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Bruna Fávaro 21/10/2014 21:45
    Travessia Kotia - Huayna Potosi, na Cordilheira dos Andes

    Travessia Kotia - Huayna Potosi, na Cordilheira dos Andes

    Trekking de 6 dias pelas altas montanhas da Cordilheira Real, na Bolívia, próximo à La Paz!

    Trekking Alta Montanha Montanhismo

    A travessia foi realizada entre os dias 16 e 21 de abril de 2014 pela agência Alberth Bolivia Tours. Como não havia mais ninguém interessado nessa travessia e também me parecia melhor a ideia de ir sozinha, fechei o pacote por 450,00 dólares. O preço para duas pessoas era de 320,00 dólares/pessoa.

    Antes de começar a travessia, passei quatro dias em La Paz e procurei andar bastante, me alimentar bem e descansar. Em um dos dias fiz o downhill na estrada que leva a Coroico, porque no percurso chegaríamos a 4700m, então achei que também seria uma boa maneira de me aclimatar.

    1º dia - La Paz - Kotia

    Saí da agência cerca de 9h30 da manhã e o motorista Jaime nos levou em seu carro até o ponto inicial da travessia: o lago Kotia (ou Quta Thiya), a 4650m.

    Nesse momento já havia conhecido o guia que me levaria pelos 6 dias seguidos nessa que foi a travessia mais bonita e diferente que já fiz. O nome dele é Efraim, um homem de meia idade, muito simpático, divertido, bom de papo e que foi o responsável por eu ter conseguido chegar até o fim. Sem dúvida, devo a ele essa conquista.

    No caminho até lá, paramos em "El alto" para ele terminar de comprar alguns itens da alimentação que faltavam e também o nosso almoço daquele dia.

    Chegando no lago Kotia por volta de 14h, almoçamos arroz, salada e frango que havia comprado; nos despedimos do motorista Jaime e partimos para uma bela caminhada de 2 horas (ida e volta) contornando o lago Kotia. O dia estava maravilhoso, com muita luz.

    2º dia - Kotia – Ajwani

    Acordamos nem tão cedo assim: 7 horas. Tomamos café esperando o muleiro (que levaria todo o equipamento de cozinha, barracas, minha mochila etc.) chegar. O nome dele é Rogelio, e o Efraim o chamava de "cascador", porque, segundo o guia, ele comia demais. A interação entre o guia e o muleiro era muito divertida.

    Partimos todos cerca de 9h30 e assim como nos demais dias, o período da manhã foi de céu limpo, ensolarado. Depois de 3 horas de caminhada, tempo que levei para contornar (na verdade subir e depois descer) a montanha Chacapa, paramos para almoçar às margens do rio El Contador.

    Almoçamos arroz, hamburguer e tomate. Também teve mamão de sobremesa! Mas comemos bem rápido, em 30 minutos, porque o céu escurecia e certamente começaria a chover.

    Não deu outra. Começou a cair a maior chuva com granizo. Resultado é que a paisagem se tornou toda branca muito rápido, e que andamos bem mais rápido do que pela manhã, chegando em nosso destino 2 hora depois do almoço, ou seja, 15h.

    Nessa segunda parte do trajeto também subimos e descemos uma montanha, chegando num refúgio gigantesco, abandonado e FECHADO! Não totalmente fechado, pois havia um pequeno quarto aberto.

    Novamente tomamos um café esperando a chuva passar. Assim que o sol voltou, jogamos tudo para secar um pouco. Mas logo a noite veio, jantamos e dormimos os três + a cozinha dentro do quartinho.FRIO! FRIO! FRIO é pouco pra descrever!

    3º dia - Ajwani - Juri Khota

    Pela manhã, apareceram dois rapazes de moto cobrando 20 bolivianos pelo "uso do refúgio". Paguei sem discutir. Na verdade, ter dormido no refúgio foi até pior em certo sentido: o chão era bem mais duro que dormir no gramado; o frio era tão grande ou maior do que dentro da barraca; tinha a companhia de dois "roncadores", apelido que dei ao guia e ao muleiro depois desse dia, rs.

    Partimos umas 9h30 e tivemos uma "delícia" de subida sem fim por umas 2h30, até chegarmos a 5100m de altitude. Ufa! Nesse dia senti bastante dor de cabeça, efeito do mal de altitude, certamente.

