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André Jean Deberdt 15/07/2021 08:01 com 1 participante
    DESERTO DO ATACAMA

    DESERTO DO ATACAMA

    Passeios pelos atrativos de San Pedro de Atacama e região

    Hiking Deserto

    Valle de la Luna, no deserto do Atacama. Paisagens e contrastes de cores incríveis por onde quer que se vá.

    Depois de 10 dias perambulando pela Bolívia, finalmente chagamos ao Chile, em San Pedro de Atacama. Descemos de micro-ônibus da fronteira com a Bolívia, até a cidade, pela estrada conhecida como Ruta 27, em pouco menos de uma hora de viagem. Como não tínhamos feito reserva, paramos em um café na praça central para procurar uma hospedagem na Internet e trocar dinheiro na casa de câmbio. Acabamos nos hospedando em uma pousada um pouco afastada da zona central, que, apesar de um pouco cara, como tudo nessa cidade, nos atendeu bem em termos de conforto, depois de vários dias e noites mal dormidos e sem banho no tour que fizemos pelo altiplano boliviano e da ascensão ao cume do vulcão Licancabur.

    Com queimaduras no nariz resultantes da exposição ao Sol e ao frio, uma forte sinusite, febre e dor de garganta, decidi passar no atendimento médico da cidade para verificar se havia necessidade de tomar antibiótico ou algo parecido. Neste meio tempo a Giselle foi procurar uma locadora de veículos e informações sobre o acesso aos atrativos. A região desértica, onde supostamente nunca chove, havia sofrido com enchentes nas últimas semanas, o que não é tão incomum nessa época do ano (fevereiro). Por este motivo algumas estradas e atrativos da região estavam interditados.

    Medicado com analgésicos e descongestionantes, retornamos até a pousada para descansar um pouco e saímos à noite para jantar em um dos muitos badalados e caros restaurantes da cidade. Tudo em San Pedro de Atacama é caro.

    Ruta 23: Lagunas Miscanti e MIñiques, Salar de Águas Calientes, lagunas salgadas e Ojos de Salar

    No início da manhã alugamos um possante (Suzuki Gran Vitara) e pegamos a Ruta 23. Logo na saída fomos parados pelos Carabineros que, muito educadamente, conferiram a documentação do veículo e nos liberaram sem maiores entraves, situação bem diferente da encontrada em outros países sul-americanos. O trecho inicial da estrada margeia o Salar de Atacama, passando pelos povoados de Toconao e Socaire, com muitos trechos afetados pela enxurrada das últimas semanas. Depois de Socaire, na medida em que ganhamos altitude, a paisagem foi ficando cada vez mais bela, com os picos nevados e lagunas no entorno.

    Nossa primeira parada foi nas lagunas altiplânicas Miscanti e Miñiques, localizadas a 4.100 metros de altitude e a 115 quilômetros da cidade de San Pedro de Atacama. É preciso pagar uma taxa na entrada e seguir de carro até os pontos de estacionamento. O lugar é realmente lindo, com belíssimos lagos de cor azul-marinho formados pelo derretimento do gelo, cercados por montanhas e vulcões exuberantes. Ao fundo da Laguna Miscanti há o vulcão Miscanti (5.622m) e ao fundo da Laguna Miñiques há o vulcão Miñiques (5.910m), ambos extintos.

    O problema é que todo o percurso é balizado e não permite a aproximação das margens para uma maior interação com o local, o que torna o passeio bastante rápido. Para o turista comum pode ser satisfatório pagar uma agência pelo passeio, rodar 115 km em uma van e passar 30 a 40 minutos no local observando o atrativo a distância, mas, para quem é montanhista e acabou de fazer um passeio por áreas selvagens no altiplano boliviano, é um tanto frustrante. Mas a beleza do lugar, sem dúvida, compensou a visita.

