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Alex Bonifácio 21/12/2017 11:43
    Caminho Salkantay - Peru (03/2011)

    Caminho Salkantay - Peru (03/2011)

    Meu primeiro contato com a altitude, e uma virada de chave na minha vida.

    Trekking

    Graças a uma mudança de emprego, consegui uma janela de tempo livre no fim de março de 2011. Sendo assim, não pensei duas vezes em fazer algo que eu há tempos tinha vontade: conhecer Machu Picchu percorrendo o caminho Inca. Porém, após conversar com um amigo que há pouco tinha feito o caminho Salkantay, mudei de idéia e, seguindo as suas dicas, segui rumo a Cusco para a experiência que viria a ser determinante na minha vida.

    Cheguei em Cusco no dia 20/03 para a minha primeira experiência em altitude. Justamente por isso saí procurando o guia indicado pelo meu amigo para tentar iniciar a trilha o quanto antes. Por sorte, a primeira data disponível era o dia 23/03, o que a princípio me deixou um pouco contrariado devido à minha inexperiência, mas depois me mostrou que mesmo que eu não quisesse foi a melhor coisa que poderia ter acontecido: me permitiu iniciar da maneira certa a aclimatação para as altitudes que eu enfrentaria no resto da viagem que eu planejava. Enquanto esperava o dia, bati muita perna por Cusco e arredores, tentando conhecer um pouco da cultura do povo Tahuantinsuyo e também comprando os equipamentos que faltavam para o trekking.

    Cusco vista do alto.

    Galera pronta para iniciar a travessia.

    No dia 23/03 encontrei o grupo: três dinamarquesas e o guia peruano. Tomamos uma van em Cusco e seguimos até Mollepata, a cidade onde começa o trekking. Após uma breve parada para comprar bastões de caminhada, iniciamos a caminhada pela manhã por um terreno inclinado (pelo que me lembro parecia uma estrada de terra) mas bom. Andamos até um ponto onde se podia admirar a beleza das montanhas ao redor e ali almoçamos e descansamos. Já refeitos, caminhamos coisa de mais três horas e chegamos ao acampamento onde passaríamos a noite, em Soraypampa, a 3100 m. s. n. m. Ali eu tive o meu primeiro contato com o ambiente de alta montanha. Eu já demonstrava interesse pelo assunto, mas quando vi o nevado Salkantay, eu, que já andava pensando no assunto, tomei a decisão de, na próxima vez, tentar subir uma daquelas. Um passo ousado para quem havia começado a escalar indoor havia apenas um ano. Mas isso é conversa para outra hora, rs.

    Pela minha falta de experiência, a primeira noite foi desagradável: levei um saco de dormir de verão e tive que usar muitas roupas para me manter aquecido, e com isso eu não conseguia me mexer dentro do saco de dormir, e muito menos dormir! Fiquei tentando virar de um lado para o outro e não preguei o olho a noite inteira, rs. Coisas de iniciante. É incrível perceber o quanto aprendemos com esses detalhes.

    Em Soraypampa, descansando no acampamento.

    Apesar de o Nevado Salkantay estar meio encoberto, provavelmente essa foi a hora que deu o estalo da alta montanha na minha cabeça. Nunca vou esquecer o que senti nesse momento.

    Acordamos para o que seria o dia mais longo do trekking: uma caminhada de aproximadamente 12 hs, onde subiríamos por 3 horas até atingir 4600 m. s. n. m. e depois descer até 2100 m. s. n. m., se não me engano. Iniciamos a caminhada cedo e começamos a subida até o Paso Salkantay. O grupo foi num ritmo muito bom, e chegamos em 3 horas. Dali a vista para o nevado é sensacional, na minha opinião o lugar onde mais se sente a energia das grandes montanhas. Iniciamos a descida e, enquanto descíamos, tive a sorte de ver uma avalanche nas encostas do Salkantay. O estrondo causado por uma avalanche é um som que não dá para esquecer. Simplesmente espetacular! Uma forma de a natureza mostrar quem está sempre no comando.

    Subida ao Paso Salkantay.

    Teletubbies no paso Salkantay, rsrs.

    Apu Salkantay não estava lá muito tranquilo.

