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André Deberdt 30/05/2025 18:39
    VULCÃOZINHO, PICO BH E PICO DO GROTÃO

    VULCÃOZINHO, PICO BH E PICO DO GROTÃO

    Trilha na Serra do Curral, em Belo Horizonte, passando por três formações de relevo bastante peculiares.

    Hiking Montanhismo

    Trecho da Serra do Curral com a lagoa na antiga cava da Mina de Águas Claras, divisa dos municípios de Belo Horizonte e Nova Lima.

    A Serra do Curral marca o limite sul do município de Belo Horizonte e seu nome é uma referência ao "Curral del Rei", antiga localidade onde foi erguida, em 1897, a nova capital de Minas Gerais. Por fazer parte do Quadrilátero Ferrífero, sofreu e ainda sofre com a extração de minério de ferro, expondo, além de profundas alterações na sua conformação original, diversas cicatrizes resultantes de processos minerários realizados, muitas vezes, de forma criminosa.

    Quem visita a capital mineira e sobe a Avenida Afonso Pena, se depara com um grande paredão, representado pelo trecho da Serra do Curral situado entre o Parque homônimo e o Parque Municipal das Mangabeiras, que abrigam diversos caminhos e trilhas, oficiais e clandestinos, que nos levam a mirantes com vistas incríveis, fazendo jus ao nome da cidade.

    Foi num domingo ensolarado de maio que resolvemos caminhar ao longo da sua cumeada, passando por três formações e relevo bastante características, algumas já bem conhecidas e outras nem tanto: o Vulcãozinho, o Pico BH e o Pico do Grotão.

    Iniciamos a caminhada às 8 horas da manhã no Parque Municipal das Mangabeiras, seguindo pelo caminho que leva ao Mirante da Mata. Pouco antes de chegar ao mirante, tomamos uma trilha discreta à direita, que nos levou ao limite do Parque com a antiga Mina de Águas Claras, da Vale S.A. De lá, seguimos rumo ao Vulcãozinho.

    Vulcãozinho

    O Vulcãozinho (1.290m), observado a partir do Mirante da Mata, no Parque Municipal das Mangabeiras.

    O Vulcãozinho é um grande bloco de rocha remanescente em um trecho da Serra do Curral, que foi totalmente minerado e descaracterizado ao longo das décadas de 1970 e 1980. O nome, ainda não oficial, foi atribuído a ele nas mídias sociais e aplicativos de trilha, devido ao seu formato peculiar.

    O acesso à base do Vulcãozinho é bastante rápido. A partir do início da trilha no Parque Municipal das Mangabeiras, não leva mais que 10 minutos de caminhada, passando por um pequeno trecho de mata e um pinheiral. A maior dificuldade é o ataque ao cume, feito por picadas precárias abertas em uma formação de filito ferroso, cujas placas se soltam com facilidade. É um trecho curto, mas íngreme e escorregadio, o que exige certo esforço e cuidado.

    Uma vez no cume, a vista é espetacular, com a lagoa azul turquesa formada na antiga cava da Mina de Águas Claras, um tapete verde de mata que cobre o Parque, a cidade de BH se estendendo ao norte e, mais ao sul, a Mata do Jambreiro e a cidade de Nova Lima.

    Apesar dos profundos impactos da mineração na Serra do Curral, ela ainda guarda algumas surpresas, como uma planta com flores amarelas, cujo nome científico é Barbacenia williamsii. Além de classificada como em perigo de extinção, só ocorre neste trecho da serra. Uma verdadeira preciosidade!

    A descida do Vulcãozinho é feita pela continuidade da trilha no sentido do Pico BH, por uma pirambeira íngreme, mas com arbustos e canelas-de-ema que nos servem de apoio. Um pouco “menos pior” que a subida, mas nada muito complicado.

    A trilha continua por uma crista delgada até a estradinha que leva ao topo do Pico BH, beirando a cerca que marca o limite do Parque Municipal das Mangabeiras e a divisa dos municípios de BH e Nova Lima. Uma vez na estradinha, basta subir à direita rumo às antenas e torres.