    Laguna Miscanti com o vulcão de mesmo nome ao fundo. A trilha balizada não permite a aproximação das lagunas, que são observadas à distância.

    Laguna Miñiques com o vulcão de mesmo nome ao fundo.

    Picos nevados ao fundo da laguna Miñiques.

    Continuamos a seguir pela Ruta 23 no sentido da divisa com a Argentina, rodeados de picos nevados e paisagens espetaculares, até o Salar de Águas Calientes, cujo acesso estava impedido, bem como para as Piedras Rojas, outro atrativo próximo dali. Fomos então até um mirante de onde tivemos uma bela vista de boa parte do salar e de algumas vicunhas que pastavam sossegadamente mais abaixo.

    Continuamos pela estrada até o mirante da laguna Tuyaito onde paramos para tirar mais algumas fotos e retornamos para San Pedro de Atacama. Pelo caminho, manadas de vicunhas cruzavam a rodovia, sem se importar muito com a nossa presença.

    A vicunha (Vicugna vicugna) é o menor entre as quatro espécies de camelídeos andinos, que ainda inclui o guanaco (Lama guanicoe), a lhama (Lama glama) e a alpaca (Vicugna pacos). Habita as estepes desérticas elevadas do altiplano andino.

    Um pouco antes do povoado de Toconao, saímos da estrada e adentramos o Salar de Atacama, rumo às lagunas Cejar, Baltinache e Piedra, famosas pela elevada concentração de sal. As lagunas ficam dentro de um balneário, que cobra uma taxa de entrada tão salgada quanto a água (cerca de R$ 100,00 por pessoa). É permitido banhar-se apenas na laguna Piedra, sendo as duas outras apenas para contemplação. Me senti um tanto desconfortável em meio aquele ambiente “Piscinão de Ramos”, cheio de gente. Afinal, quando se visita uma região desértica, a expectativa é justamente não encontrar ninguém!

    A Giselle entrou na laguna e experimentou a sensação de flutuação na água fria e saturada de sal, enquanto eu fiquei sentado à sombra de um quiosque, me contentando em apreciar as artêmias (Artemia sp) em seu hábitat natural. São pequenos crustáceos que vivem em ambientes extremos de água salina, muito utilizados em aquariofilia.

    Na volta ainda passamos pelos Ojos del Salar, duas pequenas lagoas profundas e com formato circular, no meio do Salar. Tiramos algumas fotos e retornamos para San Pedro de Atacama.

    Belas paisagens, picos nevados e vicunhas pastando ao longo da Ruta 23.

    Vista de parte do Salar de Aguas Calientes com o Cerro Medano (4.672m) ao fundo.

    O Salar de Aguas Calientes visto do mirante.

    Por várias vezes tivemos que reduzir a velocidade e até parar para permitir a passagem das vicunhas.

    Laguna Piedra, única das três lagoas onde é permitido flutuar na água salgada.

    Ruta 27: Vegas de Quepiaco, Monjes de Tara, Salar de Tara, Salar de Aguas Calientes, Salar de Loyoques ou Quisquiro

    Com boa parte dos atrativos mais famosos fechados devido aos danos causados pela chuva das últimas semanas (raramente chove no Atacama, mas quando chove, é um estrago!) e ansiando por áreas menos turísticas e um pouco mais selvagens, decidimos seguir pela Ruta 27 (aquela que pegamos para vir da Bolívia para o Chile) e explorar áreas mais distantes na Puna do Atacama, parte mais elevada do altiplano, próximo à fronteira com a Argentina.

    O início da subida já é um espetáculo, com o imponente vulcão Licancabur (5.916m - aquele que subimos no dia 18/02/2019) e o cerro Juriques (5.653) à nossa esquerda e o cerro Toco (5.604m) à nossa direita. A região é conhecida como Paso de Jama, trecho mais alto no caminho entre o Chile e a Argentina.

