade para educar pelo perrengue e o tutelar dos neófitos, minimizando os perrengues e custos em buscas e resgates. Num sentido, a massificação do subir de montanhas, de buscar a natureza, permite concientizar a sociedade da importância da preservação, com menores custos; noutro, a ausência de perrengues leves, na formação do trilheiro, impede o aprendizado na sua lida e pode resultar em autoconfiança excessiva. Defendo a mediana aristotélica, ou seja tutelar nos momentos críticos sem constranger o processo de aprendizagem por tentativa e erro, no geral. Seguimos alternando o ponderar de filosofias com o contemplar das belezas que se apresentavam a cada pouco.
    Pouco depois, encontramos o Kalidon, que acampanara no PP na véspera e descia, após fazer um ataque aos picos próximos. Mantendo a política de conservar nosso inventário de água no maior nível possível, continuamos a nos servir das muitas nascentes que vertem pela encosta, prosseguindo a passo lento e cuidadoso ate chegamos no A1 pouco após o meio dia, onde fizemos um rápido lanche de trilha, maravilhosamente guarnecido por uma mexerica super doce e refrescante… minha parceira de pernada demostrava outro traço de sua previdência inata… apesar do sol à pino, em meio ao abrasar das rochas, a fruta estava fresquinha… anotei mentalmente esse lanche-raiz e iniciamos a longa descida até o colo entre o Caratuva e o PP para acessar a primeira ferrata mais exposta, que alcançamos pouco após as 14h.
    Apesar do impressionar que a primeira vista da parede quase a prumo causa, olhando com mais calma e seguindo a técnica de manter sempre três pontos de apoio, superamos com facilidade a passagem, comigo à frente, indicando os pontos de pega para a subida. Aqui, é importante registrar que, quando da queda, a Amanda subia sem uso de lentes de contato ou óculos… vinha da passagem desgastante do Caratuva, pela pouco frequentada trilha da conquista, com o sol castigando … a montanha estava coalhada de trekkers, fazendo com que ocorressem “filas” nos trechos de maior exposição, em função da insegurança de uns e outros nessas passagens. Dessa vez, era outro o cenário e os lances de
    ferratas foram vencidos de forma elegante e ágil, apesar do cuidado com as costelas. Rapidamente alcançamos o A2, pelo qual passamos sem dedicar maior atenção e seguimos para o cume, onde pretendíamos acampar.

    Pouco antes de chegarmos ao falso cume, numa passagem menos cuidadosa, derrubei a garrafa de 1/2 litro que levava na peitoral… com receio de precisarmos contingenciar a água e, mais ainda, determinado a não deixar lixo para trás, despi a cargueira e me espremi entre os grandes blocos de rochas, atrás do precioso líquido… depois de descer por uns 6 ou 7 lances de fendas e frestas, perdendo nessa empreitada uns 15 m de altitude, vislumbrei a base do sumidouro… além da minha garrafa, havia mais duas de dois litros, cheias e outras duas de 500 ml…. uma tinha aspecto “novo”, mas outras pareciam estar ali há anos… primeiro supus que fosse algum estoque, mas olhando melhor as garrafas e as frestas, conclui que não, eram “lixo” deixado para trás, por acreditarem que não seriam recuperáveis… pensando no que passei e no quanto me espremi para alcançar aquele ponto, pude entender o porquê … eu estava de ponta cabeça, cunhado entre as rochas e apenas com a minha coxa impedindo de afundar ainda mais … me veio à mente a história do John Edward Jones, que acabou por falecer após se espremer em uma caverna… estremeci e decidi sair dali assim q possível… com muito cuidado para não escorregar ainda mais naquela derradeira fenda, recolhi 5 litros de água ali… deixando para trás uma garrafa de 1/2 l que estava mais longe um pouco… com dificuldade retornei pelo labirinto se fendas, sempre analisando com cuidado as enormes rochas antes de me içar apoiado nelas e pouco depois, voltei à luz do sol, onde a Amanda curtiu um bocado me ver retornar, sujo e esfolado, mas com mais água que imaginava possível… e eu também, adorei sentir o vento e sol no rosto novamente …. tocamos em frente e logo chegamos no falso cume aproximadamente 16:50 e no cume 17:05. Nada mal para um estreante sedentário, que começara tarde e subira na força de vontade e no ofegar infindável. Saudamos os outros dois únicos trekkers a nos fazer companhia lá em cima, uma dupla mineiro-capixaba e nos dedicamos a escolher, entre as várias áreas disponíveis, a de melhor localização e planicidade para montar nosso castelo de nylon resinado. A estrutura amarela nos abrigaria do sereno, mas não barraria o luar que fazia a noite tão clara quanto uma manhã de inverno pode ser. Doamos cerca de 1l de água para eles, já que estávamos a passeio e dispúnhamos de cerca de 11l, apenas para o retorno.

