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Tem Trilha 19/07/2024 11:15
    Travessia no Vale do Catimbau (Parque Nacional do Catimbau)

    Travessia no Vale do Catimbau (Parque Nacional do Catimbau)

    Travessia de três dias pelo Vale do Catimbau. Uma experiência de imersão por onde viveram nossos antepassados.

    Trekking

    PRELÚDIO

    A primeira vez que conheci o Vale do Catimbau foi em dezembro de 2020. Fui visitá-lo após meu primeiro trekking em Brejo da Madre de Deus, o Trekking dos Três Cumes. Como estava relativamente próximo, dei um pulo por lá. Nessa época, eu ainda estava começando nas travessias e meu intuito era conhecer os atrativos no estilo bate-e-volta. Como estava com barraca e equipamentos de trekking, calhou ainda de poder acampar uma noite no Santuário.

    Com o tempo e o gosto aumentando pelas travessias, fiquei tentado a voltar. Mas dessa vez teria que ser no estilo trekking, fazendo uma travessia. Esse retorno quase aconteceu a convite do Pedrão do Brasil em setembro de 2023, na época em que ele estaria pelo Nordeste e faria uma travessia pelo vale. Acabou que não deu certo me juntar a eles, mas sempre tava vendo uma brecha pra poder ir novamente por lá.

    Minha volta apenas se deu em fevereiro de 2024, durante o carnaval. Aproveitamos o feriado prolongado e passamos três dias andando, numa experiência de imersão por onde viveram nossos antepassados.

    INFORMAÇÕES

    • Tipo: Trekking com logística e navegação realizados pelo guia Maicon (Dodô), morador local do Vale do Catimbau;
    • Guia: Obrigatório em alguns atrativos;
    • Distância total: 37 Km;
    • Ganho de elevação: 1300 m;
    • Dias: 3 dias;
    • Melhor época: Pode ser feito em qualquer época do ano, mas o ideal é no período menos quente do ano entre maio e agosto;
    • Data: 11 a 13 de fevereiro de 2024;
    • Tracklog: Wikiloc;

    COMO CHEGAR

    O Vale do Catimbau fica no povoado do Catimbau na cidade de Buíque, a oeste da capital Recife. Têm acesso principal através da BR-232 pela cidade de Arcoverde no sertão Pernambucano, distante 280 km de Recife e 164 km de Caruaru.

    De ônibus, o trajeto pode ser feito pela viação Progresso, primeiramente de Recife até a cidade de Arcoverde, e de lá por meio de transportes que levam até Buíque. Estando em Buíque existem carros que vão até o Catimbau. Por essa mesma empresa, também existe uma linha saindo de Caruaru até Arcoverde.

    No vilarejo do Catimbau existem muitas opções para se hospedar, desde campings estruturados, até pousadas com quartos para quem busca mais conforto.

    A TRAVESSIA

    O percurso e logística da travessia foi elaborado pelo nosso guia Maicon (Dodô), morador local no Catimbau. A única sugestão que fiz a ele, era a de que o ponto de pernoite do primeiro dia fosse no Santuário e que fizéssemos a trilha da Bela Vista. Perguntei sobre as possibilidades (principalmente com relação à água) e o mesmo falou que era possível.

    Devido a importância da região foi criado o Parque Nacional do Catimbau, preservando uma das últimas áreas do bioma Caatinga. É considerado o segundo maior parque arqueológico do Brasil, perdendo somente para a Serra da Capivara, no Piauí.

    Nas serras encontram-se chapadões com encostas abruptas e vales abertos. As formações geológicas são compostas de arenitos que datam de mais de 100 milhões de anos. Além de poder observar a história da terra através das rochas, o vale conta com diversos sítios arqueológicos, grutas, cemitérios pré-históricos e pinturas rupestres com mais de seis mil anos.

    Apesar da travessia estar situada dentro do parque nacional a maior parte das terras ainda não foram indenizadas. Dessa forma, as trilhas que passam em propriedades privadas, estão condicionadas às regras definidas pelos proprietários. Todas cobram a visitação dos atrativos e algumas delas exigem a presença de guias durante a visitação.

    Além da caminhada pela caatinga, em um contexto de relevo serrano, a travessia passa por locais já bem conhecidos no vale e outros ainda não tão visitados como a trilha da Bela Vista. O primeiro e segundo dia passam quase que por completo em trilhas de veredas, pegamos algum ou outro trecho curto de estrada.

    Toda a água para beber foi conseguida nos pontos de apoio que passamos e nas casas de moradores, os quais também vendiam bebidas como cervejas e refrigerantes.