    Um fato engraçado que ocorreu já na parte mais elevada do altiplano, foi a Giselle reclamar que o motor do carro não estava rendendo. Ela já havia comentado isso no dia anterior, quando voltávamos do Salar de Águas Calientes. Afinal de contas, era um Suzuki Gran Vitara, porém, vez por outra mais parecia um carrinho 1.0. O que não nos demos conta naquele momento, é que estávamos a 4.800m de altitude, onde qualquer carro perde rendimento devido ao ar rarefeito!

    Nossa primeira parada foi nas Vegas de Quepiaco, uma área alagada pelo rio Quepiaco às margens da rodovia. Local de rara beleza, com o contraste da grama verde e da água com os tons pastéis do deserto ao fundo, dos picos nevados e do céu azul. Photoshop nenhum faria igual! Acrescente a isso flamingos e uma manada de vicunhas correndo de um lado ao outro. Poderíamos ter retornado dali que o dia já teria valido. Mas muito mais estava por vir!

    Vegas de Quepiaco. O ponto no meio da foto é uma vicunha posicionada estrategicamente para compor o visual!

    E em outros momentos com alguns flamingos.

    De longe parecia que as vicunhas estavam jogando futebol aos pés do cerro Putas (5.443m).

    Lagoa formada por um represamento no rio Quepiaco, próximo às vegas (áreas úmidas). Ao fundo, o cerro Pili / Acamarachi (6.046m).

    Seguindo pela estrada passamos pelo Salar de Pujasa que tentamos, sem sucesso, alcançar com o carro. Não encontramos um caminho viável e algumas elevações no terreno arenoso dificultaram a passagem. Tivemos que nos contentar com uma vista distante a partir do mirante e seguir em frente pela Ruta 27.

    Depois de uma longa descida em curva, chegamos na entrada de um dos sete setores da Reserva Nacional Los Flamencos, que dá acesso ao Salar de Tara. Fomos recebidos por uma série de grandes torres e formações de pedra conhecidos como Monjes ou Guardianes de la Pacana, espalhados por uma extensa área desértica. É possível circular por eles de carro, uma vez que a distância entre um e outro pode ser grande. Há outras formações de rocha seguindo em direção ao Salar de Aguas Calientes (existem vários com este nome!) e pode-se passar o dia circulando de um lado para o outro, sempre com uma surpresa atrás da outra.

    Salvo uma ou outra placa informando que estávamos na Reserva Nacional Los Flamencos, não encontramos nenhuma sinalização indicativa do caminho. Resolvemos seguir algumas trilhas de veículos na areia e tentar chegar ao Salar de Tara, que sabíamos, de antemão, que também estava com a visitação suspensa.

    Percorremos uma bela região desértica coberta de pedregulhos, isolada de tudo e com amplos horizontes, sem sinal de ninguém, apenas vicunhas, formações rochosas e um ou outro cacto. Lindo demais! A pergunta era a seguinte: poderíamos estar ali? O jeito foi arriscar. Era bonito demais para voltar e, em momento algum, vimos alguma placa proibindo o acesso.

    Rodamos por um bom tempo pelo deserto tentando adivinhar a direção correta, até chegarmos a um mirante de onde se avistava o Salar de Tara, coalhado de flamingos. Uma placa alertava que dali em diante seria proibido seguir com veículos motorizados, por se tratar de uma área de reprodução do ganso-andino ou guayata (Chloephaga melanoptera). Decidimos não abusar mais e retornar a partir daquele ponto. Afinal de contas, havíamos alcançado o nosso objetivo, que era o Salar de Tara, mesmo que avistado a distância.

    Voltamos pelo mesmo caminho com algumas pequenas variações, passando por vários rebanhos, manadas ...? Acredito que o termo correto para vicunhas seja cáfila, uma vez que são camelídeos. Algo a ser pesquisado.