    Arrumamos as coisas para dormir, deixamos as tralhas de cozinha mais ou menos no jeito e fomos curtir o por do sol. Muito lindo, com a vermelhidão do arrebol contrastando com a negritude das montanhas… Ficamos apreciando ate que o astro-rei se escondeu atras das serras…. voltamos pra mansão, fizemos uma frugal refeição com miojo, sucos, frutas e doces e nos recolhemos para a pernoite. Como era noite de lua cheia, acordei diversas vezes durante a noite… ah, o isolante inflável insistia em fugir de sob minhas costas, ainda não me acertei com esse trem, kkkk… fomos deitar umas 20:00 e eu acordei a primeira vez pouco antes das 23:30, com o luar fazendo da noite, dia … um bocado de câimbras me perturbavam, de forma que tomei uma ciclobenzaprina de 10 mg para relaxar a musculatura, prova se que a subida do PP, ainda que “tranquila”, cobrava seu preço dessas pernas sedentárias, kkkkk….

    Enquanto aguardava o sono, rememorei o pouco que a Amanda havia me contado sobre a trip anterior, quando subiu de ataque, o Caratuva, o PP e o Itapiroca…. quebrara, sem notar, duas costelas num dos últimos lances de ferrata do PP… estavam em grupo, mas até onde entendi, algum desentendimento ou desistência a deixara acompanhada apenas de uma amiga de trilha…me prometi “lhe apertar” no dia seguinte e extrair o resto dessa história…. com o cansaço e o rememorar, adormeci, procurando não fazer nenhum movimento que me tirasse do isolante inflável ou desencadeasse nova seção de câimbras.


    Deixamos a barraca 6:30, sendo brindados com fenecer da rainha da noite mais lindo de que me recordo. A claridade da manha que se iniciava, permitia que a Lua brilhasse, nao em vermelho-sangue, mas de amarelo-ouro… Deixamos o cafe de lado e ficamos a contemplar aquele especulo impar. Aos poucos, ela desceu atrás das encostas paranaenses, na direção entre o Caratuva e o Itapiroca… deixando o palco para o nascer do astro rei, que surgiu pouco antes das 7:00… Apreciamos a beleza cênica, discutimos novamente os planos para o retorno, acordando de fazermos um ataque ao Pico dos Camelos, ainda menos frequentado que o PP. Com o sol acima do horizonte, fomos desmontar acampamento e tomar café.

    Enquanto eu desmontava o acampamento, a Amanda preparou um capuccino para mim e um pingado para ela. De acompanhamento, fizemos lanches com berinjelas em conversa e queijo ralado em pães sírios. Tudo estava muito saboroso, e como a quantidade excedia o que podíamos dar conta, guardamos o excedente para um momento posterior. Concluímos as arrumações e iniciamos a descida pouco após as 8:00, ainda com pouco mais de 6 litros de agua. Seguimos descendo cada lance de ferrata com todos os cuidados. Comigo a frente, deixei passar uma curva a esquerda e nos coloquei sobre uma pedra da qual não havia como progredir. O erro nos obrigava a retornar, subindo alguns lances em busca da rota que havíamos seguido na vinda. Nesse retornar, acabei por pisar na mão da Amanda. Eu queria lhe mostrar as sophronites que cresciam ali, e ela certamente sofria com a dor da pisada… mesmo assim, aceitou admirar as orquídeas, sem me jogar lá de cima… mais uma qualidade dessa trilheira, paciência para dar e vender…