    Depois desse ponto a coisa ficou feia. Comecei a sentir que minha cabeça ia explodir junto com meus olhos e não aproveitei NADA o restante do dia. Não conseguia conversar, interagir com ninguém e sequer olhar a paisagem ao meu redor, só queria chegar o quanto antes no destino daquele dia.

    Descemos por cerca de 1 hora e paramos para almoçar na Laguna Sistaña (arroz, ovo e cenoura). Almoçamos correndo porque a chuva já estava começando e partimos para mais uma ladeira até chegarmos às 14h na Laguna Juri Khota, a 4690m.

    Cheguei e rapidamente tomei um Tylenol e um comprimido de Diamox. Em 20 minutos, eu era uma pessoa feliz, rs. Enfim. Tomamos café, jantamos, rimos bastante e fomos dormir.

    4º dia - Juri Khota - Ch'iyara Quota

    A manhã que começou às 8h30, foi de subida até 12h. Antes disso, nós paramos num lugar lindíssimo, nas costas do Condoriri, onde a água do nevado Ventanani forma uma laguna de água azul incrível para tirar umas fotos.

    Ao chegar às 12h no Paso Áustria, paramos para almoçar e decidir se subiria ou não o Pico Áustria.O mal de altitude fazia eu sentir que tudo dentro da minha cabeça ia explodir a qualquer momento. Aliada a isso, lá vinha mais uma tarde de chuva pelo céu. Meu joelho dava alguns sinais de estrago. Coloquei na balança, pensei bem e decidi não subir. Afinal, eu ainda tinha 2 dias de caminhada e mesmo dali do Paso Áustria (5100m) a vista era incrível!

    Continuamos, agora numa graaaaaande decida até chegarmos à Laguna Ch'iyara Quota, a 4700m, cerca de 14h. Para dar sorte, fui sentar para descansar e espetei minha mão num galho de urtiga. Descoberta: a coisa realmente arde! Novamente tomei um Tylenol e um Diamox e a coisa toda melhorou.

    Depois que já estava bem, fiquei um pouco arrependida de não ter tentado subir o Pico Áustria. Mas acabei pensando pelo lado positivo: é uma razão pra voltar lá. Bem, essa noite foi a mais fria que eu já tive. Nada que eu fizesse era suficiente pra esquentar minhas pernas/pés. Então apelei pra tática de guerra:

    - uma meia fina;

    - grudar na meia um adesivo daqueles que esquentam, só que o para mãos, que duram 12 horas;

    - colocar outra meia bem grossa;

    - Embrulhar meus pés com uma camiseta segunda pele;

    - Embrulhar com uma blusa de fleece;

    - Enfiar isso tudo no saco de dormir;

    - Enfiar o saco de dormir dentro da mochila (vazia, claro)

    FUNCIONOU!!

    5º dia - Ch'iyara Quota - Maria Lloco

    O quinto dia de travessia é o mais longo de todos. A previsão é de cerca de 7 horas de caminhada, comparada às 5 horas dos outros dias.

    Mas duas coisas fizeram a diferença e facilitaram muito o dia:

    1: tomar o Diamox logo cedo, antes de sair pra andar.

    2: ter dormido com as pernas quentes durante a noite (ainda que imobilizada, rs)

    Saímos do acampamento cerca de 8h30 e pegamos uma subida sem fim. De lá de cima, pudemos avistar o cume do Huayna Potosí novamente e também o do Maria Lloco.

    Enfim, depois de subir, dá-lhe descer tudo de novo. Paramos para almoçar num extensa planície e depois seguimos em frente, dessa vez contornando uma montanha por um caminho mais suave. Escolhi contorná-la a subi-la, uma vez que meu joelho doía. Ainda assim a visão de lá de cima era bem bonita, vendo de lá o Lago Tuni.

    Descemos tudo até a Laguna Esperanza, onde almoçamos, já perto de 13 horas. Durante o almoço, quem adivinha o que aconteceu? Mais chuva! Partimos e agora a maior parte do percurso foi feito em uma estrada. Lá pelas 16 horas, chegamos ao refúgio Maria Lloco, onde vi pela primeira vez outras pessoas (tirando o guia e o muleiro) desde que comecei a travessia. Apesar de terem casinhas para refúgio, fiquei no camping e paguei 10 bolivianos pela noite. Essa noite nevou bastante e o frio deu uma trégua.