    Retomamos a Ruta 27. Passamos pelo Salar Aguas Calientes, um outro, diferente do que visitamos no dia anterior e paramos mais adiante, no mirante do Salar de Loyoques ou Quisquiro, com uma bela vista de toda sua extensão. Mais alguns quilômetros adiante e chegaríamos ao Paso Jama, na fronteira com a Argentina. Por isso decidimos retornar pra San Pedro de Atacama. O dia já estava terminando e tínhamos um longo caminho na volta.

    Depois de tomar banho decidimos jantar no restaurante recomendado pelo funcionário da pousada e que nos agradou bastante. Até então, não tínhamos dado muita sorte no quesito gastronômico. Na primeira noite optamos por um caro e badalado (não recordo o nome), especializado em grelhados, mas a Giselle não apreciou a carne. Na segunda noite fomos num esquisitão, bem turístico, que não nos agradou. Na terceira noite relutamos em ir ao Las Delicias de Carmen, receosos de que o colega da pousada estaria recebendo uma comissão pela indicação, mas decidimos arriscar. E foi uma grata surpresa. Um lugar simples, com cachorro deitado na entrada, um cardápio diversificado e saboroso, um ótimo atendimento e preços bem em conta.

    Sentinela de pedra na entrada da Reserva Nacional Los Flamencos.

    Belas paisagens no caminho para o Salar de Tara.

    Deserto, formações rochosas, vicunhas e um ou outro cacto pelo caminho.

    Paredões rochosos próximos ao acesso para o Salar de Tara.

    Mais paredões rochosos em meio à paisagem desértica.

    Salar de Tara visto do mirante. Os pontinhos brancos são flamingos. Ao fundo o cerro Curucuti / Curulu (5.380m).

    Salar de Loyoques ou Quisquiro, já próximo da fronteira com a Argentina.

    Valle de la Luna, Mirador Piedra del Coyote

    Ir a San Pedro de Atacama sem visitar o Valle de la Luna é a mesma coisa que ir ao Vaticano e não ver o Papa. Situado na Cordilheira de Sal, bem próximo à cidade, é um local com curiosas formações de relevo erodido cobertas de gesso e sal, além de dunas e grutas. Também é um dos sete setores da Reserva Nacional Los Flamencos e na entrada é cobrada uma taxa de visitação.

    Fomos até lá de carro, cedo pela manhã, sem grandes expectativas, por se tratar de um atrativo de fácil acesso, voltado para o turista comum. Mas logo de início nos surpreendemos com a beleza e grandiosidade do local.

    Iniciamos o roteiro subindo um morro junto a uma grande duna de areia fina. Do alto era possível avistar quase toda a reserva e os acidentes de relevo em suas mais diferentes formas, texturas e cores. Prosseguimos com o carro em pequenos trechos, realizando curtas caminhadas a cada novo atrativo.

    Do Valle de la Luna pegamos novamente a Ruta 23 sentido Callama, até o Mirador Piedra del Coyote, de onde é possível observar toda a Cordilheira de Sal de um ponto elevado.

    No início da tarde retornamos para San Pedro de Atacama, devolvemos o carro na locadora e finalizamos o dia no bar da praça central, degustando mais algumas cervejas artesanais e petiscos. No dia seguinte, cedo de manhã, tomamos um ônibus para Callama e de lá um avião até Santiago, para a etapa final da nossa viagem.

    Algumas das belas formações do Valle de la Luna.

    Grandes dunas de areia fina tomam conta da paisagem.

    A região que dá nome ao vale e o anfiteatro de pedra ao fundo.

    Final da tarde na praça central.

    André Jean Deberdt
    André Jean Deberdt

    Publicado em 15/07/2021 08:01

    Realizada de 19/02/2019 até 24/02/2019

    1 Participante

    Giselle Melo

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    André Jean Deberdt

    André Jean Deberdt

    Belo Horizonte - MG

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    Biólogo e montanhista filiado ao Centro Excursionista Mineiro.

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