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Travessia Tutóia - Lençóis Maranhenses
115km ao longo da APA dos Pequenos Lençóis e do Parque dos Lençóis Maranhenses
Trekking Hiking Longa DistânciaEsse relato descreve as principais localidades de uma travessia que tem início em Tutóia - MA e finaliza em Betânia - MA, distrito de Santo Amaro. São 115km de percurso, sempre acompanhando a APA dos Lençóis Pequenos e depois adentrando definitivamente no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.
TUTÓIA
Tutóia é um dos últimos municípios litorâneos do extremo sul maranhense, quase ali no Piauí. A cidade fica às margens do Rio Magu, que delimita à norte a região conhecida como Delta do Rio Parnaíba. Tutóia é uma das cidades que dá acesso, via barco, a essas ilhas.
A travessia inicia-se na praia da cidade, no ponto onde avista-se um barco encalhado. Os primeiros quilômetros são marcados por certa quantidade de detritos espalhados na areia e por algumas casas à beira-mar. Tão logo a cidade acaba, surgem as dunas que compõe a parte sul da APA dos Pequenos Lençóis. Dunas que, na epóca certa, intercalam-se por poucas lagoas. A partir desse ponto, conforme a foz do Magu vai de distanciando, o mar assume coloração um pouco menos escura.
Ao longo dos 12km que separam Tutóia de Arpoador, é comum o trânsito de caminhonetes e a presença de casinhas de palha construídas por pescadores.
VILA DO ARPOADOR
Arpoador é uma vila pequeníssima do município de Tutóia. Poucas pousadas, poucos pontos comerciais, pouco movimentada. Há um minúsculo mercadinho por ali, capaz de atender tão somente as necessidades básicas de quem ainda está no início da travessia. O turismo na vila, segundo relatos, começou há poucos anos: fora de época, portanto, inexistem os turistas.
Se antes de chegar em Arpoador você olhar na direção do mar, notará uma casinha perdida no horizonte, construída sobre um barranco de areia. É a ponta de uma faixa de areia que começa lá na vila e se estende mar adentro por enorme distância, principamente na maré baixa. São quilômetros de extensão, com piscinas naturais quentes e azuladas, rodeadas por faixas de areia branca. A cidade que mal se vê estando dentro, some àquela distância. É de fato um dos pontos mais bonitos da travessia.
PRAIA DO AMOR
Saindo de Arpoador há uma pequena praia que na verdade antecede a praia do amor. É interessante: uma espécie de charco domina o cenário, tendo uma casa suspensa e uma ilha como referência.
Findo o charco, a praia do amor toma lugar. As dunas voltam e voltam mais altas. Uma chuva forte nos acompanhou por um bom tempo, de forma que não foi possível comprovar com segurança o título de praia mais bonita. As lagoas não parecem ser muito frequentes na parte desértica. Ficamos sabendo apenas da tal Lagoa Maceió, não muito longe da vila do Arpoador.
A praia do amor termina na foz do Rio Novo, 14km depois. É um rio bonito, largo e navegável, mas que nos impõe a grande questão da travessia: como atravessá-lo? Relatos mistos ora indicavam ser possivel encontrar causalmente um barqueiro que nos levasse à outra margem, ora indicavam ser impossível sem um prévio acordo. Tentamos a sorte e a encontramos vindo de barco no exato momento em que chegamos no rio. Por 50 reais conseguimos transporte até o escondido povoado ribeirinho de Siriema, de onde seguimos de carro até Paulino Neves.
PAULINO NEVES
A cidade Paulino Neves é a segunda maior no sentido da travessia, ficando atrás de Tutóia em termos populacionais e, provavelmente, turísticos. Tem restaurantes, pequenos hotéis, mercados e tudo o que é necessário para pernoitar e abastecer as mochilas.
Paulino fica longe da praia dos Tatus, onde recomeça a caminhada. Dali até Caburé, passando pela praia do Barro Vermelho e suas duas barraquinhas (bares), um Parque Eólico preenche o visual. É nesse trecho que a APA dos Lençóis Pequenos encontra a maior quantidade de dunas, só que ainda distantes e pouco visíveis da praia.
VASSOURAS
Mais ou menos 6.5km a partir da praia dos tatus é possível adentrar o parque eólico e seguir rumo à micro-vila de Vassouras. O caminho é feito por uma grande planície coberta de vegetação e piscinas rasas de água quente. Lá adiante, no sopé das dunas, acumulam-se duas ou três casinhas de palha com moradores permanentes: fornecem as únicas sombras do caminho.
Estando nas dunas é rápido chegar em Vassouras, que fica às margens do Rio Preguiça, o mesmo que banha Atins. O cenário é bonito: o rio, o mangue, as areias e a vilazinha contrastam entre si. Um bar é tudo o que há para turistas comuns. Mas para quem faz a travessia, é também um ponto de pernoite. Servem almoço e, de forma não oficial, café da manhã para quem dorme. Eles não cobram o pernoite e até deixam utilizar as redes do bar, apesar de que sem mosquiteiro seja impossível dormir nelas.
De lá até Caburé - sendo necessário retornar à praia - são 17 quilômetros.