    Esperamos um pouco, para garantir que ela poderia usar a mão (direita?) na descida do próximo lance de ferrata, um ponto onde primeiro deve-se descer pela esquerda e só depois, num patamar mais baixo, acessar a ferrata central. Evitar esse primeiro lance, piora muito a condição de descida. Foi nesse ponto, que na subida, a Amanda se machucara. Ao não encontrar um ponto de pega para completar a ascensão, acabou por não conseguir se firmar e teve que largar da ferrata, numa “queda controlada” que só não trouxe maiores consequências por muita sorte. As costelas que se quebraram, provavelmente o fizeram apenas como uma trinca que viria a abrir, durante a descida do Itapiroca. E mesmo quando abriram, prejudicando sobremaneira a capacidade dela de expandir o tórax (e portanto respirar), ainda não o fizeram perfurando qualquer dos pulmões. A ocorrência de um pneumotórax ou de um hemotórax, nas condições em que encontravam, teria sido, muito provavelmente, fatal. Continuamos a descida e, em pouco tempo, alcançamos o acampamento A2, de onde eu supunha que sairia a trilha para o ataque ao Pico dos Camelos. Como o GPS apontava que essa bifurcação estaria mais abaixo, seguimos em frente até o aparelho atualizar a posição e nos indicar que havíamos passado… quem não navega adequadamente, paga por isso… identificado que havíamos passado a entrada que queríamos, subimos de volta, atentos a veredas aa direita e logo encontramos vestígios de uma trilha que seguia na direção que precisávamos. Seguimos através dela, com a presença de lixo em um outro ponto indicando ser um caminho relativamente batido. Em pouco tempo encontramos a vereda principal, que descia em linha reta do acampamento A2 como suposto anteriormente, esse pequeno erro, nos tomara 25 min de suor extra, felizmente não era nada que impactasse nosso passeio. Conforme podemos altitude, gradativamente, a terra ressecada deu lugar ao solo úmido e depois à lama negra e escorregadia, típica de tantos cimos de montanhas. Os sinais da presença de agua foram se somando, e ao alcançarmos o primeiro dos dois pequenos vales daquele colo, encontramos um pequeno curso de agua, escorrendo devagar. Certamente, sua nascente estava nas moitas de capim à nossa esquerda, sem nenhuma indicação de passagem humana, tomei bons goles ali. Seguimos em frente subindo a pequena elevação que da acesso ao outro pequeno curso d’agua, também bastante escassa, mas deliciosamente fresca. Cruzávamos, sem saber duas das nascentes do rio Cacatu que alcança um vilarejo com esse nome, centenas de metros abaixo, depois de despencar em uma séries de grandes cachoeiras.

    Depois de suar um bocado para alcançar a crista, passamos a andar de forma mais célere, subindo e descendo conforme a necessidade. A trilha, muito menos batida ali, exigia que nos desviássemos da vegetação a cada metro. Em alguns pontos, a trilha parecia sumir, mas a Amanda, navegando à frente, sempre encontrava sua continuação, fosse atrás de um galho ou ao contornar de alguma pedra. Pouco depois das 11h alcançamos o cume dos Camelos e nos detivemos para um lanche, registrar a passagem no livro de cume e apreciar um dos melhores, senão o melhor, visual do Pico Paraná. Daquele ponto se consegue uma visão desimpedida das suas faces rochosas, elevando-se a prumo da mata, centenas de metros abaixo.

    Aproveitei o momento de descanso e descontração, enquanto consumimos as ultimas mexericas, curtimos mais um pouco a vista para apertar a Amanda quanto ao acontecido sua incursão anterior. Apesar do seu laconismo natural, talvez porque ainda tivesse mágoas a serem trabalhas, talvez pelo desconforto de lembrar momentos tão angustiantes. Eu sabia que haviam planejado fazer um circuito intenso, subindo de ataque o Caratuva, descendo pela Trilha da Conquista até o A1, subindo o PP e, na descida ainda atacar o Itapiroca antes de retornar para o acampamento na fazenda Pico Paraná. Entendi que ocorreu algum desentendimento que levou a maior parte do grupo que faria esse ataque a abandonar o proposto. Permaneceram no plano original, a Amanda e a Daniela. Sofreram um bocado na Trilha da Conquista, que estava mais fechada pela vegetação pela passagem menos frequente, subiram para o PP com alguma dificuldade, em função do horário e da natural fila que se formava nos pontos de maior exposição, onde muitos se digladiavam com seus medos e anseios. Quase no cume do PP, em consequência de uma má avaliação dos pontos de apoio para vencer um ferrata, a Amanda se viu pendurada impossibilitada de subir, não conseguiu se prender à rocha e acabou por sofrer uma queda de uns 2 ou três metros. A mochila absorveu a parte da energia, mas não o suficiente para que ela não se ferisse. Nao percebeu na hora, mas havia fraturado duas costelas. Depois do susto, retomaram a subida, assinaram o livro de cume e desceram para atacar o Itapiroca. A dupla chegou ao Itapiroca, assinou o livro de cume e iniciou o retorno para o camping na Fazenda Pico Paraná. Nessa hora, as condições pioraram rapidamente para a dupla. O que foi percebido pela Amanda primeiro como cansaço, rapidamente evoluiu para uma grande dificuldade de respirar. No começo, ela andava alguns minutos antes sentir a falta de fôlego, mas logo com o avançar do quadro, precisava de parar para respirar a cada 10 passos, depois a cada metro. Ao final, chegando na Fazenda, a proporção seria de um passo para três respirações. Entre o por do sol, pouco após as 17h e chegarem na Fazenda passariam-se 11h de penosa marcha. Ao chegarem no camping, a barraca que dividiriam ja estava montada, mas ocupada. Pediram que desocupassem a barraca, enquanto tomavam o banho mais intimo que se pode imaginar, aquecendo os corpos exaustos da caminhada molhada e gelada que haviam acabado de concluir e aproveitavam a gentileza do grupo de Santa Catarina num churrasco vegano muito oportuno, porque o que levaram para o jantar havia sido consumido. Após o banho e jantar, finalmente conseguiram se recolher, pouco antes das 3h da madrugada.

