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André Jean Deberdt 18/06/2021 15:29 com 1 participante
    SERRAS DO SIQUEIRA, CHAFARIZ E VELOSO

    SERRAS DO SIQUEIRA, CHAFARIZ E VELOSO

    Caminhada leve por trilhas históricas na região de Ouro Preto, MG.

    Hiking

    Chafariz construído em 1782 na antiga estrada que ligava Vila Rica (atual Ouro Preto) a Cachoeira do Campo.

    O conjunto de serras denominadas Siqueira, Chafariz e Veloso, ainda guarda alguns caminhos históricos que, no passado, serviam de ligação entre o Palácio dos Governadores de Ouro Preto ao Palácio de Campo de Cachoeira do Campo. Uma delas é a estrada de 1718, que segue ao longo da cumeeira da serra. A segunda, construída por Dom Rodrigo José de Meneses, governador da capitania de Minas Gerais na época, segue a curva de nível da encosta da serra, por um percurso menos íngreme e sinuoso, conhecida atualmente como Trilha do Chafariz, trecho da Estrada Real que liga Ouro Preto ao distrito de São Bartolomeu. Os dois caminhos ainda apresentam remanescentes de muros de arrimo, drenagens de água e calçamentos, além de vistas privilegiadas das cidades e serras do entorno.

    Estacionamos o carro na lateral da estrada de terra que liga Ouro Preto ao distrito de São Bartolomeu, próximo ao acesso às trilhas. Fiquei um tanto relutante em relação à possibilidade de roubo ou vandalismo no veículo, dado o histórico desse tipo de ocorrência na região, mas decidi arriscar. Iniciamos a caminhada pelo caminho de 1782 conhecido como Trilha do Chafariz, que coincide com um dos trechos da Estrada Real, onde um totem marca o seu início.

    A trilha segue pela encosta da serra, em meio à mata, o que torna a caminhada menos cansativa em períodos do dia com maior insolação. Como era de se esperar, está totalmente abandonada, com a vegetação arbustiva cobrindo partes do caminho e com boa parte do leito danificado pela passagem das motocicletas. Ainda assim a caminhada é agradável com alguns poucos obstáculos de fácil transposição, porém escorregadios.

    O marco inaugural e principal referência deste caminho é o Chafariz de Dom Rodrigo, tombado pelo município de Ouro Preto em 2007, além de alguns poucos remanescentes do calçamento original que ainda resistem à passagem destrutiva das motos. Dom Pedro II também passou por lá num sábado, em 2 de abril de 1881, descrevendo em seu diário as belezas da região e fazendo referência ao chafariz.

    Chegamos ao chafariz às 10h e 20min, onde fizemos uma rápida parada para um lanche. Obviamente bebemos a água, que tinha um sabor marcante de ferro, característico da formação geológica da região. Na estrutura há uma moldura com uma inscrição bastante desgastada, que foi decifrada posteriormente:
    “ESTA FONTE E ESTE CA[M] MANDOU FAZER O ILLO. E EX MO.SR. D. RODRIGO JOZÉ DE MENEZES. GOR E CAPNA. GENAL DESTA CAPNA DE MAS GES EM 1782”

    Um pouco mais à frente chegamos a um mirante onde ainda existe um muro de arrimo que delimita a estrada, de onde se tem uma bela vista da região drenada pelo rio das Velhas, com a Serra do Batatal ao Fundo. Neste ponto encontramos com três pessoas que vinham em sentido oposto, em busca do famoso chafariz.

    Por volta das 11h chegamos ao entroncamento com a trilha mais antiga, datada de 1718, que cruza a cumeeira da serra. O trecho inicial, agora em campo aberto, é uma subida íngreme por uma trilha totalmente destruída pela passagem das motocicletas, cheia de sulcos profundos e cascalho solto, o que dificultou um pouco a caminhada. Uma vez alcançada a parte mais alta, foi possível apreciar uma bela vista de toda a região, com a cidade de Itabirito ao fundo.