CABURÉ
Caburé é um conjunto de casas convencionais e de palha, algumas aparentemente abandonadas, em uma faixa de areia entre o Rio Preguiças e um mar acinzentado. A parte virada para o rio é mais bonita. Há alguns barzinhos e restaurantes.
Alguns quilômetros depois de Caburé chega-se à Ponta de Brasilia. É uma ponta de areia que separa o Preguiças do Mar. É um cenário interessante, com areias claras e um rio manso. Do outro lado já está a turística Atins. Para ir até lá, contrata-se um barqueiro.
ATINS
Atins é daquelas vilas totalmente turísticas, um pouco como Caraívas na Bahia. O chão é de terra branca, fofa e quente. Muitos bares e restaurantes caros. Muitos hotéis. A praia do rio não só é a mais bonita como também é a via expressa do kitesurf.
Atins praticamente marca o início da travessia dos Lençóis Maranhenses. Mais especificamente, o ponto exato de início costuma ser em um dos restaurantes/pousos do Canto do Atins, já fora da cidade e distando de lá 5km. Note que é necessário começar bem cedo o primeiro dia de caminhada dentro do parque dos lençóis; portanto avalie a necessidade de pernoitar no Canto do Atins antes de prosseguir. O preço do pernoite gira em torno de R$50 na rede e R$70 no quarto. As refeições custam R$50.
O dia começa cedo no Canto do Atins. É mais seguro acordar ainda de madrugada para percorrer os quase 25km do dia seguinte e não sofrer sob o sol intenso do deserto.
LENCÓIS MARANHENSES - BAIXADA GRANDE
A ideia de ser o ponto mais alto acima das dunas não é nada agradável. Era essa a situação na madrugada em que iniciamos a travessia do parque. Conforme veríamos ao amanhecer, um tempestade de proporções quase bíblicas - tão lindo quanto preocupante - tinha se armado sobre toda a região. Mas logo um sol inclemente se abriria, revelando um estranho e enigmático deserto.
Os Lençóis Maranhenses são absurdos. A brancura da areia é inconcebível, quase neve. Ártico em pleno equador. Na presença de sombras, o horizonte forma um conjunto abstrato de tons e semitons; na sua ausência, a perspectiva some, é tudo clarão e tropeço. Nesse deserto, a miragem é não ver água.
O caminho até Baixada Grande, uma espécie de oásis, é relativamente fácil. Mesmo na época em que fomos, fevereiro, muitas lagoas já estavam com água pouco acima dos joelhos. Não dá para mergulhar, mas permite progredir sem ter que contornar pelas dunas. O maior problema é sempre o sol, de forma que é importante planejar para chegar na comunidade por volta do meio-dia ou antes.
Sobre a Baixada Grande, alguns moradores fornecem redário para pernoite e restaurante para almoço, janta e café da manhã (almoço ou jantar por R$50 e café da manhã incluso nos R$50 de pernoite). Não é necessário acordar muito cedo para a caminhada seguinte.
LENCÓIS MARANHENSES - QUEIMADA DOS BRITOS
Quase 10km separam a Baixada da Queimada dos Britos. A dificuldade é a mesma do primeiro dia no parque: sol, subidas, descidas, contornos etc. As lagoas continuam a aparecer, sempre com água até os joelhos.
Os preços são os mesmos da Baixada, mas a comida é um pouco mais farta.
LENCÓIS MARANHENSES - BETÂNIA
De Queimada até Betânia é preciso acordar um pouco mais cedo novamente, para tentar enfrentar os 18km de percurso com sol mais fraco. É talvez o trecho mais bonito do parque. O branco fica mais intenso, as dunas dominam com mais profundidade o cenário: uma mar de curvas suaves e pequenas manchas azuladas de água. Mas percebe-se também uma certa diminuição na quantidade e profundidade das lagoas.
Um grande lago marca do fim da travessia (ou pelo menos de uma de suas variantes) e a proximidade da vila Betânia. Lá os preços são mais altos, mas a comida é farta. Para os que não querem continuar andando, alguns moradores da vila fazem o transporte até Santo Amaro, que é porta de saída para São Luís.
TRAJETO RESUMIDO
- Tutóia - Arpoador: 12km
- Arpoador - Praia do Amor - Rio Novo: 12.5km
- Praia dos Tatus - Entrada p/Vassouras: 7.5km
- Entrada p/Vassouras - Vassouras: 6.5km
- Vassouras - Caburé (Praia de Brasília): 17km
- Atins - Canto dos Lençóis: 5km
- Canto dos Lençóis - Baixada Grande: 25km
- Baixada Grande - Queimada dos Britos: 9.5km
- Queimada dos Britos - Betânia: 18km
CONSIDERAÇÕES FINAIS
- É perfeitamente possível almoçar e jantar todos os dias em cidades, vilas ou barraquinhas de praia. Ou seja, equipamentos de cozinha podem ser dispensados.
- O trecho de logística mais complicada é na travessia do Rio Novo. É possível esperar algum barqueiro passar por lá e tentar pedir carona até Siriema ou Paulino Neves, como fizemos. Mas há sempre o risco de ter que esperar muito.
- As praias próximas de Tutóia e no final do Parque Eólico possuem muitos detritos, trazidos do mar ou deixados por pescadores locais.
Nossa! Tenho muita vontade de conhecer os Lençóis Maranhenses. Parece outro planeta! rsrsrs