    Depois de ouvir esse relato impactante, iniciamos o retorno, sem pressa, comigo refletindo sobre o comportamento humano nesses grupos de “amigos que trilham juntos” e procurando uma garrafa de 500 ml minha e uma das mãos de luva da Amanda, extraviadas na ida. Nos abastecemos bastante de agua, de forma que não correríamos risco de passar sede no retorno. Na verdade, acabaríamos por dividir nossa agua com alguns soldados que subiam, talvez como treino.

    Retornamos pelo caminho principal e em pouco tempo, estávamos de volta ao A2. Viramos a esquerda e descemos pelo caminho que havíamos trilhado de manhã, antes de nos apercebermos do erro de navegação. Agora descíamos “em definitivo” e sabendo dos pontos de água que encontraríamos após o A1, seguimos nos policiando quanto a hidratação e aos cuidados necessários para cada lance de ferrata, onde o potencial de acidentes de maior gravidade se faz mais presente. Quase no colo entre o PP e o Caratuva, minha bota prendeu numa falha e, caso eu não estivesse atento a cada passo, cuidando de ter sempre 3 pontos de apoio confiáveis, poderia ter resultado em um tropeção maior, uma luxação de joelho ou mesmo em algo mais grave como uma fratura ou mesmo uma fatura seguida de uma queda. Quando se esta descendo, não é muito perceptível, mas pouco após esse ponto, a trilha faz uma curva de 90 graus à direita, com um desnível de pelo menos 10 m à frente. Um tropeço nesse ponto, que o trilheiro não consiga corrigir, pode resultar em um acidente bastante sério. Ainda adrenado pelo ocorrido comigo, orientei a Amanda que descesse mais à direita e cuidei que ela o fizesse. Para mim, foi, talvez o ponto de maior preocupação da trilha.

    Caminhamos pelo colo e começamos a subida, com a Amanda puxando o ritmo montanha acima. Fizemos algumas paradas para retomar o fôlego, hidratar e beliscar alguns doces e lanches de trilha. Subimos de forma tão célere e com a atenção dispersa nas alegrias de vistas, flores, plantas que passamos pelo A1 sem nos deter ou mesmo notar. Quando nos apercebemos, já estávamos caminhando pela encosta e, em pouco tempo alcançamos a bifurcação à esquerda que dá acesso ao Itapariroca. Disposta a avaliar o tempo “normal” de descida, a Amanda acelerou ainda mais o retorno para a fazenda, me obrigando a quase correr montanha abaixo. Passamos, sem nos deter pelas placas de inicio das trilhas e seguimos pela crista, passando pelo Pico do Getúlio, apressando o passo na intenção de chegar na fazenda até o por de sol. Chegamos no acampamento base, pouco antes das 17h30, na esperança de encontrarmos pasteis e coca-cola para brindar a conclusão da trilha… como não havia, fomos jantar no posto de gasolina, o que acabou por ser ainda melhor dada a qualidade e diversidade do restaurante.

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    Rogério Alexandre Francis

    Rogério Alexandre Francis

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    Montanhista de FDS, engenheiro de formação, aficionado por historia, geografia e biologia. O cume não pode ser a maior alegria da pernada.

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