Caminho da Fé é uma peregrinação que a chegada se dá na basílica de Nossa Senhora Aparecida. Um dos caminhos de peregrinação mais famosos do mundo, realizado por amantes da natureza, romeiros, religiosos, cada um com uma finalidade.

Essa foi a minha 4a vez, as duas primeiras eu fiz sozinho, na última um grupo com dois amigos de infância me acompanharam e essa vez eu queria fazer novamente sozinho. Como das outras vezes, peguei um ônibus da viação Pássaro Marrom, saindo da rodoviária do Tiête, São Paulo. Esse ônibus sai pela manhã e à tarde, optei pelo ônibus a tarde, o que foi um erro pois era véspera de feriado e o trânsito estava bem pesado. O ônibus me levou até Paraisópolis, região de Minas Gerais. A chegada prevista para as 19h, acabou atrasando e desembarquei na rodoviária da cidade em torno das 21h. Consegui um carro para me levar até o centro da cidade (me cobrou em torno de R$20,00), tem opção de ir andando, já fui de outras vezes mas pelo horário achei melhor para ganhar tempo. Cheguei no hotel, deixei minhas coisas e fui comer algo para descansar para sair no dia seguinte.

1o dia:

Acordei as 4 am como de costume, antes de iniciar as caminhadas, fiz curativos entre os dedos, passei vaselina, separei uma lanterna, gel proteico e fui tomar café da manhã. Antes das 5am, já tinham um grupo com 5 peregrinos que também sairiam rumo a Aparecida.

Comecei o caminho antes das 5h30, meu plano foi caminhar até Campista, depois da Luminosa, já dentro de Campos do Jordão. Saí com uma lanterna, me apressei para sair da cidade, são em torno de 2km, pouco mais ou menos, da pousada/hotel Central (já me hospedei na pousada da praça, mas não tinha vaga. Diga-se de passagem, quem quiser obter o certificado ao final do caminho, precisa comprar a credencial que vende na pousada da praça, basta carimbar nos estabelecimentos comerciais ao longo do caminho). Esse trecho ao longo da cidade passa por paralelepípedos, asfalto, após sair da cidade tem o trecho pela rodovia até chegar no início da trilha. A partir desse trecho, o caminho é pela região de São Bento de Sapucaí, retornando para o estado de Sp, montanhas, muito verde, lindo visual.

Durante esse trecho, por ter saído bem cedo, cruzei com poucas pessoas, apenas um grupo de uns 20 caminhantes já chegando no bairro de Canta Galo e algumas bicicletas que passaram por mim. Por ser um período de feriado, a trilha estava mais movimentada do que nas outras vezes. Nesse momento já eram 9h, parei no Jucemar para tomar um isotônico e seguir em direção até Luminosa. O Jucemar é conhecido pelo sanduíche com linguiça mas achei muito cedo para encarar, parada ali por sinal é obrigatório, boa pessoa, papo sempre agradável. Segui então em direção a cidade de Luminosa, trilha de areia pelas montanhas, duas boas subidas, até chegar ao topo de onde se vê a cidade de Luminosa e retorna ao estado de MG.

Nesse trecho que divide novamente as regiões de SP e MG tem uma íngreme descida até a cidade de Luminosa. Cheguei ao centro da cidade em torno de 11h, parei num restaurante, o mesmo como de costume que fica próximo à igreja já na saída da cidade. Pedi um almoço, leve pois ainda teria a subida da Luminosa até chegar ao asfalto para Campista. As 12h30 sai do restaurante e segui caminho pela trilha, a Luminosa é um dos, senão o trecho mais íngreme e alto do Caminho da Fé, andei direto até a pousada da Dona Inês, outra parada obrigatória, me hospedei lá na primeira vez que fiz o

caminho e super recomendo. Depois de me refrescar na ducha que tem no mirante, segui subindo a Luminosa, em direção a segunda parada (planejei parar 4 vezes até terminar a Luminosa, pousada da Dona Inês, Creperia, pousada Panorâmica e no final da Luminosa).

Dei sequência ao caminho, belíssima paisagem que nos proporciona a Luminosa, momento de contemplação, reflexão, apesar do cansaço e esforço, é uma energia única. Dei uma parada na Creperia e me apressei para chegar até a pousada Panoramica onde fiz mais uma e última parada antes de chegar ao final da Luminosa. Nesse ponto, já se passavam pouco mais de 35km caminhados, dei sequência e me refresquei com minha última garrafa de água na pousada panoramica, onde pude me abastecer mais um pouco. Nunca me hospedei lá, mas tenho planos para em breve passar uma noite, no local, instalaram um enorme terço de onde se avista de bem longe, a vista é realmente panoramica e vale muito a parada para contemplar. Após 20 minutos de descanso, continuo caminhando até o final da Luminosa e onde cruza a placa dos 100km que faltam até a chegada a Aparecida.

Finalizo a Luminosa, em torno de 16h(pm), o final da trilha da num asfalto que em determinado horário de bastante movimento. Pelo que soube estão construindo uma via alternativa para não ter que pegar o asfalto mas não tinha informação suficiente. Fui até Campista onde me hospedei na pousada da Rose, local é simples, mas limpo

e aconchegante. Fica na saída do asfalto, no início da trilha de areia em direção a cidade de Campos do Jordão.

