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CACHOEIRA PALMITAL OU FANTASMA
Uma das mais belas cachoeiras do PARNA da Serra do Cipó, ainda pouco visitada e acessada por uma trilha repleta de atrativos naturais.
Hiking Trekking CascadaA previsão era de chuva para o feriado do Carnaval, motivo pelo qual optamos por ficar em BH para tentar aproveitar algumas janelas de tempo ensolarado com atividades de um dia. A possibilidade de tempo relativamente firme na segunda-feira (12/02/24), nos levou a organizar uma caminhada de última hora até a cachoeira Palmital, também conhecida como Fantasma. Um dos objetivos seria encontrar um acesso viável aos platôs superiores à cachoeira, na tentativa de buscar um caminho alternativo para o Travessão. Para esta tarefa, acionei o Dênio, meu colega de roubadas, além da Giselle, que também animou a ir conosco.
As cachoeiras Palmital, da Ilha e João Fernandes, formam um conjunto mais distante e isolado de atrativos naturais acessados pela portaria Retiro do Parque Nacional da Serra do Cipó, motivo pelo qual costumam ser menos visitadas, já que exigem disposição para caminhadas um pouco mais longas, acima de 24 km contando a ida e a volta. Para quem gosta de um pouco mais de privacidade, são perfeitas. Pelo caminho, belos campos rupestres, uma vista privilegiada da região do Travessão, a cachoeira Retiro Velho (na verdade são duas), muita água e belas paisagens.
Partimos cedo pela manhã, rumo à portaria Retiro do PARNA da Serra do Cipó. Em Lagoa Santa, tomamos um novo caminho, recém-inaugurado, por avenidas amplas com rotatórias, o que nos poupou do tradicional martírio do caminho original, sempre com lentidão e intermináveis quebra-molas. A ideia foi chegar antes das 8h na portaria do Parque, para evitar a multidão esperada para o feriado. Surpreendentemente o tempo abriu, com um céu azul e sem nuvens.
Iniciamos a caminhada por volta das 8h, rumo ao ponto de travessia do ribeirão Capão da Mata, no acesso para a cachoeira Andorinhas, pegando em seguida a trilha que sobe o primeiro platô da serra. Giselle preferiu ficar no vale do Bocaina e aproveitar as cachoeiras por lá.
Já no início da subida nos deparamos com a bela floração da rosa-do-campo ou pau-santo (Kielmeyera rubriflora). Mas o que chamou realmente a atenção foi uma floração diferente de uma planta típica dos campos rupestres, popularmente conhecida como ruibarbo. Mas ao invés de amarela, nos deparamos com exemplares mais alaranjados. Em uma consulta posterior, descobri que se tratava da Trimezia fistulosa var. longifolia, uma espécie endêmica da Serra do Cipó, criticamente ameaçada de extinção. Ou seja, uma raridade botânica no auge de sua floração, pontuando os belos campos rupestres repletos de canelas-de-ema.
No período chuvoso do ano o volume dos cursos d’água na Serra do Cipó aumenta bastante. Em uma caminhada realizada em novembro de 2018, não conseguimos transpor o ribeirão Palmital em um trecho mais encachoeirado, motivo pelo qual acabamos abortando a visita à cachoeira Fantasma. Dessa vez a travessia foi menos complicada, porém, tivemos que tirar as os calçados e caminhar por um pequeno trecho pela água. Mas nada muito complicado.
Com o aumento da visitação nesta região menos conhecida do Parque, algumas trilhas secundárias foram abertas e a trilha principal ficou bem mais evidente, diferente da primeira vez que viemos, em novembro de 2016, quando sequer havia uma trilha. As cachoeiras secretas da Serra do Cipó (Fantasma, da Ilha e João Fernandes) já não são mais tão secretas assim. Viva as mídias sociais! (#sqn)
Passamos pelo grande poço localizado logo acima do trecho encachoeirado do ribeirão Palmital, que sempre surpreende a todos que o veem pela primeira vez, dadas suas dimensões e beleza peculiar. Continuamos pela trilha, em busca de um ponto adequado para mais uma travessia do ribeirão, dessa vez feita sem tirar o calçado. A partir deste ponto a trilha volta a ser bem marcada na margem direita, embora muita gente prefira caminhar pelo leito seco do Palmital na época mais seca do ano.