    Tapete verde que cobre o Parque Municipal das Mangabeiras, com a cidade de BH ao fundo.

    Descida do Vulcãozinho pelo caminho “menos pior”.

    Barbacenia williamsii, classificada como em perigo de extinção, só ocorre neste trecho da serra.

    Pico BH

    O Pico BH (1.390m) observado a partir do Vulcãozinho (não o das antenas, aquele mais ao fundo!).

    Contrariando o entendimento da maioria das pessoas, o Pico BH, com 1.390 metros, não é o mais alto de Belo Horizonte. O ponto mais elevado do município, com 1.510 metros, está localizado na Serra do José Vieira, junto ao Parque da Serra do Rola Moça, dentro dos limites da Mina Capão Xavier, de propriedade da Vale S.A. Nem por isso, ele deixa de ser um dos cartões postais da capital mineira, resistindo bravamente às ameaças impostas por projetos minerários ameaçando o seu entorno.

    O acesso usual ao Pico BH costuma ser feito pelo Hospital da Baleia e pelo Parque Florestal Estadual da Baleia, trecho inicial da clássica travessia BH – Nova Lima. Porém, há um caminho pelo Parque Municipal das Mangabeiras bem mais rápido, por uma trilha não oficial ao longo de seu limite com a Mina de Águas Claras. Da base do Vulcãozinho, até o cume do Pico BH, levamos menos de 25 minutos de caminhada, sendo apenas 300 metros por uma picada na mata e o restante pela estradinha de blocos que leva ao topo.

    Apesar de já bastante descaracterizado pela visitação intensa e pela circulação de motos, o Pico BH nos propicia uma vista de 360 graus de toda a região, em especial da malha urbana de Belo Horizonte, abrangendo as serras do entorno, dentre elas, a Serra do Cachimbo, Serra do Rola Moça, Serra da Piedade, Serra do Gandarela, Serra do Caraça, Serra do Cipó, entre outras menores e menos conhecidas.

    Descendo pela face leste do Pico BH, seguimos rumo ao nosso terceiro e principal objetivo, o Pico do Grotão. Neste trecho da serra há uma rede de trilhas utilizadas por caminhantes, ciclistas e, infelizmente, pelos motoqueiros. Caminhamos por um pequeno trecho da trilha denominada “Purgatório” e depois por outra, chamada “Baby Panda”, esta última ao longo da cumeada. Os nomes foram atribuídos, possivelmente, pelos corredores e ciclistas que frequentam a região.

    Trecho final da subida ao cume do Pico BH.

    Torres, antenas e um posto da Polícia Militar, observados do Pico BH, com a cidade de Belo Horizonte ao fundo.

    Pico do Grotão

    Pico do Grotão (1.240m). Logo ali!

    O Pico do Grotão não tem o mesmo apelo simbólico do Pico BH, sendo bem menos conhecido e frequentado, especialmente devido às dificuldades de acesso, caracterizadas por trilhas bastante íngremes e desafiadoras, boa parte delas degradada pela passagem das motos. Ainda assim, o visual que se tem de seu cume é espetacular.

    A partir do Pico BH, há uma sequência de subidas e descidas íngremes, necessárias para superar o relevo bastante acidentado da Serra do Curral, neste caso, uma variante da Serra do Taquaril, denominação regional deste trecho que segue em direção ao Rio das Velhas e Sabará.

    Não se trata de uma trilha extenuante, mas sim, bastante técnica, em razão dos declives acentuados em terreno encascalhado, boa parte com sulcos deixados pela passagem das motos, o que exige cuidado redobrado. As descidas são tensas, mas as subidas são fáceis. Fora isso, é uma caminhada bastante agradável em meio às belas paisagens caracterizadas pelos campos rupestres ferruginosos e sua vegetação típica.

    O Fernando optou por um estilo mais “esqui”, deslizando pirambeira abaixo, enquanto eu adotei o passo a passo lateral, estilo “caranguejo”. As duas modalidades atenderam bem às expectativas, nos levando com um pouco mais ou um pouco menos de segurança aos locais desejados. Ninguém ficou ferido, isso é o que importa!