    6º dia - Maria Lloco - Huayna Potosí

    Acordei um pouco mais cedo, porque a ideia era também partir um pouco antes do que nos outros dias.O destino final desse dia não era nem foi exatamente o Huayna Potosí. Pela agência eles vendem dizendo que o destino final é o Campo Base do Huayna Potosí. Só que, do Campo base, não é possível ver absolutamente nada. Para ter a visão clássica dele, é preciso ainda uns 40 minutos de caminhada à frente. Além disso, para facilitar a vida do muleiro, eu topei nem ir até o campo base, e ficar numa laguna dali, que era perto da estrada que o muleiro ia pegar. Ok!

    Bom, saímos pra caminhada perto de 8h e tudo estava branco de neve. Foi bem bonito ver diferença.

    Subimos cerca de 2 horas, até o Paso Milluni (5100m) e depois foi só descida. O visual era bastante bonito. Começou com muita neve e, conforme o sol ia batendo e íamos perdendo altitude, a neve sumiu e as amigas alpacas apareceram.

    Chegamos na laguna Milluni cerca de 11 horas, e de lá partiu o Rogélio com seu cavalo. Almoçamos por ali e esperamos o Jaime (do transporte) aparecer para buscar a gente.

    CONCLUSÕES

    - A travessia era muito mais difícil do que eu imaginava ou estava preparada. Ainda assim, foi incrível e só foi possível porque o guia Efraim era MUITO paciente. Sempre que eu precisava, parava para descansar. Ele tinha um ritmo de caminhada bem tranquilo e sempre me animava quando eu estava cansada, fazendo eu perceber que estava num lugar fantástico.

    - Se eu tivesse tomado o Diamox todos os dias pela manhã, não teria tido os problemas com altitude e a caminhada por dois dias teria sido infinitamente melhor.

    - Não levei calça e bota impermeáveis e me arrependi MUITO.

    - É preciso levar roupas bem apropriadas para FRIO, principalmente para dormir à noite.

    - Levei algumas coisas pra comer e praticamente não comi nada, só o que o guia preparava. Mas levei alguns chocolates em barra e acabei com todos, porque também dividi com o guia e faziam um bom efeito pra continuar a caminhar.

    - Não sei se preciso dizer que não há nada parecido com um banho durante os seis dias. Ou seja, leve escova de dente, lenço umedecido e papel higiênico. Só!

    - Leve muita paz, pra ter uma boa caminhada e aproveitar os lugares incríveis pelos quais passar.

    - Acima de tudo, aproveite esses dias para aprender muito sobre humildade e garra na convivência tão próxima com o guia e o muleiro, verdadeiras lições de vida.

    Bruna Fávaro
    Bruna Fávaro

    Publicado em 21/10/2014 21:45

    Realizada de 16/04/2014 até 21/04/2014

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    16 Comentários
    Fabio Fliess 25/10/2014 18:41

    Opa! Estou na área... Parabéns pela travessia Flavia!!! O clima estava totalmente diferente da época que eu e Letícia fomos, e as fotos ficaram demais!!!

    Renan Cavichi 31/10/2014 19:57

    Que época vcs foram Fabio?

    Bruna Fávaro 01/11/2014 16:25

    Flávia?! rsrsr

    Carlos Araújo 20/10/2015 21:32

    Que ligar lindo!!!!

    Andre Marcelino 23/01/2016 00:15

    Que linda natureza, queria muito um dia visitar esse lugar tb! Fotos ficaram muito lindas tb!

    Tiago Oliveira 27/10/2016 14:43

    Bruna muito bacana seu relato , faz a gente viajar, parece até que estamos presentes rs. Fotos maravilhosas, tudo perfeito. Meus parabéns.

    Rodrigo Rodrigues 04/11/2016 10:07

    Incrível Bruna!!!!!!! Quero irrrrrrr. Meu Deus que fotos LINDASSSSS!!!

    Que relato gostoso, Bruna! Dá vontade de ir também....ficou demais!!

    Bruna Fávaro

    Bruna Fávaro

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