    O primeiro dia (DIA 1 - CATIMBAU AO SANTUÁRIO) começa na vila de Catimbau e tem 13 km caminhados. O percurso passa primeiramente pelos Lapiais, Serra das Torres e Cascos de Tartaruga, depois as Pinturas Rupestres na Loca das Cinzas e a Casa de Farinha. Em seguida, pegamos em direção à Gruta do Cayana. Esse dia passa a noite no acampamento do Santuário.

    O segundo dia (DIA 2 - SANTUÁRIO À IGREJINHA) possui 15.5 km caminhados e continua a travessia até a Igrejinha. Atravessa o chapadão pela trilha do cânion até chegar no Ecocamping Sol do Vale para descanso e almoço. Em seguida o percurso segue para a Igrejinha e depois para a nascente do Brocotó. Por último, voltamos para dormir num sítio próximo à Igrejinha.

    O terceiro dia (DIA 3 - IGREJINHA À FAZENDA PORTO SEGURO) tem 8 km caminhados até a Fazenda Porto Seguro. Esse dia segue para a trilha da Bela Vista e termina com um almoço na casa do nosso guia Maicon (Dodô).

    Esse percurso contém as atrações, os pontos de pernoites, pontos de água e bifurcações. Relato com logística e mais detalhes da trilha abaixo.

    DIA 1 - CATIMBAU AO SANTUÁRIO

    Esse dia tem 13 km e 550 m de elevação. Marcamos a saída da travessia da vila do Catimbau, local onde foi marcado o ponto de encontro. Enquanto isso, nosso guia Maicon (Dodô), nos esperava no Restaurante Toca do Vale. Após os ajustes finais, saímos às 8h em direção ao Santuário, nosso local de pernoite.

    Começamos por uma estrada rural e logo de início passamos pelo primeiro atrativo a Pedra do Cachorro. Um dos atrativos do parque, a pedra é uma formação rochosa de arenito que se assemelha à cabeça de um cachorro e pode ser vista de quase todo o parque. Após poucos metros, chegamos no restaurante Toca do Vale, onde Maicon (Dodô) já estava nos esperando. Apresentei ele à galera e seguimos.

    No restaurante pagamos para ter acesso aos Lapiais, Serra das Torres e Cascos de Tartaruga. É cobrado uma taxa de entrada de R$10,00 por pessoa. Pagamos nossas entradas e fomos primeiro para os Lapiais. Nesse momento o percurso segue subindo por um caminho de areial e mais na frente a subida fica mais íngreme por uma laje de pedra. Nesse momento, o sol já dava o ar da graça e já seria um teste para o calor no restante da travessia.

    Logo chega-se aos Lapiais, formação de arenito com diversas cores de tons avermelhados e laranja provenientes da oxidação do ferro presente nas rochas. Após os Lapiais, a trilha embrenha-se nas veredas até chegar na Serra das Torres e depois aos Cascos de Tartaruga. Ambas formações de morros isolados de arenito.

    Lapiais com suas formações em arenito

    Tons avermelhados e alaranjados

    Continuando pela trilha, são cerca de 1.3 km até o ponto de apoio de Cidnaldo, nosso primeiro ponto de apoio da travessia. Nesse local vende-se água, refrigerante e paga-se o acesso para visitar as pinturas rupestres na Loca das Cinzas e a Casa de Farinha. Taxa de entrada de R$10,00 por pessoa. Deixamos as mochilas e fomos de mochila de ataque. A Loca das Cinzas possui um paredão com várias pinturas rupestres. Depois voltamos por uma outra trilha e fomos até a Casa de Farinha.

    Ponto de apoio Cidinaldo

    Pinturas Rupestres da Tradição Nordeste

    Casa de Farinha

    Voltamos até o nosso ponto de apoio e fizemos uma parada para comer um pouco. Após um breve descanso, abastecemos de água que seria usada no acampamento até a manhã do dia seguinte. Cidinaldo salvou a gente com a água.

    Os próximos pontos de paradas seriam o Mirante da Árvore e a Gruta do Cayana. Começamos por uma subida moderada para chegar nos chapadões da serra. Caminho segue por uma trilha bem demarcada e aberta até chegar na parte mais plana. Depois novamente a trilha fica mais plana até o mirante, de onde é possível ver boa parte do parque.

    Uma das vistas do mirante

    Enquanto descemos, vimos uma chuva se aproximando que caiu poucos minutos depois. Já estávamos com as capas de mochila e continuamos andando.

    Chuva se aproximando

    Ao chegar na bifurcação para a Gruta do Cayana deixamos as mochilas e seguimos com mochilas de ataque. Nesse momento a chuva deu uma aliviada e podemos aproveitar melhor a gruta. Lugar espetacular.

    Pinturas rupestres no interior da gruta

    Um dos mirantes na trilha da Gruta do Cayana

    Outro mirante

    Voltando na trilha fomos até o Santuário, lugar onde passaríamos a noite. Chegamos bem cedo e deu pra aproveitar e conhecer o local antes de montar o acampamento.