    O cume do Grotão é pequeno e marcado por um grande tótem feito com rochas empilhadas. Local para descansar e gastar um tempo apreciando a vista, em meio ao contraste marcado por morros escarpados, vales encaixados e áreas mineradas. Sem dúvida uma paisagem única, que caracteriza bem o Quadrilátero Ferrífero.

    A partir do cume do Grotão, a trilha segue uma estreita linha de cumeada, até uma estradinha com calçamento de pedra que leva a Nova Lima ou Sabará, a depender do sentido tomado. Seguindo um pouco por ela no sentido de Sabará, chega-se a uma adutora e ao córrego da Fazenda, onde tem início a trilha conhecida como Aguinhas.

    O Pico do Grotão, à direita. À esquerda, uma parte da Mina Corumi, da Empabra, hoje desativada por determinação judicial.

    Cume do Pico do Grotão (1.240m). Ao fundo, o Pico BH.

    Trilha Aguinhas

    Trilha Aguinhas, que segue pelo leito do córrego da Fazenda.

    A trilha Aguinhas segue pelo leito do córrego da Fazenda, ao longo do “Grotão” propriamente dito. Trata-se de um vale bem encaixado entre morros que, apesar de alterado pela mineração próxima à sua cabeceira, hoje desativada, ainda guarda um fragmento de Mata Atlântica bastante preservado, com árvores frondosas como os jequitibás-brancos, além de uma grande quantidade de samambaiaçus.

    Foi uma agradável surpresa percorrer este trecho final da nossa caminhada, em um ambiente sombreado pela mata. Apesar do leito raso visivelmente alterado por enxurradas ocorridas nos períodos de maior precipitação, a água é limpa e transparente, com muitas nascentes e pequenos tributários, que reforçam o papel dos campos rupestres ferruginosos como um imenso reservatório de água.

    Já próximo à mina Corumi, os sinais da degradação reaparecem, com a mata sendo substituída por áreas com o predomínio de capim e antigos pés de eucalipto, em meio a um leito agora seco. Uma discreta trilha à direita nos leva até a cava, em meio a uma paisagem marciana, totalmente degradada. Concluído este trecho, seguimos novamente pela estradinha calçada que sobe o Pico BH e adentramos o Parque Municipal das Mangabeiras, pela mesma trilha que pegamos no início.

    Ao todo foram percorridos cerca de 14 km, em uma caminhada exigente, porém, recompensadora, em meio a serras, matas, córregos de águas límpidas e áreas degradadas pela mineração e pela passagem das motos, exibindo um contraste de paisagens únicas, que caracterizam bem um trecho do Quadrilátero Ferrífero localizado a menos de um quilômetro da cidade de Belo Horizonte. Surpreendente em todos os sentidos!

    Para quem tiver interesse, dois vídeos ilustram bem os caminhos percorridos:

    - Pico do Grotão e trilha Aguinhas: https://www.youtube.com/watch?v=Jnu5PgbDUrY

    - Vulcãozinho: https://www.youtube.com/watch?v=ZyOGTW2NPQM

    Pequena cachoeira em um dos tributários do córrego da Fazenda, na Trilha Aguinhas.

    Mina Corumi, hoje desativada por determinação judicial. Crime ambiental e escândalo de corrupção, que resultaram em uma ferida aberta no meio da Serra do Curral.

    André Deberdt
    André Deberdt

    Publicado em 30/05/2025 18:39

    Realizada em 25/05/2025

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    1 Comentários
    Fabio Fliess 21/06/2025 13:26

    Que lugar incrível esse entorno de BH, apesar das mazelas causadas pela mão do homem! Excelente relato André Deberdt !!!! Parabéns.

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    André Deberdt

    André Deberdt

    Belo Horizonte - MG

    Rox
    808

    Biólogo e montanhista filiado ao Centro Excursionista Mineiro.

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