    Seguimos pela trilha, agora no sentido contrário, em meio ao campo rupestre. Apesar de alguns trechos mais íngremes, a trilha contorna pela meia encosta os picos mais proeminentes, o que torna a caminhada menos cansativa. Mesmo bastante tomada pelo capim-gordura e pela braquiária, a vegetação rupestre típica desse ambiente altimontano se faz presente, com belas florações que colorem a paisagem.

    Se na antiga estrada de 1782 o principal atrativo histórico é o chafariz, nesta de 1718 o ponto alto é uma muralha que delimita um dos trechos, seguido de um calçamento de pedra ainda em bom estado de conservação, que lembra muito uma trilha Inca. Sem dúvida um local de rara beleza, emoldurado por belas paisagens de toda a região no entorno.

    Fizemos algumas rápidas paradas em afloramentos rochosos para tirar fotos e apreciar a beleza das orquídeas, bromélias e outras espécies típicas de ambientes rupestres. Só não ficamos mais tempo devido a algumas nuvens escuras ameaçadoras que se acumulavam no entorno. Uma tempestade no alto da serra, sem pontos de escape, não seria uma experiência agradável. Por isso aceleramos um pouco o passo, mas sem desespero.

    No trecho final, uma antiga cerca feita com grandes mourões de concreto quebra um pouco o encanto da caminhada, mas é compensada pela bela paisagem ao redor, em especial pelo remanescente de Mata Atlântica que recobre a região abrangida pela Floresta Estadual do Uaimii, cortada pelo rio das Velhas. Já do lado oposto, o Pico do Itacolomi desponta no horizonte.

    Nos metros finais antes de chegar ao ponto onde deixamos o carro, nos deparamos com enormes covas feitas pela passagem das motos, que descaracterizaram totalmente a trilha e a mata. Não bastassem o gado, o fogo, a caça, a mineração e outras ameaças já bem conhecidas, agora somos brindados com mais um impacto indesejável proporcionado pela praga das motocicletas, que insistem em percorrer locais incompatíveis com essa prática destrutiva. A solução? Mais unidades de conservação e a pressão contrária dos montanhistas na mídia.

    A caminhada foi uma grata surpresa. Um circuito de 15 km abrangendo o traçado remanescente das estradas implantadas em 1718 e 1782, facilmente percorrido em aproximadamente 5 horas, sem maiores dificuldades técnicas, em meio a uma região com uma significativa riqueza histórica e cultural. E o melhor de tudo: ao final, encontramos o carro intacto, para o nosso alívio, instantes antes de despencar uma chuva torrencial. Tudo na medida exata para nossa satisfação!

    Início da trilha do Chafariz, antiga estrada implantada em 1782 que servia de ligação entre Vila Rica (Ouro Preto) e Cachoeira do Campo.

    Quase toda a trilha corta áreas florestadas na encosta da serra.

    Alguns poucos obstáculos e pedras escorregadias pelo caminho, mas sem trechos muito íngremes ou de maior dificuldade técnica.

    O chafariz de Dom Rodrigo, implantado em 1782 na inauguração da estrada.

    Alguns poucos trechos calçados ainda resistem ao tempo e à passagem das motocicletas.

    Trecho do caminho de 1718 que cruza a cumeeira da serra.

    Formações rupestres e belas paisagens no alto da serra.

    Um dos trechos mais preservados da estrada de 1718, no alto da serra.

    Calçada de pedra que mais lembra uma trilha Inca.

    Remanescentes de Mata Atlântica (Floresta Estacional Semidecidual) cobrem a região cortada pelo rio das Velhas. Ao fundo a Serra do Batatal.

    Destruição causada pelas motos no final da caminhada. Mais um impacto indesejável em nossas áreas naturais.

    André Jean Deberdt
    André Jean Deberdt

    Publicado em 18/06/2021 15:29

    Realizada em 03/04/2021

    1 Participante

    Giselle Melo

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    André Jean Deberdt

    André Jean Deberdt

    Belo Horizonte - MG

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    Biólogo e montanhista filiado ao Centro Excursionista Mineiro.

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