2o dia:

Acordei as 5h, e depois de tomar café da manhã comecei o dia as 5h30. Esse trecho até a cidade de Campos do Jordão é em meio a serra da matiqueira, numa trilha repleta de verde. Num determinado ponto, começa a ter um fluxo mais intenso de carros, motos, mas nada que seja perigoso. Nesse dia, esse trecho cruzei com alguns grupos de bicicleta mas até então, nada como no dia anterior. Passei a seta indicando que faltavam 88km até Aparecida e após mais 6km caminhando cheguei a Campos do Jordão. Esse trecho

da cidade de Campos, para quem opta ir pelo Horto (Pedrinhas) tem algumas opções, ir andando pelo asfalto (o que eu não indico, pois acho perigoso), pegar um ônibus comum ou negociar Uber/Taxi, valores dependem da quantidade de pessoas. Eu negociei com

o Maurinho, filho da dona da pousada (Rose) que me levou por R$70,00 até a entrada do Horto, no trecho de asfalto cruzei com diversos grupos de bicicleta com grupo de apoio que ao longo da subida do Horto me passaram, todos muito gentis e solícitos sempre me perguntando se eu precisava de algo, se estava tudo bem. Sai do Horto, em

torno das 10h30, muito sol e calor, ali são algumas subidas com paradas no mirante, ponto mais alto do Caminho, onde tem uma seta indicando 1.910mts de altitude até chegar a Pousada Santa Maria. Ali já se passavam mais de 100km desde a saída de Paraisópolis, a pousada é outra parada obrigatória, eles tem uma capelinha dentro da pousada e um lago onde as crianças podem andar de caiaque. Logo após a pousada, começa a descida pela Pedrinhas, onde tem mais um mirante, capelinha linda até a chegada a Trutaria, outro ponto obrigatório com um lindo visual. Desse ponto, já se a vista a cidade de Aparecida em alguns locais. É uma sinuosa descida que requer bastante cuidado por conta da enorme quantidade de pedras. Ainda tem paradas obrigatórias como os apoios que construíram no trecho com água potável até a chegada ao mirante de onde se tem uma das vistas mais bonitas do caminho.

A descida leva até o asfalto onde passa pelo bairro do Gomeral, com pousadas, restaurantes até chegar ao final da descida, trecho todo de asfalto e dependendo do horário com bastante fluxo de veículos, após a descida tem algumas opções de pousadas para descansar antes do último dia. Me hospedei na pousada Caminho da Pedrinha, onde ao fundo da pousada tem uma riacho que é revigorante.

3o dia:

Como de costume, acordei as 4h30 e preparei a mochila, separando lanterna e gel para ficarem a mão. A pousada é da Dona Ivanete e o marido dela, Nelson. Ambos são super receptivos e sempre me senti bem acolhido. O Nelson acorda bem cedo, então, lá eu sempre puder tomar café da manhã a partir das 5h. Então, 5h30 eu já estava em

direção a trilha de areia, iniciar meu último dia e a chegada até a basílica de nossa senhora. O caminho continua pelo

asfalto por menos de 1km da pousada da Dona Ivanete e o Nelson até a entrada da trilha pela areia. Pelo horário, tive que usar a lanterna até o amanhecer, desse trecho a frente se tem Aparecida, ainda escuro deu para enxergar bem as luzes acesas da cidade, ao fundo a serra da mantiqueira, parece gigante, e é mesmo... e olhando se tem a real noção do quanto é íngreme a subida e a descida, um visual maravilhoso do nascer do sol. Esse trecho é todo pela areia até voltar ao asfalto se onde ficam faltando 10km até a Basílica, nesse trecho, em torno das 8h um carro veio na minha direção e parou, para minha surpresa, uma mulher que dirigia me abordou e perguntou se eu estava bem, se precisava de água, alguma coisa, agradeci e disse que não, estava bem equipado, ela me

desejou um bom caminho e foi embora. Isso é um fato curioso do caminho da fé, não relatei antes aqui, mas durante todo o caminho em todas as vezes em que fiz, as pessoas são muito acolhedoras, gentis e solidárias. Isso é mais um motivo que eu tanto admiro o Caminho da Fé.

Ao terminar a trilha pela areia, começa o trecho no asfalto por alguns kms até entrar na cidade de Aparecida, trecho com estabelecimentos comerciais, a quantidade de pessoas aumenta pois é muito comum turistas se hospedarem na cidade de Aparecida e andar os últimos kms até Basílica, tem muita gente que vai para pagar promessa ou simplesmente agradecer. Meu caso é agradecer, sempre e aproveitar a energia maravilhosa da natureza no Caminho da Fé. Esse trecho por ser de asfalto e sem subida/descida costumo fazer bem rápido, em torno de 10km em 1h30 mais ou menos. Cheguei na basílica as 9h30, fui na santinha, agradeci, fiz minhas orações e parti para tomar um banho.

Próximo à rodoviária, na praça onde tem a igreja antiga tem uma vila e uma senhora cobra em torno de R$5,00 para tomar banho, eu sempre levo uma toalha bem pequena daquelas que vende na Decathlon então foi bem útil. Após o banho parti para a rodoviária onde peguei ônibus as 11h30 para São Paulo. Mais um caminho da fé realizado, e eu renovado.
Abaixo, links com vídeos do caminho e o site oficial:

https://youtube.com/@caminhandoefe?si=FYQwNdav3AYEqLEz

https://caminhodafe.com.br/ptbr/