Depois de percorridos 11 km em cerca de 3 horas e meia de caminhada, chegamos à cachoeira Fantasma. O maior volume de água nos proporcionou um belo espetáculo, em uma das mais belas cachoeiras da Serra do Cipó.
Retomamos a caminhada, agora na tentativa de encontrar um aceso o próximo platô, na parte de cima da cachoeira. Visualmente a ombreira direita nos pareceu mais promissora, com a vegetação menos densa. Optamos por pegar um trecho da trilha que leva às cachoeiras da Ilha e João Fernandes, para um ataque em relevo menos acidentado. Porém, na primeira tentativa de ascensão, o capim volumoso dificultou bastante o nosso progresso, uma vez que afundávamos a perna até o joelho no mato. Um tanto fatigados, percebemos que o esforço seria grande, sem a certeza de encontrarmos um caminho viável, o que nos motivou a desistir da empreitada e retornar. Ficou para uma próxima ocasião.
No caminho da volta, mais uma surpresa botânica: um belíssimo exemplar florido da bromélia Encholirium vogelii, também endêmica da Serra do Cipó, criticamente ameaçada de extinção e uma das espécies alvo do Plano de Ação Territorial do Espinhaço Mineiro[1]. Êxtase total para o biólogo de plantão!
Descida novamente a serra até o vale do Bocaina, reencontramos com a Giselle na travessia do córrego Capão da Mata, por volta das 16:30, onde ela nos aguardava depois de ter passado um tempo na cachoeira Andorinhas. O caminho da volta até o carro, como de costume, foi bastante cansativo, sob calor e Sol forte, contrariando todas as previsões meteorológicas.
Arriscamos uma passada no restaurante do César para tentar um almoço, mas o expediente já havia sido encerrado às 16:30, nos privando de concluir a aventura com uma sonhada refeição. Sem alternativas viáveis, nos restou retornar à BH e enfrentar o trânsito caótico proporcionado pelos blocos carnavalescos. Mas nada que pudesse atrapalhar a satisfação de mais uma aventura concluída com grande satisfação, embora o desafio de encontrar o caminho alternativo para o Travessão permaneça em aberto!
[1] PAT Espinhaço Mineiro https://wwfbr.awsassets.panda.org/downloads/patmg_sumario_online.pdf
Início da caminhada a partir da portaria do Retiro. Olha que céu em um dia com previsão de chuva! Giselle preferiu curtir as cachoeiras no vale do Bocaina e não nos acompanhou.
Ascensão ao primeiro platô, rumo à cachoeira Fantasma.
Floração da Trimezia fistulosa var. longifolia, espécie endêmica da Serra do Cipó e criticamente ameaçada de extinção.
Trecho encachoeirado do ribeirão Palmital.
Início da subida próximo ao trecho encachoeirado do ribeirão Palmital.
Poção localizado em uma parte mais elevada do ribeirão Palmital.
Trecho encachoeirado do ribeirão Palmital, acima do poção, na segunda travessia deste curso d’água.
Já próximo à cachoeira Palmital.
Dênio em um momento tenso na travessia de uma pequena e escorregadia ponte de pedra.
Cachoeira Fantasma ou Palmital, em todo o seu esplendor.
O maior volume de água no período chuvoso do ano a torna ainda mais bela.
Na volta ainda nos deparamos com um belíssimo exemplar florido da bromélia Encholirium vogelii, endêmica da Serra do Cipó, criticamente ameaçada de extinção e uma das espécies alvo do Plano de Ação Territorial do Espinhaço Mineiro.
Parabéns pela trilha, Cachoeira linda.
A Serra do Cipó nunca decepciona!!! Parabéns pela trilha e obrigado pelo relato André!
Salve André. Belíssimo relato. Eis uma grande vantagem de morar próximo a um lugar repleto de atrativos naturais. Dá para resolver de última hora.