A espécie humana vive na terra há 200 mil anos e, como não poderia deixar de ser, desenvolveu relação forte com a natureza. Sempre vivemos em ciclos mais ou menos alinhados a outros ciclos, como o de dia e noite, frio e calor, semeadura e colheita, entre outros. Porém, com a evolução da nossa civilização, fomos aos poucos diminuindo a influência desses ciclos em nossa batalha pela sobrevivência. Com o desenvolvimento da medicina, a automação de uma série de tarefas humanas e a abundância de alimentos, esse processo vem se acentuando há algumas décadas. Como resultado, experimentamos um aumento na qualidade e na expectativa de vida.
Tudo muito bom, exceto que esse “tempo livre” do ser humano é disputado por uma série de atividades e programas que chegam a todo instante. Em uma era em que os acontecimentos ocorrem em ciclos cada vez mais curtos, temos que lidar com excesso de informação e ser multitarefa. Tudo que nos cerca está em sua versão “power”.
Desconectados de nosso histórico ciclo de vida, esse cenário de tantos estímulos nos induz a níveis constantemente elevados de stress. A saída para isso parece não ser segredo: re-conectarmos com a natureza e com nós mesmos. Porém, como isso é possível para quem passa o dia em escritórios e mora em uma grande cidade? Uma possibilidade é através da prática do Shinrin-yoku, uma tradicional técnica japonesa que associa a floresta à saúde humana.
O que é Shinrin-yoku
O termo Shinrin-yoku (captação da atmosfera da floresta ou banho na floresta, em tradução livre) foi criado pelo Ministério da Agricultura, Silvicultura e Pesca do Japão em 1982. Ele pode ser definido como se expor a ambientes florestais usando conscientemente os cinco sentidos e buscando absorver a atmosfera da floresta para obter relaxamento mental e físico. Os estudos de Shinrin-yoku fornecem informações valiosas sobre a relação entre as florestas e a saúde humana.
Benefícios comprovados pela ciência
Pesquisas mostram que os ambientes florestais podem aumentar a atividade do sistema nervoso parassimpático, que serve como uma espécie de freio para o estresse. Como resultado, foram percebidas reduções nas concentrações de cortisol - o hormônio do estresse -, nos batimentos cardíacos e na pressão arterial.
Além de melhorias na saúde física, a exposição à natureza pode trazer uma influência positiva sobre construções psicológicas, como tédio, bem-estar e vivacidade. A exposição a ambientes naturais mostrou ainda impactos positivos no funcionamento cognitivo.
Benefícios para as crianças
Diversos estudos mostram benefícios do contato com a natureza para crianças, seja através de atividades orientadas, ou através de brincadeiras espontâneas em ambiente natural. Confira algumas áreas aprimoradas, de acordo com o programa Criança e Natureza:
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Criatividade - Brincar na natureza estimula a criatividade: os brinquedos são criados e reinventados a partir de recursos encontrados no ambiente: o galho que vira espada, a folha que vira um barquinho.
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Autopercepção - As crianças que brincam em diferentes ambientes naturais são mais ativas fisicamente, mais conscientes sobre sua alimentação. Também tendem a ter melhor conhecimento sobre suas próprias habilidades e limitações.
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Saúde mental - O contato com a natureza pode reduzir significativamente os sintomas de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o estresse e os índices de obesidade na infância.
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Aprendizado - Em escolas que oferecem oportunidades de aprendizado fora da sala de aula há uma melhora significativa no aproveitamento dos alunos em diferentes áreas do conhecimento.
Formas de contato com a natureza
Como vimos, o Shinrin-yoku prevê a imersão na natureza usando conscientemente todos os cinco sentidos. Porém, cada sentido pode ter uma importância maior para uns do que para outros. Apenas a observação de uma imagem de floresta, ou a audição de um calmo riacho, já pode prover benefícios para alguns. Enquanto outros precisam perceber a umidade do ar e o cheiro das plantas para sentir o relaxamento. De uma forma geral, as pesquisas comprovam benefícios para dois tipos de atividades na natureza:
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Observação da floresta, seja em meio a ela, seja em um grande quadro
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Caminhada na floresta - O caminhar ou contato direto com a terra/grama/areia/água do mar é conhecido como método Grounding. Estudos indicam que a energia da terra pode estabilizar o sistema bioelétrico do corpo - aumentando o fluxo de elétrons do corpo e ajudando a proteger e relaxar o sistema nervoso.
Em ambos os casos, é fundamental que a pessoa evite outros estímulos, como ouvir música, conversar ou usar o celular durante a atividade, que deve durar no mínimo 15 minutos.
*Texto de minha autoria, publicado originalmente no site da Essentia Pharma.
Estudos e artigos que embasaram este texto:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2793346/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7459647/
https://www.marlboroughforestry.org.nz/mfia/docs/naturaltherapy.pdf
https://criancaenatureza.org.br/para-que-existimos/os-beneficios-de-brincar-ao-ar-livre/
Muito legal a matéria!!!
Legal! Essa filosofia japonesa é um caminho para nosso equilíbrio.