    Paramos para almoçar, e após algum descanso reiniciamos o caminho. Nesse momento eu disparei na frente e deixei o pessoal para trás. No fim da tarde, parei e esperei que me alcançassem antes de escurecer e, mais ou menos uma hora antes de chegarmos ao acampamento, começou a chover. Para chegar ao acampamento tivemos que atravessar um senhor lamaçal, a lama chegava quase nos joelhos, e a luta foi grande, rs. Quando chegamos ao local do acampamento, vimos tudo alagado e soubemos que teríamos que andar mais uma hora (ou melhor, subir mais uma hora de piramba no meio do mato). Quando finalmente chegamos ao acampamento, nossas barracas estavam completamente encharcadas, rs. Não sei o que aconteceu, mas no fim havia uma espécie de vendinha e uma casa em construção, literalmente pela metade, que era do dono da vendinha. Conversamos com o dono que nos permitiu passar a noite dentro da casa em construção. Estendemos os sacos de dormir e, após 13 horas de caminhada, pegar no sono foi rápido.

    No caminho para Santa Teresa.

    Quando acordamos tomamos o nosso café na vendinha e seguimos rumo Santa Teresa. Foram aproximadamente 6 horas de caminhada por uma estrada de terra que margeava um rio (infelizmente não lembro o nome do rio) e repleta de marcas de deslizamentos, onde chegaríamos a um restaurante e dali partiríamos em uma van para cobrir um trecho onde estavam ocorrendo muitos deslizamentos (prepara-se para isso quando for para lá em época de chuvas) por mais aproximadamente uma hora até o local onde ficariamos, uma área coberta de um hostel, em Santa Teresa. Ao chegar, armamos o nosso acampamento e ali havia chuveiros com água quente por 5 soles, que eu não hesitei em pagar. Após três dias sem banho, era o paraíso.

    Então, uma experiência marcante: havia um matadouro bem na frente do hostel, e enquanto estávamos lá um boi foi trazido. Foi impressionante ver, em aproximadamente 15 minutos, um boi inteiro virar um punhado de peças de carne. Não afetou meu hábito carnívoro, mas é o tipo de experiência que não se esquece, principalmente para quem não está acostumado a ver isso, o que era o meu caso.

    Vai um gole de coca?

    No outro dia, acordamos e arrumamos as coisas para seguir sentido a hidroelétrica. Uma grande surpresa assim que saímos: durante a noite havia ocorrido um grande deslizamento de terra na rua do hostel. Acredito que a terra ficou com coisa de 4 ou 5 metros de altura, e isso foi exatamente ao lado do hostel. Passamos pelo deslizamento e seguimos para um breve trekking em uma montanha (esqueci o nome, rs) onde após subirmos descemos por meio de várias tirolesas instaladas entre a montanha que estávamos e uma montanha ao lado. Sensacional! Após isso, seguimos rumo a hidrelétrica e nas últimas três horas seguimos próximos à linha do trem até Águas Calientes, onde chegamos no início da noite. Depois de cinco dias falando inglês e espanhol, foi ótimo encontrar um pessoal do Brasil assim que cheguei lá.

    Subidinha final da montanha para o iníco das tirolesas.

    "Yeah, we made it!"

    Chegando a Águas Calientes, o primeiro vislumbre do objetivo da travessia.

    Rio Urubamba "tranquilinho" visto do quarto do hotel. Parecia que tinha um milhão de descargas ligadas.


    No quinto e último dia, acordamos umas 4:30 da manhã e nos preparamos para seguir rumo a Machu Picchu. Chegamos e consegui conhecer praticamente a cidade inteira. Consegui um ingresso para subir com a primeira turma do dia para Huayna Picchu, que é uma parte sensacional da cidade, onde subimos uma escada bem íngreme durante aproximadamente uma hora. Consegui esquecer a minha câmera fotográfica com as dinamarquesas e não tirei nenhuma foto lá em cima. Fiquei algum tempo lá e desci pois ainda queria subir para a montanha que dá o nome à cidade, levando aproximadamente 1:30 subindo escadas até chegar no cume. Foi incrível imaginar a vida naquela que foi uma cidade de destaque no imperio Inca.

    Chegada a Machu Picchu.

    No cume de Machu Picchu.

    Abaixo, Machu Picchu (a cidade). Acima, Huayna Picchu.

    Aguardando o trem para Ollantaytambo. "We made it again, girls!"

    No fim do dia pegamos o trem de Águas Calientes até Ollantaytambo, onde voltamos de ônibus para Cusco. Na madrugada seguinte o destino seria a Bolívia. Essa com certeza foi a minha primeira grande experiência na cordilheira dos Andes e, como tal, impossível de esquecer. Um boa dose de aventuras, perrengues e situações incríveis.

    Alex Bonifácio
    Alex Bonifácio

    Publicado em 21/12/2017 11:43

    Realizada de 30/03/2011 até 03/04/2011

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    Alex Bonifácio

    Alex Bonifácio

    São Paulo - SP

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    Amante da natureza, da escalada e da alta montanha. Maratonista de rua sempre que sobra tempo. Quando dá sou analista de sistemas, rs.

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