    Vale da Lua no Santuário

    Ponto de acampamento

    DIA 2 - SANTUÁRIO À IGREJINHA

    Esse dia tem 15.5 km e 600 m de elevação. O acampamento no Santuário é um bom local para ver o nascer do sol. Porém há outro local para o nascer que fica distante 400 m. Há dois mirantes, um com visão para o pôr do sol e outro para o chapadão. Vale a pena a ida. O percurso contempla a ida aos dois mirantes. Após um belo presente de nascer do sol, seguimos até a Igrejinha, local onde passamos a noite.

    Nascer do sol no mirante oeste

    Nascer do sol no mirante oeste

    Caminho até os mirantes

    Mirante Oeste

    Mirante norte

    Depois que preparamos as mochilas, seguimos em direção ao chapadão pela trilha do cânion. A trilha fica em meio a uma vegetação de caatinga e sai do outro lado do chapadão. Nesse setor, as paredes do chapadão tem um formato quase que como um U, com suas paredes de arenito se assemelhando a uma ferradura.

    Mirante chapadão

    Fomos contornando as paredes até chegar no Mirante do Cânion, primeiro atrativo do dia. Fica bem no ponto intermediário do vale. Belas formações rochosas que talvez seja por onde as águas começaram a moldar o cânion. Mais na frente chegamos no segundo painel de pinturas da travessia, onde ficam as pinturas rupestres dos Homens Sem Cabeça. Belo painel com figuras rupestres que talvez represente uma disputa entre dois grupos.

    Mirante do cânion

    Pinturas rupestres Homens Sem Cabeça

    Voltamos na trilha e fomos para o segundo mirante do chapadão que tem vista para o lado de onde estávamos. Desse ponto fica melhor de observar a aparência de ferradura do cânion. Depois do mirante pagamos R$20,00 da taxa de entrada no chapadão e fomos até o primeiro ponto de apoio do dia. No local vende água de coco e mineral gelada, refrigerante e cerveja.

    Vale do chapadão e seu formato de U

    O próximo ponto de parada foi no Ecocamping Sol do Vale, onde paramos para almoçar. Comemos aquela comida caseira. Muito boa! Descansamos um pouco e fomos para a Igrejinha. Chegamos lá e o proprietário estava lá para nos receber. Pagamos R$10,00 para visitação.

    Da Igrejinha fomos para o Brocotó, uma nascente ao lado de um paredão. Voltamos pela mesma trilha para ir em direção à Bela Vista onde seria nosso ponto de pernoite planejado. Porém devido à uma tempestade com raios paramos de caminhar e fomos nos abrigar em um sítio da família do nosso guia Maicon (Dodô). Ficamos esperando a chuva passar, mas como já era final do dia resolvemos passar a noite por ali mesmo.

    DIA 3 - IGREJINHA À FAZENDA PORTO SEGURO

    Esse dia tem 8 km e 200 m de elevação. Nos dirigimos até a trilha da Bela Vista começando por uma estrada rural até chegar na casa do proprietário. No local pagamos a taxa de entrada de R$10,00 por pessoa. A trilha da Bela Vista é um percurso que começa e termina na casa do dono da terra. Passamos por belas formações de arenito, uma gruta, além de um mirante com vista para o outro lado do vale.

    Depois da Bela Vista seguimos para almoçar na casa do nosso guia na Fazenda Porto Seguro. Chegamos e o almoço preparado pela sua mãe já estava nos esperando. Mais um presente da trilha.

    CONTATOS

    - Guia Maicon (Dodô): (87) 9 8121-0375

    OBSERVAÇÕES

    - Pontos de água conseguidos nos pontos de apoio pelo caminho e nas casas de moradores;

    - Planeje bem a quantidade de água;

    - Sol extremamente forte, o que aumenta o esforço físico;

    - Leve seu lixo de volta;

    - Comunidades no percurso é importante o silêncio e respeito aos costumes locais. Seja gentil e peça permissão para passagem;

    - Lembre-se, você é inteiramente responsável ao decidir e realizar a trilha. Use por sua conta em risco. As informações presentes aqui visam apenas serem informativas e auxiliares;

    - Sempre feche os colchetes, as porteiras/tronqueiras e evite danificá-los;

    - A progressão da trilha depende do terreno, estado da trilha, da sua condição física, da navegação, etc. Se conheça primeiramente para poder chegar com segurança antes do final do dia no acampamento. Alguns pontos de acampamento intermediários podem ser encontrados no caminho;

    - A maior parte da trilha é exposta ao tempo, protetor solar e chapéu são importantes;

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    Publicado en 19/07/2024 11:15

    Realizado desde 11/02/2024 al 13/02/2024

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