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Tais Cruz 19/07/2018 13:06
    Do que não faria e fiz

    Do que não faria e fiz

    Travessia Itaguaré-Marins

    Trekking Montanhismo

    O tipo de coisa que passa por sua cabeça e você, clara e conscientemente, sabe que nem de longe é capaz de realizar. O tipo de coisa que você debocha porque, afinal de contas, sabe que nem de longe será capaz de realizar.

    Quando algo tão grande lhe é proposto, duas coisas são sublinhadas em suas notas mentais. Primeiro que seria uma sensação maravilhosa fazer algo que você nunca imaginou fazer, estar diante de um desafio que você jamais pensou que conseguiria alcançar. Segundo que vem o medo. O medo de fracassar - que parece tão óbvio - e de sucumbir ao cansaço, dor, desgaste. O medo de esquecer de apreciar, aproveitar, sentir e se fundir à trajetória. Um medo, apenas.

    Daí que você mergulha nisso de cabeça. Pensa no antes, durante e depois e percebe que nem todas as fases são super confortáveis ou fáceis. Pelo contrário, cada fase traz um despertar de regozijo diferente, uma sensação de inquietude diferente. Você para, pensa e pensa pouco, porque se pensar muito vai chegar a uma conclusão errônea de que esse não é o caminho. Quando, de fato, é. E, então, vai. E, então, arruma uma força externa, uma força interna, uma vontade louca de encarar um desafio, de estar longe da zona de conforto - literalmente. Se abre a oportunidade do novo, do incrível, do inóspito como se esse fosse o único ponto da Terra em que alguém ainda não esteve. Como se fosse a única linha de raciocínio tomada por um indivíduo qualquer.

    Às vezes, você não se dá conta de que todos os medos são infundados. Simplesmente pelo fato de você não ter garantia de que aquilo está certo de estar fadado ao fracasso e o efeito pode ser irreversível, pois quanto mais o medo é alimentado, maior ele fica e mais difícil fica de derrotar essa grande pelota negra e amarga de medo. E, em certos momentos, vira um pelotão difícil de se dissolver. É assim que eu enxergo o medo, algo que possa ser dissolvido. E tem muitas maneiras de dissolver o medo, uma delas - que funciona para mim - é estar dentro do contexto de vida. (?)

    Eu gosto da vida pungente. Gosto da sensação de inteireza. O eterno vir-a-ser por trás da filosofia de uma montanha. Nesse momento, gosto de existir e de sabê-lo. A indulgência da natureza me conforta e seu espírito indulgente nos faz proclamar, em uníssono, um só tom. Gosto de descobrir uma força sobrenatural proveniente de mim que eu mal sabia que existia. Que todos nós temos em essência. Que ressignifica a existência.

    Dia 31 de dezembro eu estava com medo. Quem me via podia enxergar uma nuvenzinha negra sobre a minha cabeça. Fui com medo mesmo. Achei melhor ir com medo do que não ir e isso está se tornando uma tese. Ainda não aplaudi de pé uma decisão sensata baseada no meu medo. Sendo sorte ou não, estou aqui feliz com as minhas conquistas particulares. Enfim, eu fui. Já era 2015 e eu estava lá: sem medo, entusiasmada, ansiosa para me receber no fim. Eu mesma estaria lá me esperando para me dar um tapinha nas costas - parabéns, você conseguiu! - e pude estar.

    Estava mais viva que nunca. Corpo são. Alma sã. Mais clichê que isso, "veni, vidi, vici". Uma fartura de sentimentos irremediável e inexplicável, como ficou ilegível nesse texto.

    Esse texto foi escrito aos poucos. É como se agora as emoções fossem baixando e ficando menos latentes para que eu possa olhá-las de fora para dentro. Dia 5 de janeiro, quando comecei a escrever, a minha ficha ainda não tinha caído. E agora, explicando sem explicar, deixo aqui a minha assinatura no livro de mim mesma, na humanidade, no ser humano.

    Todo homem deve plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Ou não. Eis uma sugestão a acrescentar: todo homem deve conhecer o seu espaço, olhar para as estrelas, identificar uma nuvem carregada, uma chuva que vem vindo, olhar para onde o sol vai se por, e tão logo identificar de onde ele veio, olhar as montanhas... Apontar o Pico dos Marins, percorrer com o dedo a linha que o conecta até o Gigante e pensar consigo mesmo: eu fiz a travessia!

    Tais Cruz
    Tais Cruz

    Publicado em 19/07/2018 13:06

    Realizada de 30/12/2014 até 01/01/2015

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    3 Comentários
    Alberto Farber 24/07/2018 11:47

    Caraca !!!! que texto foda !!!! Aplaudindo !!!

    Edson Maia 25/07/2018 11:03

    Muito bom! Somente quem passa por uma experiência semelhante pode entender a real dimensão destas palavras. - E se der medo? - Vai com medo mesmo! É isso aí!

    Bruna 26/10/2018 14:50

    Te admiro mto Tais!!! bjao

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